sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O DIA DE FINADOS!


Sempre às vésperas do dia em que celebramos os que deixaram o nosso convívio, direcionamos a nossa atenção para a mesma coisa: a estrutura física do campo santo, o estado de conservação dos túmulos etc.

Raramente, ousamos reflexionar além disso; dificilmente, adentramos no âmago da questão: qual o sentido da existência, qual o verdadeiro significado da vida, por que resistimos à morte?

Os ocidentais temos muita dificuldades de tratar desse tema. Em que pese as vistosas conquistas que temos obtido na esfera tecnológica, ainda tratamos o tema da morte como um tabu. Ensinam-nos a negar a morte e a internalizar que ela nada significa, a não ser aniquilação e perda. Vivemos a negá-la. (Para ser sincero, eu mesmo via de regra resisto em escrever sobre o assunto...).

É tão forte e arraigado este pré-conceito que falar da morte é considerado algo mórbido, e – pasmem! - corriqueiramente julgamos que a simples menção a ela pode atraí-la sobre nós.

Noutro extremo, há também quem encare a morte de maneira quase ingênua, frívola ou irracional: “se chega para todo mundo, não é nada de mais. Vai chegar prá mim também. É absolutamente natural”.

Ambas atitudes estão pouco próximas da compreensão do verdadeiro significado da morte.

O professor Sogyal Rinpoche, que nasceu no Tibet e é um dos pioneiros na promoção do diálogo entre a Ciência e a Espiritualidade, leciona que “todas as tradições espirituais do mundo, inclusive, é claro, o cristianismo, dizem explicitamente que a morte não é um fim. Todas falam em algum tipo de vida futura, o que infunde em nossa vida atual um sentido sagrado. Mas, não obstante esses ensinamentos, a sociedade moderna é um deserto espiritual em que a maioria imagina que esta vida é tudo que existe. Sem qualquer fé autêntica numa vida futura, a maioria das pessoas vive toda a sua existência destituída de um sentido supremo”.

Segundo o mestre budista, são desastrosos os efeitos dessa atitude de negação da morte. Vão além da esfera individual, afetam o planeta inteiro. Supondo que esta vida é única, não desenvolvemos uma visão de longo prazo e, tomados pelo egoísmo, passamos a saquear o planeta em que vivemos para atingir nossas metas imediatas. E isso pode ser fatal no futuro.

Neste dia de finados (que deveria ter outro nome, pois finados diz respeito a falecido e encerra uma compreensão da morte com “fim” – o que não é o caso), alimentemos, como Raymond Moody, a forte e viva esperança de que há, de fato, uma “vida após a vida”.

(Júnior Bonfim, em "Amores e Clamores da Cidade")



quinta-feira, 1 de novembro de 2012

DUAS HISTÓRIAS EMOCIONANTES E EDIFICANTES


HISTÓRIA NÚMERO UM

Há muitos anos, Al Capone controlava virtualmente Chicago. Capone não era famoso por nenhum ato heróico. Ele era notório por empastar a cidade com tudo relativo a contrabando, bebida, prostituição e assassinatos.

Capone tinha um advogado apelidado ‘Easy Eddie’. Era o seu advogado por um excelente motivo. Eddie era muito bom! Sua habilidade, manobrando no cipoal legal, manteve Al Capone fora da prisão por muito tempo.

Para mostrar seu apreço, Capone lhe pagava muito bem. Não só o dinheiro era grande, como Eddie também tinha vantagens especiais. Por exemplo, ele e a família moravam em uma mansão protegida, com todas as conveniências possíveis. A propriedade era tão grande que ocupava um quarteirão inteiro em Chicago. Eddie vivia a vida da alta roda de Chicago, mostrando pouca preocupação com as atrocidades que ocorriam à sua volta.

No entanto, Easy Eddie tinha um ponto fraco. Ele tinha um filho que amava afetuosamente. Eddie cuidava que seu jovem filho tivesse o melhor de tudo: roupas, carros e uma excelente educação. Nada era poupado. Preço não era objeção. E, apesar do seu envolvimento com o crime organizado, Eddie tentou lhe ensinar o que era certo e o que era errado. Eddie queria que seu filho se tornasse um homem melhor que ele.

Mesmo assim, com toda a sua riqueza e influência, havia duas coisas que ele não podia dar ao filho: ele não podia transmitir-lhe um nome bom ou um bom exemplo. Um dia, o Easy Eddie chegou a uma decisão difícil. Easy Eddie tentou corrigir as injustiças de que tinha participado.

Ele decidiu que iria às autoridades e contaria a verdade sobre Al ‘Scarface‘ Capone, limpando o seu nome manchado e oferecendo ao filho alguma semelhança de integridade. Para fazer isto, ele teria que testemunhar contra a quadrilha, e sabia que o preço seria muito alto. Ainda assim, ele testemunhou. Em um ano, a vida de Easy Eddie terminou em um tiroteio em uma rua de Chicago.

Mas aos olhos dele, ele tinha dado ao filho o maior presente que poderia oferecer, ao maior preço que poderia pagar. A polícia recolheu em seus bolsos um rosário, um crucifixo, uma medalha religiosa e um poema, recortado de uma revista. O poema:

‘O relógio de vida recebe corda apenas uma vez e nenhum homem tem o poder de decidir quando os ponteiros pararão, se mais cedo ou mais tarde.

Agora é o único tempo que você possui. Viva, ame e trabalhe com vontade. Não ponha nenhuma esperança no tempo, pois o relógio pode parar a qualquer momento.’

HISTÓRIA NÚMERO DOIS

A Segunda Guerra Mundial produziu muitos heróis. Um deles foi o Comandante Butch O’Hare. Ele era um piloto de caça, operando no porta-aviões Lexington, no Pacífico Sul.

Um dia, o seu esquadrão foi enviado em uma missão. Quando já estavam voando, ele notou pelo medidor de combustível que alguém tinha esquecido de encher os tanques. Ele não teria combustível suficiente para completar a missão e retornar ao navio. O líder do voo o instruiu a voltar ao porta-aviões. Relutantemente, ele saiu da formação e iniciou a volta à frota.

Quando estava voltando ao navio-mãe viu algo que fez seu sangue gelar: um esquadrão de aviões japoneses voava na direção da frota americana. Com os caças americanos afastados da frota, ela ficaria indefesa ao ataque. Ele não podia alcançar seu esquadrão nem avisar a frota da aproximação do perigo. Havia apenas uma coisa a fazer. Ele teria que desviá-los da frota de alguma maneira.

Afastando todos os pensamentos sobre a sua segurança pessoal, ele mergulhou sobre a formação de aviões japoneses. Seus canhões de calibre 50, montados nas asas, disparavam enquanto ele atacava um surpreso avião inimigo e em seguida outro. Butch costurou dentro e fora da formação, agora rompida e incendiou tantos aviões quanto possível, até que sua munição finalmente acabou. Ainda assim, ele continuou a agressão.

Mergulhava na direção dos aviões, tentando destruir e danificar tantos aviões inimigos quanto possível, tornando-os impróprios para voar. Finalmente, o exasperado esquadrão japonês partiu em outra direção. Profundamente aliviado, Butch O’Hare e o seu avião danificado se dirigiram para o porta-aviões.

Logo à sua chegada ele informou seus superiores sobre o acontecido. O filme da máquina fotográfica montada no avião contou a história com detalhes. Mostrou a extensão da ousadia de Butch em atacar o esquadrão japonês para proteger a frota. Na realidade, ele tinha destruído cinco aeronaves inimigas. Isto ocorreu no dia 20 de fevereiro de 1942, e por aquela ação Butch se tornou o primeiro Ás da Marinha na 2ª Guerra Mundial, e o primeiro Aviador Naval a receber a Medalha Congressional de Honra.

No ano seguinte Butch morreu em combate aéreo com 29 anos de idade. Sua cidade natal não permitiria que a memória deste herói da 2ª Guerra desaparecesse, e hoje, o Aeroporto O’Hare, o principal de Chicago, tem esse nome em tributo à coragem deste grande homem.

Assim, se porventura você passar no O’Hare International, pense nele e vá ao Museu comemorativo sobre Butch, visitando sua estátua e a Medalha de Honra. Fica situado entre os Terminais 1 e 2.

O que têm estas duas histórias de comum entre elas?

Butch O’Hare era o filho de Easy Eddie.

(texto enviado pelo Professor Leudo)

AQUARELA - TOQUINHO - VERSÃO ESPANHOLA

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a Coluna com o registro da morte do Jornal da Tarde. Luciano Ornelas, que vivenciou o ciclo glorioso do JT, selecionou dois trechos de uma brilhante síntese feita pelo arguto e (sempre bem humorado) Carlos Brickmann para o Observatório da Imprensa. Peço licença, Carlinhos

"Éramos todos jovens, muitos de nós brilhantes, a maioria absoluta de indiscutível competência. Errávamos muito, também; mas errávamos por excesso de ambição, por buscar objetivos muitas vezes inatingíveis, raramente por ignorância. Dali surgiram as sementes de várias equipes de altíssima qualidade : Realidade, Veja, Rede Globo, Rede Bandeirantes, Repórter Esso (na fase TV Record), Visão, Playboy.

Mino Carta era o diretor, Murilo Felisberto o coração e a alma. Ruy Mesquita, o patrão, sentava-se à mesa de pauta para discutir o jornal do dia (e foi lá na Redação que treinou seus filhos nas artes da comunicação). Ewaldo Dantas Ferreira, um dos maiores repórteres do país, trazia matérias exclusivas, da maior importância. Em cada área da redação, buscava-se o melhor - e o jornal conseguiu a façanha de ganhar o Prêmio Esso com a manchete de sua primeira edição, Pelé casa no Carnaval.

Era a cara do nosso Jornal da Tarde, a maior revolução da imprensa brasileira desde a reforma do Jornal do Brasil : um grande furo de reportagem, um texto magnífico, a notável diagramação, e um erro na foto - em vez de Rose, a noiva de Pelé, quem estava com o Crioulo na foto era a cunhada, a irmã de Rose. Não fazia mal : o jornal era tão bom que esses erros passavam batidos...

A resposta do público sempre foi positiva. O JT começou a circular, em 4 de janeiro de 1966, com doze mil exemplares; virou o ano com 40 mil. Um jornal jovem, chique, moderno, antenado..."

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"Em certo momento, houve uma opção desastrosa: o moderníssimo jornal da metrópole contemporânea, o irmão mais leve e solto do poderoso O Estado de S.Paulo, foi transformado numa versão popular, baratinha, do jornal mais antigo. O lindo logotipo foi trocado por outro, supostamente mais popular (e com muito menos significado). O Jornal da Tarde, famoso por surpreender seus leitores, passou a ser mais previsível e chato que debate de candidato.

Percival de Souza, símbolo do JT, renovador da reportagem policial, ficou encostado - e os grandes furos que ainda trouxe, como a localização do Cabo Anselmo e a entrevista com ele, ainda um dos mais misteriosos participantes dos acontecimentos de 1964, foram ignorados.

As belas imagens ficaram no passado. O acabamento, descuidado, deixou de ser preocupação. E a cidade moderna, movimentada, alegre, sintonizada com o que havia de novo no mundo, perdeu seu jornal de referência.

Um jornal morre vinte anos antes de fechar as portas. O Jornal da Tarde, que já está morto faz tempo, deve fechar até o Dia de Finados.

Um toque de mau-gosto que explica por que o bom gosto do JT perdeu a batalha."

O jornalismo literário

Idos de março de 1968. Ingressava na Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero. Aos 23 anos, iniciava minha vida no magistério. Assisti, maravilhado, o espetáculo do jornalismo literário produzido por um grupo de jovens jornalistas sob a batuta de Mino Carta e, depois, de Murilo Felisberto. Alguns deles, entre os quais Marcos Faerman e Percival de Souza, atendiam ao meu convite para falar sobre "aquelas reportagens de alto interesse humano, plenas de arabescos literários", inspiradas no new journalism norte-americano, criado por Gay Talese. Marcão era uma metralhadora : atirava palavras a torto e a direto, prendendo a atenção da alunada pelo brilho, inteligência, criatividade e provocação. Percival, um mestre da paciência e da arte de contar boas histórias policiais. A experiência do JT era tão fascinante que uma das edições do nosso Jornal-Laboratório a ele foi dedicada. O mestre Murilo nos deu uma grande e densa entrevista. Hoje, com tristeza, registro o desaparecimento de um ícone do jornalismo brasileiro. Uma pontinha do velho JT continua fincada ao nosso lado, na GT. Trazida por Luciano Ornelas, que viveu aqueles gloriosos tempos.

Recado das urnas I

Desta feita, as urnas transmitiram alguns recados bem claros. Vejamos alguns deles : 1. Chegou a hora da renovação. Na maioria das cidades médias, neste segundo turno, os perfis identificados com a renovação levaram a melhor. Espraia-se o sentimento de que a velha política está esgotada; 2. A micropolítica é quem efetivamente induz a decisão do eleitor. Ou seja, as respostas das comunidades às suas demandas nas esferas da saúde, educação, transportes, segurança, habitação, entre outras. Temas gerais, mesmo importantes como a questão da corrupção (mensalão), não afetam o voto. Os eleitores conseguem distinguir as temáticas. O mensalão, por exemplo, foca o PT, mas o eleitor tende a distribuir a corrupção na política a atores plurais. Há uma pulverização das cargas negativas por todos os partidos. Mensalão do PT, mensalão do DEM (ex-governador José Roberto Arruda), mensalão do PSDB (políticos de Minas Gerais).

Recado das urnas II

Não significa concluir que os temas sobre ética e moral não tenham importância. Têm, sim. Mas dentro do seu devido compartimento. Poderão, por exemplo, funcionar como aríete de pressão sobre o Congresso e como balizamento de uma reforma política. 3. Aliás, os resultados do pleito mostram que o copo está transbordando de água já muito usada. E que ficou suja. Por isso, uma reforma política se faz absolutamente necessária, particularmente nas frentes de financiamento de campanhas, coligações proporcionais e mesmo sobre o sistema de voto; 4. Os partidos carecem de programas mais consistentes, densos, coerentes e que abriguem as reais demandas da comunidade nacional; 5. As oposições definham. Apesar da vitória do PSDB em importantes cidades, o fato é que teve um desempenho eleitoral mais fraco que em 2008. E o DEM só adquire sobrevida graças à vitória de ACM Neto em Salvador.

Recado das urnas III

As urnas também deram recados no plano das campanhas eleitorais. 6. Não se viu, por exemplo, grande concentração de pessoas. As massas se dispersaram. O maior comício de campanha reuniu cerca de 15 a 20 mil pessoas no máximo. As grandes mobilizações deram lugar aos movimentos sociais, às categorias profissionais e aos setores organizados. 7. As campanhas negativas, de ataque e desconstrução de adversários, também não tiveram sucesso. Veja-se o caso de São Paulo, onde Serra perdeu muito tempo (patinando) com o ataque ao Kit-Gay dos tempos do Ministério da Educação, ocupado pelo prefeito eleito Fernando Haddad, e ao mensalão. Esses dois temas não afetaram a campanha petista. 8. Os modelos de marketing também mereceram recados. Estão saturados. Os debates temáticos entre candidatos, ao estilo norteamericano do confronto de ideias, são mais aceitos que os espaços laudatórios dos programas eleitorais.

Lula na cabeça da lista

Pela intuição, Lula permanece na lista de vitoriosos. Puxou do bolso do colete o nome de Fernando Haddad. Um gol de placa. Pinçou Marcio Pochmann para Campinas. Não fez feio. Lista aposta na estratégia de oxigenação de quadros. Percebeu que o eleitor está saturado da velha guarda.O PT começa a injetar sangue novo em suas veias. Principalmente nesse ciclo pós-mensalão. Lula deve continuar o exercício de fixação de novas estacas nos currais petistas.

Tucanos de bico novo?

Fernando Henrique, tucano de muitas plumas, prega a oxigenação do PSDB. Trata-se de um conselho sábio. Se não houver renovação das aves tucanas, o partido morrerá de inanição. Encolheu em votos em relação ao que obteve em 2008.

Arthur, vitória emblemática

A vitória tucana mais emblemática foi a de Arthur Virgílio, em Manaus. Lula e Dilma foram à capital amazônica para fazer campanha pela senadora Vanessa, do PC do B. Perderam. Arthur, como se recorda, foi líder tucano no Senado, onde azucrinou com o governo Lula. O ex-presidente nunca negou que um de seus alvos prediletos era (e é) Arthur Virgílio.

Neto em Salvador

ACM Neto, por sua vez, dá sobrevida ao DEM com sua vitória, atribuída, entre outros fatores, às más avaliações do prefeito e do governador. Na Bahia, Geddel Vieira Lima, do PMDB, deu apoio a Neto e o candidato do partido, Mário Kerzets, ficou com Pelegrino, do PT. Neto vai deixar de ser um Democrata ferrenho da oposição. O mandato na prefeitura carece de boa articulação com o governo Federal.

PT mais fraco no NE

O PT torna-se mais fraco no Nordeste. Chama atenção o fato de que a região é a mais coberta pelo programa Bolsa-Família. Mas o poder petista ali se reflui. A causa : o eleitor mais consciente e crítico. Examina as administrações. Consegue separar os governos Federal, estadual e municipal. Atribui boa avaliação ao governo Dilma e a alguns governadores, mas essa posição favorável não é levada ao âmbito municipal. Há exceções, claro.

PSOL em Macapá

Exemplos de racionalidade a comprovar escolhas mais apuradas: os prefeitos de Macapá, do PSOL, e de São Luiz do Maranhão, do PTC, respectivamente Clécio Luis e Edivaldo Holanda Junior. Dois partidos pequenos que tomam posse de redutos até então ocupados por caciques.

Os dois lados de Campos

Eduardo Campos olha para dois lados : o do Brasil sob uma economia equilibrada, inflação controlada, harmônico, e o do Brasil com uma economia desarrumada. Dentro do primeiro, continua a fazer parte da base aliada do governo Dilma. Dentro do segundo, pode sair com sua candidatura à presidência da República.

Pistas praticamente molhadas

Em um telejornal de sábado, ao final da tarde, imagens mostrando a avenida Paulista encharcada, o apresentador informa :

- Caiu um tempestade agora há pouco na cidade. As pistas da avenida Paulista estão praticamente molhadas.

Difícil entender o "praticamente" do telejornalista.

Conselho aos vereadores eleitos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos prefeitos eleitos. Hoje a atenção se volta aos vereadores eleitos:

1. É hora de renovação política. Quadros, programas, ações, atitudes. Nessa direção, procurem balizar sua missão. Cumprir compromissos assumidos, acompanhar e fiscalizar a administração municipal.

2. Procurem realizar uma atuação voltada para as questões prioritárias da comunidade municipal, evitando posicionamentos que levem em conta apenas as visões político-partidárias.

3. De três em três meses, tentem mapear situações das localidades - bairros, distritos, regiões - das quais receberam sua votação. A proximidade entre vereador e eleitores gerará compensações futuras. O eleitor reconhece, aprova e retribui aos vereadores que trabalham por suas causas.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

A ofensiva da política econômica

Há duas semanas, o Ministério da Fazenda e o BC estão preparando a estrada para alguns ajustes na política econômica. A intenção, primeiro, é adaptar o discurso a uma realidade que está teimando em não acontecer como a presidente Dilma e seus conselheiros econômicos esperavam. A inflação, dizem os especialistas, anda danada de teimosa, e não vai chegar ao centro da meta em 2013, como o próprio BC já admite. E ainda está rebelde o suficiente para empurrar os preços este ano para algo acima dos 5,5%. Na outra ponta, a atividade econômica, depois de um alento em agosto, voltou a ficar preguiçosa em setembro e não dá sinais de ter despertado inteiramente da letargia em outubro. Assim, um "PIBinho" entre 1,5% e 1,6% em 2012 já está no baú e muitos analistas dizem que não é muito difícil que o crescimento do PIB de 2013 entre 4% e 4,5% ficar apenas como num sonho de verão. Um analista com grande índice de acerto nessas previsões, o economista José Roberto Mendonça de Barros, já está cravando suas apostas num crescimento da economia nacional apenas entre 3% e 3,5% em 2013. Por isso, a economia andou inundada de boatos, inclusive de dança de cadeiras na área econômica.

O que fazer?

Os boatos nascem de uma constatação : o que mais o governo pode fazer para dar um piparote maior na economia, uma vez que medidas como mais incentivo ao consumo, queda substancial dos juros básicos e as desonerações fiscais, mesmo considerando-se o tempo necessário à produção de resultados, não está sendo o bastante. Um novo ataque na base de bondades fiscais começa a esbarrar nas dificuldades orçamentárias. A arrecadação não se recupera ao nível imaginado. E ela vai enfrentar uma safra de prefeitos com os cofres arrombados e ávidos e recursos.

Boatos apenas?

No que tange à dança das cadeiras, já se comenta abertamente a saída de Guido Mantega do comando da Fazenda. Sabe-se que o ministro enfrenta problemas pessoais. O que se especula é quem poderia substituí-lo. O nome de Alexandre Tombini aparece no topo da lista. É natural que o apreço da presidente por ele seja grande uma vez que cumpriu a "meta" de reduzir os juros básicos, apesar da inflação relativamente alta e dos exorbitantes juros dos empréstimos. Uma coisa é certa: a presidente, dado o seu perfil, deve querer alguém obediente às diretrizes emanadas do Planalto. Ou seja, dela.

Câmbio: um problema sem solução no momento

Já comentamos nesta coluna que a taxa de câmbio continua muito pouco competitiva para tornar a indústria nacional menos obsoleta e aumentar o investimento industrial local. Como se sabe, a taxa de câmbio nominal foi controlada pelo governo, na linha do que outros governos, da ditadura à FHC já o fizeram. O problema é que a taxa de câmbio real é incontrolável por definição: depende da taxa de inflação local e externa e da normalidade dos fluxos de capitais. O governo sabe disso, é claro. Tão claro quanto a constatação de que "mexer" na taxa nominal agora implica em mais inflação, estourando ainda mais a meta já estourada.

Uma safra magra de resultados

Para complicar, a safra de balanço das grandes empresas começou sujeita a uma pesada dieta, o que pressupõe menos impostos de parte dessas companhias para os cofres públicos no curto prazo. Bradesco, Itaú e Santander decepcionaram. A salvação, não total, porém, pode vir dos bancos estatais, BB e CEF, que ampliaram sensivelmente suas carteiras de empréstimos. O lucro da Vale mergulhou. E a Petrobras, embora tenha se recuperado do prejuízo-vexame do segundo trimestre do ano, veio com um lucro bem abaixo do esperado pelo mercado. O que coloca outro dilema para o governo: a companhia precisa fazer recursos com urgência para sustentar seus planos de investimentos e poder entrar, como está obrigada por lei, nos leilões do pré-sal do ano que vem.

Desânimo bursátil

Se o cenário externo melhorar um pouco, sobretudo na Ásia, a China em especial, dizem os especialistas, o mercado de ações brasileiro pode sofrer um substancial revés. O Brasil ainda é visto como "porto seguro" frente aos "furacões" no hemisfério norte. Todavia, gestores de recursos já não se impressionam com os planos de crescimento governamentais. Sabem que o jogo é apenas para a plateia, pois os fundamentos do país carecem de fortaleza para crescer. Mesmo que ninguém veja um desastre titânico pela frente.

De "apaguinho" em "apaguinho"...

... o apagão enche o papo. Para boa parte dos especialistas na área e para os observadores atentos da cena de infraestrutura no Brasil, o blecaute que na madrugada de sexta-feira assolou o Nordeste inteiro e mais parte do Pará e do Tocantins não foi uma surpresa. Era apenas uma questão de tempo. Ele havia sido recentemente prenunciado por dois outros "apaguinhos" menores também no Nordeste e duas interrupções no fornecimento de energia em plena capital da República. E mais: somente este ano, foram registrados, até sexta-feira em todo o país 65 blecautes de porte razoável - uma média de um a cada cinco dias. "Não é normal", nas conformadas palavras do ministro interino das Minas e Energia, Márcio Zimmerman.

Alertas já existiam

Alertas foram feitos de que caminhávamos para uma situação dessas, por falta de investimentos, porque a Aneel não cumpre direito suas funções, porque as estatais que têm grande peso no setor ainda estão em parte loteadas... E a situação pode se agravar com o susto que está sendo aplicado nos investidores com as novas regras para o setor. Este é o campo que a presidente domina, que fez sua fama de "gerontona" eficiente. Note-se que em outras áreas de infraestrutura, as agências reguladoras também perderam eficiência. Nestas o aparelhamento estatal é muito parecido e outros "apagões" já estão no ar. Só não aparecem tanto porque não tem a visibilidade que existe numa interrupção de fornecimento de eletricidade. O que Dilma vai fazer para dar um choque de eficiência no seu quintal? No caso, não dá para culpar nem a oposição nem as "perdas internacionais".

O sentido de uma eleição

Bem ponderados o dever e o haver, os vencedores e vencidos, os achados e os partidos, festejadas a vitórias e lamentadas as derrotas individuais e coletivas, o saldo real das urnas de outubro aponta para um eleitor-cidadão insatisfeito, inquieto, exigente e com extraordinário sentido de urgência. Sentimentos fruto das carências de atendimento público, em todas as esferas da administração, dos serviços minimamente básicos a ela devidos e da mobilidade social alcançada nos últimos anos. Um desafio para quem vai botar os pés nas prefeituras em janeiro - que não terão "dias de graça" para pensar muito -, para os que estão já com assento nos palácios estaduais e no federal e para todos os que sonham com dias de glória em 2014. O futuro político e eleitoral no Brasil nunca se viu diante de tão grande interrogação.

O pedaço do latifúndio de Dilma

Misturados os ovos, a omelete da recandidatura de Dilma ficou mais vistosa e mais saborosa. Mas ele terá de ser temperado no dia a dia da economia, cujo horizonte tem nuvens internas e externas já visíveis. A presidente, portanto, terá de recompor imediatamente seu conjunto aliado, aparar arestas, atender novas reivindicações que se formaram, para ter tempo e paz para atacar os problemas que estão pipocando (ver notas). O tempo agora é de operar o governo e as relações com o Legislativo.

Acerto de contas

Têm créditos com a presidente, a serem saldados até fevereiro, quando Dilma deverá encerrar os ajustes que fará paulatinamente em sua equipe: o PMDB e o PSD. O PP, pelo apoio de Maluf (quem diria?) a Haddad em São Paulo, quer mais, mas pode ter menos. PRP não deu o que recebeu com o Ministério da Pesca. E o PSB, com grande crescimento eleitoral, está no limbo, dependendo de como se comportar o seu presidente nacional, Eduardo Campos. Dilma não é de aceitar ambiguidades. A presidente terá também de haver-se com o PT, partido que sempre quer mais.

Sorrindo às escondidas

Não se pode dizer que o Palácio do Planalto tenha ficado infeliz com a vitória do candidato do PSB à prefeitura de Fortaleza, derrotando um petista para o qual Lula fez campanha ao vivo. O resultado fortalece os irmãos Cid e Ciro Gomes, uma espécie de contraponto ao imenso poder do governador de Pernambuco no partido.

Ao cara o que é do cara

Fernando Haddad é a "cara" do Lula. A espetacular aposta do ex-presidente em São Paulo, de tão bem sucedida, mascarou outras visões "caolhas" dele: Manaus, Recife, Belo Horizonte, Campinas, Fortaleza. Modesto, nem foi à festa petista em São Paulo, na qual, sintomaticamente, ganhou justa prioridade sobre Dilma nos agradecimentos do prefeito eleito e mais aplausos que a presidente. Como Zagalo, Lula parece repetir: "Vocês vão ter de me aturar". No PT já não haverá quem conteste as suas vontades. O partido é o homem.

Kassab e o PT

Vai ser intrigante para o eleitor ver o "famigerado" prefeito de São Paulo virar queridinho do Planalto quando a reforma ministerial vier. Oposição e governo são palavras obscuras para os analistas, mas são uma confusão ainda maior para quem vota na condição de cidadão de uma cidade. Haddad falou horrores de Kassab na campanha, mas este último será recebido em breve pela presidente como parte de sua base de apoio. A política nacional não é apenas incompreensível. Chega a ser algo bem mais complicado de escrever. Seria "impublicável".

Não foi dizimada, porém...

A oposição, no cômputo geral, ganhou uma boa sobrevida. Porém, ou se renova, arranja outra "cara", mergulha nos problemas nacionais que estão a tirar o sono dos empresários e, dizem, um pouco também do Palácio do Planalto, e apresenta-se como alternativa de fato de poder, ou terá apenas adiado sua extinção para 2014. A diferença entre o PT, maior força do governismo, e o PSDB, ainda a maior força do oposicionismo, é que enquanto o primeiro faz política com vontade (até com um certo exagero religioso), de maneira geral, os tucanos fazem política com um ar blasée, como quem tem coisas mais sérias e mais atraentes para fazer. FHC acerta ao falar em "renovação", mesmo que o próprio príncipe não saiba como fazê-lo.

Insatisfação confirmada

Como no primeiro turno, com exceções, o eleitor mostrou pouco entusiasmo com partidos e candidatos no domingo. Abstenções, votos brancos e nulos de um modo geral superaram os 25%. Em São Paulo, chegaram a 32%. A maioria dos eleitos ficou com cerca de 37% a 40% dos votos dos eleitores de suas cidades. O que traz para todos os novos prefeitos um desafio: atrair esses eleitores insatisfeitos e desconfiados. Todos começam em débito.

A fila andou em São Paulo

O sucesso do "poste" Haddad em São Paulo aconselha os ministros Marta Suplicy, da Cultura, e Aloizio Mercadante, da Educação, a manterem muito bem afivelados seus cintos na Esplanada dos Ministérios e traçarem para 2014 planos alternativos. Lula, com a autoridade de quem vislumbrou com acuidade rara o que o paulistano desejava, não resistirá a outro "dedaço" na sucessão de Alckmin. O faro do ex-presidente já se dirige para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o prefeito de São Bernardo, Luís Marinho.

Além de São Paulo

A experiência vitoriosa em São Paulo, apesar do fracasso em Campinas com Marcio Porchman, deve fazer Lula a levar o PT a tentativas semelhantes em 2014 não só em território paulista. Onde ele colheu alguns de seus grandes fracassos, como em Recife, Belo Horizonte, Fortaleza e mesmo em Salvador, estava associado ao "velho", a figuras já carimbadas como Humberto Costa, Patrus Ananias, Luziane Lins, à dupla Nelson Pelegrini - Jaques Wagner. Um "choque de gerações" deve agitar as entranhas do partido antes das definições de 2014 - ressalvada, na luta presidencial, a prioridade de Dilma. O julgamento do mensalão também vai ajudar nesse processo. O PT vai dar toda solidariedade a seus companheiros condenados, mas não vai jogar seu futuro nisto. As dificuldades que Dirceu e Genoino enfrentaram quando foram votar (e até o aperto passado pelo ministro Ricardo Lewandowski quando foi depositar seu voto) são indicações insofismáveis do potencial de desgaste político do processo.

O que vem por aí

Reforçado pelas eleições, o PT aquece as turbinas para abrir duas frentes de batalha: uma "nova" reforma do Judiciário e controle social da imprensa. Apenas analisa a melhor hora para desencadear as batalhas. O caso do Judiciário deve ficar para depois do fim da aplicação das penas do mensalão. Não se cutuca uma onça tão grande com uma vara tão curta.

Marcos Valério não obedece ao calendário político

O destino do empresário Marcos Valério é trágico. Sua vida estará marcada pelo maior escândalo de corrupção da história brasileira e ficar atrás das grades lhe custará parcela preciosa da vida. Sabedor de seu destino poderá não se conformar com ele, pelo menos com a verdade que está nos autos. Esta nuvem pairará sobre a cabeça de muitos poderosos, por muito tempo. Será que emissários irão conversar com ele como ocorreu antes do julgamento do mensalão?

(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)