Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
sábado, 14 de agosto de 2010
RELEMBRANDO ARTUR DA TÁVOLA
Hoje me veio à memória a figura leve do humanista Artur da Távola.
Ex-senador e jornalista, seu nome verdadeiro era Paulo Alberto Monteiro de Barros. Morreu em maio de 2008, aos 72 anos, no Rio de Janeiro, em sua casa.
Ele iniciou sua carreira política em 1960. Foi deputado estadual do PTN pelo antigo Estado da Guanabara. Dois anos depois se elegeu deputado constituinte pelo PTB.
Cassado pelo regime militar, viveu na Bolívia e no Chile entre 1964 e 1968. No retorno ao Brasil assumiu o pseudônimo de Artur da Távola.
Foi um dos fundadores do PSDB, onde exerceu mandatos de deputado federal até 1995, e de senador (1995-2003). Em 1988, concorreu à Prefeitura do Rio de Janeiro.
Ele fazia o programa "Quem tem medo de música clássica", para a TV Senado. Também escrevia crônicas para o jornal "O Dia". O jornalista também teve programas na Rádio MEC e na TV Cultura.
Suas crônicas eram sempre peças de leveza, convite à simplicidade, instigação à profundidade.
Segue, no post abaixo, uma delas, escrita em 2006, na época da Copa da Alemanha.
UM OLHAR DE TERNURA
Chego no boteco, a macharia está lá. Supondo vir a ser compreendido e admirado, todo pimpão, apresso-me em proclamar:
1- Sabem qual foi o lance mais bonito da Copa?
2- Qual? Qual? Já sei, aquele gol do Argentino de fora da área...
1- Nada disso: tem sido o olhar de ternura do William Bonner para a mulher nas despedidas do Jornal Nacional.
Levo logo uma vaia. Ninguém me compreendeu. Até de piegas me chamaram, em gozação. Calo-me, então, a ponto de os demais depois até repararem. Invento, então, um compromisso e saio antes do fim do papo. A pensar:
Já sei o que os incomodou: a palavra ternura. O mundo anda precisado de ternura e as pessoas têm medo de demonstrar sentimentos. Mas isso é uma bobagem. Ternura ninguém manifesta sem sentir. É necessário que venha de dentro. É o mais leal dos sentimentos. Ternura não se manifesta: sente-se.
Um marido distante quilômetros e um tempão longe da mulher que ama, vê-la na madrugada e no frio a trabalhar com afinco, mesmo sendo discreto e polido como o Bonner, sabe que ela é mãe de seus trigêmeos e dia desses até se preocupou em dizer que lá estava frio como a significar: “Vê lá se vai pegar uma gripe. Amanhã venha mais agasalhada.” D’outra feita, havia uma festa dos brasileiros entrando pela madrugada no Hotel e ela encerrava a sua reportagem do lado de fora. Discreto como sempre, ele quase perguntou: “Você vai à festa? (Ou vai dormir, deve ter pensado e calou?) “Nada de festa, ouviu Madame?” Também esta frase não pronunciou. Mas sentiu o ciuminho e o transmitiu subjetivamente.
Posso pensar que nós cronistas vemos coisas que os demais não percebem e até desdenham e por vezes eu sei que vivemos nos demais as emoções que estão a pulular dentro de nós. Pode ser. Há tanta artificialidade na televisão que aquilo poderia ser combinado. E concluo: poderia ser, porém não é! O rapaz não é ator. Quando a casa deles foi invadida por bandidos, todos ameaçados, ele foi valente defensor da família. Arriscou a vida. Do lado de lá (Alemanha) a Fátima é ainda mais encabulada, e parece uma menina a disfarçar ao receber uma cantada. Mesmo do marido.
Ora, conclui o velho cronista: receber diante de 60 ou 70 milhões de brasileiros uma declaração de amor através do olhar terno e saudoso do marido é a glória para qualquer uma. Sinal de merecimento. Fico com a minha conclusão: os meus amigos de boteco deram-me um fora errado. Piegas uma ova: poeta.
Salve o olhar de ternura de um homem por sua mulher, a saudade verdadeira e o cuidado com ela. É sinal de esperança, de amor e de vida.
(Artur da Távola, em julho de 2006)
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
NENEN COELHO É FICHA LIMPA! - TCM ANULA DECISÃO QUE IMPEDIA CANDIDATURA
O Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) anulou a decisão que gerou o indeferimento do registro da candidatura do deputado estadual Nenem Coelho (PSDB), pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). A decisão da Corte de Contas foi tomada na sessão plenária de ontem ao apreciar um incidente de nulidade absoluta feita pelo deputado.
Dois fundamentos justificaram o pedido de nulidade do acórdão da Tomada de Contas Especial (TCE) realizada na Prefeitura de Novo Oriente, em março de 2003, julgada procedente em abril de 2008. O primeiro é que a inclusão do nome do prefeito foi errado porque o gestor não foi o chefe do Executivo, mas o secretário de Administração e Finanças, Antônio Gerardo Bonfim. O segundo fundamento foi de cerceamento de defesa, na medida em que não encontrado em sua residência, na cidade de Novo Oriente, a citação foi feita por edital e não na Assembleia Legislativa.
Com exceção de Manoel Veras que se absteve de votar os demais conselheiros votaram pela nulidade do acórdão, devendo os autos ao relator original, Marcelo Feitosa, para as providências cabíveis. Embora duas teses tenham sido apresentadas apenas uma foi apreciada pelo relator, Pedro Ângelo, que fundamentou seu voto no fato de o gestor de despesas ser o secretário de Administração e Finanças e não o prefeito, sendo isso citado na primeira página do processo.
Semelhantes
Durante a discussão em plenário o presidente do TCM, Ernesto Saboia, admitiu o erro, mas alertou os advogados para não se animarem ao tentar anular outros julgamentos utilizando argumentos semelhantes. Para ele a Diretoria de fiscalização foi levada a erro porque o nome do prefeito constava nos contratos de servidores sem concurso público, embora a assinatura dele não esteja em nenhum dos contratos.
Os contratos foram assinados pela gestora do Fundo de Saúde. Destacou ainda que "a Casa é criteriosíssima em seus julgamentos, mas como é composta por seres humanos pode errar".
Não só o presidente do TCM como também o advogado da parte, Júnior Bonfim, considerou o caso sui generis. O próprio relator, Pedro Ângelo, confessou que não sabia que Jesuíno Rodrigues de Sampaio Neto é o deputado conhecido por Nenem Coelho.
Ele foi prefeito de Novo Oriente por dois mandatos consecutivos, de 1996 a 2004. O acórdão anulado refere-se a uma Tomada de Contas Especial, realizada no dia 25 de março de 2003. A parte (Nenem Coelho) foi considerada ilegítima porque, segundo o relator o ordenador de despesa era o secretário de Administração e Finanças do Município.
O conselheiro Pedro Ângelo lembrou, inclusive, que em 2007 o TCM julgou o secretário Antônio Gerardo Bonfim como ordenador de despesa em 2003 aplicando-lhe uma multa de R$ 96 mil, com nota de improbidade administrativa. Na Tomada de Contas Especial em questão as irregularidades foram três: registro de caixa desatualizado, processos de despesas incompletos e contratação de pessoas sem concurso público.
(Jornal Diário do Nordeste, edição de hoje)
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Luiz Bonfim disse...
JB, PARABENS!
Inédita esta vitoria no TCM.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
"TAMBÉM É FUNÇÃO DO JUIZ PACIFICAR CONFLITOS" - DIZ O PRESIDENTE DO SUPREMO
A litigiosidade é um vício que prende a mentalidade tanto da sociedade quanto dos magistrados. Até a economia foi entorpecida, uma vez que muitos estudantes de Direito vêm no litígio uma forma de ganhar dinheiro, movimentando uma verdadeira fábrica de advogados. A única cura para a dependência é a adoção de métodos alternativos de solução de conflitos. Sim, o acordo pacífico sem solução judicial corta o mal pela raiz, porque não resolve apenas a demanda, mas também desestimula novos conflitos.
É assim que o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso, pretende diminuir a quantidade de processos que chega todos os anos ao Judiciário. Em entrevista concedida na segunda-feira (9/8) em evento organizado pela Associação de Advogados de São Paulo, ele afirmou que métodos alternativos de solução de conflitos, como a conciliação, a mediação e a arbitragem, podem fazer muito mais do que reduzir a carga de trabalho do Judiciário. "A ideia é dar à própria sociedade uma via de se tornar mais pacífica", diz. "Tentar resolver os conflitos de modo pacífico, com soluções que nasçam do diálogo dos próprios sujeitos do conflito é, do ponto de vista prático, extremamente frutífero."
Para o ministro, métodos não judiciais de pôr fim a demandas não podem ser vistos apenas fora do Judiciário, mas devem se tornar uma prática do próprio Poder. Isso significa dizer que o anseio das partes e o costume dos juízes por sentenças definitivas precisam dar lugar a uma nova mentalidade. "Se nós sentarmos e conversarmos, tentando mudar essa expectativa em relação à sentença, tentando mostrar que ela não resolve nada e pode até criar outros problemas, então poderemos, de modo sistemático, mudar um pouco essa realidade", diz.
Como forma de estimular a mudança, ele cita proposta feita pelo presidente Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais, o processualista e desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo, Kazuo Watanabe. Ao Conselho Nacional de Justiça, Watanabe propôs uma norma que inclua nos critérios de merecimento para promoção de magistrados a quantidade de resolução de conflitos sem sentença. Hoje, apenas o número de decisões entra na avaliação.
Peluso vê na mentalidade litigiosa brasileira a explicação para o grande número de advogados, que contrasta com a defasagem, por exemplo, de engenheiros no país. "Há uma atração de estudantes para se dirigirem às faculdades de Direito porque elas acenam para a possibilidade de um exercício profissional vantajoso do ponto de vista econômico", afirma. Segundo ele, se a vontade de brigar diminuir, a demanda por advogados também cairá, o que tornará mais interessantes carreiras técnicas como a engenharia.
O ministro concedeu a entrevista após a palestra inaugural da Semana Cultural em Cores, promovida pela Aasp em comemoração ao Dia do Advogado, em 11 de agosto. O evento acontece entre os dias 9 e 13 deste mês, na sede da entidade.
Leia a entrevista:
ConJur — O que falta para que métodos alternativos de resolver conflitos sejam uma fase integrante do processo de solução de controvérsias?
Cezar Peluso — Esse é um anseio comum nosso, que é o de transformar o uso de todos os mecanismos chamados de meios alternativos de resolução de conflitos em instrumentos de atuação do próprio Judiciário. O objetivo não é apenas incentivar que isso seja usado pela sociedade fora do Judiciário.
ConJur — O que precisa ser mudado?
Cezar Peluso — Queremos incorporar ao Judiciário, como instrumental, como mecanismo próprio, o uso desses meios como uma maneira de se responder alternativamente à solução por imposição de decisões e sentenças, e não apenas um meio alternativo a ser usado por outros organismos. O acesso ao Judiciário não pode ser apenas por meio de processos litigiosos como tal, mas também mediante alternativas que o Judiciário vai pôr à disposição da sociedede para resolver os conflitos de outros modos além dos meios tradicionais de adjudicação e produção de sentenças.
ConJur — No que isso é bom para o jurisdicionado?
Cezar Peluso — O usuário passará a ter a possibilidade de resolver seu conflito sem ter que aguardar a tramitação e o custo, não só material, mas também psicológico dos processos judiciais.
ConJur — Também é interessante para a Justiça, já que o número de demandas tende a diminuir?
Cezar Peluso — O intuito não é apenas reduzir a carga do Judiciário, não é esse o sentido. A ideia é dar à própria sociedade uma via de se tornar mais pacífica e diminuir, com isso a litigiosidade, de modo que o alívio ao Judiciário vai aparecer apenas como um subproduto de uma coisa muito mais importante, que é a pacificação social. Isso muda tudo. Tentar resolver os conflitos de modo pacífico, com soluções que nasçam do diálogo dos próprios sujeitos do conflito é, do ponto de vista prático, extremamente frutífero.
ConJur — Existe resistência à mudança?
Cezar Peluso — Não, o que há é falta da cultura. Temos que mudar a mentalidade. Os juízes, por falta de compreensão e preparação, têm a ideia, em geral, de que é mais importante para eles conduzir uma demanda com todas as vicissitudes e a demora que um processo implica. Isso acontece em todo o mundo. Não é só no Brasil que o processo é demorado. O fenômeno é universal. É preciso mostrar aos juízes que é mais importante para a sociedade que eles desenvolvam mais profundamente esses processos alternativos do que se ficar alimentando processos e a produção de sentenças. Isso significa mudar um pouco a concepção dos juízes a respeito do exercício das suas próprias funções, no sentido de que também passa a ser função dele tentar pacificar o conflito mediante o uso desses mecanismos que não são a via tradicional.
ConJur — O que está sendo feito em termos práticos nesse sentido?
Cezar Peluso — Estamos recolhendo subsídios para formular, a partir de uma proposta formal como a do professor Kazuo [Watanabe], um projeto que leve o Judiciário a adotar atitudes que signifiquem modos de tentar mudar toda essa estrutura e, inclusive, a mentalidade. Temos de mostrar para o Judiciário que isso também é meritório, e importante no plano social. Sabemos que não vamos colher os frutos em um ou dois anos, mas estamos plantando para colher a longo prazo, o que vai ser muito proveitoso.
ConJur — Como produzir essa nova mentalidade?
Cezar Peluso — Isso envolve uma série de mudanças que podem ser tomadas a partir de uma provocação aos próprios órgãos jurisdicionais. O professor Kazuo ofereceu algo muito interessante. O índice de pacificação dos processos nunca é levado em conta na apuração do merecimento dos juízes como critério de promoção na carreira. A regra geral é a estatística de quantas decisões e sentenças foram proferidas. Nunca se indagou dos juízes quantos processos terminaram sem sentenças. Hoje, a própria metodologia adotada no processo de apuração de merecimento é um incentivo à perpetuação dos processos. O que se ouve é: "aquele juiz, nesse mês, proferiu 200 sentenças". Sempre fui contra isso.
ConJur — O senhor é contra o levantamento estatístico da produção dos magistrados?
Cezar Peluso — Fui por oito anos juiz de família e sucessões, e nunca tive preocupação nenhuma em mostrar estatísticas. Era capaz de permitir que as partes viessem conversar comigo — o que aconteceu muitíssimas vezes — durante mais de ano na tentativa não de dar uma sentença rapidamente, o que seria muito fácil. Tentava pacificar sobretudo na área de família, que envolve não só o marido e a mulher, ou o ex-marido e a ex-mulher, que estão ali, mas toda a constelação familiar e as pessoas adjacentes. Essa experiência de oito anos em varas de família me mostrou que o empenho pessoal do juiz em pacificar os litigantes é a melhor coisa que o Judiciário pode produzir.
ConJur — O advogado também precisa ser menos litigioso?
Cezar Peluso — Há uma cultura de cultivo da litigiosidade. Há uma atração de estudantes para se dirigirem às faculdades de Direito porque elas acenam para a possibilidade de um exercício profissional vantajoso do ponto de vista econômico, por viver da litigiosidade. À medida que a litigiosidade diminui, essa atração, do ponto de vista econômico, vai cair proporcionalmente, porque os estudantes vão pensar: de que adianta ser advogado se as pessoas já não estão litigando mais, e não estão dependendo tanto do exercício da advocacia? Nós então vamos poder aproveitar todo esse potencial em áreas hoje que o Brasil, na etapa de desenvolvimento em que está, precisa muito.
ConJur — Precisamos ter menos advogados?
Cezar Peluso — Enquanto hoje a China forma, aproximadamente, de 500 a 600 mil engenheiros por ano, e a Índia 300 mil, o Brasil forma 30 mil. Se não resolvermos esse gargalo da capacidade brasileira de estimular e manter seu crescimento de modo sustentável, vamos ter problemas um pouco mais adiante. A manutenção do ritmo de crescimento que temos hoje vai depender, sobretudo, da maneira como o Brasil vai responder a esse desafio da existência de técnicos. Eu fiquei muito feliz ao ouvir do professor Jacques Marcovitch, que foi reitor da USP e é um cientista, que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social tem na pauta da sua próxima reunião exatamente esse problema, de saber como o Brasil pode duplicar a formação de técnicos necessários para sustentar o ritmo do seu desenvolvimento econômico. Portanto, vejam como as coisas estão ligadas do ponto de vista social.
ConJur — O ordenamento jurídico estimula o litígio?
Cezar Peluso — O ordenamento brasileiro é como o de qualquer outro lugar do mundo, não precisa ser mudado. O problema é de cultura, de como se usa esse ordenamento, e de mentalidade sobretudo do Judiciário. A mudança depende também de uma provocação dos colaboradores do Judiciário. Temos que sensibilizar acadêmica e profissionalmente as faculdades de Direito para que incluam na grade curricular a preocupação com esses meios alternativos. Hoje, esse tema não faz parte de nenhuma grade. Não conheço ninguém que tenha se preocupado em dar aulas sobre essa matéria.
ConJur — A produção de sentenças não é uma praxe do próprio juiz, difícil de ser mudada?
Cezar Peluso — A produção de sentença é resposta do Judiciário à postura dos litigantes. São os litigantes que querem sentença. E é o juiz quem pode ter atuação decisiva e mudar a visão dos litigantes. Se nós sentarmos, como os juízes muitas vezes fazem com os litigantes, e conversarmos, tentando mudar essa expectativa em relação à sentença, tentando mostrar que ela não resolve nada e pode até criar outros problemas, então poderemos, de modo sistemático, mudar um pouco essa realidade.
(Fonte: Alessandro Cristo, do CONJUR)
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
NO DIA DO ADVOGADO, RECORDEMOS NOSSO PATRONO
Hoje é o Dia do Advogado! Parabéns a todos os que colaboram, com o talento em ação, na sedimentação do edíficio da Justiça.
Quanto mais mergulho nas águas térmicas da militância jurídica, mais me apaixono por esse caloroso e fascinante múnus. A cada dia me convenço, com humildade e alegria, que é uma arte o exercício da advocacia.
Sempre me revigoro quando bebo na fonte dos luminares desse ofício magistral de operar o direito. Hoje me vem à cabeça o genial baiano Rui Barbosa.
O causídico Rodrigo Gabriel Moisés lembra que
"em 20 de dezembro de 1948, Rui Barbosa foi aclamado pelo Conselho Federal da Ordem do Brasil como Patrono dos Advogados Brasileiros.
Conforme avalia corretamente Otto Gil, houve razões de sobra para esta atitude, explicando que "não são, apenas, os trabalhos forenses, os pareceres jurídicos, a revisão do Código Civil, que fazem Ruy sempre presente aos Advogados. Ao lado dessa fecunda produção doutrinária, lugar de merecido destaque têm para nós, as suas liçòes de Ética Profissional, dadas quando não se sonhava sequer com o Código de Ética e Advocacia."
É impressionante a atuação de Rui como profissional do fôro , defrontando-se em espetaculares debates como os maiores advogados de sua época, esmagando os seus adversários com os veios de ouro de seus arrazoados.
Também na polêmica em torno da redação do Código Civil, Rui ensinou aos advogados que o conhecimento do vernáculo é indispensável ao bom manuseio dos textos da lei e sua interpretação.
Rui legou ainda as doutas lições de suas celébres petições de Habeas Corpus que apresentou ao STF em 1892 1 1893, em defesa da liberdade de cidadãos, presos em virtude do estado de sítio; a sustentação oral do primeiro desses Habeas Corpus, quando declarou que o verdadeiro impetrante era a nação brasileira, e, ainda, a corajosa crítica ao acórdão do Supremo, na qual Rui demonstrou o desacordo da decisão denegatória.
Mas são as lições de ética profissional que pretendemos destacar nestes comentários.
Na carta que escreveu a Evaristo de Morais, conhecida como O dever do Advogado, Rui lhe indicava diretrizes seguras para a exata e integral observância das regras de deontologia forense.
Essa carta, que as antologias registram, contém ensinamentos que os Advogados ainda hoje se prezam de guardar, como regras complementares de seu Código de Ética Profissional.
É de valor imensurável as palavras com que Rui conceitua a profissão e a eleva a verdadeiro apostolado:
"Tratando-se de um acusado em matéria criminal, não há causa em absoluta e indigna de defesa. Ainda quando o crime seja de todos o mais nefando, resta verificar a prova: e ainda quando a prova inicial seja decisiva, falta não só apurá-la no cadinho dos debates judiciais, senão também vigiar pela regularidade estrita do processo nas suas mínimas formas. Cada uma delas constitui uma garantia, maior ou menor, da liquidação da verdade, cujo interesse em todas se deve acatar rigorosamente."
Com esta mesma convicção, Rui voltou ao tema na célebre Oração aos Moços, quando ao final do discurso de paraninfo lido na Faculdade de Direito de São Paulo, em 29 de março de 1921, destaca entre os mandamentos do advogado:
"Não colaborar em perseguições ou atentados, nem pleitear pela iniqüidade ou imoralidade. Não se subtrair à defesa das causas impopulares, nem à das perigosas quando justas. Onde for apurável um grão que seja, de verdadeiro direito, não regatear ao atribulado o consolo judicial."
Neste célebre discurso, Rui fornece aos jovens bacharelandos vários conselhos e diretrizes, tais come estes:
"Senhores bacharelandos: pesai bem que vos ides consagrar à lei, nm país onde a lei absolutamente não exprime o consentimento da maioria, onde são as minorias, as oligarquias mais acanhadas, mais impopulares e menos respeitáveis as que põem e dispõem as que mandam e desmandam em tudo."
Estas lições de ética profissional se completam com as que se dessumem do discurso que proferiu no Instituto dos Advogados Brasileiros, ao tomar posse como membro efetivo em 1911, quando disse:
"Duas profissões tenho amdado sobre todas: a imprensa e a advocacia. Numa e nouttra me votei sempre à liberdade e ao direito. Nem numa nem noutra, conheci jamai interesses ou fiz distinção de amigos a inimigos, toda vez que se tratava de servir ao direito ou à liberdade."
São estas as lições imperecíveis de Rui Barbosa: a defesa indeclinável de seus princípios morais, da liberdade e do Estado de Direito. Segundo Otto Gil, "toda a sua vida e toda a sua obra poderia resumir nesta trilogia: combateu o bom direito; lutou pela liberdade; acreditou na justiça. E, por isso, suas lições ficaram. E vivem."
Aumentamos o grau de importância de estarmos sempre revivendo Rui por dois fatos: primeiro pela forma relapsa com que a sociedade trata os seus grandes construtores, e segundo por saber que reviver os ensinamentos e estudar a vida de Rui Barbosa, é acima de tudo aprender a viver como Rui Barbosa, esta fonte enorme a ser explorada pelos advogados e cidadãos brasileiros".
terça-feira, 10 de agosto de 2010
OBSERVATÓRIO
Uma figura querida, médico popular, era Prefeito de Jati, no cariri cearense. Amigo seu, um candidato a deputado filho do Crato aproveitou certa ocasião em que estavam em uma roda de bebida e suplicou apoio. Incontinenti, recebeu sinal positivo. O tempo passou e o candidato, para evitar despesas, nunca mais pisou em Jati. Incomodado com a situação, o Prefeito chamou o candidato e disse: - “Ei moço, você acha que eu tenho os votos guardados num baú para lhe entregar? Aqui está a relação dos nossos amigos. Vá procurá-los. Tente conquistá-los. Do contrário, os votos nunca aparecerão.”
ESTA ELEIÇÃO
está provando que o tempo do voto no baú está realmente se expirando. A força da chamada “transferência de voto” vai minguando a cada prélio eleitoral. Lula, na Presidência, ganhou aura mitológica, mas está sendo obrigado a mobilizar céus e terra, sol e mar para fazer competitiva sua candidata. Tasso, mito cearense, apesar de pessoalmente deter a preferência de seis dentre cada dez cearenses, também sofre para ver deslanchar o seu indicado para o Governo do Estado. Carlos Felipe, promessa de mito que virou índio sem apito, derrama lágrimas antecipadas pelo desempenho pífio que as sondagens indicam para seu pupilo que pleiteia uma vaga na Assembléia Legislativa. Praticamente abandonou a Prefeitura. Pouco tem pisado lá. Está nas tribos atrás de votos.
MÁRCIO
Cavalcante registrou sua candidatura a Deputado Estadual. Sentado na cadeira do gabinete da Presidência da Câmara, Márcio sonha com outra cadeira e outro gabinete: de Prefeito. Mesmo sabendo das enormes dificuldades para obter êxito nessa empreitada, Cavalcante sonha obter votação que o habilite sentar na mesa da sucessão municipal de 2012. Se a estratégia vai ser bem-sucedida, só o tempo dirá.
PAULO
Nazareno, a mais emplumada ave do tucanato local, bateu asas e voou. Deixou o ninho tucano. O motivo? Paulo vai votar em candidato a governador fora do partido. Aos amigos confidenciou que nunca quer ver ninguém lhe lançando o anzol de traíra. Disse que sempre lutou pela fidelidade partidária. Não se sentiria bem em ouvir alguém dizendo que não punha em prática aquilo que pregava.
PORÉM
A história é diferente. Traíra – expressão pejorativa que identifica o filiado que é infiel às diretrizes partidárias – não cabe no presente caso. A decisão de fazer uma parceria eleitoral e política com Domingos Filho foi do PSDB de Crateús, não de uma figura isolada em contraponto à definição da agremiação. Da mesma forma que Tasso em 2002, objetivando fortalecer o palanque estadual, votou em Ciro e não em Serra, o PSDB de Crateús fez uma coligação com o PMDB, através de Domingos Filho, visando o pleito municipal de 2012. E isso é público e notório. Todos viram o atual Presidente da Assembléia pedindo votos para o PSDB na eleição municipal passada. A reciprocidade do apoio é mais que um gesto de cortesia. É honrar a palavra. Um imperativo ético, demonstração de grandeza, compromisso moral. Por isso, Paulo deveria ter pensado melhor sobre essa decisão. Era perfeitamente compreensível que continuasse na agremiação, como os demais filiados. Até porque continua votando em candidatos do Partido: Serra, Tasso, Nenen...
POR FALAR
Em Nenen, este acompanhou o Senador Tucano em seu périplo pela região. Ainda no período anterior à definição de candidaturas, Nenen tomou uma atitude corajosa. Disse em uma reunião partidária que, se o candidato a governador fosse Tasso, estaria com ele. Do contrário, tomaria outro rumo. Na hora, Jereissati externou que admirava a postura do Deputado e se dirigiu aos demais participantes: - “Quero que todos façam como o Nenen: sejam honestos. É melhor dizer de cara o que está pensando do que ficar prometendo algo aqui e fazendo outra coisa lá fora”. A decisão de Nenen em nada abalou sua relação com Tasso, que compreendeu perfeitamente as razões do seu posicionamento.
O TRE
Cearense endureceu na aplicação da lei complementar 135/2010, popularmente batizada de “Ficha Limpa”. Fruto de um amplo movimento ideológico pela ética na política, a lei albergou propostas populares que ainda carecem de conformação jurídica. Como a lei é novíssima, ainda comporta muita digressão exegética, muito esforço de interpretação. Há equívocos que certamente serão corrigidos pelas Cortes Superiores. Há aspectos da norma que são flagrantemente inconstitucionais. E isso está dito por Ministros da mais alta Corte de Justiça do País, o Supremo Tribunal Federal.
PARA REFLETIR
“Eu acho que os governos, como as pessoas, têm que ter caráter. Caráter e índole. E este caráter se expressa na maneira de ser e na maneira de agir. (...) Eu acho que os governos, como as pessoas, têm que ter personalidade, têm que ter brio profissional. (...) Mas eu acho também que o governo, como as pessoas, tem que ter alma, minha gente. Aquela força imaterial que os impulsiona e diz a forma. Alma. (...) Os governos, como as pessoas, têm que ter sensibilidade para agir e compensar as desigualdades. (...) Os governos, como as pessoas, têm de ser solidários e prestar atenção às grandes questões que dizem respeito ao futuro do país e do mundo. (...) Governos, como as pessoas, têm que ter compromisso com a responsabilidade e com a felicidade”. (José Serra)
(Por Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal GAZETA DO CENTRO-OESTE, Crateús, Ceará)
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
domingo, 8 de agosto de 2010
DIA DOS PAIS
Embora meu pai esteja em outra plataforma espiritual, posto que há seis anos deixou o nosso convivio, é da sua marcante e imorredoura presença que recolho a bússola que me orienta no cotidiano.
O amor ao trabalho, a alegria de servir, o desprendimento consequente, a abundância da mesa, a repulsa à acodomação, o prazer de construir o edificio da amizade!
Recordando-o, escrevi este soneto:
“Meu querido pai, corpulento e afobado homem
De cor vermelha e idéias levemente escuras
Diviso-te espargindo, ombro e abdômen,
O sereno prestativo de tua arrojada figura.
Tinhas vários nomes e eu, um único jeito,
De abrandar tua explosão temperamental:
Ao invés da faca da palavra, o mutismo do olhar -
Denso como o caju, cortante como o punhal.
Adorava teus contornos de astúcia, o ás de precipitação
O comercial espírito, o passo afobado, a alma em flor,
O palpitante núcleo do peito, lagoa sempre em ebulição
Que num fevereiro e ensolarado sábado se evaporou.
Pois é. E o mesmo rio que abriu tuas comportas de emoção
Um dia, como em redemoinho, de súbito te levou!”
(Júnior Bonfim)
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Olá Júnior,
Parabéns pelo dia dos pais e pelo belo soneto em homenagem a seu pai.
Um abraço,
Dalinha Catunda
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Poeta, que bela homenagem!
A palavra tem um poder de reviver tão forte, tão real...
Parabéns Junior.
Raimundo Candido
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