sexta-feira, 3 de junho de 2011

Clipe Italo & Renno Ceará terra da Luz Participação de Fagner

JADER BARBALHO DEVE CONTINUAR INELEGÍVEL

Jader Barbalho deve continuar inelegível. Foi negado o pedido apresentado por ele ao ministro Joaquim Barbosa para que ele exercesse o juízo de retratação sobre a decisão do Plenário que aplicou a Lei da Ficha Limpa a seu caso. A decisão é do ministro Joaquim Barbosa.

No julgamento desse RE pelo Plenário, em outubro do ano passado, a maioria dos ministros do Supremo entenderam que Jader Barbalho estava inelegível com base na Lei da Ficha Limpa. Posteriormente, ao julgar o Recurso Extraordinário 633703, o Plenário concluiu o julgamento sobre a aplicação da lei e entendeu que as previsões de inelegibilidade nela contidas não poderiam ser aplicadas para as eleições de 2010, sendo válidas apenas a partir das eleições de 2012.

A partir desse novo entendimento, Jader Barbalho recorreu ao ministro Joaquim Barbosa para que, em decisão monocrática, o relator se retratasse quanto à decisão do Plenário para, então, determinar que a Lei da Ficha Limpa não se aplicaria ao seu caso.

A defesa de Barbalho citou o Código de Processo Civil (artigo 543-B, parágrafo 3º) e afirmou que “o relator está autorizado a proceder ao juízo de retratação por se tratar de recurso que versa sobre a mesma questão já decidida em Plenário”.

Acrescentou, ainda, que a demora no juízo de retratação causa dano ao seu mandato de senador da República, pois fica inviabilizado de exercê-lo.

Para o ministro Joaquim Barbosa, no entanto, o pedido não tem amparo legal, pois o artigo 543-B, parágrafo 3º, do Código de Processo Civil, não se aplica ao caso. Isso porque esse dispositivo diz que o juízo de retratação pode ocorrer nos casos sobrestados [que aguardam julgamento] quando o mérito do Recurso Extraordinário já tiver sido julgado.

O ministro explicou, em sua decisão, que o recurso em questão não está sobrestado, pois já houve efetivo e integral julgamento do mérito do recurso pelo Plenário do Supremo. Dessa forma, o dispositivo do Código de Processo Civil não pode ser aplicado porque o sobrestamento é condição necessária para o juízo de retratação.

Joaquim Barbosa destacou, ainda, que o acórdão do julgamento do RE 631.102 foi encaminhado por ele no dia 12 de abril de 2011 para a Seção de Acórdãos do STF e está pendente de publicação.

“Como se pode observar, no presente caso, existe um acórdão de decisão proferida pelo Plenário desta Corte pendente de publicação. Porém, antes da publicação desse acórdão, o ora recorrente pretende que o relator, monocraticamente, exerça um juízo de retratação e reforme a decisão proferida pelo colegiado maior do Tribunal”, frisou o ministro ao lembrar que “não existe previsão legal para juízo de retratação, pelo relator, de decisão proferida pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal". Assim, o ministro Joaquim Barbosa negou o pedido e afirmou que tão logo o acórdão seja publicado, Jader Barbalho deve “valer-se dos meios de insurgência previstos no ordenamento jurídico brasileiro” para que o “próprio colegiado seja chamado a reapreciar a questão e decidir como entender de direito”.

(Com informações da Assessoria de Imprensa do STF).

quarta-feira, 1 de junho de 2011

CONJUNTURA NACIONAL

As galochas, padre, as galochas!


Um padre da paróquia de Caratinga procurou, um dia, o renomado médico, Dr. Edmundo Lima. Queixava-se de um prosaico, mas renitente resfriado. O médico constatou, de pronto, não se tratar de resfriado. A coriza não era nasal. O padre insistiu alegando haver pisado no chão do banheiro com os pés descalços. O doutor Edmundo, experiente, já havia feito o diagnóstico: uma baita blenorragia. O médico sentiu o drama do sacerdote. Receitou os remédios da época para curar blenorragia, com um conselho:

- Olha, padre, quando o senhor for tomar banho não se esqueça de usar galochas. Elas são de borracha, garantidas, e não deixam passar a friagem que provoca essa coriza que lhe está atormentando. Padre, as galochas, viu?

- Ah! Já ia me esquecendo: é bom que o senhor bispo não fique sabendo desse resfriado. Padre, todo cuidado é pouco!

A historinha é do mineiro Zé Abelha.


Tucanos arrumam a casa


Depois da tempestade, a bonança. O PSDB começa a arrumar a casa. A arquitetura de arrumação adota desenhos internos e externos. Os internos implicaram em fortalecimento do Conselho Político para acomodar em seu comando o ex-governador José Serra. Serra, como lembra o líder Duarte Nogueira à Coluna, sempre quis dirigir o Conselho. Fora convidado lá atrás por Fernando Henrique. Mas o órgão passou uns tempos sem prestígio e sem escopo. Agora, recauchutado, tem poderes para aprovar o Programa de Ação do partido, as parcerias e coligações, fusões partidárias, etc.. O Conselho passa a ser peça fundamental para traçar os rumos tucanos. Apesar de Serra ter em mãos a entidade com poder deliberativo, o senador Aécio Neves, essa é a impressão geral, saiu muito abastecido da Convenção. Seu grupo dará as cartas.


Acomodação


Fernando Henrique teve papel importante na composição de interesses em jogo. Ajudou a redigir as normas do novo Conselho Político. O partido sai assim bem composto da Convenção ocorrida semana passada. Quem me diz isso é o bem articulado líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira, cuja boa atuação na arrumação das peças merece destaque. A reunião de consenso se deu em seu apartamento. O desenho interno, porém, foi reforçado com as tintas do desenho externo, que mostrou um cenário borrado e confuso provocado pelo affaire Palocci. O chefe da Casa Civil do governo Dilma, pivô de mais um episódio impactante, ajuda as oposições a manterem a ordem unida.


Ser ou não ser?


Dilema de José Serra nos horizontes que se avizinham: ser ou não ser candidato à prefeitura de São Paulo ?


Estar e ser governo


O líder do PMDB na Câmara Federal, deputado Henrique Alves, faz questão de lembrar que há uma diferença entre estar e ser governo. Estar no governo é ter presença, eventual e até temporária, nas frentes administrativas do Poder Executivo. No governo Lula, por exemplo, a participação do PMDB era a de um aliado circunstancial. Podendo, a qualquer hora, ser alijado da administração. Ser governo pressupõe outras condições. O partido, aliado de primeira hora, fez aliança para ser votado. Integra o núcleo central do governo, a partir da vice-presidência da República. Ou seja, o partido também ganhou respaldo das urnas para chegar ao centro do poder. Nessa situação, não pode e não deve receber tratamento secundário, inferior. Essa é a diferença que provoca tensões e arrepios constantes entre PMDB e PT.


PT e os outros


As tensões que, eventualmente, atingem os partidos da base governista têm como origem o próprio PT. Que continua a se considerar um ente exclusivista. Ele é o melhor e os outros devem ser meros coadjuvantes. É assim que pensa ponderável parcela do partido, que ainda luta para dominar todos os espaços da administração, excluindo os demais parceiros. Há uma parcela do PT que pensa e age de maneira cordial, franca, aberta, sem restrições aos outros partidos. Abriga perfis como o líder Cândido Vaccarezza ou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. São pessoas boas de trato e que entendem o ciclo por que passa o país. Mas forte parcela do partido pensa assim: primeiro, eu; segundo, eu; e terceiro, eu.


Violência em expansão


Este consultor observa com olhos de preocupação. Expande-se a violência no perímetro da capital Federal, entrando pelos interiores de Goiás. O que será? Área praticamente carimbada pelo funcionalismo público. Região que atrai migrantes de outros espaços nacionais. O que poderia dar margem a uma classe média forte, cercada por contingentes de miseráveis. Que contemplam a cena e partem para ter acesso, na marra, ao pão sobre a mesa. Quais seriam os motivos mais palpáveis?


Fica ou não?


Palocci fica ou não no governo? Fica. Nesse caso, terá o respaldo dos órgãos de controle: Comissão de Ética Pública, Advocacia Geral da União e Procuradoria Geral da República. Não fica. Nesse caso, haverá suspeição e a PGR abrirá investigação. Essas são as duas alternativas que hoje se impõem. Palocci depende de Palocci. Ou seja, tudo vai depender da PGR.


Ophir pede saída


O presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, lidera a mobilização pela saída do ministro Palocci.


PSDB e PSB


Em Pernambuco, vislumbra-se uma parceria entre tucanos e socialistas. O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, divisa possibilidades nessa direção. Os partidos têm parentesco. Indagado sobre essa chance, o presidente do PSB, governador Eduardo Campos, responde com mistério: "essa é uma questão difícil de responder". Na verdade, o governador de Pernambuco quer abrir fronteiras. Acha que seu ciclo pernambucano está se esgotando. Precisa de voos mais altos. Conversa também com o PMDB. Em resumo: as possibilidades de uma candidatura reunindo partidos da base aliada do governo começam a ser debatidas. Claro, no caso de inviabilidade da atual aliança governista. Por conta da ambição desmesurada do PT.


Tucanos e peemedebistas na terceirização


O líder Duarte Nogueira, do PSDB, diz à Coluna que indicou os tucanos Alfredo Kaefer, do PR, Andreia Zito, do Rio de Janeiro, e Jutahy Júnior, da Bahia, para comporem a Comissão de Terceirização, nomeada pelo presidente Marco Maia. Já o líder Henrique Alves, do PMDB, informa ao colunista que indicou para a mesma Comissão os nomes de Adrian Mussi Ramos, do RJ, Darcísio Perondi, do RS, Édio Lopes, de RR e José Priante, do PA. Paulinho, da Força Sindical, que também integra a Comissão, confessa ter boas expectativas sobre a busca de consenso.


Renegociação ou locupletação?


Existem gestores públicos entusiasmados por renegociarem contratos por preços menores que os celebrados originariamente. Empresas terceirizadas, no sufoco, ou como se diz na gíria comercial, "pedalando", acabam por conceder descontos impossíveis. Ao invés de comemorar este tipo de "redução de despesas", o gestor deveria se preocupar. Quem vai pagar a conta trabalhista e social quando essas empresas quebrarem? Com certeza não será o gestor? E se fosse? Será que haveria tanta negociação sem nenhum critério técnico?


Abaixo do custo?


Serviços como os de logística, controle de acesso, de limpeza e segurança são como "commodities", ou seja, têm piso salarial, encargos trabalhistas, tributários e fiscais iguais aos de todas as empresas. Considerados estes fatores teríamos, por analogia, o chamado "preço de custo" do serviço. Somados a este preço existem, ainda, o custo da administração e o lucro. Como pode o administrador público contratar serviços por preços que sequer cobrem o custo? Coisas do arco da velha!


Moreira Franco


Quem quiser ouvir um dos mais argutos relatos sobre o ciclo político que estamos vivendo basta ouvir por alguns minutos a verve do ministro Moreira Franco. Que sabe resumir, como ninguém, o estado civilizatório de nossa política.


Abremar abrindo mares


A Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar) comemora o sucesso dos dois maiores eventos do turismo marítimo: Seatrade South America e Cruise Day 2011, realizados nos dias 30 e 31 de maio em São Paulo. Ao evento, com a participação de agências governamentais, operadores de terminais públicos e privados, autoridades portuárias, agentes de viagem, compareceram os CEOs das maiores companhias de cruzeiros do mundo: Pierfrancesco Vago, da MSC Cruzeiros, Adam Goldstein, da Royal Caribbean e Gianni Onorato, da Costa Cruzeiros. O ministro do turismo, Pedro Novais, compareceu ao jantar de confraternização, oportunidade em que, dando as boas-vindas aos visitantes, garantiu, com bom humor, que o Brasil sempre acolherá bem os navios, eis que foi a bordo deles que os nossos colonizadores aportaram ao país.


Economia dos cruzeiros


A Temporada 2010/2011 de cruzeiros marítimos chegou ao fim, neste mês de maio, exibindo um saldo altamente positivo para a economia: quase 800 mil turistas transportados pelos navios, acréscimo de 10% sobre a temporada passada, e uma conta de R$ 1,3 bilhão entre gastos de armadoras e cruzeiristas nos destinos por onde passaram. Foi o que apurou pesquisa realizada pela FGV, apresentada pela Abremar por ocasião dos eventos do turismo marítimo. Em 5 cidades-destino, os cruzeiros deixaram nas economias locais R$ 332,7 milhões.


FHC e a descriminalização


Fernando Henrique atua firme nas frentes de defesa da descriminalização das drogas. Pede que o Brasil abra urgente um debate sobre a descriminalização da maconha. Que acha medida importante para enfrentar a guerra contra as drogas.


R$ 1,85 trilhão


Em uma década, a carga tributária captou R$ 1,85 trilhão da sociedade. Cálculo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário.


Serys suspensa


Por infidelidade partidária, a ex-senadora petista Serys Slhessarenko, do Mato Grosso, foi suspensa pelo PT. Não apoiou o candidato do partido ao senado, na última eleição, o ex-deputado Carlos Abicalil, seu inimigo. Alega que não teve direito à defesa. PT tem seus critérios.


Substitutos de Palocci


Há três nomes que podem substituir Antonio Palocci, caso venha a sair do governo: Fernando Pimentel (atual ministro do Desenvolvimento), Paulo Bernardo (ministro das Comunicações) e Alexandre Padilha (ministro da Saúde). Pesa sobre Padilha a querela que tem com o PMDB. Anda fechando as portas para esse partido.


ISO para a contabilidade


O Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon/SP) realizou, dia 12 de maio, a cerimônia de certificação das 349 organizações aprovadas no Programa de Qualidade de Empresas Contábeis (PQEC 2011). Destas, 28 empresas receberam o selo ISO 9001 : 2008, inédito para a categoria. Pela primeira vez, empresas de contabilidade recebem a certificação máxima da qualidade. José Chapina Alcazar, presidente do Sescon/SP e líder da categoria, entroniza mais um troféu em sua larga galeria. De acordo com o presidente do Conselho Federal de Contabilidade, Juarez Domingues Carneiro, "o evento já faz parte do calendário anual da classe contábil". Mais de 4 mil convidados estiveram presentes.


O mel de Frei Damião


Fausto Campos sempre passava pela BR-232, entre Serra Talhada e Custódia, em Pernambuco. Na beira da estrada, vendedores ofereciam o melhor mel do mundo, o mais puro. Um dia, resolveu levar uma garrafa. Perguntou: "o mel é puro"? O vendedor : "o mais puro do mundo". Fausto arrematou: "pois vou levar esse mel para o Frei Damião". O vendedor apressou-se a esclarecer: "doutor, é melhor não levar esse pote. Quem tirou esse mel foi meu irmão e ele gosta de juntar um pouco d'água no mel para render mais. Desculpe. Na próxima vez, o senhor vai levar um mel 100% puro. Agora, só se o senhor quiser levar esse pro senhor. Mas pro Frei Damião, de jeito nenhum". Historinha enviada por Delmiro Campos, filho de Fausto.


Conselho ao Ministério da Justiça


Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao ministro Antonio Palocci. Hoje, sua atenção se volta ao Ministério da Justiça:

1. Cresce a violência no faroeste brasileiro, a vasta região amazônica, onde assassinatos de ambientalistas e agricultores têm se expandido. As mortes de José Claudio Ribeiro da Silva e de Maria do Espírito Santo foram mais um sinal de que a bandidagem atua sem medo e de maneira covarde.

2. Urge manter um sistema de mutirão na região norte para desarmar bandos e cercar os feudos criminosos que atuam na região.

3. A cada assassinato, a imagem do Brasil ganha tinturas de desrespeito e irresponsabilidade na paisagem dos Direitos Humanos. Polícia Federal, MP e outros órgãos deveriam formar uma urgente rede de proteção aos cidadãos ameaçados de morte. E identificar e prender os mandantes dos crimes.


(Gaudêncio Torquato)

PARA REFLETIR

FRASE DO DIA:

"Não basta que seja pura e justa a nossa causa, é necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.”

Agostinho Neto



(Enviada por Boaventura Bonfim)

terça-feira, 31 de maio de 2011

JOÃO DE PAULA MONTEIRO FERREIRA


No último carnaval crateuense o bloco Mandacaru rendeu graças ao mais destacado memorialista vivo da antiga Vila Piranhas ou Príncipe Imperial: Norberto Ferreira Filho, o Ferreirinha. Por ocasião do desfile algumas pessoas, sobretudo jovens, indagavam sobre a identidade de um cidadão (por certo ignoravam tratar-se de um dos integrantes da prole do homenageado) que se destacava enfeitando um dos carros alegóricos. Aparentemente passado no engenho da maturidade, o folião em comento era João de Paula Monteiro Ferreira, que há pouco mais de quatro décadas se firmara como ícone de uma geração de jovens que almejava contaminar de imaginação e sonho a atmosfera do poder.

Ferreirinha, um mito nonagenário, aprendeu na padaria do pai que o povo, assim como o pão, precisa de fermento. E se tornou fermento na massa popular da sua terra. E passou a alimentar o filho com o pão do idealismo. E o jovem João, como um profeta, educou-se na disciplina da alma resoluta, do coração valente, do peito em luta.

A década de 1960 corria e o mundo ardia sob as chamas da utopia. Em todos os continentes surgiam heróis da epopéia libertária, combatentes da justiça, poetas da igualdade, mestres da paz, músicos da fraternidade. Uma pauta audaciosa inebriava as principais avenidas da terra. Na bela Paris, os jovens de maio erigiam uma verdadeira torre de frases instigadoras como “Sejamos realistas, exijamos o impossível” ou “Criemos comitês de sonhos”.

No Ceará, João de Paula se consolidou como emblema dessa geração ousada na presidência do Diretório Central dos Estudantes (DCE), da UFC. Animou o movimento estudantil na resistência ao golpe militar de 1964, projetando-se como líder nacional. No famoso Congresso de Ibiúna, em São Paulo, aparece credenciado para a Vice-Presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE) sob o respaldo de nomes como Frei Tito Alencar, Pedro Albuquerque Neto, Paulo Lincoln Leão Matos e Rute Cavalcante, a primeira presa política do Ceará e, posteriormente, sua companheira afetiva.

Enfrentou solenemente os cárceres da ditadura. Depois, sem alternativa, embrenhou-se no matagal da clandestinidade e se valeu de uma outra identidade até migrar para o exílio - no Chile austral de Allende. Com a quartelada de Pinochet, novamente preso no Estádio Nacional, foi reencontrar a liberdade na Alemanha, onde concluiu o curso de Medicina pela Medizinische Fakultät zu Koln.

Alguns anos depois, com a conquista da Anistia, volta a beijar o solo pátrio. Conheci-o em 1982, quando pleiteava uma cadeira na Assembléia Legislativa Cearense. Integrei um grupo de adolescentes que, em Crateús, subia em uma caminhonete do Fernando Aguiar e pedia votos para Professor Oliveira (Vereador), José Fernandes (Prefeito), João de Paula (Deputado Estadual), Iranildo Pereira (Deputado Federal), Dorian Sampaio (Senador) e Mauro Benevides (Governador). Do grupo, apenas o Vereador e o Deputado Federal receberam os diplomas de eleitos. Aquele resultado doeu no coração do guerreiro. Impactou. Foi um choque. Os choques da repressão nunca o surpreenderam; este, sim. Passada a refrega, me confidenciou que não voltaria a ser candidato.

Refogado na casca do alho das adversidades, retomou a culinária essencial: sempre há um prato novo a ser degustado na mesa da vida. Sua têmpera é feita com o tempero da inovação. Por isso, retomou a festa da vida no banquete da cooperação. Especialista em Psicologia Organizacional e em Filosofia Gerencial, virou um requisitado Consultor de organizações públicas, privadas e não governamentais, na área de Desenvolvimento Organizacional e Humano, com ênfase em Planejamento Estratégico, Programas de Desenvolvimento Gerencial e Modelos de Gestão. Criou e comanda a Personal Consultoria, empresa que trabalha a cooperação entre organizações, utilizando a tecnologia da Gestão Compartilhada. Foi um dos ideólogos do PACTO DE COOPERAÇÃO DO CEARÁ, articulação de forças da sociedade civil, do mercado e do estado, objetivando o desenvolvimento sustentável da Terra da Luz.

Outro dia, perambulando pelos alpendres da web, flagrei-o discorrendo sobre as redes sociais: “Na minha condição de cearense, não é de se estranhar que meu envolvimento com redes tenha começado na mais tenra infância, ao embalo de maviosas canções de ninar, o que criou em mim uma predisposição muito favorável em relação a tudo que receba esse nome”.

Este é o João. Um ser livre e largo, porque liberto das algemas do ressentimento e sintonizado com a amplidão generosa do universo. Um camarada que brilha sem ostentação. Exibe os dotes cosmopolitas de um autêntico sedutor e o fluído envolvente do bom boêmio. Mantém radiosa a aura do carisma. Carrega intacto o sertanejo alforje da benevolência. E cultua a predisposição onírica da tenra infância, em que o sono gerado pelo embalo das maviosas canções de ninar vitaliza o sonho juvenil de um mundo mais prazeroso, cooperativo e feliz.

(Por Júnior Bonfim, nas edições de hoje da Revista GENTE DE AÇÃO e do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)



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Amigo Júnior!

Antes de mais nada, meus agradecimentos por sua gentileza e meus cumprimentos por seu belo ( e generoso) texto.

Está excelente, havendo apenas uma informação a corrigir: não fui preso no Estádio Nacional, pois, antes que isso acontecesse, tive a sorte de abrigar-me, sob a proteção da ONU, em um campo criado para estrangeiros, denominado Refugio Padre Hurtado. Saí deste refúgio diretamente para a Alemanha, por mediação da embaixada daquele País em Santiago.

Honrado pelo seu gesto, transmito-lhe meu forte abraço.


João de Paula

OBSERVATÓRIO

Recebi semana passada do Prefeito Carlos Felipe o seguinte convite: “Crateuense Amigo(a), O Exmo. Sr. Prefeito de Crateús, Dr. Carlos Felipe Saraiva Bezerra, tem a honra de convidá-lo(a) para um café da manhã, onde discutiremos propostas para o PLANO DECENAL DE CRATEÚS, em alusão ao Centenário de emancipação política do município. Local: Marina Park Hotel-Salão Iracema-Fortaleza. Data: 28/05/2011. Horário: 08:30 ás 12:00h”.

CONVITE

A iniciativa do convite é louvável. É sempre um gesto bem vindo o de um governante deflagrando um processo de discussão, debates, confronto de idéias. Estive ausente desse encontro porque, no mesmo horário, estava no Palácio da Luz (sede da Academia Cearense de Letras) participando de uma reunião da AMLEF (Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza) anteriormente agendada. Embora faça contraponto à atual gestão, entendo que nada impede de opositores políticos protagonizarem um debate civilizado sobre os destinos da terra natal. Soube depois, por intermédio do vice-prefeito Mauro Soares, que a pauta enfatizou em especial o centenário da cidade, cuja festa comemorativa está programada para novembro. É desejo dos que estão à frente do processo levar a termo a inclusão de Crateús no calendário estadual de eventos, materializando um Festival Internacional de Sanfona. Seria algo como o Festival do Jazz, de Guaraminga; o Festival do Chorinho, em Viçosa do Ceará ou a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antonio, em Barbalha. Parabéns a quem idealizou essa ação.

CONVITE II

Fazemos, no entanto, três ponderações: 1. Os instrumentos de planejamento obrigatórios no nosso ordenamento jurídico são: Plano Plurianual, Orçamento Anual e Lei de Diretrizes Orçamentárias (em todos eles a lei assegura a necessidade da participação popular). Por que, ao invés de fortalecer a participação do povo nesses instrumentos previstos, se cria um instrumento novo? 2. Por que se deflagrar esse processo de planejamento em Fortaleza e não em Crateús? Afinal quem está morando na cidade, vivendo o seu dia a dia, tem muito mais possibilidade de fazer um diagnóstico mais preciso da realidade local de que quem está à distância. 3. A elaboração de um Plano Decenal na segunda metade de um governo parece uma estratégia eleitoral de quem almeja continuar no poder. Lula, antes de concluir 50% do PAC 1, lançou midiaticamente o PAC 2. Por que? Para incutir no subconsciente das pessoas um desejo de continuidade. É natural que se cogite algo semelhante no atual governo municipal de Crateús. Malgrado isso, impõe-se ressaltar o profissionalismo da consultoria contratada para coordenar essa empreitada, a empresa Personal Consultoria, que tem à frente o nosso honroso conterrâneo João de Paula (vide Crônica ao lado).

NENEN

Quinta-feira. 26 de maio. Às 10:30 horas da manhã o deputado Nenen Coelho adentra no antigo prédio da Rádio Dragão do Mar, no centro de Fortaleza. Ali, onde hoje funciona o escritório de Marcos Cals, atual Presidente estadual do PSDB, os dois discutiram assuntos relacionados ao futuro do filho do Rodrigão e fizeram uma avaliação político-administrativa do PSDB em cada município da região, em especial Crateús, Novo Oriente, Independência, Quiterianópolis e Ipaporanga. Em nenhum desses municípios haverá sobressalto; em todos eles o Partido continuará nas mãos dos filiados históricos do partido. Marcos Cals e Nenen cultivam uma boa relação, pois ambos entenderam a posição que cada um tomou na campanha passada. Cumpriram compromissos. A marcha da história é na direção do futuro. Marcos revelou que estava torcendo para que Tasso conquistasse, na Convenção do dia 28, a presidência nacional do Instituto Teotônio Vilela (ITV), o mais vitaminado e poderoso órgão da agremiação. Deu certo.

NENEN II

O velho timoneiro Ulysses Guimarães gostava da expressão “Como dizia De Gaulle: ‘Sua Excelência, o fato’”, para se referir a algo irrefutável. Eis um fato incontestável: Nenen Coelho é um político que não pode ser subestimado. É gregário e trabalhador. Sua trajetória revela ser um sujeito obstinado. Capaz de romper grandes barreiras e graves bloqueios. Oriundo de uma cidade-satélite de Crateús, conquistou a metrópole regional. Foi, em duas eleições seguidas, o mais votado no município. Transita com facilidade em todos os gabinetes públicos. Com igual desenvoltura, senta na mesa do diálogo com Tasso Jereissati ou José Pimentel. Além disso, exibe números no seu Novo Oriente que deixam os gestores crateuenses em verdadeira saia justa. Mirem-se no caso da educação. No prêmio Escola Nota 10, que contempla escolas bem avaliadas pelo Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica (Spaece-Alfa), Novo Oriente disparou com quatro escolas entre as melhores (21º lugar); Crateús ficou com apenas uma (104º lugar)...

POSSE

Na noite da segunda-feira do próximo dia 13 de junho, às 19:30 horas, na Câmara Municipal de Fortaleza, ocorrerá a posse da direção estadual da Maçonaria do Grande Oriente do Brasil – GOB. É a primeira vez que um crateuense ocupará, através de eleição direta, o cargo de Grão Mestre Adjunto. Na festiva ocasião, o Vice-Governador Domingos Filho – que integra os quadros da Ordem - será agraciado com a medalha do mérito legislativo maçônico. O evento é aberto ao público. Prestigie.

PARA REFLETIR

(...) VOCAÇÃO – O estadista nasce, é o encontro de um homem com seu destino. O estadista é um animal político. (...) ESPERANÇA - Estadista é o arquiteto da esperança. Não é coruja que só pia agouro, nem Cassandra de catástrofes. (...) PACIÊNCIA - A impaciência é uma das faces da estupidez. Paciência é a competência para fazer a hora, não se precipitar. Saber escutar é um dom político. NÃO SERVIRÁS A DOIS SENHORES - A política não divide o tempo, a ocupação e as preocupações com nenhuma outra atividade. Político não compra nem vende nada. (...) ORDEM - São Tomaz de Aquino disse que a ordem é as coisas no seu lugar. Para isso é preciso hierarquizar e selecionar. É a capacidade de escolher. Quem confunde as coisas, desconhece prioridades, não tem senso de ordem. O estadista discrimina o essencial e o urgente para praticá-los. (Ulisses Guimarães, em Decálogo do Estadista).

(Por Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

DIMAS MACEDO FALA SOBRE JITIRANAS DE LUZ, LIVRO DE DIDEUS SALES

Poeta, Jitiranas de Luz. Grande título, grande livro.

Sou grato, antes de tudo, pela louvação e a nordestinação.

Honra e comenda, trofeu e pedestal.

O signo de Gerardo, na Academia, lhe deixou assim: grego e sertanejo.

Forte abraço, poeta,

e todo o meu coração é seu.

Dimas Macedo

AMANHÃ É DIA DE MAIS UMA EDIÇÃO DO JORNAL GAZETA DO CENTRO-OESTE!

TESE DE GUERDJEF


Tese de um pensador russo chamado Guerdjef, que no início do século passado já falava em auto-conhecimento e na importância de se saber viver.

Dizia ele: "Uma boa vida tem como base o sentido do que queremos para nós em cada momento e daquilo que, realmente vale como principal".

Assim sendo, ele traçou 20 regras de vida que foram colocadas em destaque no Instituto Francês de Ansiedade e Stress, em Paris. Dizem os "experts" em comportamento que, quem já consegue assimilar 10 delas, com certeza aprendeu a viver com qualidade interior.

Ei-las:

1) Faça pausas de dez minutos a cada duas horas de trabalho, no máximo.Repita essas pausas na vida diária e pense em você, analisando suas atitudes.

2) Aprenda a dizer não sem se sentir culpado ou achar que magoou. Querer agradar a todos é um desgaste enorme.

3) Planeje seu dia, sim, mas deixe sempre um bom espaço para o improviso,consciente de que nem tudo depende de você.

4) Concentre-se em apenas uma tarefa de cada vez. Por mais ágeis que sejam os seus quadros mentais, você se exaure.

5) Esqueça, de uma vez por todas, que você é imprescindível. No trabalho, casa,no grupo habitual. Por mais que isso lhe desagrade, tudo anda sem a sua atuação, a não ser você mesmo.

6) Abra mão de ser o responsável pelo prazer de todos. Não é você a fonte dos desejos,o eterno mestre de cerimônias.

7) Peça ajuda sempre que necessário, tendo o bom senso de pedir às pessoas certas..

8) Diferencie problemas reais de problemas imaginários e elimine-os porque são pura perda de tempo e ocupam um espaço mental precioso para coisas mais importantes.

9) Tente descobrir o prazer de fatos cotidianos como dormir, comer e tomar banho, sem também achar que é o máximo a se conseguir na vida.

10) Evite se envolver na ansiedade e tensão alheias enquanto ansiedade e tensão. Espere um pouco e depois retome o diálogo, a ação.

11) Família não é você. Está junto de você. Compõe o seu mundo,mas não é a sua própria identidade.

12) Entenda que princípios e convicções fechadas podem ser um grande peso, a trave do movimento e da busca.

13) É preciso ter sempre alguém em que se possa confiar e falar abertamente ao menos num raio de cem quilômetros. Não adianta estar mais longe.

14) Saiba a hora certa de sair de cena, de retirar-se do palco, de deixar a roda. Nunca perca o sentido da importância sutil de uma saída discreta.

15) Não queira saber se falaram mal de você e nem se atormente com esse lixo mental; escute o que falaram bem, com reserva analítica, sem qualquer convencimento.

16) Competir no lazer, no trabalho, na vida a dois, é ótimo ... para quem quer ficar esgotado e perder o melhor.

17) A rigidez é boa na pedra, não no homem. A ele cabe firmeza, o que é muito diferente.

18) Uma hora de intenso prazer substitui com folga 3 horas de sono perdido. O prazer recompõe mais que o sono. Logo, não perca uma oportunidade de divertir-se.

19) Não abandone suas 3 grandes e inabaláveis amigas: a intuição, a inocência e a fé!

20) E entenda de uma vez por todas, definitiva e conclusivamente: Você é o que se fizer ser!

domingo, 29 de maio de 2011

FURANDO AS TEIAS MAFIOSAS

O chiste tem algum fundamento. Cabral inaugurou por estas bandas o toma lá dá cá. Vejam. Dois dias depois do Descobrimento do Brasil, em 24 de abril de 1500, o capitão-mor recebeu os tupinambás em sua caravela. Para causar forte impressão, pôs a vestimenta mais exuberante. Desconfiados, os índios provaram a água e o vinho que lhes foram oferecidos e cuspiram. Não aprovaram o velho líquido barrento, tirado do alforje, nem a bebida com gosto de vinagre. Só tinham olhos para o brilho das roupas e o imenso chapéu de abas para o céu, que dava ao descobridor a feição de deus das matas e das águas. O cacique e seus índios desceram da nau, sem arcos e flechas, mansos e felizes por ganharem os primeiros mimos na simbólica troca que plantou a árvore do fisiologismo em terras tupiniquins. Foi assim que os indígenas, cheios de bugigangas, e o cacique, com um pitoresco chapéu, abriram as páginas de nossa História de cinco séculos, em que tramoias mesclam coisas do Estado com negócios privados. Há poucas dúvidas de que a herança ibérica, carregando a tiracolo o patrimonialismo, tenha salpicado os ciclos históricos com as sementes da corrupção, particularmente na seara das teias criminosas que encobrem maquinações de servidores públicos, mandatários, grupos e indivíduos, todos girando na órbita do Estado.


Dito isto, vamos à assertiva que ganha força neste momento em que mais um episódio assoma no painel da perplexidade nacional: não há governo que não abrigue seu escândalo particular. Nos episódios mais recentes - consultoria do ministro Antônio Palocci com suspeita de favorecimento a terceiros e denúncias de peculato envolvendo servidores da empresa de saneamento de Campinas - o imbróglio gira em torno da linha que estabelece os limites entre legalidade e ilegalidade, a começar pela possibilidade de um detentor de mandato popular realizar serviços de consultoria. Pois bem, legalmente isso é possível. Na atual legislatura, alguns deputados se apresentam como consultores. Mas o servidor público, vale frisar, incluindo o mandatário, deve regrar-se por princípios de probidade e moralidade. É proibido usar o cargo ou a posição para obter vantagens indevidas (sejam econômicas ou até de natureza valorativa/sentimental). O detentor de mandato agrega, na escala do poder, condição mais elevada que a média dos cidadãos, ou seja, tem mais influência nas frentes onde presta, eventualmente, seus serviços. Donde se aduz que a consultoria desenvolvida por um parlamentar obtém, ao menos teoricamente, maior eficácia que a de outras pessoas sem poder de representação.


Agora, não há impedimento a que o mandatário se dedique às demandas de suas bases eleitorais e atenda aos pedidos de grupos que representa. A proibição é de que esse apoio redunde em tráfico de influência, significando o uso do poder para favorecer junto ao Estado os negócios de patrocinadores. Neste ponto, emerge a questão do lobby. Apreciável parcela da representação exerce o lobby, seja pela defesa de interesses de grupos, seja no apoio à causas coletivas patrocinadas por setores da sociedade. Veja-se o Código Florestal, cuja aprovação só foi possível pela força da bancada ruralista. Da mesma forma, a legalização da relação estável de pessoas do mesmo sexo passou pelo corredor de grupos organizados, que acabaram fazendo pressão sobre a Suprema Corte. Há algo de errado nisso? Não. Para deixar as coisas mais transparentes, o sistema de pressão e contrapressão deveria ser escudado por uma norma. A inexistência de legislação sobre lobby abre cortinas de fumaça. Sua prática condiz com o modelo contemporâneo de democracia, cuja configuração contempla núcleos e facções da sociedade.


Trata-se de uma cultura consolidada nos EUA, país cuja fundação se inspirou nos princípios pluralistas dos pais fundadores James Madison, John Jay e Alexander Hamilton. A tradição liberal e de organicidade - bem captada por Alexis de Tocqueville - sublinha a conquista permanente de reivindicações pela sociedade civil. A imbricação entre política e interesses grupais e coletivos tem-se acentuado na moldura das nações. Nos EUA, metade dos deputados e senadores que deixam as Casas parlamentares se torna lobista. De crachá no peito, eles agem dentro da lei, representando tanto os mais claros quanto os mais difusos interesses da sociedade. Os gastos por empresas e grupos de pressão para defender suas causas atingem, hoje, cerca de US$ 3 bilhões por ano. E as agências de lobby em Washington chegam a 35 mil. Já nos países europeus há distinção entre lobbies profissionais - e interesses financeiros - e lobbies da cidadania, sob patrocínio de ONGs e associações. Os avanços nessa área ocorrem ainda na esteira de conceitos como "relações institucionais" e "negócios públicos". A exigência é de que trabalhem com transparência e ética.


Por aqui, como se sabe, o lobby é mascarado. Existe na prática, mas dorme nas gavetas do Congresso, sob o desprezo de alguns que o consideram incompatível com nossa realidade. Visão capenga. Basta contemplar a proliferação de entidades que fazem intermediação social. Portanto, já temos uma base formada. E, por falta da lei, vive-se o paradoxo, caracterizado pela ausência de contrapesos no sistema de pressão. Alguns setores contam com lobbies poderosos em detrimento de outros que ficam à margem do processo. Como pano de fundo, temos uma democracia representativa vivendo uma crise crônica. Partidos mais parecem massas amorfas. As bancadas corporativas, essas, sim, ganham projeção. As doutrinas são nuvens difusas dentro de discursos homogêneos. As bases cedem lugar aos setores organizados. O palco institucional, nessa configuração, sugere o ingresso de novos atores. Sob um lobby legalizado, transparente, ético, imbróglios como o do ministro Palocci deixariam de causar tanto estardalhaço. E a planilha de episódios farsescos não seria tão densa.

(Gaudêncio Torquato)