terça-feira, 17 de setembro de 2019

WASHINGTON LUÍS BEZERRA DE ARAÚJO - CIDADÃO CRATEUENSE!



Autoridades já mencionadas,

Senhoras e Senhores,

Crateuenses:

Apresento-vos o nosso mais novo Concidadão: Washington Luís Bezerra de Araújo!

Gestado no ventre de Antonina Bezerra do Bonfim pela afeição conjugal com Francisco Macedo de Araújo, é caudatário de duas numerosas famílias desta Comuna: os Bezerra Bonfim e os Araújo. Quis o tino do destino brindar-lhe com o prodígio de poder mirar o mundo pelas lentes da amplitude. Talhado para as grandezas – ele adora voar - nasceu em um Campo Maior! Nasceu com a fleuma bandeirante, o imã do pioneirismo, o magnetismo vanguardista!

Segundo nosso parente e comum amigo aqui presente, doutor Arcelino Gomes, que o conhece desde os algodões infanto-juvenis, “Washington sempre foi um menino diferenciado”. Quando as águas de março o banharam no décimo quarto ano de vida, no invernoso ciclo de 1974, recebeu a auspiciosa notícia de que havia obtido o primeiro lugar na seleção para menor estagiário do Banco do Brasil. Foi o primeiro menor estagiário do Banco do Brasil, quando esta era uma instituição super disputada. Desde então, nunca mais deixou de frequentar a plataforma dos vencedores. Em 1981, entrou no BANCESA como estagiário e saiu como Chefe do Departamento Jurídico do Banco. Em 1991, em um dos concursos de peneira mais fina do Judiciário Cearense, quando apenas treze candidatos obtiveram aprovação, lá estava ele recebendo o troféu de primeiro colocado. Obteve nota máxima, também, na prova oral, o que lhe garantiu o direito de escolher a Comarca para começar a judicatura. Escolheu as belas praias, os morros brancos, as dunas exuberantes e as monumentais falésias de Beberibe. Ali, ao receber o primeiro processo, sentiu o insight, o estalo no intelecto, a clareza súbita na mente de que veio ao mundo para exercer a heroica, desafiante e nobre tarefa de julgar. Após uma trajetória em que sempre cultuou a meritocracia, foi escolhido, também pelo critério do mérito, para ser Desembargador da mais Alta Corte de Justiça Alencarina.

Maquiavel, analisando o nosso signo valorativo, afirmou que metade de nossas ações é governada pela fortuna, metade pela virtú. A fortuna é a sorte. A virtú é a própria preparação virtuosa, o conhecimento prático e técnico da realidade. Na vida de Washington, a fortuna, ou sorte, sempre o encontrou com a armadura da virtú. Sua pisada vital, sua trilha existencial, adornada pelas jitiranas do êxito, nos revela isso. Apesar de hoje ter a sorte de ocupar a mais alta cadeira do Judiciário cearense, permanece um jardineiro da virtú. Reserva os finais de semana para estudar. Cursa MBA em Direito: Gestão Pública, pela Fundação Getúlio Vargas, na Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará – ESMEC. Podemos afirmar, sem sobressaltos: o varão que hoje formaliza seu ingresso em nossa tribo, Crateuenses, é um grande investidor. Investidor na Bolsa de Valores da Alma. Palmas para ele!

**************************************************************************
Crateuense Washington Luís Bezerra Araújo: permita-me compartilhar alguns fonemas sobre esta terra que, doravante, terás como emblema!

Daqui, deste modesto templo à cultura, deste Teatro que leva o nome de Rosa Ferreira de Moraes, a quem estás vinculado pelos vasos comunicantes da consanguinidade, te convido a realizarmos, como viajantes imóveis, um breve passeio por alguns pontos icônicos e referenciais. Se o convido, doutor Washington, a molhar os pés nos córregos da nossa geografia e da nossa História, ao mesmo tempo o estimulo a se associar e se comprometer com as principais bandeiras e marcas que orientaram a nossa formação. Apresento-lhe os nossos ocultos mastros, as nossas imperceptíveis placas indicativas, as nossas invisíveis colunas de sustentação.

Na primeira, divisamos em letras garrafais a palavra ALEGRIA. Ela indica nossa veia aberta: o Rio! Somos uma civilização nascida de uma química aquática! Crateús é invenção de um rio: o Rio Poty! Detentor de um currículo épico singular – é o único rio interestadual do Ceará – esse monstro humilde que nasce na Serra da Joaninha, inverte o curso natural e conveniente da maioria para percorrer, qual um bravo pioneiro, um caminho inusitado. Cortando a cadeia montanhosa da Ibiapaba, brindou o mundo com um Canyon, inexplorada e bela paisagem de luz e vida. O Rio Poty é o leito da nossa alma libertária, regato dos nossos sonhos inconfessos, símbolo maior da nossa terra. Ele foi o palco em que, com o coração cantante, bailaram os índios Karatiús. Os nossos nativos eram seres festivos. Tudo era, para eles, motivo de comemoração: nascer, viver e até morrer. Deles herdamos o primeiro dos nossos compromissos: com a alegria, variante da felicidade, que é a busca mais intensa e profunda do ser humano.

A segunda é a nossa crença no inacreditável, nossa visão do invisível, nossa capacidade local de vinculação ao transcendental, que chamamos . A Fé deste povo está simbolizada na vinda, em ombros de escravos, da imagem do Senhor do Bonfim de Salvador até aqui, no ano de 1792. Seis anos depois, em 1798, um missionário capuchinho italiano chamado Vitale de Frescorello – imortalizado Frei Vidal da Penha, fincava neste solo quatro grandes cruzeiros e lançava, como sementes selecionadas, seus inflamados sermões versando sobre as virtudes humanas. Somos, Desembargador, um povo de Fé!

A terceira, a terceira é a BELEZA. A devoção à Beleza foi aqui plantada por um conterrâneo nascido na Fazenda Boa Vista e que a história consagrou como o fundador da literatura piauiense (vejam as coincidências!): José Coriolano de Sousa Lima. Magnânimo Magistrado, resplandecente Poeta, maiúsculo Político e portentoso Jornalista. Foi deputado provincial pelo Piauí, por duas legislaturas, e presidente da Assembleia Legislativa. Participou ativamente da imprensa no Recife e Teresina. Foi eleito Príncipe dos Poetas Piauienses (pois à época em que viveu Crateús pertencia ao Piauí).

Coriolano, cujo busto foi recolocado na Praça da Matriz pelos escritores Flávio Machado, Raimundo Cândido e Edmilson Providência, nos iniciou na cadeira de Estética da Alma. Seu amor à argila que deu luz à sua retina está presente na poesia ‘A Virgem do Crateús’:

Há na minha província uma ribeira,
Um sertão, onde eu vi a vez primeira
Sorrir-me da existência a doce luz:
Tem o nome da tribo que o habitava,
Quando ao rude tapuia entregue estava,
Esse nome, sabei-o, - “Crateús.”


A quarta Coluna de sustentação desta cidade é o DESPRENDIMENTO, que inclusive foi objeto de um pergaminho legal. Por um Decreto assinado pelo Barão Homem de Mello, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, chancelado por sua Majestade, o Imperador D. Pedro II, sob o número 3012, e datado de 22 de outubro de 1880, o Piauí ganhou o acesso ao mar e nós passamos a pertencer ao Ceará. Ser Crateuense é, também, cultivar a generosidade do altruísmo.

A quinta pilastra é a nossa inclinação para a LUTA. Como o seu Campo Maior, que se notabilizou pela Batalha do Jenipapo, Crateús registra também combates heroicos. Aqui foi a única praça em que a Coluna Prestes enfrentou resistência e assistiu dois dos seus integrantes tombarem. Estão lá no Campo dos Vencedores. Em compensação, a cidade entregou dos seus filhos para se integrarem à Coluna. Era uma madrugada de janeiro de 1926 quando, segundo Frutuoso Lins, “reboou uma saraivada de rifles e fuzis”. A poucos metros daqui temos um Monumento em homenagem à passagem da Coluna por Crateús, que é a única obra no Ceará produzida pela prancheta de Oscar Niemeyer. Os exemplos do nosso pendor para as batalhas jorram como água de cachoeira. No entanto, aprendemos, com a sabedoria oriental, que a suprema arte é ganhar a guerra sem guerrear.

Por fim, registro que somos uma terra afeiçoada ao EMPREENDEDORISMO. Desde quando encravamos, na nossa espinha dorsal, as paralelas da linha férrea, ambicionamos o progresso com a sofreguidão de quem busca o infinito. Já construímos coroas de loiros tanto nas lavouras públicas como nos alqueires privados. Seus ancestrais, Desembargador: Coronel Zezé, o ex-Prefeito Zeca Araújo, o ex-Presidente da Câmara Alexandre Ferreira do Bonfim e o Monsenhor José Maria Moreira do Bonfim, dentre outros, pontificam no panteão dos que lançaram nas ruas desta urbe a marca do arrojo realizador. Somos a única cidade brasileira que ocupou, simultaneamente, três cadeiras na Câmara Alta do País, com os Senadores Beni Veras, Sérgio Machado e Valmir Campelo. Este último, depois, foi Presidente do Tribunal de Contas da União. Este evento de hoje, irmãs e irmãos, reacendeu em todos nós a tocha do ecumenismo e da vibração fraterna que sempre nos distinguiu. Abriu um colchete nas controvérsias, uniu a cidade inteira e até cidades vizinhas, como a caravana de Nova Russas aqui capitaneada pelo Prefeito Rafael Pedrosa. Aqui estão ex-adversários, digladiadores do passado e contendores no presente. Dentre outros, especialmente para lhe abraçar, vieram de Fortaleza, o ex-deputado, empreendedor nato, colecionador de riquezas, que generosamente doou o terreno para construção do prédio da Faculdade: Fernando Cardoso Linhares. Está aqui está hoje o único Crateuense que presidiu o Poder Legislativo Cearense e, nessa condição, sentou na cadeira de Governador (que, também, quero lhe ver um dia): o eterno e cantante Deputado Antônio dos Santos Soares Cavalcante. Aqui está, também, o único crateuense que presidiu o Tribunal de Contas dos Municípios e, antes disso, deixou um indelével rastro de labor à comunidade como Deputado Estadual: o inquieto e queridíssimo amigo Manoel Bezerra Veras. Já sentimos, em sentido contrário, o peso das intempéries, passamos por momentos de angústia e amargamos períodos de escassez. Esses ciclos adversos, no entanto, nunca nos acorrentaram ao saudosismo lamentativo. Miramos o futuro com a alegria contagiante de quem se levanta, todas as madrugadas, para saudar os raios da aurora.

E é com essa latência empreendedora, com o peito armado para a Luta, com a benevolência alvissareira do desprendimento, com o coração que palpita ante a Beleza, com o espírito compenetrado da Fé e com a alma bailando de Alegria, que nós te acolhemos hoje, cidadão Crateuense Washington Luís Bezerra de Araújo.

Não somos Reis Magos. Somos magros plebeus. Temos, porém, aquela riqueza que a traça não destrói. Recebe os nossos presentes: o ouro da sabedoria popular que resplandece, o incenso de uma fé que sobe aos céus e a mirra, que representa a imortalidade. Como os magos do Oriente, regresse para a sua lida com intenso júbilo. Que este Diploma seja uma nova estrela a guiar os teus passos vitoriosos!

Paz e Bem!

(Discurso proferido no Teatro Rosa Moraes, em Crateús, Ceará, por ocasião da outorga do Título de Cidadão Crateuense ao Desembargador Washington Luís Bezerra de Araújo, em 23.08.2019)

sábado, 14 de setembro de 2019

ENSINANÇAS ADVOCATÍCIAS

Cedo descobri que o manual da advocacia é um manancial de sabedoria! Nas suas cercanias, a labareda do fascínio há consumido minha alma. Hoje, meu coração coleciona cada lição extraída desse múnus impulsionado pela manivela da emoção.

Eis algumas dessas indicações:


1. A seara advocatícia é solo fértil, terra plena de latência, incubadora de sementes, ofício de oportunidades. Se há uma turbulência na política, um choque na economia, um frenesi social ou uma altercação em qualquer estação da estrada de ferro humana, lá está a advocacia para oferecer o lenitivo e apontar as propriedades que atenuam os desconfortos.

2. Deveríamos reconsiderar os conceitos de legitimidade ativa e passiva. O Processo é uma arena que se quer democrática, assemelhada à Dialética, onde uma tese e antítese almejam a prestação jurisdicional, a ser oferecida em forma de síntese.

3. A Consultoria é uma das nossas tarefas fundamentais, prevenindo a litigiosidade. À Calamandrei, “matando os litígios logo no início com sábios conselhos de negociação, e fazendo o possível para que eles não atinjam aquele paroxismo doentio que torna indispensável a recuperação na clínica judiciária”. Esse o magistério do nosso Código de Ética, em seu artigo 2º, VI: “estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios”.

4. O causídico é um pedreiro livre, construtor de teses. Suas asserções poderão compor o edifício jurisprudencial. Essa artesania exige dedicação ímpar e extremado zelo.

5. Lidamos com a busca da verdade, a mais profunda e delicada fonte. Ao contrário do que propagam, a verdade não é para ser dita de maneira nua e crua, sob o impacto da arrogância. Extraí-la, sim; impô-la, não. Como fazê-lo?! Ao modo dos grandes mestres, devemos suscitá-la pelo uso de parábolas, pela reflexão.

6. As cizânias são orientadas por normas invisíveis, compostas pela energia das partes. Atuando no Eleitoral, recebi certa feita dois clientes de municípios distintos. O primeiro, com uma causa aparentemente simples: defesa em impugnação de candidatura. Caso: uma conta desaprovada pelo Tribunal de Contas por atecnias, sem aplicação de nota de improbidade. Com o segundo, ocorria o inverso: cinco condenações, três delas com improbidade. Ao primeiro, dei conta das enormes chances de êxito; ao segundo, das abissais dificuldades. Aquele era temperamental, ansioso e, quiçá, irascível; este era tranquilo, generoso e desprendido. O pleito simples se complicou e foi indeferido; o caso complexo fluiu e vencemos. Portanto, ao adentrar em uma causa, observe a energia das partes. Há uma Legislação Espiritual que rege as lides. Mire os seus sinais!

7. Para bem servir, lapide-se. Entregue-se à solidão reflexiva, à ausculta silenciosa, à concentração do espírito. Verás que a introversão solitária te tornará uma pessoa mais solidária.

8. Somos convidados a ser agentes da civilizatória purgação. Sejamos, com entusiasmo e elegância, dignos dessa fabulosa missão!

(Júnior Bonfim)



CARTA PARA DIMAS!

Gracias, generoso poeta!

Rememoro, com entusiasmada tranquilidade, aquele nosso não planejado encontro em uma patriótica cafeteria, no último sábado do mês mais florido e primaveril que existe, o sorridente mês de maio (responsável por minha interação com o arraial humano).

Mimoseaste-me com a última fornada de teus sempre deliciosos pães literários – o primeiro, uma procissão aérea de pássaros canoros segurando codificações e tochas cerimoniosas (Codicírio - sic); o segundo, uma graciosa exposição de molduras reflexivas renovando uma profissão de fé na Justiça (Ensaios de Teoria do Direito) – e eu estou a me deliciar com ambos.

Camarada: és agraciado pela fortuna! Quando a luz te alcançou, tinhas na mão uma Pá e, nascido na Lavras, logo descobriste teu propósito: ser obreiro da Palavra!

(Às vezes me interrogo: como um Rio, dito Salgado, produziu um ser tão doce?! Louvada seja tua ‘Mangabeira de Lavras que, do mundo, é o batente, mobília do céu, posta na mente’.).

Bem sabeis que, entre nós, como sói ocorrer com os magnetizados com a possibilidade da transcendência, há o desenvolvimento suave de uma comunicação indecifrável, desprovida dos artefatos do verbo, liberta dos vieses silábicos, longe das obliquidades fonéticas e das esguelhas sonoras.

Vez por outra os poetas, assim como os profetas, somos convidados a percorrer as discretas, paradoxais e invisíveis trilhas do mutismo dialógico.

Contam que Buda, o profeta da felicidade desperta, certa feita estava para fazer uma de suas famosas preleções para milhares de discípulos, que acorreram ao seu encontro de um raio de muitos quilômetros. Quando o mestre religioso apareceu, vinha segurando uma flor. O tempo passava, os seguidores aguardavam ansiosamente a preleção, e o oráculo permanecia silente. Apenas olhava para a flor. A multidão ficou impaciente, mas um dos seus mais próximos místicos, Mahakashyapa, que não conseguiu se segurar por mais tempo, explodiu em uma bela risada. Buda acenou-lhe para que se aproximasse, entregou-lhe a flor e disse à multidão: “Tudo o que podia ser dado a vocês com palavras eu já lhes dei; mas com esta flor dou a Mahakashyapa a chave de todos os ensinamentos”.

Com efeito, Buda, assim como todos os grandes reitores do espírito e arquitetos da claridade, sabia que a chave de todos os ensinamentos não podia ser dada por meio da comunicação verbal.

É isso. Os que conseguem ultrapassar o ardiloso pântano da mera sedução verbal, descobrem a semente imorredoura. E não por acaso se enfastiam com as veleidades e, sobretudo, com as mediocridades que animam certas convenções sociais. Pertences a essa alta estirpe. Por isso que, inesperadamente, pássaro solitário, constantemente bates asas com destino ao platô sagrado do eu mais profundo.

E lá retomas a bússola que orienta teus passos essenciais, reafirmas o credo no primado da inteligência, entoas o hino à sabedoria, celebras o culto à leveza, conectas com o teu divino, escutas a sinfonia da alma, acendes a pira olímpica da liberdade e recuperas as partituras da amizade. E nesta recuperação sabes que podes contar comigo. Não te tenho em outra circunscrição senão na de um amigo.

Conte invariavelmente comigo e pode agendar um momento fraterno, um átimo eterno, um instante de alegria, uma pausa tipo melodia, para partilharmos um dedo de prosa e outro de poesia!

Gracias, canoro mestre!

(Júnior Bonfim, na Revista Gente de Ação)

DESEMBARGADORA NAILDE PINHEIRO


Principio minha fala lembrando que não são poucos os que afirmam que “por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher”. Outros, no afã de externar generosidade, avançaram e asseveraram que “é ao lado do homem que encontramos a grande mulher”. Perdoem-me, mas penso diferente.

Mulheres há que, sem fixação, indiferença ou rejeição ao consorte, constroem marca própria!

A desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira é uma delas. Seu trajeto existencial é marcado pelo percurso sereno, pelo caminhar sintonizado com o sol dos grandes valores.
Mirem essa galeria de ex-Presidentes do nosso Tribunal Regional Eleitoral. Nela, as mulheres rareiam. São exceções que confirmam a regra da gana pela primazia masculina...
Sonorizou as cordas musicais da sensibilidade quando aqui mencionaram mulheres que se destacaram ao longo da caminhada da humanidade.

De fato, o útero da História é pródigo em exemplos de admiráveis fêmeas de terra e guerra: Cleópatra, além de deslumbrante e sedutora, era inteligente e culta, cuja notória esperteza manteve as fronteiras do seu reino; Joana D’Arc, jovem camponesa que vestiu a farda militar e foi protagonista de uma guerra que restabeleceu a dignidade francesa, além de ser queimada pela mesma Igreja que, séculos depois, reconheceu sua santidade; Isabel de Castela, a rainha espanhola que patrocinou a descoberta da América por Cristóvão Colombo; a catarinense Anita Garibaldi, a combatente da Revolução Farroupilha, mulher muito à frente de seu tempo; e, mais recentemente, Madre Teresa de Calcutá, cujo apostolado extraordinário foi o mais patente exemplo de que “prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão”...

No tempo histórico em que está fiando o seu mister, a desembargadora Nailde Pinheiro é detentora de qualidades que a tornam uma mulher diferenciada. Permitam-me que confidencie um dos momentos em que testemunhei isso.

Quando concorri a uma das vagas reservadas à advocacia neste Tribunal, realizei aquele périplo obrigatório de entrega do currículo e apresentação pessoal aos magistrados do TJCE. Ao adentrar no gabinete da desembargadora Nailde, ela informou que já tinha passado vista nos meus apontamentos. Preparei-me para a sabatina convencional sobre temas jurídicos, opiniões sobre composição de Cortes Julgadoras, inflexões jurisprudenciais ocorridas nos últimos tempos etc. Qual não foi minha surpresa quando, brilho nos olhos, ela disse:

- Gostei do que você consignou sobre a família (“lócus afetivo primeiro, ambiente privilegiado de integração e espaço fundamental para o processo de formação humana”) e, sobretudo, de mencionar que “nas folgas, inventando sabores, adora queimar aborrecimentos, restaurar energias e aquecer amizades à beira de um fogão”.

Naquele momento, conclui que estava diante uma julgadora que cultiva um raro sentimento nesses tempos de embrutecimento: o humanismo!

A desembargadora Nailde, que encheu este Tribunal de flores e espalhou o perfume da benevolência sobre todos os espaços desta Casa, merece de todos nós o buquê do reconhecimento.

E hoje, que ela se despede deste espaço, não temos motivo para lamentos ou tristezas.

É com alegria que nos despedimos.

Porque, após tantos anos de dedicação à Justiça Eleitoral Alecarina, a senhora parte para voos mais ousados e nos brinda com o brilho imorredouro da sensatez e da sensibilidade.

Boa sorte!

(Palavras proferidas na Sessão de Despedida da Desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira da Presidência do TRE/CE em 29.01.2019)

quarta-feira, 24 de abril de 2019

DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA FORTALEZENSE DE LETRAS



Dignidades que ornam a mesa,
Damas que aformoseiam,
Cavalheiros que abrilhantam
E mocidade que empresta mais fulgência às lâmpadas deste Palácio de Luz:
Meu cordial boa noite!



Impulsionado pela deferência da indicação para, em meu nome próprio e de três férreas e finas fêmeas, articular as sílabas de gratidão, sinto simultaneamente o latejar estrelado da honra e a inquietante fagulha metálica do assombro feito desafio.

(Suponho ser esta a vez inaugural em que profiro uma oração acadêmica na solitária e afortunada condição de bendito entre mulheres...).

Principio homenageando a cálida Casa que nos acolhe em nome daquele que a representa ativa e passivamente, o seu Presidente Seridião Correia Montenegro! Fraterno amigo, bondoso companheiro, Seridião alcançou o Tibet da montanhosa cadeia existencial após uma portentosa senda de imersão axiológica e inversão cronológica. Além de se ressintonizar com os valores duradouros que são, para o mundo, pilastras de sustentação, o atual comandante desta Arcádia experiencia o milagre da permanente renovação. Saulo Ramos, o renomado jurista que, nos píncaros da maturidade, virou romancista e poeta, confidenciou: “Sempre que escrevo um poema tenho menos de vinte anos. Não importa minha idade. Tenho menos de vinte anos quando a poesia me desassossega”. O que ocorre com Seridião não é muito diferente: eis um varão maduro e decente que a literatura tornou adolescente.

Mais do que um preceito de regência, tornou-se um dispositivo pétreo nos grêmios que evocam o sítio de Akademus e, sob o mesmo arrimo histórico, as pilastras regimentais da Academia de Richelieu – que, aprovado o ingresso, os recipiendários balbuciem notas básicas de auto apresentação e, sobremaneira, referenciem o assento patronal que ocuparão.

Por isso, como um modesto puxador de bateria, retiro o chapéu invisível e estendo a mão para saudar as divas da noite, todas detentoras da notoriedade curricular. Adianto que optei pelo ritual da brevidade, tão cultuado nos dias atuais, bem como as mencionarei em ordem alfabética, porque indistintamente exibem igual ordem de relevância.

A primeira é oriunda de um dos mais belos espaços da nossa sedutora geografia, cujo corpo resta dotado de voluptuosos seios de pedras que chamamos de monólitos. Ela ainda engatinhava pelas babugens redacionais quando, em Quixadá, recebeu de Rachel de Queiroz o óleo batismal para brindar o planeta com a arte de coser as linhas da língua, ornamentar os causos e nomear as cousas – não sem antes receber a admoestação de que deveria priorizar as falas e os costumes do ambiente nativo. Proprietária da editora Sol Literário, tem o magistério como estuário. A consultoria é um dos seus pilares, além dos projetos que toca no Colégio Antares. Para ela foi reservada a cadeira de número 04, que tem como patrono o médico mítico, historiador que fez história, libertador e militante abolicionista, Guilherme Chambly Studart, o Barão de Studart. Anuncio que sucederá a Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos no quarto assento desta Casa a professora, poetisa e romancista Angélica Cecília Freire Sampaio de Almeida.

A segunda é um presente que ganhamos da terra de Genuíno Sales. Nascida na bela Teresina, a Cidade Verde, também conhecida como Mesopotâmia Brasileira (porque banhada por dois rios: o Poty e o Parnaíba), ela exibe diploma de mestrado educacional e sentimental. Como os lençóis freáticos de seu estado natal, ela carrega nos subterrâneos da alma um aquífero copioso, uma fonte termal de envolvente ternura. Missionária da inclusão social, hasteia diariamente a bandeira da acessibilidade, abrindo mentes e dobrando corações para que tenhamos um aumento da produção livresca em braile. Partiu dela a ideia de que esta festa fosse animada pelo Antoniel Batista e equipe, que, a despeito de problemas oculares, se revelam brilhantes artistas. Premiada aqui e alhures, essa mulher de espírito musical vai cuidar da poltrona que tem como patrono o compositor, pianista, organista e professor Alberto Nepomuceno. Para suceder a escritora e poetisa Rita de Cássia Araújo na cadeira 02, apregoo que a Academia Fortalezense de Letras disporá do talento e da genialidade de Elinalva Alves de Oliveira.


Proclamo, com eco em todas as Colunas deste Edifício, que a terceira empossada nasceu sob a brisa de Iracema e sempre esteve destinada à ribalta. Sabemos que, conforme a lição sagrada, a candeia não pode ser posta debaixo do alqueire. A luminosidade desta dama está na fronte e tem como fonte uma secreta palma que brota do sacrário d’alma! Carrega em si a solenidade da simplicidade. Esbanja a fidalguia da singular alegria. Há poucos dias, neste mesmo salão, teve celebrada a sua triunfal entrada na mais alta Casa de Letras estadual. Ariana, combina alento e movimento. Tem o espírito pascal: seu foco é sempre o essencial. Por isso, apraz-nos acompanhar, com indisfarçável fascínio e fulgor admirativo, cada nível que ela sobe no podium das olímpicas conquistas. Ela vai lustrar a poltrona auspiciada por um vanguardista em planos e posturas que revolucionaram a atmosfera Alencarina, o Senador Pompeu, e que estava, até bem pouco, sob a guarda do médico, orador, escritor e cantor Maurício Benevides. Doravante zelará pela cadeira 39 a doutora Grecianny Carvalho Cordeiro.

Quanto a mim, catecúmeno que aprecia o ritual da poesia, gerado à sombra de uma frondosa oiticica na ribeira do Poty, posso lhes adiantar que fio minha vital fantasia sob três efes: o forense (abracei a profissão de Santo Ivo), o familiar e o filantrópico-literário. Minha carreira de vida, ou curriculum vitae, é germinação de jitirana, cultivo terreno de básicas crenças celestes como a do efeito invisível do fermento no alimento e na mão do Onipotente conduzindo a vida da gente. Minha rotina se concentra em acariciar a aurora com o ósculo da gratidão, pois tudo que em nós se faz verso é mimo do universo; estender as mãos e dilatar a ternura para o lócus afetivo primeiro, que é essa interativa ilha chamada família; manter acesa, e com fidelidade, a fogueira da amizade; adentrar nos fóruns aquecidos pelo sol do nosso sertão e nos tribunais bafejados pela brisa do litoral com alegria e paixão; laborar pela geral felicitação, a partir da compreensão de que uma existência digna e saudável há de ser um bem colocado em comunhão. E aqui, na cadeira 12, farei uma dúzia de esforços para lapidar minha rima sob os auspícios do maiúsculo poeta e educador Filgueiras Lima. Ele, que lecionava com a solenidade litúrgica de quem rezava, certamente me estenderá a mão no cumprimento dessa missão. Com o apoio do saudoso Genuíno Francisco Sales, meu dileto antecessor, farei desta empreitada um ofício de amor!

Academia Fortalezense de Letras! Passamos hoje pelo teu imperceptível túnel de espadas e pisamos o tablado do teu dispositivo reverencioso para receber a unção de luz e celebrar a renovação dos votos sacramentais de culto ao idioma!

Adentrar no teu Pórtico, no entanto, reclama mais. Muito mais! Exige que esse consórcio afetivo se estenda à cidade que representas, a Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção!

Mulher híbrida, águia bicéfala, ora se nos apresenta como uma arrebatadora morena, uma virgem com lábios de mel; ora nos sacode com o desfilar deslumbrante de uma loira desposada do sol. Fortaleza revira-se na cama dos desejos ansiando por impulsos vitais, como que a implorar um solavanco inédito, como que a almejar a inauguração de um tempo de realização de intuitos nunca dantes imaginados.

Ao sermos admitidos nas colunas desta Confraria e nos dispormos a decifrar os hieróglifos do presente, não podemos descurar do solo em que pisamos, uma urbe de punho e pujança, de velas e ventos, de aldeota e varjota, de verdes mares e escuros esgotos, de coco e cocó, de jardim das oliveiras e vila união, de conjunto esperança e praia do futuro...

E aqui, para não abusar da vossa generosa paciência, ousamos compartilhar uma ponderação derradeira, que imaginamos ser comum a todos os que caminham pela orla do tempo mirando o oceano das humanas possibilidades.

No escuro da noite ou no clarão do dia, estamos sob uma travessia. A indagação que se agiganta parece simplória: o que está na raiz dessa inquietude civilizatória?! Qual o motivo dessa turbulência conceitual, dessa confusão de papéis que soa irracional?!

Na raiz de todo esse embaçamento, que a cada dia se agrava, está a nossa relação com a Palavra...

E o que nos dizem os mais qualificados guardiões do verbo, aqueles por cuja verve o oráculo ferve?! Revelam que a palavra é poder fundante, manancial fecundante, pia que tudo cria, inalcançável monte, inesgotável fonte!

Ai, Palavra! Oh, Palavra, como és açoitada, ultrajada, banalizada, vilipendiada...

O maior desafio às gerações atuais não é senão te retirar da sala dos passos perdidos em que te lançaram e reconduzir, como merecimento albergado, ao teu altar sagrado!

Deveríamos ter, em nosso músculo de articulação fonética, uma balança e uma fita métrica, a fim de realizarmos um filtro prévio dos nossos esperneios verbais. Porque os vocábulos, mademoiselles e varões, os vocábulos têm pesos e dimensões. Não deveríamos deles lançar mão sem o experimento antecedente da valoração. A lâmina do insulto, o petardo da injúria, o torpedo da calúnia, a explosão difamatória e tantas outras violações ao sacrário da intimidade alheia poderiam ser evitadas se antes de proferirmos os veredictos maledicentes os submetêssemos às peneiras Socráticas...

Sobretudo, deveríamos optar pelo uso frequente da palavra em sua forma de brasa mais ardente: a não palavra, aquela que produz o barulho mais estrepitoso, o silêncio cerimonioso.

Não desistamos da tranquila alegria. Vivemos sob uma aragem que prenuncia uma catarse. Atinge-nos uma rajada de purgação. Pisaremos a plataforma da libertação!

Se entre nós estivesse, Carlos Drummond de Andrade certamente diria, com seu moderado elã, que lutar com palavras é a luta mais sã.

Eis que, sob o candeeiro dessa prédica, nossa prática condoreira, além da virtude guerreira, ganha também vestimenta alvissareira. Por ela, descobrimos o mais atual excerto: o mundo tem conserto! É através da lavoura da palavra, em especial do seu semear mais profundo, que poderemos realizar a assepsia do mundo!

Aqui chegamos, irmãs e irmãos dessa agremiação literária com cheiro de mar e plena de luz solar, para simplesmente somar. Cada um de nós traz nas mãos um punhado de húmus, em seu duplo significado latino de terra e humildade. Vimos para jurar o exercício do sagrado ofício de todo ser que se dedica a cunhar éditos, doirar pergaminhos, fiar missivas e esculpir escaninhos: cumprir a tríade criar, caminhar e cantar!

Criar. Ao semeador da palavra cabe a humana tarefa de animar os semelhantes no labor onírico da criação. Todos somos convidados a pertencer ao que é fecundo e germinal: à vontade de nascer – das sementes; à teoria silenciosa – das noites; à fúria juvenil – dos ventos; à claridade derramada – das manhãs; à floração colorida – das primaveras!

Caminhar. O magistério dos mestres do Oriente nos legou que o Caminho, ou o Tao, é o principal, o essencial. “Se você conhece o Caminho, conhece o objetivo, pois o objetivo não está no final do percurso, mas ao longo de todo o Caminho; a cada momento e a cada passo ele está presente”. (Osho)

Cantar. Cantar é fazer a alma bailar. Como leciona a sabedoria popular: devemos cantar para os males espantar. A canção traz em si o gérmen da verdadeira emancipação. Cantar atrai calma, engrandece a alma! – segundo nos revelou a Mãe do Mestre.

Criar, caminhar e cantar resume a trajetória do escritor perante a História.

Criemos, caminhemos, cantemos!
Pois para isto nascemos!


Gracias!
Merci!
Thank you!
Obrigado!

(Júnior Bonfim, na noite de 23 de abril de 2019, no Palácio da Luz, Fortaleza, Ceará)

domingo, 27 de janeiro de 2019

FREI HERMÍNIO BEZERRA



Frei Hermínio e eu somos oriundos de um mesmo e sedutor aquífero familiar, situado sob o leito do Rio Poty, nos sertões de Crateús. Somos parte de uma Pátria comum, a Pátria Alexandrina, o clã Bezerra Bonfim, cuja fundação ocorreu por engenho de um Ferreira Santiago - militante do servir, nobre de alma, usuário do gibão, rebento da civilização do couro que se tornou Promotor Público e foi registrado por uma tia, dita Bela, como Alexandre Ferreira do Bonfim.

A bússola do destino me conduziu para os poços termais da advocacia e crismou Frei Hermínio como um missionário da fé e confessor das sílabas ousadas. Juntamo-nos aqui nesta loira cidade desposada do sol, no terreiro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF), ao lado de outros amantes das letras que trazem no peito as orquídeas das nossas serras ou exibem na pele as jitiranas do nosso sertão ou conservam na espinha dorsal a altivez dos coqueiros do nosso litoral. Todos, cortejando uma índia de lábios de mel de nome Iracema, beijamos a sagrada flor da literatura, piano divino que torna mais doce a existência.

A Literatura é uma literal criatura cujas raízes costumam nos consumir do talo dos pés à palma das mãos. Costumeiramente, lança-nos à légua tirana das rotas surpreendentes, sob o tufão do espanto e da admiração. A trilha Herminiana como bandeirante dos radicais fonéticos, tal qual os percursos do trem da sua infância, está marcada por algumas indeléveis estações. Ele mesmo as cita: Rosa Ferreira de Moraes, a primeira Professora, sacerdotisa da educação à margem do Rio Poty, na Crateús do Senhor do Bonfim; Fernanda e Helena Mattos Brito, na terra do pássaro vermelho, a aprazível Guaramiranga; Lúcia Dummar, sob o embalo dos verdes mares desta Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção; e José Lopes dos Santos, debaixo da verde cabeleira de árvores da Capital do Piauí.

Suponho que outros filhos de Deus cruzaram sua vereda existencial e também salpicaram de estrelas os seus aposentos literários.

Na década de 1960, no Mosteiro dos Capuchinhos, em Guaramiranga, entre aquele conjunto de espaços curvados em forma de arco e sob o adorno de belos jardins, Frei Hermínio conheceu um outro jovem vindo do interior – que “adoçava o pranto e o sono, no bagaço de cana do engenho e era alegre como um rio, um bicho, um bando de pardais/ Como um galo, quando havia… quando havia galos, noites e quintais”, então chamado Frei Sobral e que, alguns anos depois, despontaria como o maior nome da Música Popular Brasileira: Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes – ou, simplesmente, Belchior, o mais alado e elevado letrista germinado no Brasil dos últimos cinquenta anos.

O clã Bonfim & Bezerra - ao qual pertence Frei Hermínio, nascido Afonso Bezerra de Oliveira em uma sexta-feira, 13, do ano da graça de 1945, na antiga Freguesia de Pelo Sinal, depois Município de Independência e, hoje, Quiterianópolis – tem vínculos soteropolitanos. Explico. A imagem do Senhor do Bonfim que guarda a Catedral de Crateús (Imagem e Igreja, réplicas do templo situado na Sagrada Colina, na península de Itapagipe, em Salvador) veio da Capital da Bahia para o Ceará nos ombros de escravos. O sobrenome Bonfim, de Alexandre, Patriarca da Família, homenageia o Padroeiro de Crateús.

No início dos anos 1970, a mão do destino conduziu Frei Hermínio para cursar Psicologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde se familiarizou com celebridades como a formosa Martha Vasconcellos, a miss universo de 1968, que fez psicologia após seu reinado no ano de 1969, destacando-se pela simplicidade; bem como Paloma Jorge Amado, filha de Jorge Amado, que possibilitou ao Capuchinho Cearense conversar algumas vezes com o famoso autor de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, em sua casa no Rio Vermelho. Amado, que escrevia numa velha Remington, certa feita confidenciou: “Frei, eu sou um trabalhador braçal”.

Salvador da Bahia, naquela quadra frenética, hospedava, além do casal Jorge Amado e Zélia Gattai, outros letristas famosos como Vinicius de Morais, Carybé, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulo Coelho e Raul Seixas. Este último, que filosofava na mesma Universidade em que Frei Hermínio estudava, cabeludo e irreverente, gritava nos corredores: “Pare o mundo, que eu quero descer!”

Essa convivência plural fez brotar esse ser misticamente singular: filósofo, teólogo, psicólogo, professor, numismata, filatelista, dicionarista, colecionador de palavras e objetos que hoje felicito. Felicito o ardente sertanejo, terceiro filho de Miguel Fernandes de Oliveira e Luíza Bezerra de Oliveira, uma mulher de fibra extraordinária! Felicito esse Hermínio, variante de Hermes, que significa ‘apoio, sustentáculo’. Felicito aquele que, segundo Zacharias Bezerra de Oliveira, um seu irmão que fez peregrinação profissional por vários países a serviço do Ministério das Relações Exteriores, é o mais assemelhado com a mãe, apesar de ser o que com ela menos conviveu. Felicito-o pela maior de suas virtudes, o apoio à simplicidade!

(Júnior Bonfim)