Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
sábado, 20 de fevereiro de 2010
OBRIGADO À VIDA!
Violeta Parra, poetisa chilena, nos dá uma amostra magistral de um poema no qual conseguiu entrelaçar o canto de amor ao homem amado junto ao canto pela espécie humana e pela vida. As palavras se encontram e se mesclam em uma só intensidade, em um momento de felicidade e exaltação.
Violeta Parra toma da natureza o que a natureza nos deu de mais precioso – os sentidos, e os transforma, os eleva através da beleza da comparação entre a natureza e a pessoa amada. Violeta Parra nos faz captar o mundo através dos sentidos e depois, com uma sutileza de linguagem, com uma enorme capacidade de representação, ela os transforma, os organiza e nos devolve plenos de matizes através de seu bem-amado. Assim é "Obrigado à vida" (“Gracias a la vida”)
Num país de poetas universais como Neruda, Mistral e Huidobro, Violeta alcança um patamar internacional com textos de origem popular. Musa da juventude revolucionária do século passado, continua celebrada por cantores e estudiosos das letras de nosso continente.
TRADUÇÃO DE "GRACIAS À LA VIDA!"
Graças à vida que me deu tanto
Me deu dois luzeiros que quando os abro
Perfeito distingo o preto do branco
E no alto céu seu fundo estrelado
E nas multidões o homem que eu amo
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o ouvido que em todo seu comprimento
Grava noite e dia grilos e canários
Martírios, turbinas, latidos, aguaceiros
E a voz tão terna de meu bem amado
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o som e o abecedário
Com ele, as palavras que penso e declaro
Mãe, amigo, irmão
E luz iluminando a rota da alma do que estou amando
Graças à vida que me deu tanto
Me deu a marcha de meus pés cansados
Com eles andei cidades e charcos
Praias e desertos, montanhas e planícies
E a casa sua, sua rua e seu pátio
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o coração que agita seu marco
Quando olho o fruto do cérebro humano
Quando olho o bom tão longe do mal
Quando olho o fundo de seus olhos claros
Graças à vida que me deu tanto
Me deu o riso e me deu o pranto
Assim eu distingo fortuna de quebranto
Os dois materiais que formam meu canto
E o canto de vocês que é o mesmo canto
E o canto de todos que é meu próprio canto
Graças à vida, graças à vida
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
DOMINGOS FILHO
Há pouco mais de cem anos nascia no sopé das montanhas do Líbano, próximo dos cedros milenares, o multifacetário artista Gibran Khalil Gibran. Amante daquela ambiência mística e fascinado pela natureza em fúria, adorava correr com os ventos e apreciar as tempestades.
Matriculado no Colégio da Sabedoria, em Beirute, recebeu em certa oportunidade uma admoestação do diretor que, procurando acalmar o vulcão de desejos impacientes que era sua alma, advertiu-lhe que uma escada deve ser galgada degrau por degrau. Gibran respondeu: "Mas as águias não usam escadas!"
Pessoas há que, como Gibran, têm espírito de águia: rompem os limites imaginários, as barreiras pré-conceituais e os obstáculos conceituais. Com a brisa do amor e o tufão do destemor, voam à frente apontando o horizonte de luz e o oceano energizante da vida.
No átrio quase imperscrutável da política, templo ordinariamente ornado com símbolos profanos, vez por outra divisamos asas de águia. O advogado Domingos Gomes de Aguiar Filho, atual Presidente da Assembléia Legislativa do estado do Ceará, é uma delas.
Em seu quarto mandato como representante maior da comuna “barro amarelo”, na origem tupi-guarani, depois São João do Príncipe ou, como se notabilizou nos tempos atuais, Tauá, Domingos Filho chegou ao comando do Parlamento Cearense e consolidou-se como um dos mais prestigiados representantes do povo da atual safra Alencarina.
Quem primeiro me desenhou um perfil do Domingão foi Moacir Soares. Era antevéspera do ano eleitoral municipal de 2004. Então Secretário de Saúde de Tauá na gestão de Patrícia, consorte de Domingos, Moacir ponderou: “Cuidado! Você vai conversar com um político acima da média. Como alguém que vai para uma partida de xadrez, prepare-se porque a qualquer momento ele poderá lhe surpreender com um xeque-mate”.
Com efeito, ao longo do diálogo senti que estava diante de um homem que cavalgava pela caatinga da política montado no alazão do pragmatismo, vestindo o gibão da ciência e tendo à mão o chicote da arte.
Inicialmente, pôs no tabuleiro as premissas em que assentava suas tratativas. Dentre outras, duas peças primordiais: a dama da franqueza e o bispo da lealdade.
Perguntou-me: - o que você acha imprescindível para a gente ganhar uma eleição? Falei que apreciava a “Teoria dos Três G”: Garra, Grana e Gente. Ou seja, disposição para o embate, estrutura de trabalho e apoio das pessoas. Ele replicou: Acrescente mais um, mude para a “Teoria dos Quatro G”: Garra, Grana, Gente e Gogó. Porque, uma boa comunicação também é essencial.
E, de fato, é muito atento a todas as formas de comunicação, inclusive a gestual. Arquiteto de frases impactantes, gosta de pontuar: “Palavras mentem; gestos, não”. (Aliás, um de seus movimentos gestuais é conhecido: levar a mão aos cabelos e enrolá-los como se estivesse fazendo cachos. Esse hábito sempre denuncia sua taxa de ansiedade ou índice de stress.)
Noutro momento da palestra, soltou: “Abstenho-me dessa política de amor e ódio que vocês praticam em Crateús”. Fiz-me de desentendido. Ele explicou: “Chamo política do amor e ódio essa prática crônica e irracional de um dia estar amando e, no outro, odiando. E vice-versa”.
No desenrolar daquela conversa senti a profecia de Moacir se materializando. Ele começou a lançar cordas invisíveis sobre mim e, ao final, estava amordaçado.
É óbvio que essa maestria com que toca a orquestra das articulações políticas tem uma nesga hereditária. Oriundo de uma fonte cristalina de políticos honrados, herdou do pai, Domingos Gomes de Aguiar, o amor à causa pública e o ímpeto de manter límpido o córrego da tradição familiar, iniciada com o seu bisavô, Domingos Gomes de Freitas, e seqüenciada pelo avô, Odilon Aguiar. Com a mãe e mestra, Mônica Moreira Gomes de Aguiar, aprendeu a soletrar o alfabeto da política.
Bacharel em direito pela Universidade Federal do Ceará, iniciou a militância na área do Direito Público. Logo descobriu que estava mais vocacionado a cumprir o mandato popular que o judicial. Eleito deputado estadual pela vez primeira em 1994, sempre ocupou cargos na Mesa Diretora da Assembléia. Foi duas vezes segundo vice-presidente; uma vez terceiro secretário e duas vezes quarto secretário. No seu quarto mandato parlamentar, foi eleito para a presidência do Legislativo Estadual e reeleito por unanimidade dos seus pares.
No iter popularis, se defrontou com momentos decisivos em que viu testada a máxima que sempre proclama de ser “amigo dos amigos”. Em 2002, enquanto muitos debandaram, manteve-se quase solitariamente fiel no compromisso assumido com o colega de Assembléia Wellington Landim, então candidato ao Governo do Estado.
Orador empolgado, não raro entremeia suas falas com canjas musicais. Gosta da boa música, como MPB e o forró autêntico, tipo pé de serra. Certa vez, foi assediado por um músico popular que desejava montar uma banda. Num arroubo pragmático, idealizou a banda “Forró sem limite”. Ainda bem que familiares o demoveram da idéia...
Se, como empresário musical era uma incógnita, como político se revelou empreendedor nato. Comanda hoje o maior volume de realizações da história do Legislativo. Desde 2008, preside o Parlamento Nordestino, que tem como objetivo defender de forma conjunta soluções para os problemas que atingem os estados da região. E, em setembro de 2009, foi eleito presidente do Colegiado dos Presidentes das Assembléias Legislativas do País (biênio 2010/2011). O primeiro nordestino a comandar o Colegiado.
Descortinou 2010 à frente do Governo do Estado, cuja interinidade foi marcada pelo estilo cauteloso, discrição na postura e nobreza nas atitudes. Em todas as rodas de projeção política, quando se discute o cenário de uma vice-governadoria para o PMDB, seu nome é o que mais desponta.
Sobre isso, seu espírito de águia nada fala. Embora saiba, como Gibran, que as águias desconhecem escadas, Domingos Filho prefere subir com talentosa habilidade e solene firmeza cada degrau da escadaria do sucesso!
(Por Júnior Bonfim - na Revista Gente de Ação)
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
A ERA DO FIM DOS EMPREGOS
O problema do desemprego é uma ameaça real em todo o mundo, que se agrava diante do crescimento desordenado da população e se torna um desafio quando enfrentamos crises como a que vivemos no último ano. Apesar dos sinais de recuperação da economia, uma lição ficou na mente dos executivos: fazer mais com menos.
Não tem jeito, os duros prejuízos reportados ao longo das inúmeras crises que passamos deixaram marcas e as empresas estão cada vez mais conscientes de que não podem jogar dinheiro fora. Aquela era de gastos desvairados em momentos de torneiras abertas acabou. Hoje, qualquer investimento que for feito será muito bem avaliado, pensado e dimensionado. E mais do que nunca a questão custo versus retorno certamente ditará as regras de todos os projetos que sairão da gaveta.
As perspectivas para 2010 e os anos que se seguirão são bastante positivas. Mas como já disse, nada será como antes. Haverá emprego como antes? Minha resposta é não. As estatísticas mostram claramente que o modelo do emprego formal, como estamos acostumados a ver da carteira assinada, está acabando. Da mesma forma que assistimos a uma reinvenção das profissões.
Pode parecer um cenário catastrófico, mas as mudanças que vemos hoje terão impactos profundos bem mais cedo do que imaginamos. Quando o economista Jeremy Rifkin, em seu livro “O Fim dos Empregos” previu um futuro sombrio há 16 anos, não só causou grande polêmica, como foi alvo de olhares desconfiados, já que estamos acostumados a ver futurologias caírem por água abaixo. Infelizmente, ele estava certo.
A busca com sofreguidão por redução de custos na produção provocou cortes e mais cortes de postos de trabalho. Por outro lado, esta nova fase, chamada por Rifkin de a terceira revolução industrial, é o resultado do surgimento de novas tecnologias, como o processamento de dados, a robótica, as telecomunicações e as demais tecnologias que aos poucos vão pondo máquinas nas atividades anteriormente realizadas por seres humanos.
O pior de tudo é que as pessoas ainda não se deram conta de que viverão cada vez mais, não encontrarão tantas oportunidades de trabalho porque já não há empregos para todo mundo como antes e terão carreiras mais curtas nas empresas. Esses aspectos já estão afetando suas vidas e é um caminho sem volta.
O mercado de trabalho não consegue absorver os milhares de profissionais que perdem seus empregos todos os dias e quem passou dos 60 enfrenta o dilema de encontrar um lugar ao sol. O que fazer então se dados recentes do IBGE chamam a atenção para o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, que está na casa dos 72 anos? A resposta para este paradoxo – menos emprego, carreiras mais curtas e a longevidade – é planejar a carreira o mais cedo possível e antes que a tragédia do desemprego perene bata à sua porta.
Ter um plano B deixou de ser uma possibilidade para se transformar em necessidade imperiosa. No livro “O Melhor Vem Depois”, que escrevi em coautoria com a jornalista Andrea Giardino, retratamos bem essa questão. Impressionante os depoimentos que nos chegam diariamente dos leitores que comprovam esse movimento que acontece no mercado. Tem sido difícil dar conta de tantos pedidos de conselhos de como enfrentar a situação. Casos, às vezes, desesperadores.
Muitos dos profissionais que entrevistamos para ilustrar o livro foram reféns desse cenário e por não terem um plano B, ingenuamente acreditavam que se recolocariam rapidamente. O ex-presidente da GVT, Marcio Kaiser, enfrentou um duro golpe ao se ver um belo dia sem o sobrenome corporativo e descobrir que não havia mais espaço para seu talento. Após meses e meses de tentativas, parece ter encontrado um caminho.
Se tivesse traçado uma meta desde cedo, talvez seu destino tivesse sido outro e não o da vítima do acaso. Cabe a nós dentro dessa sociedade baseada na informação, valorizar nosso conhecimento e transformar as competências adquiridas em algo que nos perpetue como população ativa, mesmo aos 70 anos.
Quer um conselho? Corra e prepare o terreno desde já e comece a traçar seu plano B.
A vida não segue roteiros, mas para quem se planeja a rota seguirá seu curso desejado. Pode não ser exatamente do jeito que você idealizou, no entanto, não o deixará refém do destino. Lembre-se que se você não conduzir o barco da sua vida, ele vai fazê-lo por você.
Se você não for o comandante pelo menos seja um passageiro da primeira classe e aproveite a paisagem. Ficar aí ao sabor do destino não dá. Reaja!
(Por Selem e Bertozzi)
Não tem jeito, os duros prejuízos reportados ao longo das inúmeras crises que passamos deixaram marcas e as empresas estão cada vez mais conscientes de que não podem jogar dinheiro fora. Aquela era de gastos desvairados em momentos de torneiras abertas acabou. Hoje, qualquer investimento que for feito será muito bem avaliado, pensado e dimensionado. E mais do que nunca a questão custo versus retorno certamente ditará as regras de todos os projetos que sairão da gaveta.
As perspectivas para 2010 e os anos que se seguirão são bastante positivas. Mas como já disse, nada será como antes. Haverá emprego como antes? Minha resposta é não. As estatísticas mostram claramente que o modelo do emprego formal, como estamos acostumados a ver da carteira assinada, está acabando. Da mesma forma que assistimos a uma reinvenção das profissões.
Pode parecer um cenário catastrófico, mas as mudanças que vemos hoje terão impactos profundos bem mais cedo do que imaginamos. Quando o economista Jeremy Rifkin, em seu livro “O Fim dos Empregos” previu um futuro sombrio há 16 anos, não só causou grande polêmica, como foi alvo de olhares desconfiados, já que estamos acostumados a ver futurologias caírem por água abaixo. Infelizmente, ele estava certo.
A busca com sofreguidão por redução de custos na produção provocou cortes e mais cortes de postos de trabalho. Por outro lado, esta nova fase, chamada por Rifkin de a terceira revolução industrial, é o resultado do surgimento de novas tecnologias, como o processamento de dados, a robótica, as telecomunicações e as demais tecnologias que aos poucos vão pondo máquinas nas atividades anteriormente realizadas por seres humanos.
O pior de tudo é que as pessoas ainda não se deram conta de que viverão cada vez mais, não encontrarão tantas oportunidades de trabalho porque já não há empregos para todo mundo como antes e terão carreiras mais curtas nas empresas. Esses aspectos já estão afetando suas vidas e é um caminho sem volta.
O mercado de trabalho não consegue absorver os milhares de profissionais que perdem seus empregos todos os dias e quem passou dos 60 enfrenta o dilema de encontrar um lugar ao sol. O que fazer então se dados recentes do IBGE chamam a atenção para o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, que está na casa dos 72 anos? A resposta para este paradoxo – menos emprego, carreiras mais curtas e a longevidade – é planejar a carreira o mais cedo possível e antes que a tragédia do desemprego perene bata à sua porta.
Ter um plano B deixou de ser uma possibilidade para se transformar em necessidade imperiosa. No livro “O Melhor Vem Depois”, que escrevi em coautoria com a jornalista Andrea Giardino, retratamos bem essa questão. Impressionante os depoimentos que nos chegam diariamente dos leitores que comprovam esse movimento que acontece no mercado. Tem sido difícil dar conta de tantos pedidos de conselhos de como enfrentar a situação. Casos, às vezes, desesperadores.
Muitos dos profissionais que entrevistamos para ilustrar o livro foram reféns desse cenário e por não terem um plano B, ingenuamente acreditavam que se recolocariam rapidamente. O ex-presidente da GVT, Marcio Kaiser, enfrentou um duro golpe ao se ver um belo dia sem o sobrenome corporativo e descobrir que não havia mais espaço para seu talento. Após meses e meses de tentativas, parece ter encontrado um caminho.
Se tivesse traçado uma meta desde cedo, talvez seu destino tivesse sido outro e não o da vítima do acaso. Cabe a nós dentro dessa sociedade baseada na informação, valorizar nosso conhecimento e transformar as competências adquiridas em algo que nos perpetue como população ativa, mesmo aos 70 anos.
Quer um conselho? Corra e prepare o terreno desde já e comece a traçar seu plano B.
A vida não segue roteiros, mas para quem se planeja a rota seguirá seu curso desejado. Pode não ser exatamente do jeito que você idealizou, no entanto, não o deixará refém do destino. Lembre-se que se você não conduzir o barco da sua vida, ele vai fazê-lo por você.
Se você não for o comandante pelo menos seja um passageiro da primeira classe e aproveite a paisagem. Ficar aí ao sabor do destino não dá. Reaja!
(Por Selem e Bertozzi)
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