sábado, 5 de setembro de 2009

CONJUNTURA NACIONAL

Um discurso histórico

Campanha de 1968, para a prefeitura de Mossoró, Rio Grande do Norte. Aluízio Alves, governador, foi chamado para ajudar o correligionário Antônio Rodrigues, identificado com as causas dos pobres, contra o intelectual Vingt-Un Rosado. Era a campanha do "touro" – Vingt-Un – contra o "capim", Toinho. Mas este tinha um grave problema : era alcoólatra. Comício de encerramento da campanha. Aluízio chamou a mulher de Toinho, Maria Augusta, e disse: "vou ter que tocar no problema dele, o alcoolismo".

-Pelo amor de Deus, governador, não toque no assunto.

-Deixe comigo.

Multidão silenciosa. Solene, o governador tirou uns papéis do bolso e começou:

- Vamos perder a campanha. Tenho aqui uma pesquisa. Toinho vai perder.

Um sussurro toma conta dos pasmos eleitores. Decepção. Frustração. Impávido, Aluízio retoma:

- Vamos perder porque Toinho Rodrigues é alcoólatra.

A balbúrdia se estabelece. Nervosa.

A cara do povo

O orador pede silêncio e faz a peroração que marcou um dos capítulos mais vibrantes da história do palanque político:

- Ao chegar a Mossoró, passei pelo açougue e vi, assombrado, o preço da carne, uma carestia. Passei pela farmácia e vi o absurdo que são os preços dos remédios.

O governador continuou os relatos sobre preços e a carestia e histórias de pessoas que não conseguiam comprar alimentos. Citou Pedro dos Anjos, Deca de Antônio Gadelha, Manoel Bernardino, Chico de Saturnino, compadre Azarias, Tintim, Sebasto, cada um com suas frustrações e lamúrias por não poderem comprar um quilo de carne, um litro de leite, um quilo de feijão. E arrematava:

- Frustrados, passam pela bodega e pedem um oito de cachaça. Têm vergonha de chegar em casa sem alimentos para os filhos. Tomam sua cachacinha e se acostumam a beber.

E começou a fazer a comparação:

- Vocês sabem quanto custa uma garrafa de uísque? Com o preço de uma garrafa dessa bebida estrangeira, dá para comprar 30 garrafas de cachaça. Sabem quem bebe uísque? O dr. Vignt-Un Rosado, intelectual, rico, que não quer sentir o cheiro de cachaça. E detesta pobre. Vamos perder a eleição. Dr. Vingt-Un será eleito. Agora, imaginem a situação.

Zé do Peixe chega na Prefeitura, com aquele bafo de cachaça, para falar com o prefeito.

- Quero falar com esse Vantan.

Ele bebe uísque.

Um assessor, engravato, diz logo:

- O prefeito está em reunião. Não pode atender.

Aluízio conta mais dez casos de bêbados que são expulsos do lugar. A seguir, faz a comparação:

- Imaginem, agora, Toinho, eleito prefeito de Mossoró.

Chega na Prefeitura o cachaceiro Luiz de Zefa das Baixas. Que vai logo exigindo:

- Cadê o prefeito "Toim"?

O assessor de "Toim" cochicha no ouvido dele: "Prefeito, tem um cachacista militante na recepção querendo falar com você."

Mais que depressa, Toinho Rodrigues:

- Mande, já, o colega entrar.

Mossoroenses:

- Toinho é a cara do povão simples. Bebe porque tem os mesmos problemas de nossa gentinha. Mossoró precisa eleger um prefeito com a cara do povão. Vamos eleger Toinho. Cada um de vocês sairá daqui com o compromisso de arranjar cinco, seis, dez votos. Podemos, sim, mudar a situação.

A multidão, sob forte emoção, saiu a campo. Foi e venceu. Mossoró ganhou a cara do prefeito Antônio Rodrigues. Aluízio Alves, com um discurso, mudou o rumo da história. Um marco do marketing político.

Pré-sal sob o sol


Pois é, o Pré-Sal só apresentará saldo positivo dentro de uns 10 a 15 anos. Mas a conta fabulosa do futuro já está sendo exibida ao coração dos brasileiros. Lulinha Paz e Amor vende o Pré-Sal como a jóia da Coroa. Jóia que enfeitará o perfil de Dilma Rousseff. Pretende o presidente dizer que a nação redescobriu a independência, que o Brasil Potência está à vista e que, desde os tempos do velho Cabral, nunca havia sido feito descoberta tão importante. Sob o sol luminoso dos palanques, o Pré-Sal vai ser motivo de grandes debates.

Cabral chiou alto

Mas Sérgio Cabral estrilou. Disse que não aceitaria de jeito nenhum o Pré-Sal nos moldes como foi estabelecido, sem oferecer a fatia do leão aos Estados produtores. Gritou mais alto que José Serra (SP) e Paulo Hartung (ES). Dizem que o cara ficou tão fulo da vida que foi preciso ser retirado, por momentos, da sala de jantar pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes. Voltou mais calmo. Lula cedeu. Sentiu que Dilma poderia perder o palanque carioca. Mas o trauma continuará. Essa querela vai longe.

Cabo Anselmo

Esse cabo Anselmo, enfim, deu as caras. Pelo visto, sempre foi araponga infiltrado nos grupos de esquerda. Agente duplo, agora tenta dizer: ou delatava ou morria. Em sua entrevista à TV Bandeirantes, viu-se um sujeito calculista e sem as marcas indeléveis do sofrimento. Deve ser um poço de águas sangrentas.

Governadores no TSE

Os governadores Ivo Cassol (RO) e José de Anchieta Júnior (RR) deverão ter seus processos julgados no TSE neste mês de setembro. O presidente da Corte, ministro Carlos Ayres Britto, quer acelerar os julgamentos. Mas os casos dependem, claro, dos relatores. Se não forem julgados, a decisão vai para as calendas. Eis aqui um exemplo de como a justiça anda como tartaruga. Perguntinha pertinente: por que os processos contra governadores andam tão devagar?

Nova lei eleitoral

Será necessário um esforço extraordinário para que o Senado aprove a lei eleitoral para permitir que as mudanças entrem em vigor em 2010. Se houver modificação no projeto aprovado pela Câmara – e certamente haverá – ele volta à Câmara Baixa para nova apreciação e votação. Tudo tem de estar devidamente aprovado até o dia 5 de outubro. Dará tempo?

Ghandi

Peguntaram a Ghandi o que achava da Civilização Ocidental. Ele respondeu:

- Acho que seria uma boa ideia.

Visão de Ayres Britto


O ministro Carlos Ayres Britto, falando exclusivamente para este escriba, faz interessantes e oportunas revelações sobre o dispositivo legal em tramitação. O projeto considera a internet ferramenta similar ao rádio e TV, que são concessões do Estado. Não pode a internet ser assim considerada. Poderia, isso, ser comparada com jornais e revistas, que não são concessões. Dessa forma, a censura jornalística à rede virtual é um retrocesso. Com o que concorda este escriba. Ou seja, se um analista político quiser manifestar sua opinião – negativa ou positiva – a respeito de um candidato, não pode ser censurado. Pelo projeto, estará sujeito à censura. Pior: a rede deverá garantir direito de resposta a quem se sentir acusado.

Arrecadação

Ayres Britto defende um princípio norteador para a questão da arrecadação de fundos: maior número de contribuintes e pequenas doações, de forma a democratizar o processo. Hoje, o que se vêem são poucas empresas – geralmente empreiteiras – fazendo grandes doações. Ora, haverá sempre uma espécie de toma-lá-dá-cá. A lei da reciprocidade impera nas campanhas. Façamos como os Estados Unidos, diz o presidente do TSE, ao lembrar que 3 milhões de pessoas entraram no circuito de Obama, fazendo pequenas doações, que perfizeram a conta de US$ 600 milhões.

Maquiavel

"Se Maquiavel tivesse tido um príncipe como discípulo, a primeira coisa que teria lhe recomendado era escrever um livre contra o maquiavelismo". (Voltaire)

Campanha na internet

Aliás, a respeito de Obama, este escriba faz a constatação: muitos candidatos a cargos majoritários e proporcionais começam a esquentar os motores de suas pré-campanhas. Como? Movimentam-se, neste momento, em torno das ferramentas da internet. Procuram usar o pacote de redes sociais para esquentar seus nomes e abrir bons espaços de visibilidade junto a determinados segmentos, a partir dos jovens. Mas há uma questão séria a se considerar: não adianta criar novas ferramentas sem saber qual o discurso a ser transmitido. Daí, a conclusão: importa, nesse sentido, organizar muito bem o discurso.

Belchior e a Globo, tudo a ver

Belchior e a Rede Globo, a gente se vê por aí. Eles têm tudo a ver. O cantor desaparece. A TV Globo faz um carnaval. Dias depois, o cantor aparece. A TV Globo faz um carnaval. O teaser ??? Só não funcionou direito porque pareceu muito artificial. Até a tentativa de evitar a repórter Sônia Bridi foi artificializada. Surgiu um bigodudo sorridente, com cara de férias, e dizendo : amo o Brasil, amo o Brasil. E o apresentador do Fantástico, concluindo : que simpático o Belchior.

O ditador


O ditador vai ao médico:

- E a pressão, doutor?

- O senhor sabe o que faz, meu general. Neste momento, ela é imprescindível para manter a ordem.

Os chineses

Os chineses têm um ditado, "vestir a máscara do porco para matar o tigre". É uma referência a uma antiga técnica de caça em que o caçador se cobre com a pele e o focinho de um porco, e sai grunhindo. O feroz tigre pensa que um porco vem chegando, deixa-o se aproximar, saboreando a perspectiva de uma refeição fácil. Mas é o caçador quem ri por último. Mascarar-se de porco funciona muito bem com quem, como os tigres, é muito arrogante e seguro de si. Quanto mais eles acham que é fácil apanhar você, mais facilmente você vira a mesa. Este truque também é útil se você for ambicioso, mas ocupa uma posição inferior na hierarquia – aparentar ser menos inteligente do que é, até meio tolo, é o disfarce perfeito.

121 estatais


O governo federal já tem 121 estatais. Muitas delas foram criadas no ciclo Lula. O Estado, sob Lula, ficou mais gordo, principalmente com a gordura partidária.

Deus e o diabo

Chamou a atenção, por ocasião do lançamento do Pré-Sal, a evocação de Lula sobre o programa. No mesmo contexto, o presidente colocou Deus ao lado do diabo. Disse que o petróleo era uma "dádiva de Deus", e que poderia se transformar em "maldição". Maldição é coisa do capeta.

Senador por São Paulo?

A fofoca esquenta algumas conversas: Lula desejaria ser senador por São Paulo. Entregaria a rapadura ao vice e correria o país para comandar a campanha de Dilma, nos intervalos em que usaria o palanque paulista para decolar a sua campanha e a dela. Aqui, há 30 milhões de eleitores. Problema: não gostaria de colocar mais problemas no colo do grande José Alencar, esse, sim, um brasileiro que merece os nossos aplausos.

"Não se deve jamais ignorar um inimigo, achando que ele é fraco. Ele se tornará perigoso no devido tempo, como uma faísca num monte de feno". (Kautilya, filósofo indiano)

Alckmin, o mais forte

Geraldo Alckmin, ex-governador paulista e atual secretário de José Serra, vai se firmando como a principal opção do PSDB paulista ao governo. Não é o candidato in pectore de Serra nem do prefeito Kassab ao governo. Mas Aloysio Nunes Ferreira parece pregado no chão. Trata-se de um grande articulador, mas não tem visibilidade. Dessa forma, Alckmin passa a ser o candidato mais provável da aliança PSDB-DEM. Serra não quer fazer feio.

Palocci tem dúvidas


Antonio Palocci até já foi anunciado como nome forte do PT ao governo. Mas o deputado continua cheio de dúvidas. Teme que o caso Francenildo volte à superfície. Não pretende continuar a ser vidraça. Ocorre que é o melhor e mais preparado quadro do PT paulista. Não tem a tibieza de Mercadante, a arrogância de Marta, nem o deslocamento de eixo do Suplicy.

Receita pacificada

A Receita Federal voltou aos trilhos. Após a tempestade sindicalista, vem a bonança. O secretário Otacílio Cartaxo não perdeu a calma : trocou os rebeldes, preencheu os buracos. Com seu espírito de harmonia, mobiliza os quadros em torno de uma gestão técnica e aperto na fiscalização. Espera resgatar posições de arrecadação em pouco tempo.

Yeda, a bailarina


Yeda Crusius, a governadora do RS, tem demonstrado ser exímia bailarina. Dançou de um lado, dançou de outro, e não é que está se equilibrando na corda bamba? A essa altura, este escriba, que apostava na sua queda, tem a impressão de que deu a virada. Ficará. Será?

Jantar o Brasil?

E esse Tevez, hein? Exibe a arrogância de mandar o recado: "vamos jantar o Brasil". Que sujeito petulante, hein? Que tal servi-lo de sobremesa?

Barbaridade...


Que coisa bárbara! Mataram em Brasília o advogado José Guilherme Vilela, de 73 anos, sua mulher e uma empregada. De mãos assassinas, a morte não faz a conta sobre quem deve levar e por quê...

Bolsa e Lula em dois tempos


Circula na internet um vídeo com Lula fazendo a execração pública de bolsas assistencialistas. Diz mesmo que aqueles que as usam são oportunistas. São moedas para comprar o voto. Não são programas que apresentam perspectivas para o futuro dos assistidos. Depois, aparece Lula, em tempos recentes, execrando os imbecis que acusam o programa Bolsa Família de não ter saída. Lula, em dois tempos, é tão verossímil quanto falastrão.

Conselho ao corpo parlamentar

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao PT paulista. Hoje, volta sua atenção ao corpo parlamentar:

1. Corram e apressem a votação do projeto de Reforma Eleitoral para que possa ser aplicado em 2010;

2. Evitem censura às redes sociais na Internet e não tentem comparar a rede virtual às concessões de rádio e TV;

3. Vejam como foi feito o uso da Internet em países democráticos, como os EUA, e não procurem reinventar a roda. Simplesmente, façam as adaptações necessárias aos nossos costumes.

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(Por Gaudêncio Torquato)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

ANIVERSÁRIO DE PAULO QUEZADO

OAB PRÁ VALER

Nesta eleição, quero fazer diferente.

Dizer que a Ordem é privativa de advogado todo mundo sabe. É um lugar comum. Quero ir além disso.

Quero uma Ordem vibrante, valente, viril, virtuosa.

Vibrante no congraçamento dos operadores do Direito.

Valente na defesa das nossas prerrogativas.

Viril no bom combate pelas liberdades públicas.

Virtuosa na aplicação do direito, na pregação da justiça e na propagação da esperança.

Quero uma OAB PRA VALER!

Voto Valdetário!

Vamos à vitória!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

SAÚDE MENTAL! (OU... QUEM É LOUCO, AFINAL?)


"Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei.

Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia.Eu me explico.Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se.Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.

Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham... Eram lúcidas demais para isso.Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata.Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental.Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvir falar de político que tivesse depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.

Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software.

O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.

Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software.Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam.

Não se conserta um programa com chave de fenda.Porque o software é feito de símbolos e, somente símbolos, podem entrar dentro dele.Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção!

Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio:
A música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou... Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, "saúde mental" até o fim dos seus dias.

Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes.
A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música... Brahms, Mahler, Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Tranquilize-se há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago?

Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.

Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal.

Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram..."

(Por Rubem Alves, in "Sobre o tempo e a eternidade" Campinas: Ed. Papirus, 1996).

terça-feira, 1 de setembro de 2009

OBSERVATÓRIO

O noticiário político de Crateús na quinzena passada foi dominado por um fato que chocou muita gente: o possível desembarque do PMDB local na plataforma do Executivo Municipal. Segundo informam alguns atores do teatro político crateuense, o acerto deixou de se concretizar por intervenção do Deputado Domingos Filho, que havia relembrado aos correligionários um compromisso anteriormente firmado noutra direção. A indagação que emerge é: o que estaria nas entrelinhas dessa ação?


UM OLHO NO LEGISLATIVO...

O Prefeito Carlos Felipe teria assim agido visando dois objetivos: o primeiro, com repercussão imediata na sua base de apoio na Câmara Municipal, seria encurralar dois edis da sua coligação: Betinha Machado e Nego do Bento. O Prefeito acha que eles estão causando muitos desconfortos. São, hoje, presenças incômodas (Nego do Bento, por exemplo, na quinta-feira passada fez um discurso contundente em cima do Secretário de Administração, ‘Cabo Chico’). Exercem uma independência constrangedora. Além disso, ‘pedem demais’. Se conseguisse o apoio de outros vereadores, o desejo era colocar os impertinentes aliados na geladeira.


OUTRO NA ELEIÇÃO...


O segundo objetivo dessa manobra política seria a eleição de 2010. Inseguro com relação aos resultados eleitorais do ano que vem, o alcaide tenciona repetir o discurso que o levou ao Paço Municipal: unir o que ele chama de ‘família crateuense’ fustigando os políticos oriundo de outras terras. Em primeiro lugar, o deputado em que votou, pediu votos e trabalhou na eleição de 2006: Nenen Coelho; em segundo, Domingos Filho ou seu candidato a Federal, Domingos Neto.


O EFEITO


Em verdade, apesar de ter subido às alturas do apoio popular ancorado na aeronave de uma “vida nova”, o Prefeito, após tomar o assento do poder, resolveu incorporar o que existe de mais velho na política: o apreço à dissimulação, o cultivo da malícia, o exercício da rasteira, o desprezo aos aliados de primeira hora em troca dos oportunistas de plantão. Ninguém ignora em Crateús que Betinha Machado e Nego do Bento optaram por Carlos Felipe quando este ainda era somente uma promessa. Se hoje cobram algum quinhão do latifúndio prefeitural, é porque viram o comandante da fazenda – que prometeu um governo sério e combate rigoroso aos velhos costumes - se embrenhar de maneira desassombrada pela capoeira do clientelismo. Se o Prefeito instituiu o reino do toma-lá-dá-cá e está privilegiando aqueles que combatia, cobrindo de benesses os vereadores antes adversários, nada mais justo – na lógica desses vereadores - que os que participaram do início da empreita reivindiquem a parte que lhes cabe. A vereadora Betinha, por exemplo, foi a mais votada. O seu grupo de retaguarda construiu a maior máquina estrutural da campanha e foi quem montou o primeiro palanque potente para o candidato comunista, quando ainda havia muita incerteza.

O EFEITO II

O outro objetivo de Carlos Felipe – obter um bom resultado eleitoral na eleição de Deputado – tem encontrado obstáculos. O primeiro é que gerou expectativas ou firmou compromisso com muita gente: só para Deputado Federal, aguardam o apoio do Prefeito os candidatos João Ananias, José Guimarães, Chico Lopes, Gorete Pereira e Lúcio Alcântara. Para Estadual, pretende apoiar apenas um nome visando uma polarização com Nenen Coelho. Descartou Hermínio Resende. Tentou Nenzé Bezerra que, como um gato escaldado, tem pulado dessa água fria. Estuda lançar o vice-prefeito Mauro Soares. Mas este, se conquistar muito espaço na eleição de Deputado, pode ser um complicador na refrega sucessória. Já se comenta que o vice-prefeito dos sonhos de Carlos Felipe é Márcio Cavalcante, hoje o mais influente operador político do seu governo.

O EFEITO III


Equivoca-se o Prefeito ao achar que a mera repetição daquela bairrista mensagem de rejeição a quem nasceu fora de Crateús surtirá o mesmo impacto. Narrin. Nunca. Isso valia quando as pessoas desconheciam a diferença entre intenção e gesto, entre o prometido e o praticado. Quem está com as rédeas do alazão governamental vai para as urnas tendo que se explicar. Passa a ser alvo.

ALERTAS

Na política, mundo das mistificações, os amigos evitam alertar os governantes quanto aos desvios de rota - diferentemente da vida normal, onde predomina o ditado “quem avisa amigo é”. Ninguém na Prefeitura parece alertar o gestor maior, enquanto responsável pelas Contas de Governo do município, sobre o básico: a Administração Pública é regida pelo princípio da legalidade. Traduzindo: um agente público só pode fazer aquilo que a lei permite. Jamais o que ela proíbe. Apenas dois exemplos: 1) A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece o limite de 54% para gastos com pessoal por parte do Poder Executivo. A Prefeitura de Crateús, segundo relatório que ela mesma publicou, já ultrapassou em muito esse limite. Se chegar ao final do ano nesse ritmo, o Prefeito responderá pelo ilícito. 2) Pintaram um espaço público com os seguintes dizeres: “Carlos Felipe – o Prefeito que mais investiu no esporte”. Ora, essa propaganda, além de ser uma inverdade, contém uma ilegalidade. Primeiro, com base em que se chegou a essa constatação? Quer dizer que os Prefeitos anteriores, que construíram estádio, ginásio coberto e quadras poliesportivas, investiram menos que o atual? Segundo, a Constituição Federal proíbe o uso do dinheiro público para a promoção pessoal do governante, como no caso sob exame. Isso fere o princípio da impessoalidade que orienta o ente público.

PARA REFLETIR

“Na política, a verdade deve esperar o momento em que todos precisem dela.” (Bjornstjerne Bjornson)

(Por Júnior Bonfim - publicado na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, de Crateús, Ceará)

domingo, 30 de agosto de 2009

UMA REFLEXÃO SOBRE PAIS X FILHOS A PARTIR DO FILME "CAZUZA"



Uma psicóloga que assistiu o filme Cazuza, escreveu o seguinte texto:

- 'Fui ver o filme Cazuza há alguns dias e me deparei com uma coisa estarrecedora. As pessoas estão cultivando ídolos errados.

Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza? Concordo que suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível.

Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu à margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos construir (ao menos eu) com conceitos de certo e errado. No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, já tinha tudo nas mãos. A mãe vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras. O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida correr solta.

São esses pais que devemos ter como exemplo?

Cazuza só começou a gravar pois o pai era diretor de uma grande gravadora.

Existem vários talentos que não são revelados por falta de oportunidade ou por não terem algum conhecido importante.

Cazuza era um traficante, como sua mãe revela no livro, admitiu que ele trouxe drogas da Inglaterra, um verdadeiro criminoso. Concordo com o juiz Siro Darlan quando ele diz que a única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar é que um nasceu na zona sul e outro não.


Fiquei horrorizada com o culto que fizeram a esse rapaz, principalmente por minha filha adolescente ter visto o filme.

Precisei conversar muito para que ela não começasse a pensar que usar drogas, participar de bacanais, beber até cair e outras coisas fossem certas, já que foi isso que o filme mostrou.

Por que não são feitos filmes de pessoas realmente importantes que tenham algo de bom para essa juventude já tão transviada? Será que ser correto não dá Ibope, não rende bilheteria?

Como ensina o comercial da Fiat, precisamos rever nossos conceitos, só assim teremos um mundo melhor.

Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi consequência da educação errônea a que foi submetido...

Será que Cazuza teria morrido do mesmo jeito se tivesse tido pais que dissesem NÃO quando necessário?

Lembrem-se, dizer NÃO é a prova mais difícil de amor.

Não deixem seus filhos à revelia para que não precisem se arrepender mais tarde. A principal função dos pais é educar. Não se preocupem em ser 'amigo' de seus filhos. Eduque-os e mais tarde eles verão que você foi a pessoa que mais os amou e foi, é, e sempre será, o seu melhor amigo, pois amigo não diz SIM sempre.'

Karla Christine

Psicóloga Clínica


Leu? Concorda com a psicóloga?


Então faça sua parte: divulgue.


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Alguns homens vêem as coisas como são, e dizem: Por quê? Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo: Por que não?
(George Bernard Shaw)