sábado, 10 de dezembro de 2011

LANÇAMENTO DO LIVRO "CRATEÚS: 100 ANOS!" - DA ACADEMIA DE LETRAS DE CRATEÚS - FOI PRESTIGIADÍSSIMO!


Durante a solenidade, ocorrida ontem à noite no Teatro Rosa Moraes, disse umas poucas palavras. Tentei escrevê-las mais ou menos. Eí-las:

A mim me incubiram de falar sobre as letras. Boa noite a todos!

Muita gente se pergunta: pra que servem os poetas? Qual é mesmo a “utilidade” dessas pessoas?

Gerardo Mello Mourão, nosso conterrâneo das Ipueiras, o único brasileiro a ser indicado para o Nobel de Literatura, eleito o Poeta do Século XX, responde:

´Neste mundo o que dura é o que foi fundado pelos poetas... ´A Grécia foi fundada pelo poeta Homero, cego e gênio (um tocador de cítara nas ruas do seu País, como faz entre nós com a sua viola o profeta Lucas Evangelista). (...) A civilização mulçumana foi fundada pelo poeta Maomé, seu senhor e soberano. A Itália foi fundada por Dante, poeta absoluto. (...) E o que seria de Portugal sem Camões e Pessoa? Da França sem Voltaire?’

Nessa pequena incursão que fiz para escrever o artigo que está no livro descobri coisas incríveis.

Descobri uma figura extraordinária: José Coriolano de Sousa Lima. Foi ele o fundador – e aí me perdoem os que pensam diferente, meu caro Padre Geraldinho – foi José Coriolano o fundador da Vila Caratiús. Como bem disse aqui o Elias, foi o primeiro a batizar nossa terra pelo nome atual: Crateús.

Nascido na fazenda Boa Vista, quando Crateús era conhecida por Vila Príncipe Imperial, Coriolano foi um fidalgo das letras que teve a graça de alcançar os píncaros da glória. Morou em São Raimundo Nonato, no Piauí, em seguida cursou direito na lendária Faculdade de Direito do Recife (quando ela era a ‘top’ do Brasil). Sentou nos mesmos bancos acadêmicos em que se sentaram os maiores luminares das letras nacionais do seu tempo, como Rui Barbosa e Castro Alves. Depois, teve atuação destacada no Maranhão e no Piauí. Magistrado, poeta, político, jornalista. Foi deputado provincial pelo Piauí, por duas legislaturas, e presidente da Assembleia Legislativa. Foi eleito Príncipe dos Poetas Piauienses (pois à época em que viveu Crateús pertencia ao Piauí).

Esse homem, cujo busto enfeitava a Praça da Matriz de outrora, foi nosso primeiro grande poeta.

Cito também Abelardo Fernando Montenegro, que aqui nasceu, integrou a Academia Cearense de Letras e ficou conhecido como o homem que mais amou o Ceará.

Outro grande poeta nosso foi Alexandre Lucas Ferreira Barros, um parente meu. (Aliás, para descontrair, brincam que o sobrenome Bonfim é porque a família, sem ter muita alternativa, se agarrou ao Santo – Senhor do Bonfim – e o tomou de empréstimo...) Alexandre, quando foi se registrar, já adulto e cultor do indianismo, mudou o sobrenome para Boquady, palavra que ele havia conhecido em um dicionário tupi-guarani e que significa jatobá – “casca dura”.

O fato é que sempre alimentamos a idéia de que nossa cidade nunca teve grandes escritores. Isso é um estereótipo que vi cair por terra. Escritores, de pena luminosa e asas de condor, sempre tivemos.

E este livro do centenário, dentre outros, tem este objetivo: ajudar-nos a quebrar paradigmas.

Está provado que tudo nasce da nossa mente. Buda nos ensinou que somos aquilo que pensamos.

No mundo de hoje não existem mais fronteiras. A China vende seus produtos manufaturados aqui por um preço inferior aos produtores locais. Isso é um fenômeno da globalização. Essa estória de que Crateús é ‘fim de linha’ é uma balela. Somos uma aldeia global.

Portanto, quebremos esses velhos paradigmas e recuperemos o lugar de destaque e respeito, de vanguarda progressista e cultura de luta que sempre foi nossa marca.

Parabéns, Crateús!

(Júnior Bonfim)

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Após o evento, houve uma confraternização na Sede do Sindicato dos Professores, ocasião em que abraçamos vários amigos. Na foto abaixo, Matos e Edmilson Providência.

RELEMBRANDO DOM FRAGOSO

Dom fragoso: um profeta em tensão
Entre o profetismo e as estruturas institucionais de igreja


Por Frei Hugo Fragoso, OFM

O futuro bispo Dom Fragoso nasceu na serra do Teixeira, no alto sertão paraibano. Trazia ele no sangue o grito da fome de um povo, martirizado pela seca, pelas injustiças sociais, e pela politicagem grupista. Este grito perpassará toda a sua caminhada, como força propulsora de sua voz profética.
O menino Antônio Fragoso entrou no seminário de João Pessoa pela porta da cozinha. Seu pai não tendo condições financeiras de pagar a mensalidade exigida, fragosinho foi admitido aos estudos, na qualidade de empregado, trabalhando na portaria, como menino de recados e de afazeres domésticos. Nesse trabalho em seus primeiros anos de seminário, pôde ele sentir a humilhação discriminatória, por que passavam os filhos de pais pobres, face aos seminaristas de famílias que tinham recursos para pagar a mensalidade. E isso contribuiu para um dos enfoques de sua voz profética, a interpelar as próprias estruturas da instituição eclesiástica.
O Padre Fragoso, depois de sua ordenação, foi nomeado apóstolo dos operários, sendo-lhe confiado o encargo do Círculo Operário de João Pessoa.

No Círculo Operário, logo se fez sentir a sua ação profética. Pois, ele percebeu que o círculo operário era um “movimento para operários”, e não “um movimento de operários”. Situava-se numa linha assistencialista com alguns elementos promocionais, mas não dava aos operários a autonomia de decidir sua própria caminhada. E o Pe. Fragoso transitou para a ação católica, em seu segmento de Juventude Operária Católica (JOC). Ali ele se constiuiu, no testemunho do fundador da JOC, Pe. José Cardijn,como uma das grandes vozes proféticas do mundo operário brasileiro.

O Pe. Fragoso foi então consultado pelo núncio apostólico, para ascender à cátedra episcopal. E a resposta do Pe. Fragoso foi reticente, alegando ele ao núncio sua dificuldade em aceitar a púrpura episcopal, pois ela o distanciaria dos operários. E o núncio o tranquilizou: “você vai ser bispo dos operários!”

Ao aceitar o episcopado, entre cujas funções específicas estava a de “manter a instituição”, ele assim se expressou na manifestação que lhe fizeram os seminaristas de João Pessoa, no dia de sua ordenação episcopal. Ao receber grandes aplausos dos seminaristas “por causa de suas idéias”, ele lhes deu esta resposta emblemática: ”minhas idéias, minhas idéias pessoais, vocês podem rasgar e jogar na cesta do lixo. Mas a orientação de minha igreja, de nossa igreja, vamos acatá-la respeitosamente”.

É que ele não via a igreja como um bloco monolítico, mumificado numa instituição, porém como algo em contínua construção, sob a ação do Espírito Santo. E o Espírito Santo recorria, dizia D. Fragoso, a mediações humanas, não apenas do magistério institucional, mas a todos os membros da Igreja. E proclamava ele: “ que certeza tenho eu, como bispo diocesano, de ser iluminado com exclusividade pelo espírito santo, quando ele me ilumina pela mediação dos leigos, das religiosas, do povo de Deus da igreja de Crateús?”

E aí estava a tensão mais profunda de seu profetismo, a interpelar a instituição eclesiástica.

Passo expressivo de sua caminhada episcopal foi sua nomeação para bispo de Crateús, em 1964, em plena “revolução militar”. Ao chegar à cidade de Crateús, ele teve de observar o ritual inicial de passa r pelo quartel do exército, para “o beija-mão”. Mas no dia seguinte, após as longas cerimônias de posse, houve um banquete de 200 talheres, digno de um bispo da instituição eclesiástica. Após, o longo tempo do banquete, e depois de uns cinco discursos, já quase às 4 horas da tarde, chegou a vez de D. Fragoso falar, e apresentar sua carteira de identidade. Ele começou dizendo que iria ser breve, e que queria agradecer em primeiro lugar às cozinheiras, que prepararam aquele gostoso banquete, mas que estavam até aquela hora esperando que terminassem o discursos, para poderem matar a fome. E em seguida, apresentou seu projeto episcopal:”eu não vim para Crateús ser um construtor de civilização, mas sim um humilde servidor do povo de Crateús para que ele possa construir autonomamente o seu destino!”

E depois de anos e anos a proclamar sua voz profética em ressonância internacional e amordaçamento nacional, ele teve de moderar a sua voz profética. Foi quando da prisão e tortura de seu auxiliar Pe. Geraldinho. Diante de sua prisão e tortura, D. Fragoso assumiu uma atitude de perplexidade, dizia ele sentidamente aos mais íntimos: “se eu continuar com a veemência dos meus pronunciamentos, serei aplaudido como herói, e não me irão prender por receio da repercussão nacional e internacional mas irão prender e torturar os meus pequenos auxiliares. Isto é para mim profundamente doloroso. E daí em diante procurou ele atenuar a veemência de sua voz profética.

Depois de 34 anos de ação profética na Igreja de Crateús, ele foi dispensado de sua função institucional de bispo , voltando à plenitude de seu profetismo, sem as amarras institucionais. E sentindo-se totalmente livre, poderia ele exclamar:”ai de mim se eu não falar, quando Deus me manda falar!”

E igualmente sentindo-se apenas sob a vigilância do olhar do supremo juiz, de que se julgava porta-voz, ele exerceu um profetismo de profunda radicalidade, como bem expressou no seu último livro, postumamente editado.

Resumindo toda a caminhada profética de Dom Fragoso, poderíamos a ele aplicar as palavras do Papa João XXIII. Ou seja, quando o profeta pe. Lombardi, fundador do movimento “por um mundo melhor”, teceu fortes críticas às estruturas institucionais da cúria romana, os cardeais da cúria assumiram atitude imediata de punição àquilo, que eles consideravam um verdadeiro desacato à autoridade. Foi então que o Papa João XXIII, interveio com toda a sua autoridade institucional de Papa:”calma, meus irmãos! Calma! O Pe. Lombardi teceu suas críticas por amor. E todo aquele que nos crítica por amor, deve ser ouvido!”

Dom Fragoso em sua caminhada profética fez todas as suas interpelações à instituição eclesiástica por amor à sua igreja. Aquela Igreja da qual no dia de sua ordenação episcopal, como vimos, ele expressava toda a sua dedicação:”minhas idéias pessoais, vocês podem rasgar e jogar na cesta do lixo. Mas a orientação de minha Igreja, da nossa Igreja, vamos acatar com respeito!”

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"CRATEÚS: 100 ANOS!" - O LIVRO DA ALC EM HOMENAGEM À CIDADE DE CRATEÚS, SERÁ LANÇADO HOJE À NOITE NO TEATRO ROSA MORAES. PARTICIPE!



APRESENTAÇÃO


100 anos é tanto tempo! Limiar dos humanos mais afortunados, que alcançam a graça da longevidade terrena. Idade símbolo dos abençoados.


Para uma cidade no meio do sertão ermo e árido, sem ouro, cobre ou joias que atraíssem as “entradas” e “bandeiras”, em um país de pouco mais de 500 anos de civilização, ao modo europeu de definir, é um quinto do tempo pátrio: muito tempo, pois!


100 anos é o tempo ora celebrado por Crateús, que em 15 de novembro de 2011 passava a categoria de cidade; que fora, até 1880, parte do território piauiense, até 1889, Vila Príncipe Imperial, e até 1832, Fazenda Piranhas; que até os idos de 1700 era um tiquinho de terra à beira do um Rio (Potingh?), repleto de piranhas, abrigo da taba dos nativos caratis, kara-thi-us, potiguaras, ou se sabe lá por que nomes e em que línguas se designavam as gentes germinadas nesses vales.


Crateús ora celebra seu centenário com muita festa e justas homenagens aos seus benfeitores vivos, não deixando de mencionar as memórias e contribuições dos cidadãos de outrora, que deixaram suas marcas e obras nesta Terra. Desde o início deste ano alusivo, os festejos são abundantes: discursos, apresentações artísticas, textos literários, reportagens na imprensa local, eventos, festivais ecoam fervorosamente, repercutindo a importância da data, aqui e além-município.


A Academia de Letras de Crateús – ALC, por seu turno, desde o inicio do ano, se mostra desperta para uma passagem de centenário que não se encerre em 15 de novembro próximo, nem no reveillon 2012. Para que os 100 anos de Crateús não se limitem à intensidade da emoção dos festejos, esvaindo-se na brevidade temporal de um ano, de uma semana ou do seu dia de aniversário. Para que o centenário não seja apenas uma festa que, tão logo passe, se torne um distante ontem, dissipado nas cinzas do esquecimento.


Surge, então, a ideia deste livro que ora tens em mãos: “Crateús: 100 anos”. Por estes tempos, muitos já consideram o livro um instrumento obsoleto, pelo menos como meio de acesso à informação e ao conhecimento, ou como entretenimento. As últimas três décadas nos trouxeram progresso tecnológico nunca antes visto na história humana. É uma safra impressionante de invenções. De um ano para outro, equipamentos de última geração caem em desuso, pelo aparecimento de outros tantos mais eficazes e fantásticos.


As coisas vão mudando de nome e, sem que haja tempo para, ao menos, dar-se conta, termos saxões vão substituindo os velhos radicais greco-latinos da nossa língua portuguesa. Assim, a velha carta, que substituíra o velho mensageiro a cavalo, que por sua vez substituíra o pombo correio, foi substituída pelo email, scrap, twiter... veiculados, em frações ínfimas de segundos, de um lado a outro do mundo, através da internet; o velho disco de vinil virou compac disc (CD) e agora é um simples arquivo digital representado por um botão virtual, gravado num chip minúsculo; a arte da imagem dinâmica, que já foi teatro, depois cinema de película, depois sinal de televisão (TV), agora está em tree dimensions (3D); o telefone no canto da sala, que inovara em relação ao velho telégrafo e radioamador, agora é celular, e mais recentemente, ipad, ifone, ipod; o livro, outrora escrito à pena, que antes tinha sido velhos pergaminhos, que antes tinha sido símbolos lavrados na pedra ou madeira, a fogo, formão ou punção, e que em era mais remota ainda, figuras rupestres tingidas nas paredes das cavernas, hoje são arquivados, aos borbotões e botões digitais, em tablets.


Neste paraíso fantástico de geringonças, os de Crateús ainda tentamos desvendar os mistérios de nosso estranho topônimo: se vem das raízes tupis da batata-de-teú (Cara-Teú), planta abundante nestas matas caatingas, que faz brotar em trepadeira uma espécie de cipó e que guarda enterrada a batata, a qual o lagarto “teú” escava e come até se fartar, também chamada “cará”, que por sua vez, é também nome de um peixe (corró, tilápia) de formato arredondado, circundado de nadadeiras arrepiadas, tão comum no nosso rio, grotas, charcos e poças; ou se de origem tapuia cariri, formado por “cra” (seco) mais “te” (lugar ou coisa seca), mais “yu” (muito frequente), resultando em “lugar muito frequentemente seco”; ou se, ainda, advindo do nome de nossas tribos “caratis” ou “caretiús”, mais “us”, que significa “povo” ou “tribo” (terras da tribo Carati).


Assim como nesse embate de radicais saxões, que invadem o mundo, com os velhos termos tupis, tapuias, indígenas indefinidos... que substantivam nossas origens, eis-nos preconizando um livro comemorativo do nosso centenário. A leitura de um livro, em si, não é mais, hoje, “uma festa”. Mas um livro bem pode, sim, ser um bom presente. E um presente não perecível, que não se exaure nem se encerra, a curto prazo, uma vez que pode ser lido pelos que o adquirirem agora, ou ser pesquisado como fonte de estudo, ou acessado, por séculos indefinidos, pelos que nos sucederão.


Um livro é um grande acervo de informações, guarda conhecimentos, anos, séculos de história. Mesmo o que deixa de existir pode ser compreendido no futuro pelo que está escrito. É o que tentamos fazer agora: estudar o pouco que foi dito sobre nossa ancestralidade histórica e verbalizar nossas impressões do passado e do presente.


Ao nosso ver, porém, há uma clara percepção de déficit de conhecimento histórico-antropológico acerca de Crateús, por parte de seu povo.


Eis algumas razões: nosso município centenário é estabelecido às margens do Rio Poti, cujo vale já pertenceu ao Estado do Piauí, desde a nascente, na Serra da Joaninha, até o alto da Chapada da Ibiapaba, transferido para o Estado do Ceará, em troca de área litorânea do porto de Amarração, mudança que deu causa a um secular litígio entre as duas federações envolvidas, com muitas consequências, especialmente para os moradores das áreas disputadas.


Uma vez desmembrado, Crateús padece de quase completo isolamento em relação à Unidade da Federação a quem pertencia. Mesmo habitando a mesma beira de rio da capital Teresina, as condições geofísicas de seu território, somadas à inexistência de políticas de integração entre os dois Estados, dificulta e quase impossibilita intercâmbios de qualquer natureza, até mesmo com as cidades mais próximas, do outro lado da fronteira. A Serra da Ibiapaba, sem estradas pavimentadas que a transponham, acaba figurando como uma muralha de apartação entre as duas partes das antigas terras Caratheús.


Assim, a cidade de Crateús foi se povoando de novas levas migratórias advindas de outras áreas do território cearense, trazidas no ensejo de ações como a construção da estrada de ferro e a vinda do 4° BEC, até tornar-se polo populacional e econômico da região. As memórias socioculturais de sua composição demográfica anterior e seus respectivos hábitos e costumes, naturalmente, foram ficando no esquecimento, em face da ação histórica dos novos ocupantes e seu fluxo de relações.


A despeito da importância que a cidade conquistou, no cenário socioeconômico da Região Oeste do Estado, sua historiografia reside predominantemente na memória de pessoas mais velhas e na iniciativa de alguns de seus cidadãos, que, por conta própria e às suas expensas, aventuraram-se em pesquisar e registrar suas visões. Nunca houve, por aqui, uma iniciativa de arquivo e registro mais sistemático ou institucional que considerasse o levante histórico-antropológico, num contexto mais amplo.


Na busca de fontes e vestígios, membros da ALC comboiaram em direção ao Estado do Piauí, em visita às cidades de Oeiras e Teresina. A velha e pomposa capital piauiense hoje sofre os efeitos da migração sertaneja, perdeu o status de centro administrativo e de polo aglomerador de habitantes, restando-lhe, hoje, uma população pouco superior a três dezenas de milhares de moradores e algumas construções antigas, especialmente em volta da praça central. O que possuía em registros sobre as antigas vilas do Estado do Piauí também foi de lá desterrado para a cidade de Recife ou para a nova capital piauiense, Teresina. Esta, situada às margens do Rio Poti, no seu encontro com o Rio Parnaíba, mostra-se desordenadamente crescida, inchada, como o são as capitais nordestinas, cada vez mais metropolizadas, à medida que ganham moradores que desertificam os sertões periféricos.


Em Teresina, encontramos, no Arquivo Público, acondicionados em menos de uma dezena de caixas de papelão, o que restou dos registros cartoriais e administrativos da antiga Vila Príncipe Imperial, cuja consulta ainda tentamos fazer. Mas, pelo tempo que lá passamos (cerca de 5 horas), pelas condições da escrita (à pena) e do papel (envelhecido, de difícil manuseio), pouco pudemos extrair daquele valioso acervo.


Voltando meio que de mãos vazias, desdobramo-nos em esforços para construir, a partir das informações guardadas pelos nossos memorialistas, de pesquisas pessoais, do talento e da boa vontade dos acadêmicos da ALC, uma abordagem sobre Crateús, nos parâmetros possíveis.


“Crateús: 100 anos”, pois, não pretende ser esse “registro sistemático” que dissemos faltar à nossa cidade. Mas diríamos ser este livro um grande “mosaico” de visões e impressões sobre a história do nosso povo, montado sob olhares e estilos literários os mais diversos. Aqui se reúnem: poetas, contistas, cronistas, ensaístas, professores, artistas, memorialistas, jornalistas, juristas, cordelistas, repentistas, dramaturgos, historiadores, acadêmicos, médicos, profissionais de atividades diversas, encarnando uma missão historiográfica, todos contando o seu jeito de ser e ver a Crateús centenária.


Já na introdução, Carlos Bonfim tenta “pentear” a “contrapelo”, os desenhos conceituais de história local, prenunciando o exercício que será feito nos tópicos que se seguem, em que Crateús vai ficando história, em letras diversas.


No primeiro capítulo, onde contamos nossas origens, Pe. Geraldinho trilha o itinerário pedregoso do Rio Poti, a “coluna vertebral” dos Sertões de Crateús. Das encostas da Serra da Joaninha, passando pelo boqueirão da Serra da Ibiapaba, que se faz “quebrada”, por um rio rebelde, o autor galopa com as águas correntes, em grande declive, até jorrar o Poti no Parnaíba, na divisa do Piauí com o Maranhão. Logo em seguida, com um olhar de raio X, o mesmo autor desvenda histórica e antropologicamente os Sertões de Crateús, em natureza, geologia, geografia, etnografia... demonstrando, ao fim, que, assim como “Frei Damião não é pneu de caminhão, Crateús não é Inhamuns, numa detalhada “radiografia dos Sertões de Crateús”.


Mais adiante, Luís Carlos Leite rememora os primeiros moradores: índios, por certo. Os verdadeiros donos dessas terras brasis e caratis, tantas vezes massacrados, na “furna dos caboclos” ou ao léu, tentando subsistir como raça nativa. Cheyla Mota revira tempos remotos, em que bandeirantes e sesmeiros se embrenhavam sertão-a-dentro, quais espíritos aventureiros, em sagas de conquistas ambiciosas, até banharem-se num rio de piranhas, virando Fazenda, depois vila. Flávio Machado, com suas memórias saudosas, em três títulos: ‘Raízes de Crateús’, ‘A Vila em Normas, Atos e Fatos’ e ‘Fatos Marcantes de Piranha a Crateús’ viaja ao passado da Velha Vila Príncipe Imperial, reencontrando seu jeito provinciano de ser povo, desfiando em frases suas raízes, seu modo administrativo e condutas. Em ‘Piauí X Ceará, César Vale conta o “negócio” da troca de Crateús por Amarração, e ‘faz as contas’ de Crateús, desde sua aurora econômica, com as fazendas de criar, o ciclo do couro, o cultivo da cera da carnaúba, da oiticica, do algodão, o comercio de peles, até a moderna cidade centenária, repleta de veículos novos, hoje sem grandes façanhas econômicas, mas sempre, do oeste, a princesa.


No segundo capítulo, já somos cidade. Raimundo Cândido peregrina pelos cantos e recantos do nosso mapa geográfico, que mais parece uma ponta de flecha alargada, explicitando nossos centros distritais. José Arteiro Goiano e Isis Celiane apresentam a saga forense, em lida e juízo, na busca de trazer a justiça aos “Joãos-Grilos e Chicós”, aos “Fabianos e Sinhás Vitórias” das Terras Caratheús. Éricson Fabrício fecha o capítulo, como que abrindo os caminhos da fé ou fés, que rogou ou rogaram bênçãos ou maldições nesses vales, quando de nossas bases religiosas.


Adiante, uma suave pincelada artística e cultural em nossa história. No terceiro capítulo, Júnior Bonfim nos traz de volta o príncipe dos poetas piauienses, que é de Crateús, quando ainda éramos Vila Príncipe Imperial: José Coriolano. E segue pontuando outros nomes, até chegar na ALC, que hoje desponta com 30 novos “escribas do poty”. Juarez Leitão lança mão das cadernetas do Padre Teófilo, guardadas, a sete chaves, durante anos, pelo Monsenhor Leitão, para nos presentear com algumas facetas de “a musa do poty nascente”. Raimundo Cândido volta a cargo dando conta das pérolas literárias que garimpou em suas andanças pelo interior de Crateús, em ‘Poetas dos Distritos’.


Em seguida, Karla Gomes abre as cortinas do palco das tradições folclóricas e encena as danças de São Gonçalo e os dramas teatrais nordestinos. Como pouco fosse, Karla ainda enfatiza o desvelo de uma vanguarda teatral que surgira em Crateús, por volta dos anos de 1970, que faria de Crateús, hoje, uma referência na prática das artes cênicas, entre as cidades do Sertão Cearense. Em mais um título de Flávio Machado, poderemos identificar (ou rememorar) nossa arquitetura ancestral, que em mais de um século edificou prédios em todos os recantos da cidade, muitos deles, ainda tão jovens, demolidos ou descaracterizados.


Na abordagem da Educação, Adriana Calaça vai às ruas e leva a público – em faixas, bonés, palavras de ordem e suor – os dramas da educação pública, se fazendo na luta, ao mesmo tempo, utopia e conquista, na linguagem dos sentidos mais sublimes da formação humana. Maria da Conceição (Nêga) ilumina o sertão e os caminhos tortuosos da Educação Superior em Crateús, da FAEC e seu dilema de “sem teto e outros sem”, até a FPO, sugerindo que seja o novo sertanejo de Crateús, formado pelo ensino superior, além e “antes de tudo, um forte”, um ser capaz de conjugar força e sabedoria. Ana Cristina articula a crônica dos “mestres inesquecíveis”, aqueles que estiveram e ficaram na estima dos acadêmicos, com as contribuições dos registros de Raimundo Cândido, Vera Fernandes, Edmilson Providência, Nêga e, como arremate, um ‘Alfabeto da Dedicação’, de Silas Falcão.


E no quarto e último capítulo estão os fatos históricos que marcaram a saga da cidade centenária. A Crateús menina passeia de trem, já em 1912, nas letras de José Maria Bonfim de Moraes, e pelos trilhos rasga os sertões, em direção a outras urbes, voltando sempre, nas bocas de noite, em tantas faces que desembarcam na estação. Os revoltosos sitiam Crateús, ainda debutante, em letras cenográficas do Pe. Geraldinho, e são recebidos à bala, sob o comando do delegado Peregrino. A Santa de Fátima visita Crateús e, como que num pedido para ficar mais um pouco, fica sim, sob custódia da multidão, deixando a Crateús, ao ir embora, a fama de ser ‘a cidade que prendeu a Santa’, como nos conta Flávio Machado. Por Flávio e Cesar Vale, leremos, ainda, sobre o velho e saudoso motor da luz, e a chegada do 4° Batalhão de Engenharia e Construção (4° BEC).


Juntamente com Luís Carlos, fazemos um traçado dos passos de um homem de luz, Dom Fragoso, numa caminhada de 34 anos, história da luta de um povo contra os horrores da ditadura militar; da luta pela paz, justiça e libertação. Registros de uma era em que o solo crateuense foi trilhado por dois profetas: o profeta dos pobres, Dom Fragoso, e Pe. Alfredinho, um profeta peregrino. Em mais um título, Flávio Machado encerra o capítulo com uma sequência cronológica de tantos outros fatos que marcaram e repercutiram no cotidiano da nossa cidade centenária e viraram história.


E ao fim, Paulo Nazareno, com a missão de falar do amanhã, chama aos pósteros e lhes entrega, em mãos, o livro “Crateús: 100 anos”, dizendo: – “Você aí! que um dia estará a nos ler no futuro, quedará sem o querer, a vivenciar nosso presente, para ti, passado. Terás em mãos (ou tela? ou outro recurso sequer existente agora?) um pedaço, um pequeno registro do nosso atual tempo”.


Além do dito neste breve preâmbulo, ainda terás tanto, em poemas, contos, crônicas, fotos... neste livro-mosaico, diagramado e desenvolvido visualmente pelo poeta do traço, da escultura, da imagem matemática, e também das letras, José Rodrigues Neto, e pelo também poeta das letras, da arte e da vida, Lourival Veras. Imagens visuais e literárias talhadas com amor, especialmente para ti ou vós, leitores, que são a massa viva da centenária cidade de Crateús, pois que as pessoas fazem o lugar, e o lugar é o seu povo. Logo, Crateús somos todos nós.


100 anos é tanto tempo! Contados em dias, perfazem a quantia exata de 36.525. Em horas, chega-se ao número 876.600. Em minutos, 52.596.000. E em segundos, por sua vez, 3.155.760.000. Dito em palavras, podem ser traduzidos em um singelo verso ou uma prosa tosca, ou em uma tira infinita de letras, de acordo com a emoção de cada subjetividade. Estas quatrocentas e tantas páginas foi o nosso jeito, da Academia de Letras de Crateús, de dizer-te, em memória dos nossos ancestrais, em nome dos crateuenses do hoje, e querendo merecer os pósteros, oh! querida terra mãe, Crateús: Feliz Centenário!


Elias de França ­– presidente da ALC

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

ELE NÃO PESA, ELE É MEU IRMÃO

A história conta que certa noite, em uma forte nevasca, na sede da entidade "Missão dos Orfãos", em Washington, DC, um padre plantonista ouviu alguém bater na porta. Ao abri-la ele se deparou com um menino coberto de neve, com poucas roupas, trazendo em suas costas, um outro menino mais novo. A fome estampada no rosto , o frio e a miséria dos dois comoveram o padre. O sacerdote mandou-os entrar e exclamou: Ele deve ser muito pesado. Ao que o que carregava disse: Ele não pesa, ele é meu irmão. (He ain't heavy, he is my brother) Não eram irmãos de sangue realmente. Eram irmãos da rua. O autor da música soube do caso e se inspirou para compô-la . E da frase fez-se o refrão .. Esses dois meninos, foram adotados pela instituição. É algo inspirador nestes dias de falta de amor, solidariedade, violência e egoísmo. Assim como Jesus, que levou o fardo de toda a humanidade sobre sí e não pesou!

CONJUNTURA NACIONAL

Vingt e o membro de fora

Líder político inconteste na região e com expressividade estadual, o deputado Federal (já falecido) Vingt Rosado viveu um período em Mossoró/RN em que sua presença beirava o status de um pop-star, estrela reverenciada de forma avassaladora. Sua projeção fazia sentido. Apresentava-se como um anteparo da cidade, com disposição indômita para qualquer luta em defesa de Mossoró. Fora do território mossoroense, sua força e empatia com a cidade também eram por demais conhecidas. Daí serem naturais as deferências de autoridades como governadores, ministros de Estado, presidente da República. Princípio da década de 70, ele faz mais uma viagem de volta a Mossoró, dessa feita trazendo a tiracolo uma alta autoridade de Brasília. O clube ACDP sintetizava ambiente como a Meca da sociedade mossoroense. Recepção marcada para o salão festivo do clube, Vingt chega ao local ladeado pelo visitante ilustre, causando um frisson entre os presentes. O locutor no interior da ACDP, com o papel de mestre de cerimônias, castiga:

- Quem vai adentrando agora a ACDP é o deputado Federal Vingt Rosado, com um membro de fora!

Historinha contada por Carlos Santos em seu "Só Rindo".

O caso Lupi

Carlos Lupi se excedeu na linguagem da defesa. A presidente Dilma até que gostaria de fazer a troca de nomes em janeiro, por ocasião da reforma ministerial. A acumulação de funções e a solicitação da Comissão de Ética Pública apressaram sua saída. Lupi passará um tempo de férias e voltará ao comando do PDT, em fevereiro/março. O partido, por sua vez, não tem alternativa que a de continuar integrando a base governista. Com ou sem a posse do Ministério do Trabalho.

A briga pelo cargo

Há, sim, uma disputa muito forte entre PT e PDT pela Pasta do Trabalho. Como se sabe, a querela é por partilha de recursos. O Ministério do Trabalho estabelece as cotas para as Centrais Sindicais, a partir de seu porte. A CUT tem 37% dos trabalhadores sindicalizados no país e cerca de 2 mil sindicatos filiados; o PDT agrega 14% e 1,5 mil sindicatos. Logo, a CUT, que é ligada ao PT, reivindica o cargo de ministro do Trabalho. Para administrar a querela e evitar mágoas de uma das partes, a presidente Dilma tem uma saída: tirar a pasta da esfera do PT e do PDT. E escolher um perfil técnico com o respaldo de um grande partido.

O caso Pimentel

A mídia provou da receita e quer repetir o menu : depois de um ministro abatido, a vez de outro. Pois bem, a artilharia, agora, foca para o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, sobre o qual recaem suspeitas de ter recebido recursos de empresas beneficiadas com serviços da prefeitura de Belo Horizonte. Pimentel teria sido consultor de empresas com licitações na prefeitura logo após deixar o mandato de prefeito. Há um detalhe a se observar: o ministro faz parte do grupo mais próximo de Dilma. Foi companheiro de Dilma no passado de lutas contra a ditadura. Dilma o tem como um amigo muito querido. Por isso mesmo, desta feita, a bateria de denúncias poderá não obter resultados, pelo menos no cronograma desenhado pela mídia.

Lula no batente

O ex-presidente Luiz Inácio gosta mesmo do batente político. Mesmo convalescente, tomou a decisão de voltar ao primeiro plano da política e começará, na próxima semana, a despachar em seu Instituto. Lula dará as diretrizes para as campanhas municipais do PT no país. O partido quer mais que duplicar o número de prefeitos, atualmente somando 545. O maior desafio de Lula é vencer o PSDB na prefeitura paulistana. Uma batalha a ser acompanhada em todos os detalhes.

DRU, teste de fogo

Até 22 de dezembro, a presidente Dilma quer ver a DRU (Desvinculação de Receitas da União) aprovada. O primeiro turno será votado amanhã. Se houver alguma emenda, retornará à Comissão de Constituição e Justiça. Neste caso, o governo convocaria o Congresso para trabalhar no recesso, após 23/12. Os obstáculos que alguns senadores estariam fazendo estão sendo contornados. Com a intermediação do vice-presidente Michel Temer.

Emenda 29

Outra montanha de dificuldades é a Emenda 29, que destina recursos para a Saúde. Os partidos de oposição querem fixar em 10% a parcela da União, significando um aumento de R$ 30 bilhões em relação ao montante hoje aplicado. Por isso, o governo se esforça para protelar a votação. Ou arrumar um meio termo para se chegar ao consenso.

"Use a lógica, quanto mais suicidas, menos suicidas". (Infame!...)

Dengue

Todos os anos, lemos sobre a crônica da dengue anunciada. Há uma ameaça sobre nova epidemia de dengue. 48 cidades estão ameaçadas. E mais 300 em estado de alerta. O Brasil é o país do Eterno Retorno.

Lei da informação

Ganhamos um estatuto avançado: a lei de acesso à informação. Mas será praticamente impossível que a lei entre em vigor em 180 dias. O Estado precisa se preparar para abrir seus arquivos. E as estruturas de dados e informações são muito precárias. Não andam no compasso eletrônico. Resultado: temos um instrumento avançado que pega carona num carro que anda a 10 km por hora.

"Morrer é deixar tudo o que temos e levar tudo o que somos". Colaboração de Álvaro Lopes

Brasil desmatado

Que coisa esdrúxula: comemora-se o fato de o Brasil continuar a ser desmatado. Manchetes: Desmatamento na Amazônia é menor. Quando se confere o dado, lê-se: foram desmatados 6.238 km2 entre agosto de 2010 e julho de 2011. Apenas um pouquinho menos do que os 7.000 km2 do ano anterior. A comemoração deveria ocorrer quando a manchete fosse essa: Brasil teve desmatamento zero no ano que passou!

Fátima e Patrícia

Coisas do Brasil: Fátima Bernardes, apresentadora do Jornal Nacional, é elevada ao pico da glória com a manchete: Fátima faz história. Ou seja, a troca de uma apresentadora por outra é considerada um marco histórico, quando deveria ser coisa corriqueira nos padrões televisivos. E a Patrícia Poeta, que toma seu lugar, ganha status de deusa do Olimpo. Mais interessante ainda: festeja-se o novo programa de Fátima sem se saber como será. Frita-se o ovo antes do esforço da penosa.

Alemanha e França

A Alemanha e a França, que lideram a União Europeia, potências mundiais, são ameaçadas de entrar na zona do rebaixamento. As notas que as Agências de Risco conferem aos países podem borrar a imagem do Merkozy, essa moeda fortíssima que domina a UE. A conferir!

Serra subirá no sobrenome?

Perguntinha que cala nas cabeças inquietas de tucanos e vizinhos: José Serra vai encarar o desafio de subir a serra da campanha paulistana? Ouço de alguns tucanos: a ficha vai cair e ele vai topar ser candidato a prefeito. Ouço de outros: não topará mesmo. Já foi prefeito e renunciou para se candidatar a outro cargo. Cairá mal outra tentativa. Dizem mais: Aécio alugou o apoio dos caciques tucanos para ser o candidato presidencial em 2014. Tem o mandato de senador por Minas Gerais. E Serra não tem nada. Ficaria mais tempo no limbo? Começo a acreditar na hipótese de Serra com o abacaxi paulistano para descascar.

Temer com os líderes

O vice-presidente da República, Michel Temer, estará, hoje à noite, às 19h30, no evento de premiação dos Líderes do Brasil, promovido pelo LIDE, no Palácio dos Bandeirantes. O evento, a ser comandado por João Doria, reunirá grandes lideranças públicas e empresariais do país. Ontem, esteve presente ao evento da Revista Isto É, que homenageou a presidente Dilma (Brasileira do Ano), o prefeito Gilberto Kassab (Política), o professor Antônio Cândido (Cultura), Anderson Silva (Esportes), José Mariano Beltrame (Cidadania), entre outros.

Adélia Prado, a jeca refinada

Adélia, o que tem de Minas no seu comportamento, no seu jeito, nos seus gestos?

- Talvez tudo: comidas, usos e costumes, no social e no religioso, devoções, inquietação metafísica, gosto pelo bucólico. Somos grandes roceiros, refinados jecas. No meu caso especial, amor pelo cerrado, por pedras, córregos, campanários, madrugadas, entardeceres, grilos, vaga-lumes, torresmo, angu, arroz com feijão e ovo frito, farinha e pimenta (indispensável), bananas, cheiro-verde e conversa, "pensação" e a nossa falta de mar. E ainda a fala, uai!

(Leda Nagle, no livro de entrevistas com mineiros, De Minas para o Mundo - editora Autêntica). Enviado por Álvaro Lopes

O sono

Pois é, cada um com seu sono: Margaret Thatcher, ex-primeira ministra britânica, dormia apenas quatro horas de sono por noite. Era o suficiente. Já o cientista Albert Einstein precisava de 11 horas. Nosso guru de economia e finanças, Delfim Netto, carece apenas de quatro horas. Um estudo com 10 mil europeus apurou que os portadores do gene ABCC9 precisam de 30 minutos a mais de sono por noite. Um em cada 5 europeus tem esse gene. E você, hein?

E a transposição?

A monumental obra de Transposição das Águas do rio São Francisco sofre atrasos em alguns trechos. O flagrante de abandono, nos jornais deste fim de semana, causou perplexidade. O ministro da Integração, Fernando Bezerra, começou a subir no telhado. Prestes a levar um puxão de orelhas. Vai se queixar ao protetor, Eduardo Campos?

Brasil de acidentes

O país abriu 2011 sob o impacto do maior desastre ambiental de sua história, o deslizamento de terras na região serrana do Rio de Janeiro, quando morreram 820 pessoas. O 8º pior deslizamento da história mundial. E termina o ano com o derramamento de óleo do poço da Chevron, na bacia de Campos : 440 mil litros de petróleo. E olha, preocupado, para o supercargueiro Vale Beining, com rachaduras no tanque de lastro, que seria carregado pela Vale, em São Luis, Maranhão, com 385 mil toneladas de minério de ferro. O Brasil deixou de ser um território imune aos grandes desastres naturais.

Apostas abertas

Há um grupo que aposta numa reforma ministerial mais profunda, com enxugamento e fusão de pastas. De 38 ministérios, Dilma cortaria uns 8. Há outro que avisa: a reforma será cosmética. Quatro a cinco nomes serão trocados. Este consultor tende a apostar em uma reforma mais vertical, completa.

Conselho aos pré-candidatos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma Rousseff. Hoje, sua atenção se volta aos pré-candidatos:

1. Iniciem uma avaliação sobre seus pontos fortes e seus pontos fracos. Forças e Fraquezas.

2. Não deixem de lado levantamentos e prospecções sobre demandas, expectativas, anseios e vontades das coletividades.

3. Mapeie todos os aspectos positivos que devem ser continuados nas administrações municipais e os pontos negativos que precisam ser corrigidos.

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Gaudêncio Torquato

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Ufa ! Enfim, o Banco Central Europeu

Em matéria econômica não existe pior crise que a cambial. A dúvida sobre a credibilidade, a estabilidade e a solvência da taxa de câmbio e seus correspondentes ativos financeiros não pode persistir por longos períodos sob pena de instalar ou aumentar a dinâmica dos colapsos financeiros. Se a moeda "sob contestação dos agentes" for uma das mais transacionadas do mundo, a crise é muito maior. Embora esta assertiva seja amplamente conhecida pelos economistas e não-economistas, não deixa de ser surpreendente a irresponsabilidade dos líderes europeus em relação ao tema, sobretudo no caso da chanceler alemã Angela Merkel que quer impor modelos fiscais em meio a um turbilhão cambial. É como se os bombeiros ficassem discutindo sobre as origens de um incêndio em meio a sua propagação. Nesta hora, o que começa a aparecer no horizonte é a perspectiva de que o Banco Central Europeu (BCE) irá fazer uma intervenção da ordem de US$ 1 trilhão para aumentar a solvência de países e bancos. Talvez esta seja, de fato, a única medida cabível em meio às especulações de que o euro irá entrar em colapso.

Consequências da intervenção

No caso da Europa, é sempre bom ter certeza sobre o contexto e a magnitude da intervenção do BCE nos mercados antes de avançarmos em prognósticos. No próximo dia 9, a cúpula da União Européia irá se reunir para (mais uma vez) discutir a crise no Velho Continente. Até lá é possível que o BCE já esteja em plena ação. Este pacote, se for mesmo de US$ 1 trilhão, parece ser capaz de provocar a estabilização financeira em todo o continente, especialmente na Itália e Espanha. Esta estabilização é condição sine qua non para que o longo rescaldo relativo à recessão, desemprego e melhoria das contas fiscais possa andar para frente. Ainda sobrará muita dor social e econômica aos países, mas a superação da corrente especulação deve favorecer a valorização dos ativos (ações e títulos de renda fixa), bem como tornar menos neurótica as operações usuais dos agentes. O mundo agradece e torce para que dê certo.

Os EUA devem ser os mais beneficiados

A economia norte-americana representa cerca de 1/4 do PIB mundial e, por ser muito aberta, é muito dependente do consumo mundial e de seu próprio consumo (que, por sua, vez representa 2/3 do PIB norte-americano), deve ser a maior beneficiária da estabilização europeia. Além disso, já existem sinais iniciais de que o consumo das famílias americanas está começando a crescer. Ainda não dá para estarmos certos de que se trata de um novo ciclo econômico que se inicia, mas, como já afirmamos há um mês, as chances de reversão são concretas. Note-se que não estamos dizendo que devemos sair por aí soltando fogos. O que estamos dizendo é que o pior parece estar passando. É hora de não nos conformarmos com o pessimismo reinante, mas o de olharmos para o futuro e tentarmos extrair oportunidades (hoje) dele.

Ainda a China

Já repisamos muitas vezes nesta coluna que os riscos da China são múltiplos e não há transparência suficiente para se chegar a um diagnóstico da saúde da economia chinesa e, muito menos, sobre a concreta possibilidade da existência de "bolhas especulativas" naquela economia. De toda a forma, devemos reconhecer que é quase impossível uma economia sustentar uma taxa de investimento acima de 40% do PIB - no Brasil esta taxa é a metade - sem que existam desequilíbrios no sistema de crédito e de preços. É preciso estar atento para aquele lado do mundo, sobretudo o Brasil que é altamente dependente das exportações de commodities.

Brasil, devagar no estrutural e tranquilo no conjuntural

Se colecionarmos as reformas pelas quais o Brasil passou nos últimos 15 anos, verificaremos que estas são, no mínimo, modestas frente aos desafios que necessitam ser ultrapassados para que caminhemos para o desenvolvimento pleno de nosso país. Há uma leniência em relação aos investimentos em infraestrutura, tecnologia, educação, logística, etc. Não dá para nos enganarmos e cairmos no "conto da carochinha" de que somos o melhor país do mundo, conforme alguns daqui e de lá de fora imaginam. Falta-nos um plano estratégico de longo prazo para conquistarmos pontos na direção de um país mais equilibrado do ponto de vista social e econômico. De outro lado, é preciso reconhecer que os riscos de curto prazo são perfeitamente manobráveis, inclusive do ponto de vista fiscal (contas públicas), monetário (especialmente, no caso da inflação) e cambial (cujas reservas externas são significativos). Os juros básicos caminham para a queda - talvez estrutural -, mas os juros bancários ainda estão em patamares mundialmente recordes. Se a Europa se acalmar, o Natal pode ser mais generoso que o esperado. Poderemos comemorar. Sem entusiasmo, no entanto.

Pacote anticrise

Sinceramente, pouco temos a comentar sobre o "pacote anticrise" anunciado pelo ministro da Fazenda Guido Mantega, na semana passada. Criar expectativas ou desfazê-las é parte da tarefa de governar. Lançar mão de medidas pouco claras em relação aos objetivos e menos claras ainda, em relação aos meios, é algo indesejável de se ver emanado do governo. Pois foi exatamente isso que se viu em relação ao referido pacote : inepto para evitar crises e insuficiente para criar expectativas. A única observação que podemos fazer é que o governo parece adotar um ritmo bem gradualista para se colocar contra a crise. Esta prudência é positiva, mas é preciso não errar na dose e produzir "um nada" em termos de expectativas.

Radar NA REAL

Acreditamos que o cenário de curto prazo pode sofrer uma sensível alteração neste final de ano com um maior otimismo face às expectativas anteriores. É preciso perceber se, de fato, os europeus vão conseguir introduzir medidas monetárias e cambiais suficientes para estabilizar as expectativas dos agentes. É cedo para dizer, mas acreditamos que os diversos segmentos do mercado financeiro hão de apresentar um desempenho menos estável e mais construtivo. Relativamente ao médio prazo ainda não somos capazes de recomendar com clareza uma estratégia. Haveremos de fazê-lo em futuro breve.

2/12/11 TENDÊNCIA
SEGMENTOCotaçãoCurto prazoMédio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixadosNAbaixabaixa
- Pós-FixadosNAbaixabaixa
Câmbio ²
- EURO1,3472estávelalta
- REAL1,7821baixaestável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa57.885,84estável/altaestável
- S&P 5001.244,28estável/altaestável
- NASDAQ2.623,93estável/altaestável

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Dilma, uma autora à procura de um estilo

A publicação recente de dois livros com histórias da presidente da República, uma feliz conveniência tanto do mercado editorial quanto do mercado político, coincidentemente ou não, faz parte de um esforço de criar uma identidade própria de primeira mulher a chegar ao comando supremo da nação brasileira. Contribui para reforçar as qualidades atribuídas a ela de boa gerente, durona (pero sin perder la ternura jamas), intransigente quando necessário, da faxineira intolerante com os "malfeitos". Esta fixação de estilo é um necessidade também do mercado do poder, para retirá-la das sombras, reais e/ou imaginárias, que pairam ainda sobre ela : do mentor Lula, do PT, dos partidos aliados. Realidade ou não, o certo é que, por todas essas vicissitudes, ela parece ainda não ter nas mãos todas as rédeas do poder.

Vacilações

As vacilações que a presidente demonstrou para demitir alguns ministros encalacrados em "malfeitorias" é um exemplo de que as rédeas do poder ainda estão frouxas. As dificuldades que ela enfrenta com os aliados, outra. Lula, por exemplo, nem mesmo no auge do mensalão, viu tantas pedras em seu caminho no Legislativo. Dilma é uma personagem em busca de um ator. Sua grande oportunidade é a reforma ministerial.

Em tempo

Os livros referidos na abertura desta nota são :

1. "O cofre do dr. Ruy", de Tom Cardoso, editora Civilização Brasileira.

2. "A vida quer é coragem", de Ricardo Amaral, editora Primeiro Plano.

Expectativa demais

Pelo que os porta-vozes "ocultos" da presidente estão prometendo para a reforma ministerial de janeiro, Dilma só reforçará sua imagem se atender a quatro requisitos :

1. Trocar ministros para além dos que precisam ser trocados por algum tipo de suspeita de "malfeitos" e insuficiência de desempenho.

2. Fazer uma dança de cadeiras no ministério entre os partidos e ainda incorporando atores não partidários à equipe.

3. Acabar com os feudos ministeriais e as entregas de porteira fechada.

4. Reduzir de forma significativa o número de ministérios.

Todas essas mudanças, apregoadas como em andamento nos bastidores de Brasília, atingem diretamente o "negócio da política". Se não se realizarem, vão frustrar expectativas. Tal qual o pacote "anticrise" do governo na semana passada.

Um é um, o outro é o outro

Análise de um experiente político de Brasília da chamada base governista: "Lula conquistava pela simpatia, pela lábia, pela capacidade de conversar e negociar. Na hora que quis impor, tropeçou na CPMF. A linguagem da Dilma é só da vontade dela. Lula dava liga. Dá para ver que falta um mínimo de coesão na base aliada e no próprio ministério. Lá está cada um por si. Tem de tropeçar".

Quem quiser que acredite

É certo que estamos na época do Natal, mas mesmo os que acreditam no bom velhinho estão com dificuldades de acreditar que o senador José Sarney, com mais de 50 anos na praia da política, cometeu um cochilo na semana passada, ao contribuir com a oposição para retardar no Senado a votação do projeto que prorroga até 2015 a vigência da DRU (Desvinculação das Receitas da União). O PMDB, insatisfeito sempre com verbas e ministérios, às vésperas de mudanças na equipe de Dilma, exercita seu melhor estilo assopra (com Michel Temer, a apaziguador da República) e morde (com Sarney, Renan Calheiros, Henrique Alves, pero sin perder la ternura jamás).

Se colar...

Na esteira desse peemedebismo de resultados, os senadores mineiros Clésio Andrade (PR, em transição para o PMDB) e Zezé Perrela (PDT) assinaram a proposta da oposição com emendas ao projeto da DRU e avisaram, em nota oficial, que poderão retirar o apoio se Dilma não der prioridade máxima a alguns projetos do interesse de Minas.

As municipais - I

Não se sabe se é sonho ou fantasia apenas, mas os PSDBs paulista e paulistano começaram a ficar animadinhos com a possibilidade de José Serra negar o que vem jurando até agora e aceitar concorrer à prefeitura de São Paulo. O fantasma de uma derrota na capital paulista, menos pela força de Fernando Haddad e mais por suas fraquezas e idiossincrasias internas passou a ronda para valer o sono do tucanato.

As municipais - II

Com Lula articulando no momento em ritmo mais "piano" e à distância, o PT já começou a perceber que terá dificuldades de atrair todos ou a maior parte dos parceiros Federais para cidades-chaves nas eleições municipais. Sem Lula, que diz e faz o PT acontecer, os aliados estão desconfiados de que o partido de Dilma vai querer sempre comandar as melhores fatias.

Ninguém é de ninguém

Aliás, a aliança governista sofre desse mal: ninguém confia inteiramente em ninguém. Basta conversar com um peemedebista em relação aos petistas com a garantia de anonimato da informação ou auscultar um petista a respeito agora, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e seu PSB. E assim por diante. Ademais, a oposição somente não padece do mesmo mal nas dimensões do governismo porque está em "estado de necessidade" o que a faz ir mais ou menos unida para as eleições de 2012 (onde der) e 2014.

Ronaldo "Fenômeno", CBF e governo

Comenta-se na imprensa que o presidente da CBF, em vista de possíveis denúncias de corrupção vindas do exterior, mais exatamente da sede da FIFA na Suíça, estaria se "blindando" por meio de "nomes populares" sabiamente colocados ao redor de seu trono. Ora, não sabemos se uma estratégia dessas dá certo. Mesmo com inserções televisivas de comerciais dando conta da eficiência da CBF na gestão desta "coisa nossa" chamada futebol, a pergunta que fica é: e o governo? Como vai se comportar o governo sabendo que o presidente da CBF, organizadora local da Copa, está envolvo por vastos mantos que obscurecem suas atividades? Mais ainda: Ronaldo "Fenômeno" e seus conflitos de interesse afetam em alguma medida o interesse público? Vejamos as próximas trocas de passe na cartolagem do futebol...

Aeroportos: medidas desmedidas

As autoridades que regulam aeroportos e o setor aéreo brasileiro (ANAC, Infraero, etc.) anunciaram há duas semanas um plano para evitar o "caos aéreo" no Brasil. Tudo funcionaria melhor em março do ano que vem quando o Carnaval e as férias já passaram. Acredite se quiser.

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A coluna Política & Economia NA REAL é assinada porJosé Marcio Mendonça e Francisco Petros.