No campo da literatura um plantio de cultura lídima. Livros, jornais e revistas florescendo em textos de harmonia no jardim da vida.
Observações que pinçamos do artigo de Júnior Bonfim, da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza ao traçar um perfil para desenhar de corpo inteiro personalidades do "Tempo dos Franciscos". Aproveitamento integral das sementes do saber que tanto empolgam pelo vocabulário fértil. Júnior Bonfim mostra a grandeza das "Pequenas Histórias de Francisco" ao comentar o expressivo livro de Francisco Castro de Sousa outro advogado e escritor da Amlef.
Revela as sutilezas da simplicidade do "Tempo dos Franciscos". A forma espontânea como o Castro disserta sobre sua família na evolução conceitual de gente de bem.
O academicismo das letras interliga os verdadeiros defensores da Língua Portuguesa através dos bons textos. A revista "Gente de Ação" mescla gama de excelentes artigos e traz gente que brilha com a naturalidade do desabrochar de flores e frutos do plantio das letras.
Júnior Bonfim consegue ser o jardineiro que sabe cuidar dos adornos da literatura capaz de encantar. O vocabulário elegante dentro da simplicidade natural dos fonemas bem aplicados são réstias de sol iluminando a vida.
No perfil tão bem desenhado para destacar as "Pequenas Histórias de Francisco" o Bonfim excedeu as expectativas e trouxe o Castro, Francisco Castro, como personagem de um relato comovedor e exemplar.
Feliz modo de como regar as flores da existência usando a força da esperança para sustentar o lado belo das vitórias que florescem pela pertinácia e força de vontade.
Paulo Eduardo Mendes
Jornalista
(No Jornal Diário do Nordeste, edição de hoje, página 02)
Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
sábado, 28 de setembro de 2013
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
MOACIR SOARES, PARABÉNS!
Técnico de escol, boa índole, profissional dedicado, Moacir Soares é um dos melhores quadros gerados no seio da Administração Pública de Crateús na década passada. Incompreendido pela intolerância política local, cumpriu aquela antiga assertiva bíblica: foi ser profeta fora de sua terra.
Em Moacir convivem, sob o mesmo corpo, o executivo de sucesso e um sujeito sedutor e surpreendente.
Jardineiro das tulipas que encantam a existência, Moacir está sempre nos convidando para caminhar pelas alamedas da superação. A despeito das cinzas, conserva na retina o brilho da curiosidade que aprende, apreende e acrescenta.
É difícil distinguir onde esse cidadão brilha com mais glamour: na excelência profissional, na dedicação paternal ou na generosidade da camaradagem!
Após esses setembros todos que te conheço, amigo, aflorou uma certeza: em todas as passarelas da interação humana em que tens a oportunidade de pisar, baila a nobreza de tua alma!
Parabéns!
(Júnior Bonfim)
Em Moacir convivem, sob o mesmo corpo, o executivo de sucesso e um sujeito sedutor e surpreendente.
Jardineiro das tulipas que encantam a existência, Moacir está sempre nos convidando para caminhar pelas alamedas da superação. A despeito das cinzas, conserva na retina o brilho da curiosidade que aprende, apreende e acrescenta.
É difícil distinguir onde esse cidadão brilha com mais glamour: na excelência profissional, na dedicação paternal ou na generosidade da camaradagem!
Após esses setembros todos que te conheço, amigo, aflorou uma certeza: em todas as passarelas da interação humana em que tens a oportunidade de pisar, baila a nobreza de tua alma!
Parabéns!
(Júnior Bonfim)
CONJUNTURA NACIONAL
Zé Quebra Panela
Abro a coluna com um matutinho matreiro.
Zé Quebra Panela era um sujeito comprido, zarolho e desdentado, mas portador de uma sagacidade e de incrível capacidade de enganar o semelhante. Andava bem vestido e calçava sapatos de duas cores. Vendia e comprava tudo, mas gostava mesmo era de negociar com fumo de rolo nas feiras. Zé achava que Deus vivia lhe chamando pra outra missão mais nobre do que envenenar os pulmões dos desgraçados que lhe compravam fumo. Meteu-se a fazer imagem de santo. Passou a viver nas caatingas, juntando troncos secos de imburana, com os quais fazia as imagens de feições grotescas. Um dia, na feira, comercializava os produtos, o fumo e as imagens de santos. Chegou uma velhinha com cara de rezadeira e perguntou:
- Meu senhor, eu conheço um magote de santo, já "frequentei" muita novena, igreja, o diabo a quatro - Já paguei muita promessa, mas estou aqui "mei atrapaiada"; isto aqui é São José ou Santo Antônio?
Zé explicou:
- Olhe, o santo se tiver com o menino no braço direito, é São José, se tiver no braço esquerdo, é Santo Antônio; agora se o bicho tiver um par de chifres, um rabo e um espeto comprido na mão, não chegue nem perto que isso aí é o satanás!
A velhinha se escafedeu. Outra vez, em uma de suas transações, um cabra mais sabido "empurrou-lhe" dois rolos de um fumo muito ruim que ele não conseguia vender de jeito nenhum. Um dia, botou tudo num saco e danou-se para a feira de Sertânia. Usou o marketing pessoal.
- Óia, pessoá, quem comprar desse meu fumo agora, vai tudim pro Juazeiro comigo, eu levo tudim pra o Juazeiro do meu Padim Ciço!
Não demorou muito e lá se foram os dois rolos de fumo. Um pedaço aqui, outro ali, e vendeu aquela mercadoria de péssima qualidade. Até que chegou uma velhinha apressada:
- Ô, meu senhor, adonde tá o caminhão mode nóis ir botando os troços em riba?
Zé, na bucha:
- Que caminhão que nada, dona Maria, aonde foi que a senhora já viu pagar promessa de caminhão? O meu "Padim" não gosta de caminhão chegando lá não! Nóis vamo tudo é a pé. Promessa é promessa!
(Historinha de Zelito Nunes)
Folhas soltas ao vento
A imagem é esta: depois do terremoto, que abalou o edifício, destruindo paredes, despedaçando os andares, fazendo jorrar cimento e pedra por todos os lados, a paisagem deixa ver milhares de folhas saindo de gavetas escancaradas, dançando ao vento poluído de poeira e pousando lentamente sobre os entulhos das ruas. É o cenário nacional depois do tsunami de junho, que inundou as ruas das grandes e médias cidades com milhares de pessoas. Onde estão as massas? Observando uns poucos que ainda ousam fazer ecoar seu grito. E por que não se motivam a voltar às ruas se os pleitos e demandas de junho continuam no ar ? Porque temem ser rechaçados por grupos radicais, cujos braços se voltam para a quebra de lojas e destruição de ambientes públicos. Os black blocs são a água que apaga as chamas da fogueira social. Portanto, propiciam o bumerangue. O Brasil se encolhe em silêncios. Infelizmente.
Paisagens do amanhã
Não é de todo improvável que as coisas voltem a acontecer na onda de manifestações calorosas e massivas. É possível que o animus animandi da população resgate a participação cívica, cuja inspiração maior era (e é) a de melhorar os padrões éticos, morais e elevados da política e exigir melhoria da qualidade dos serviços públicos, a partir dos sistemas de mobilidade urbana. Nas proximidades eleitorais, as chances de mobilizações pontuais ou mesmo abrangentes são maiores, em função da motivação para puxões de orelha e recados que o povo quer dar aos seus representantes. A conferir.
O juiz de Bacon
"O juiz deve preparar o caminho para uma justa sentença, como Deus costuma abrir o seu caminho elevando vales e abaixando montanhas; de maneira que, se aparecer, de um lado uma das partes, um braço poderoso, uma pressão violenta, astuciosas vantagens, combinações, poderes, grandes conselhos, nesse caso a virtude do juiz consiste em nivelar as desigualdades, para poder fundar a sua sentença num terreno plano". Francis Bacon, filósofo inglês, 1561/1626.
Alguns juízes do Brasil
19 altos ministros do TST assinaram uma carta contra um PL, o 4.330, relativo à Terceirização. Sabíamos, até então, que o ofício do juiz é jus dicere e não jus dare, interpretar leis e não fazer leis nem dar leis. Juízes fazendo prejulgamento? Meu Deus, que país é este?
As bases governista e oposicionista
A base governista, formada pela pletora de partidos (cerca de 15), que dá apoio à administração comandada pela presidente Dilma, tende a ser menor. Calcula-se que partidos insatisfeitos com o acolhimento dado pelo governo deixarão a base situacionista para se integrar às bandas das oposições. Duas bandas. Teremos a banda das oposições tradicionais, formadas principalmente pelo PSDB e pelo DEM, e nova banda, esta a ser constituída pelos partidos que deixarão o situacionismo, a começar pelo PSB, com eventual participação de outras siglas. A incógnita fica por conta da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva. Não se sabe se conseguirá formalização até 5/10. A aprovação do Solidariedade, do Paulinho da Força, e do PROS, Partido Republicano da Ordem Social, ontem pelo TSE, abre maiores chances para o partido de Marina.
O affaire Campos
Demorou, demorou, demorou, mas o governador pernambucano, Eduardo Campos, tomou a decisão: deixar a base governista. Entregou os cargos do PSB na administração. Lula ainda tentará um último esforço para segurar o ímpeto de Dudu Beleza. Vai ter mais uma conversa com ele. Por enquanto, pede que os petistas não entreguem os cargos nos governos comandados pelo PSB. Tentativa de por panos quentes. Mas o governador está sendo levado pela onda mais forte do seu partido para o lado da candidatura própria. E é evidente que, nesse caso, assumirá postura de oposição. Não se cogitaria de um candidato frapé, café com leite, nem lá, nem cá. Disputa eleitoral é guerra. A favor e contra.
Estradas de PE
Eis o que pincei de um vídeo que vi na internet sobre as estradas de PE: "A repórter Roberta Soares e o fotógrafo Guga Matos, guiados pelo motorista Reginaldo Araújo, pegaram a estrada durante 22 dias de viagem para constatar essa verdade e mostrá-la no especial multimídia Descaminhos. Rodaram 10 mil quilômetros, dos 12,5 mil que compõem a malha rodoviária pernambucana, a quarta maior do Nordeste. Pelas estradas, descobriu que são muitos os descaminhos de PE. Encontraram um Estado de rodovias ruins, as Federais e principalmente as estaduais. Um PE ainda sem inúmeras ligações, que em pleno século 21 deixa parte do seu povo isolado de tudo, dependendo exclusivamente da fé do nordestino, tão presente e conformadora no interior mais distante. No percurso, o JC passou por 100 das 142 rodovias estaduais e 11 das 13 estradas Federais existentes no Estado". Com a palavra, o governador Eduardo Campos.
A resposta do Sindeepres
O Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestadoras de Serviços (Sindeepres), a maior entidade de trabalhadores terceirizados do país, em carta aos deputados, contesta pontos expressos por ministros do TST no PL 4.330. "São graves e infundadas, ainda que pareçam coerentes, as acusações dos ministros do TST que prevêem um quadro sombrio para os trabalhadores após a aprovação do PL 4.330, conhecido como lei de Proteção ao Trabalhador Terceirizado. São argumentos de quem fez uma leitura incompleta, apressada ou equivocada do PL. Eles partem de premissas erradas para construir um quadro dramático. Infelizmente não levam em conta a realidade atual do trabalhador terceirizado. E o péssimo ambiente econômico, de insegurança jurídica para empresas e trabalhadores, criado pelo atual conjunto de leis e regras, incluindo a súmula 331 do próprio TST". E passa a contestar ponto por ponto.
Aécio em SP
Geraldo Alckmin tentará puxar a caravana de Aécio Neves em SP. Assim como Beto Richa tentará fazer a mesma coisa no PR. O mais certo, porém, é apostar que MG dará a maior vantagem ao mineiro. Massa de votos nada desprezível. MG tem o segundo maior colégio eleitoral do país, cerca de 15 milhões de votos. Em SP, a campanha ainda terá certa polarização entre o PSDB e o PT, fenômeno antigo e em final de ciclo. 20 anos de tucanato é muita coisa. E o PT, por sua vez, contará com a rejeição da classe média paulista, a maior do país. Nessa classe, o PT nunca entrou de sola, principalmente nos densos colégios eleitorais do interior.
Solas gastas
A polarização entre tucanos e petistas não se guiará mais pelos caminhos do passado. Tende a ser atenuada face aos novos tempos. O eleitor parece trilhar a vereda aberta por Nietzsche : "novos caminhos sigo; uma nova fala me empolga. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas".
Empresários em dúvidas
Na Era Lula, o carismático líder era um imã. Atraía tudo e todos. Das massas periféricas à elite empresarial. Hoje, a elite empresarial é simpática a Eduardo Campos. Vê a presidente Dilma com certa desconfiança. E parece distante de Aécio Neves. Acham Marina uma flor no pântano.
Cronograma pré-eleitoral
Outubro - mês das novidades, migrações partidárias (caso se confirmem os novos partidos), camadas políticas revoltas; novembro - conversas para fechamento de alianças, combinações e primeiras apostas no amanhã; dezembro - recesso, férias, prospecção das bases, Brasil político se encontra com o Brasil real; janeiro - cura da ressaca do final de ano, reinício das negociações, pesquisas indicativas para mapeamento do quadro decisório; fevereiro - reinício das atividades congressuais, fechamento de acordos, primeiras grandes definições; março/abril - dois meses de preparação para a maior competição eleitoral da contemporaneidade. Maio/junho - convenções, acertos finais.
As melhores leis?
Perguntaram a Sólon, um dos sete sábios da Grécia antiga, se havia produzido boas leis para os atenienses. Respondeu: "dei-lhes as melhores leis que podiam suportar". Perguntaram ao barão de Montesquieu, o grande formulador da teoria da separação dos poderes : que boas leis um país deve ter? Respondeu: "quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se são executadas as que existem, pois há boas leis por toda a parte".
Mensalão e eleição
Não serão desastrosos os efeitos do mensalão sobre a eleição. Até lá, estarão metabolizados condimentos, temperos e produtos que, por anos e meses, frequentaram a mesa das conversas e debates. Cada ano com suas motivações. Operação BO+BA+CO+CA, essa, sim, continuará a ditar os rumos da política. Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Economia indo bem, estômago estará satisfeito; coração ficará agradecido e pede para a cabeça votar nos patrocinadores do bolso cheio.
Dilma na ONU
Como se esperava, Dilma fez duro discurso na ONU contra a espionagem. Um atentado à soberania. Um recado para Barack Obama no palco mais visível do mundo. Recado dado, recado ouvido.
Bismarck
Bismarck, o maior estadista alemão do século XIX, dizia que "nunca se mente tanto antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma pescaria".
Conselho aos empresários
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma. Hoje, volta sua atenção aos empresários:
1. É muito comum ouvir o refrão de que o Brasil está em crise, os horizontes são sombrios e teremos um amanhã pior que o hoje. Tendência nacional a cantar hinos catastróficos.
2. Urge ter esperança e acreditar que o nosso país, com sua dimensão continental e berço de riquezas naturais, está circunscrita no mapa das potências do amanhã. Isso requer confiança em nossos potenciais.
3. Se mudanças se fazem necessárias - principalmente na frente política - ao empresariado cabe a missão de se posicionar na vanguarda desse processo, fazendo pressão, abrindo canais de articulação e participação. O papel cívico do empresário deve se somar ao papel do empreendedor.
____________
(Gaudêncio Torquato)
Abro a coluna com um matutinho matreiro.
Zé Quebra Panela era um sujeito comprido, zarolho e desdentado, mas portador de uma sagacidade e de incrível capacidade de enganar o semelhante. Andava bem vestido e calçava sapatos de duas cores. Vendia e comprava tudo, mas gostava mesmo era de negociar com fumo de rolo nas feiras. Zé achava que Deus vivia lhe chamando pra outra missão mais nobre do que envenenar os pulmões dos desgraçados que lhe compravam fumo. Meteu-se a fazer imagem de santo. Passou a viver nas caatingas, juntando troncos secos de imburana, com os quais fazia as imagens de feições grotescas. Um dia, na feira, comercializava os produtos, o fumo e as imagens de santos. Chegou uma velhinha com cara de rezadeira e perguntou:
- Meu senhor, eu conheço um magote de santo, já "frequentei" muita novena, igreja, o diabo a quatro - Já paguei muita promessa, mas estou aqui "mei atrapaiada"; isto aqui é São José ou Santo Antônio?
Zé explicou:
- Olhe, o santo se tiver com o menino no braço direito, é São José, se tiver no braço esquerdo, é Santo Antônio; agora se o bicho tiver um par de chifres, um rabo e um espeto comprido na mão, não chegue nem perto que isso aí é o satanás!
A velhinha se escafedeu. Outra vez, em uma de suas transações, um cabra mais sabido "empurrou-lhe" dois rolos de um fumo muito ruim que ele não conseguia vender de jeito nenhum. Um dia, botou tudo num saco e danou-se para a feira de Sertânia. Usou o marketing pessoal.
- Óia, pessoá, quem comprar desse meu fumo agora, vai tudim pro Juazeiro comigo, eu levo tudim pra o Juazeiro do meu Padim Ciço!
Não demorou muito e lá se foram os dois rolos de fumo. Um pedaço aqui, outro ali, e vendeu aquela mercadoria de péssima qualidade. Até que chegou uma velhinha apressada:
- Ô, meu senhor, adonde tá o caminhão mode nóis ir botando os troços em riba?
Zé, na bucha:
- Que caminhão que nada, dona Maria, aonde foi que a senhora já viu pagar promessa de caminhão? O meu "Padim" não gosta de caminhão chegando lá não! Nóis vamo tudo é a pé. Promessa é promessa!
(Historinha de Zelito Nunes)
Folhas soltas ao vento
A imagem é esta: depois do terremoto, que abalou o edifício, destruindo paredes, despedaçando os andares, fazendo jorrar cimento e pedra por todos os lados, a paisagem deixa ver milhares de folhas saindo de gavetas escancaradas, dançando ao vento poluído de poeira e pousando lentamente sobre os entulhos das ruas. É o cenário nacional depois do tsunami de junho, que inundou as ruas das grandes e médias cidades com milhares de pessoas. Onde estão as massas? Observando uns poucos que ainda ousam fazer ecoar seu grito. E por que não se motivam a voltar às ruas se os pleitos e demandas de junho continuam no ar ? Porque temem ser rechaçados por grupos radicais, cujos braços se voltam para a quebra de lojas e destruição de ambientes públicos. Os black blocs são a água que apaga as chamas da fogueira social. Portanto, propiciam o bumerangue. O Brasil se encolhe em silêncios. Infelizmente.
Paisagens do amanhã
Não é de todo improvável que as coisas voltem a acontecer na onda de manifestações calorosas e massivas. É possível que o animus animandi da população resgate a participação cívica, cuja inspiração maior era (e é) a de melhorar os padrões éticos, morais e elevados da política e exigir melhoria da qualidade dos serviços públicos, a partir dos sistemas de mobilidade urbana. Nas proximidades eleitorais, as chances de mobilizações pontuais ou mesmo abrangentes são maiores, em função da motivação para puxões de orelha e recados que o povo quer dar aos seus representantes. A conferir.
O juiz de Bacon
"O juiz deve preparar o caminho para uma justa sentença, como Deus costuma abrir o seu caminho elevando vales e abaixando montanhas; de maneira que, se aparecer, de um lado uma das partes, um braço poderoso, uma pressão violenta, astuciosas vantagens, combinações, poderes, grandes conselhos, nesse caso a virtude do juiz consiste em nivelar as desigualdades, para poder fundar a sua sentença num terreno plano". Francis Bacon, filósofo inglês, 1561/1626.
Alguns juízes do Brasil
19 altos ministros do TST assinaram uma carta contra um PL, o 4.330, relativo à Terceirização. Sabíamos, até então, que o ofício do juiz é jus dicere e não jus dare, interpretar leis e não fazer leis nem dar leis. Juízes fazendo prejulgamento? Meu Deus, que país é este?
As bases governista e oposicionista
A base governista, formada pela pletora de partidos (cerca de 15), que dá apoio à administração comandada pela presidente Dilma, tende a ser menor. Calcula-se que partidos insatisfeitos com o acolhimento dado pelo governo deixarão a base situacionista para se integrar às bandas das oposições. Duas bandas. Teremos a banda das oposições tradicionais, formadas principalmente pelo PSDB e pelo DEM, e nova banda, esta a ser constituída pelos partidos que deixarão o situacionismo, a começar pelo PSB, com eventual participação de outras siglas. A incógnita fica por conta da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva. Não se sabe se conseguirá formalização até 5/10. A aprovação do Solidariedade, do Paulinho da Força, e do PROS, Partido Republicano da Ordem Social, ontem pelo TSE, abre maiores chances para o partido de Marina.
O affaire Campos
Demorou, demorou, demorou, mas o governador pernambucano, Eduardo Campos, tomou a decisão: deixar a base governista. Entregou os cargos do PSB na administração. Lula ainda tentará um último esforço para segurar o ímpeto de Dudu Beleza. Vai ter mais uma conversa com ele. Por enquanto, pede que os petistas não entreguem os cargos nos governos comandados pelo PSB. Tentativa de por panos quentes. Mas o governador está sendo levado pela onda mais forte do seu partido para o lado da candidatura própria. E é evidente que, nesse caso, assumirá postura de oposição. Não se cogitaria de um candidato frapé, café com leite, nem lá, nem cá. Disputa eleitoral é guerra. A favor e contra.
Estradas de PE
Eis o que pincei de um vídeo que vi na internet sobre as estradas de PE: "A repórter Roberta Soares e o fotógrafo Guga Matos, guiados pelo motorista Reginaldo Araújo, pegaram a estrada durante 22 dias de viagem para constatar essa verdade e mostrá-la no especial multimídia Descaminhos. Rodaram 10 mil quilômetros, dos 12,5 mil que compõem a malha rodoviária pernambucana, a quarta maior do Nordeste. Pelas estradas, descobriu que são muitos os descaminhos de PE. Encontraram um Estado de rodovias ruins, as Federais e principalmente as estaduais. Um PE ainda sem inúmeras ligações, que em pleno século 21 deixa parte do seu povo isolado de tudo, dependendo exclusivamente da fé do nordestino, tão presente e conformadora no interior mais distante. No percurso, o JC passou por 100 das 142 rodovias estaduais e 11 das 13 estradas Federais existentes no Estado". Com a palavra, o governador Eduardo Campos.
A resposta do Sindeepres
O Sindicato dos Empregados em Empresas de Prestadoras de Serviços (Sindeepres), a maior entidade de trabalhadores terceirizados do país, em carta aos deputados, contesta pontos expressos por ministros do TST no PL 4.330. "São graves e infundadas, ainda que pareçam coerentes, as acusações dos ministros do TST que prevêem um quadro sombrio para os trabalhadores após a aprovação do PL 4.330, conhecido como lei de Proteção ao Trabalhador Terceirizado. São argumentos de quem fez uma leitura incompleta, apressada ou equivocada do PL. Eles partem de premissas erradas para construir um quadro dramático. Infelizmente não levam em conta a realidade atual do trabalhador terceirizado. E o péssimo ambiente econômico, de insegurança jurídica para empresas e trabalhadores, criado pelo atual conjunto de leis e regras, incluindo a súmula 331 do próprio TST". E passa a contestar ponto por ponto.
Aécio em SP
Geraldo Alckmin tentará puxar a caravana de Aécio Neves em SP. Assim como Beto Richa tentará fazer a mesma coisa no PR. O mais certo, porém, é apostar que MG dará a maior vantagem ao mineiro. Massa de votos nada desprezível. MG tem o segundo maior colégio eleitoral do país, cerca de 15 milhões de votos. Em SP, a campanha ainda terá certa polarização entre o PSDB e o PT, fenômeno antigo e em final de ciclo. 20 anos de tucanato é muita coisa. E o PT, por sua vez, contará com a rejeição da classe média paulista, a maior do país. Nessa classe, o PT nunca entrou de sola, principalmente nos densos colégios eleitorais do interior.
Solas gastas
A polarização entre tucanos e petistas não se guiará mais pelos caminhos do passado. Tende a ser atenuada face aos novos tempos. O eleitor parece trilhar a vereda aberta por Nietzsche : "novos caminhos sigo; uma nova fala me empolga. Não quer mais o meu espírito caminhar com solas gastas".
Empresários em dúvidas
Na Era Lula, o carismático líder era um imã. Atraía tudo e todos. Das massas periféricas à elite empresarial. Hoje, a elite empresarial é simpática a Eduardo Campos. Vê a presidente Dilma com certa desconfiança. E parece distante de Aécio Neves. Acham Marina uma flor no pântano.
Cronograma pré-eleitoral
Outubro - mês das novidades, migrações partidárias (caso se confirmem os novos partidos), camadas políticas revoltas; novembro - conversas para fechamento de alianças, combinações e primeiras apostas no amanhã; dezembro - recesso, férias, prospecção das bases, Brasil político se encontra com o Brasil real; janeiro - cura da ressaca do final de ano, reinício das negociações, pesquisas indicativas para mapeamento do quadro decisório; fevereiro - reinício das atividades congressuais, fechamento de acordos, primeiras grandes definições; março/abril - dois meses de preparação para a maior competição eleitoral da contemporaneidade. Maio/junho - convenções, acertos finais.
As melhores leis?
Perguntaram a Sólon, um dos sete sábios da Grécia antiga, se havia produzido boas leis para os atenienses. Respondeu: "dei-lhes as melhores leis que podiam suportar". Perguntaram ao barão de Montesquieu, o grande formulador da teoria da separação dos poderes : que boas leis um país deve ter? Respondeu: "quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se são executadas as que existem, pois há boas leis por toda a parte".
Mensalão e eleição
Não serão desastrosos os efeitos do mensalão sobre a eleição. Até lá, estarão metabolizados condimentos, temperos e produtos que, por anos e meses, frequentaram a mesa das conversas e debates. Cada ano com suas motivações. Operação BO+BA+CO+CA, essa, sim, continuará a ditar os rumos da política. Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Economia indo bem, estômago estará satisfeito; coração ficará agradecido e pede para a cabeça votar nos patrocinadores do bolso cheio.
Dilma na ONU
Como se esperava, Dilma fez duro discurso na ONU contra a espionagem. Um atentado à soberania. Um recado para Barack Obama no palco mais visível do mundo. Recado dado, recado ouvido.
Bismarck
Bismarck, o maior estadista alemão do século XIX, dizia que "nunca se mente tanto antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma pescaria".
Conselho aos empresários
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado à presidente Dilma. Hoje, volta sua atenção aos empresários:
1. É muito comum ouvir o refrão de que o Brasil está em crise, os horizontes são sombrios e teremos um amanhã pior que o hoje. Tendência nacional a cantar hinos catastróficos.
2. Urge ter esperança e acreditar que o nosso país, com sua dimensão continental e berço de riquezas naturais, está circunscrita no mapa das potências do amanhã. Isso requer confiança em nossos potenciais.
3. Se mudanças se fazem necessárias - principalmente na frente política - ao empresariado cabe a missão de se posicionar na vanguarda desse processo, fazendo pressão, abrindo canais de articulação e participação. O papel cívico do empresário deve se somar ao papel do empreendedor.
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(Gaudêncio Torquato)
terça-feira, 24 de setembro de 2013
PABLO NERUDA
Há quarenta anos o mundo perdia Pablo Neruda, a mais expressiva voz da poesia chilena! O coração de Neruda não resistiu ao pranto que invadiu a sua pátria após o golpe de estado que destruiu o governo popular de Salvador Allende.
Neruda, chileno contemplado com o Nobel de Literatura, foi o mais fértil, fulgurante e fascinante dos cantores nascidos naquela terra mágica, pequeno e fino fio de terra entre o frio da cordilheira e as ondas do Pacífico.
No centenário de seu nascimento, desenhei este Soneto:
Primeiro, uma garrafa de vinho chileno.
Depois, um litro de cachaça do Ceará.
Apenas isto, e todo pó do idílio terreno,
Para o centenário de Neruda celebrar.
Poeta de todos os sonhos, viajor genial,
Voaste do amor fugaz, da desesperada canção,
Para a ardente paz da luta. A trincheira social
Da Espanha em guerra mudou teu coração.
Que fio azul une o meu mágico e quente sertão
À tua vinhateira, delgada e fria região austral?
-“O silencioso mistério, a solenidade essencial,
A clareza de horizonte, a inexplicável resistência,
A sublime condição, a humilde imponência...”
Um brinde, pois, ao mais portentoso cantor geral!
(Júnior Bonfim)
Neruda, chileno contemplado com o Nobel de Literatura, foi o mais fértil, fulgurante e fascinante dos cantores nascidos naquela terra mágica, pequeno e fino fio de terra entre o frio da cordilheira e as ondas do Pacífico.
No centenário de seu nascimento, desenhei este Soneto:
Primeiro, uma garrafa de vinho chileno.
Depois, um litro de cachaça do Ceará.
Apenas isto, e todo pó do idílio terreno,
Para o centenário de Neruda celebrar.
Poeta de todos os sonhos, viajor genial,
Voaste do amor fugaz, da desesperada canção,
Para a ardente paz da luta. A trincheira social
Da Espanha em guerra mudou teu coração.
Que fio azul une o meu mágico e quente sertão
À tua vinhateira, delgada e fria região austral?
-“O silencioso mistério, a solenidade essencial,
A clareza de horizonte, a inexplicável resistência,
A sublime condição, a humilde imponência...”
Um brinde, pois, ao mais portentoso cantor geral!
(Júnior Bonfim)
POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL
Para além da mera conjuntura - 1
Os substantivos problemas pelos quais o Brasil atravessa têm sido sistematicamente tratados, seja do alto da maior autoridade brasileira, seja dos analistas, como "conjunturais" na ausência de outra palavra no vernáculo. Ocorre que o país está acumulando problemas de natureza estrutural sem que estes tenham encaminhamento estratégico. Agrava-se esta constatação com o lançamento de factóides que contribuem para a formulação dos discursos oficiais com vista às próximas eleições. A maioria das políticas governamentais ou das críticas a estas não subsiste a um exame mais demorado, mais estrutural. Como não está instalado na sociedade e no governo um sentimento de "emergência" tudo vai sendo empurrado por uma monumental barriga. Assim, com efeito pirotécnico, tudo fica como sempre e sem solução.
Para além da mera conjuntura - 2
Pode-se fazer uma longa lista ou uma "agenda" para comprovar a "dança do ventre" da sociedade e do governo cujo efeito é a paralisia nas soluções. Selecionamos alguns dos itens mais importantes: (i) considerada a atual taxa de câmbio e o chamado "custo-país" (tributação, regras trabalhistas, taxa de juros, etc.), o Brasil não é competitivo perante um mundo, incluso o emergente, altamente competitivo; (ii) nada de relevante ocorreu no país nos últimos 15 anos que tenha sido relevante para alterar as ineficiências da infraestrutura nacional. Das estradas até o balcão dos cartórios dos tribunais, tudo conspira contra o desenvolvimento econômico e social (veja as notas sobre os recentes leilões de concessões); (iii) a larga maioria dos programas sociais se reduz a uma estrita visão eleitoral. Do Bolsa-Família ao "Mais Médicos" nota-se a ausência de uma visão estratégica suficiente para em algumas décadas superar-se a pobreza e o subdesenvolvimento; (iv) em matéria de desenvolvimento tecnológico e educacional a coisa vai de mal a pior. Somos, de fato, um país sem possibilidade de incorporar parcelas importantes de avanços tecnológicos e, de um modo geral, sobram analfabetos funcionais.
Para além da mera conjuntura - 3
Alguém poderia argumentar que "as coisas sempre foram assim" e mesmo assim o Brasil se desenvolveu. Esta duvidosa argumentação, em geral, não considera o fato de que as mudanças dos padrões de competitividade das últimas três décadas jogaram o país num quadro de estupendos desafios. É preciso recuperar rapidamente o que deixamos de fazer naquilo que é o "básico" para jogar o jogo e, ao mesmo tempo, dar arrancadas tecnológicas que permitam ao país ser ao menos competitivo dentre seus pares "emergentes". Para isto, a arte de governar teria de reformar o Estado no sentido de torná-lo eficiente no cumprimento de suas tarefas na formulação de políticas modernas e atrair o capital para mover a máquina do desenvolvimento. Para isto o governo tem de ser fonte de estabilidade e confiança, pois até o mundo mineral sabe que o capital é covarde. Ora, o que se vê no governo é o jorro de bravatas e a incapacidade, digamos, operacional, de fazer o país seguir em frente. Afora, outros aspectos mais nebulosos como a corrupção e a trágica criminalidade. Por toda esta argumentação já não existe, a nosso ver, "conjuntura" e "estrutura". Há uma emergência que embora não aflorada, faz um país muito além de suas próprias possibilidades.
Câmbio: "parada técnica" ou "mudança de tendência"?
O Federal Reserve preservou a sua estratégia de expansão monetária com o objetivo de estimular o "lado real" da economia norte-americana e, com efeito, manter o mercado laboral em aquecimento. Observados os indicadores de atividade da maior economia do mundo, o que se vê é que a demanda está, a cada dia, mais aquecida e, em menor medida, sustentada pela expansão do crédito. O que é certo é que o pior já passou e a direção dos capitais mudou, da periferia para o centro capitalista. Neste sentido, o dólar mantém intacta a tendência de valorização frente às demais moedas. O ritmo desta valorização haverá de ser maior ou menor na medida em que o Fed aponte quando "mudará" a sua política. Todavia, a autoridade monetária americana está mais próxima de mudá-la que de mantê-la. Quando isto ficar mais claro a volatilidade cambial voltará a se exacerbar e os movimentos serão mais bruscos. Até lá, parece muito mais seguro permanecer investido no dólar que em outra moeda. A transição parece ter ficado mais longa, mas a tendência permanece clara.
Privatizações: os fatos e as versões - 1
A primeira versão é que a presidente Dilma Rousseff está irritada como o que classifica como insucesso dos primeiros leilões de privatização de rodovias Federais em seu governo e de exploração do primeiro campo de pré-sal, o de Libra, colocado em hasta pública. Insucesso porque o governo acreditava que haveria uma enxurrada de concorrentes nas duas ofertas e o que se viu foi a ausência de qualquer proposta para a rodovia BR-262; um consórcio vencedor da disputa pela BR-050 formado por nove empresas de porte médio, o que agitou outro fantasma que já assombrou a presidente, os resultados dos leilões do aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília; e o aparecimento de apenas 11 - inclusa a Petrobras - companhias e não as 40 imaginadas, ainda com a desistência de cinco gigantes petrolíferas, na disputa do pré-sal.
Privatizações: os fatos e as versões - 2
Foi demais para Dilma - ela reagiu como se não soubesse que isto poderia ter acontecido. Ou não lê jornais, uma vez que não conversa com quem não pensa como ela e aceita suas ideias, ou não foi bem informada por seus assessores. Especialistas nesses setores, de diversos matizes ideológicos, alertaram para esse risco, em função dos modelos que foram elaborados para as concessões (palavra que o governo prefere à privatização), não dessas duas áreas agora, mas também do que vem por aí como os aeroportos, portos e ferrovias. O governo demorou anos para aceitar a necessidade de chamar o setor privado para ajudá-lo a atacar nossos problemas de infraestrutura. Havia um ano e meio de gestão quando a presidente lançou o Programa de Investimentos em Logística (PIL), em agosto de 2013. Entre a descoberta dos primeiros campos de pré-sal, as mudanças no modelo de concessão para partilha e o anúncio da oferta do campo de Libra, passaram-se seis anos.
Privatizações: os fatos e as versões - 3
Quando o livro foi aberto percebeu-se que o governo queria conceder sem conceder de fato, mantendo interferências e controles sobre o processo que tornavam, para o capital privado, o negócio pouco atraente. Várias correções foram feitas, já comentadas aqui, com o objetivo de aumentar a rentabilidade nas concessões rodoviárias e reduzir os correspondentes riscos. Mesmo assim a coisa não pegou. E não pegou tanto nas estradas como nos poços de petróleo por uma coisa que está sendo chamada de "risco-governo". O Palácio do Planalto procurou encontrar agentes externos de variadas conotações para explicar o insucesso. Empresários chegaram a ser chamados a Brasília para receber um "pito" da ministra Gleisi Hoffmann. A presidente, enquanto isso, ordenou a seus auxiliares uma revisão de todo o processo, para ver onde estão os gargalos. É incrível que, depois de tanto tempo, o governo ainda precise fazer ajustes no seu programa. É sinal da soberba palaciana, de ouvir pouco e ordenar muito. Faltou o chamado "juízo crítico", normalmente uma mercadoria escassa nos palácios governamentais. Que empresa privada gostaria de ter no seu calcanhar uma sócia, a nova estatal criada para o pré-sal, que não investirá um mísero dólar no consórcio, mas terá total poder de veto nas decisões estratégicas? Se não olhar para dentro e fizer um mea culpa, se não perceber que o Brasil não é o único lugar no mundo onde há bons negócios para o capital privado, a presidente Dilma pode colher outros frutos amargos na sua "privatização envergonhada" - "que nem jiló" como diz a música de Luis Gonzaga.
Dilma/PSB: as versões e os fatos - 1
Outra surpresa, confessada por ela mesma, que assaltou a presidente Dilma Rousseff, foi a decisão do governador de PE e presidente do PSB, Eduardo Campos, de entregar a ela os dois ministérios e cargos de peso no segundo escalão Federal ocupados pelo partido. Houve sim a surpresa, mas apenas pelo gesto de Campos - ninguém esperava nas esferas oficiais e petistas tal gesto de "desprendimento" com certo cheiro eleitoral. Na realidade, Dilma se preparava para ser a condutora do processo de afastamento PSB e acabou sendo "trucada" pelo governador pernambucano. Era visível até para os mais leigos em política, que Campos e o PSB, desde que ficou mais ou menos claro que ele pretendia concorrer de fato à presidência da República em 2014, estavam sendo "fritados".
Dilma/PSB: as versões e os fatos - 2
A "fritura" tinha por objetivo humilhar o concorrente, pespegando nele pechas de "oportunista" e "fisiológico", por estar fazendo um discurso de oposição, com críticas à política econômica, para preparar sua candidatura presidencial e, ao mesmo tempo, não largar o osso dos bons cargos Federais. Nessa linha, preparava-se o desembarque do PSB do governo por decisão presidencial. O PT, como bom menino que é, defendia abertamente a saída de Campos e do PSB. O PMDB, menino glutão, seguia na mesma linha, de olho nos cargos que vagarão. Já está até trucidando pelo Ministério da Integração Nacional. De duas semanas para cá, o jornais e sites começaram a publicar reportagens e notinhas, sem fontes identificadas, mas facilmente perceptíveis a olho nu, que Dilma tiraria os ditos socialistas de sua equipe quando outubro chegasse. Dilma deixou que se espalhasse a versão de que ficou furibunda com o encontro amigável de Eduardo Campos com Aécio Neves.
Dilma/PSB: as versões e os fatos - 3
Houve até uma reunião em Brasília, do "Conselho Eleitoral" de Dilma, na qual o ex-presidente Lula compareceu, quando o tema foi tratado. A versão é que o ex-presidente teria aconselhado Dilma a não atacar Campos para não queimar as pontes com o PSB e jogá-lo nos braços de Marina ou Aécio. É improvável que Lula e Dilma não soubessem de tais manobras. E que, se quisessem, facilmente calariam o PT o PMDB e desmentiriam publicamente e veementemente as notícias que levavam à "fritura" de Campos. Como diz o popular, foram buscar lã e saíram tosquiados. Agora correm para conter os prejuízos, pois os sinais de que Eduardo Campos saiu contrariado - quem sabe, furibundo - desse episódio são muito claros. Dilma pediu um tempo ao ministro renunciante Fernando Bezerra e pediu a seu auxiliar para intermediar uma nova conversa dela com Campos. Lula também entrou em campo. O governador de PE aceitou falar com Dilma outra vez sobre o tema. Mas não tem volta com o PSB ficando no governo, sob pena de se desmoralizar irremediavelmente. O máximo que se pode agora é ajustar a funilaria, reparar os estragos e não ter Eduardo Campos como um inimigo declarado. Sem Lula por perto, normalmente a operação política da presidente Dilma é um desastre. Desta vez, como Lula estava no mesmo barco para arpoar Eduardo Campos, o jogo se revelou lastimável.
E a faxineira?
Nos últimos 15 dias houve demissões de funcionários graduados, em cargos comissionados, de confiança, por razões não ecumênicas, no Ministério do Trabalho, no Ministério da Previdência Social e no Ministério das Relações Institucionais. No entanto, os titulares das pastas em ebulição, respectivamente Manoel Dias/PDT, Garibaldi Alves/PMDB e Ideli Salvatti/PT, continuam impávidos colossos em seus postos. Cientes de que a teoria do "domínio dos fatos" é filustria jurídica para o STF. Manoel Dias ainda com um agravante : em entrevista do jornal "O Globo" avisou que se for retirado do Ministério não vai ficar calado. Teria coisas "impublicáveis" para contar.
Sem insinuação, porém...
Contrasta a facilidade com que o ex-prefeito Gilberto Kassab conseguiu montar no ano passado o seu PSD, feito sob medida para esvaziar partidos de oposição em Brasília, e as dificuldades que Marina Silva está encontrando para montar seu Rede Sustentabilidade, partido pelo qual pretende disputar a presidência da República contra Dilma Rousseff. Um teve todo o amparo oficial, o outro, todo o boicote possível. Não é nada, não é nada, é muito estranho.
Um pequeno ruído oposicionista
O programa eleitoral do PSDB na quinta-feira, estrelado pelo provável (cada vez mais) candidato do partido ao Palácio do Planalto, deu o tom do que poderá ser a campanha tucana no ano que vem: menos espetaculosa, mais crítica, em tom didático e de conversa com o eleitor - e sem promessas. Trata-se de uma mudança no estilo de marketing político-eleitoral brasileiro, de extração publicitária, na base da venda de um "produto" desenhado a partir de pesquisas de opinião. Parece ser um texto. A questão é: funcionará? O comando da campanha resistirá às pressões para adotar o modelo edulcorado, caso a campanha não deslanche? Porém, apenas isto não basta - e a observação vale para outros candidatos também, inclusive para a presidente Dilma: os candidatos deverão apresentar aos eleitores programas de governos concretos, não fantasiosos, factíveis. O aperto que os prefeitos empossados em janeiro estão enfrentando - estão praticamente os mais importantes com a popularidade em baixa - se deve à incapacidade de cumprir as promessas - na maioria, mirabolantes, que fizeram durante a campanha. As não suficientemente analisadas manifestações juninas demonstraram isto.
A infringência dos embargos - política
Em nome da solidariedade pessoal aos réus condenados, foi de júbilo, apesar de contido, no governo e no PT, a decisão do ministro Celso de Mello, do STF, com o voto de desempate, de considerar possível a apresentação de embargos infringentes por quem teve - 12 no total - pelo menos quatro votos contra sua condenação. O comedimento público das reações tem uma explicação a partir desta pergunta: será bom para a campanha e Dilma e do PT a exibição pública do mensalão, com toda a sua história repisada, no ano que vem?
A infringência dos embargos - jurídica
O mundo jurídico oficial, STF à frente, e o Legislativo precisam mergulhar mais profundamente sobre os embargos infringentes nas ações penais como o mensalão. O ministro Celso de Mello deu um voto de desempate, concluindo que eles estão vigentes no ordenamento político nacional. Todavia, Celso de Mello, por mais elevado que seja o seu saber jurídico, não é um oráculo, persistem dúvidas sérias sobre a aplicação desta norma. Como mostraram os cinco votos contrários - é uma divergência "significativa" - e várias interpretações de juristas renomados. Não é, como se diz, uma questão vencida. Está vencida para o caso do mensalão, não para outros casos que venham a surgir. Dependendo da composição da corte a decisão pode ser distinta daquela de quarta-feira passada. Como disse a ministra Carmem Lúcia em seu sereno e substancial voto, o sistema não fecha.
A infringência dos embargos - a desculpa
Com seu voto, o ministro Celso de Mello botou abaixo um dos argumentos dos advogados e defesa dos réus - e discurso permanente dos "mensaleiros" - de que eles estavam sendo vítimas de um julgamento de exceção, de que não estavam tendo direito pleno de defesa. Pelo menos para os 12 com direito a embargos declaratórios, o duplo grau de jurisdição foi estabelecido. Não para os outros condenados.
País de cultura
Aos olhos da mais mortal das criaturas parece razoável que o Erário de um país, via Lei Rouanet, financie o Rock in Rio, o musical Billy Elliot e desfiles de moda em Paris?
Renovação política
Viu-se na imprensa: José Sarney deve se aposentar em 2015 aos 85 anos. Deixará um herdeiro político em seu lugar e deve disputar a presidência da Academia Brasileira de Letras. Há muita expectativa sobre tudo isso. É preciso se preparar. FHC, em seu discurso de posse na ABL, pronunciou: "O grande desafio dos caminhos da política é evitar a tentação do doutor Fausto e não vender a alma ao demônio". Investiga-se a intenção da frase, mas não há resultados por ora...
Opinião pública
Em tempos de discussão sobre opinião pública, voz das ruas e coisas tais, vale lembrar duas lições sobre o assunto. Do filósofo espanhol Miguel Unamuno: "Eu sou eu e minhas circunstâncias". Do "filósofo" português Conselheiro Acácio, criação de Eça de Queiros em "O Primo Basílio": "O problema é que as consequências vêm sempre depois".
(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)
Os substantivos problemas pelos quais o Brasil atravessa têm sido sistematicamente tratados, seja do alto da maior autoridade brasileira, seja dos analistas, como "conjunturais" na ausência de outra palavra no vernáculo. Ocorre que o país está acumulando problemas de natureza estrutural sem que estes tenham encaminhamento estratégico. Agrava-se esta constatação com o lançamento de factóides que contribuem para a formulação dos discursos oficiais com vista às próximas eleições. A maioria das políticas governamentais ou das críticas a estas não subsiste a um exame mais demorado, mais estrutural. Como não está instalado na sociedade e no governo um sentimento de "emergência" tudo vai sendo empurrado por uma monumental barriga. Assim, com efeito pirotécnico, tudo fica como sempre e sem solução.
Para além da mera conjuntura - 2
Pode-se fazer uma longa lista ou uma "agenda" para comprovar a "dança do ventre" da sociedade e do governo cujo efeito é a paralisia nas soluções. Selecionamos alguns dos itens mais importantes: (i) considerada a atual taxa de câmbio e o chamado "custo-país" (tributação, regras trabalhistas, taxa de juros, etc.), o Brasil não é competitivo perante um mundo, incluso o emergente, altamente competitivo; (ii) nada de relevante ocorreu no país nos últimos 15 anos que tenha sido relevante para alterar as ineficiências da infraestrutura nacional. Das estradas até o balcão dos cartórios dos tribunais, tudo conspira contra o desenvolvimento econômico e social (veja as notas sobre os recentes leilões de concessões); (iii) a larga maioria dos programas sociais se reduz a uma estrita visão eleitoral. Do Bolsa-Família ao "Mais Médicos" nota-se a ausência de uma visão estratégica suficiente para em algumas décadas superar-se a pobreza e o subdesenvolvimento; (iv) em matéria de desenvolvimento tecnológico e educacional a coisa vai de mal a pior. Somos, de fato, um país sem possibilidade de incorporar parcelas importantes de avanços tecnológicos e, de um modo geral, sobram analfabetos funcionais.
Para além da mera conjuntura - 3
Alguém poderia argumentar que "as coisas sempre foram assim" e mesmo assim o Brasil se desenvolveu. Esta duvidosa argumentação, em geral, não considera o fato de que as mudanças dos padrões de competitividade das últimas três décadas jogaram o país num quadro de estupendos desafios. É preciso recuperar rapidamente o que deixamos de fazer naquilo que é o "básico" para jogar o jogo e, ao mesmo tempo, dar arrancadas tecnológicas que permitam ao país ser ao menos competitivo dentre seus pares "emergentes". Para isto, a arte de governar teria de reformar o Estado no sentido de torná-lo eficiente no cumprimento de suas tarefas na formulação de políticas modernas e atrair o capital para mover a máquina do desenvolvimento. Para isto o governo tem de ser fonte de estabilidade e confiança, pois até o mundo mineral sabe que o capital é covarde. Ora, o que se vê no governo é o jorro de bravatas e a incapacidade, digamos, operacional, de fazer o país seguir em frente. Afora, outros aspectos mais nebulosos como a corrupção e a trágica criminalidade. Por toda esta argumentação já não existe, a nosso ver, "conjuntura" e "estrutura". Há uma emergência que embora não aflorada, faz um país muito além de suas próprias possibilidades.
Câmbio: "parada técnica" ou "mudança de tendência"?
O Federal Reserve preservou a sua estratégia de expansão monetária com o objetivo de estimular o "lado real" da economia norte-americana e, com efeito, manter o mercado laboral em aquecimento. Observados os indicadores de atividade da maior economia do mundo, o que se vê é que a demanda está, a cada dia, mais aquecida e, em menor medida, sustentada pela expansão do crédito. O que é certo é que o pior já passou e a direção dos capitais mudou, da periferia para o centro capitalista. Neste sentido, o dólar mantém intacta a tendência de valorização frente às demais moedas. O ritmo desta valorização haverá de ser maior ou menor na medida em que o Fed aponte quando "mudará" a sua política. Todavia, a autoridade monetária americana está mais próxima de mudá-la que de mantê-la. Quando isto ficar mais claro a volatilidade cambial voltará a se exacerbar e os movimentos serão mais bruscos. Até lá, parece muito mais seguro permanecer investido no dólar que em outra moeda. A transição parece ter ficado mais longa, mas a tendência permanece clara.
Privatizações: os fatos e as versões - 1
A primeira versão é que a presidente Dilma Rousseff está irritada como o que classifica como insucesso dos primeiros leilões de privatização de rodovias Federais em seu governo e de exploração do primeiro campo de pré-sal, o de Libra, colocado em hasta pública. Insucesso porque o governo acreditava que haveria uma enxurrada de concorrentes nas duas ofertas e o que se viu foi a ausência de qualquer proposta para a rodovia BR-262; um consórcio vencedor da disputa pela BR-050 formado por nove empresas de porte médio, o que agitou outro fantasma que já assombrou a presidente, os resultados dos leilões do aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília; e o aparecimento de apenas 11 - inclusa a Petrobras - companhias e não as 40 imaginadas, ainda com a desistência de cinco gigantes petrolíferas, na disputa do pré-sal.
Privatizações: os fatos e as versões - 2
Foi demais para Dilma - ela reagiu como se não soubesse que isto poderia ter acontecido. Ou não lê jornais, uma vez que não conversa com quem não pensa como ela e aceita suas ideias, ou não foi bem informada por seus assessores. Especialistas nesses setores, de diversos matizes ideológicos, alertaram para esse risco, em função dos modelos que foram elaborados para as concessões (palavra que o governo prefere à privatização), não dessas duas áreas agora, mas também do que vem por aí como os aeroportos, portos e ferrovias. O governo demorou anos para aceitar a necessidade de chamar o setor privado para ajudá-lo a atacar nossos problemas de infraestrutura. Havia um ano e meio de gestão quando a presidente lançou o Programa de Investimentos em Logística (PIL), em agosto de 2013. Entre a descoberta dos primeiros campos de pré-sal, as mudanças no modelo de concessão para partilha e o anúncio da oferta do campo de Libra, passaram-se seis anos.
Privatizações: os fatos e as versões - 3
Quando o livro foi aberto percebeu-se que o governo queria conceder sem conceder de fato, mantendo interferências e controles sobre o processo que tornavam, para o capital privado, o negócio pouco atraente. Várias correções foram feitas, já comentadas aqui, com o objetivo de aumentar a rentabilidade nas concessões rodoviárias e reduzir os correspondentes riscos. Mesmo assim a coisa não pegou. E não pegou tanto nas estradas como nos poços de petróleo por uma coisa que está sendo chamada de "risco-governo". O Palácio do Planalto procurou encontrar agentes externos de variadas conotações para explicar o insucesso. Empresários chegaram a ser chamados a Brasília para receber um "pito" da ministra Gleisi Hoffmann. A presidente, enquanto isso, ordenou a seus auxiliares uma revisão de todo o processo, para ver onde estão os gargalos. É incrível que, depois de tanto tempo, o governo ainda precise fazer ajustes no seu programa. É sinal da soberba palaciana, de ouvir pouco e ordenar muito. Faltou o chamado "juízo crítico", normalmente uma mercadoria escassa nos palácios governamentais. Que empresa privada gostaria de ter no seu calcanhar uma sócia, a nova estatal criada para o pré-sal, que não investirá um mísero dólar no consórcio, mas terá total poder de veto nas decisões estratégicas? Se não olhar para dentro e fizer um mea culpa, se não perceber que o Brasil não é o único lugar no mundo onde há bons negócios para o capital privado, a presidente Dilma pode colher outros frutos amargos na sua "privatização envergonhada" - "que nem jiló" como diz a música de Luis Gonzaga.
Dilma/PSB: as versões e os fatos - 1
Outra surpresa, confessada por ela mesma, que assaltou a presidente Dilma Rousseff, foi a decisão do governador de PE e presidente do PSB, Eduardo Campos, de entregar a ela os dois ministérios e cargos de peso no segundo escalão Federal ocupados pelo partido. Houve sim a surpresa, mas apenas pelo gesto de Campos - ninguém esperava nas esferas oficiais e petistas tal gesto de "desprendimento" com certo cheiro eleitoral. Na realidade, Dilma se preparava para ser a condutora do processo de afastamento PSB e acabou sendo "trucada" pelo governador pernambucano. Era visível até para os mais leigos em política, que Campos e o PSB, desde que ficou mais ou menos claro que ele pretendia concorrer de fato à presidência da República em 2014, estavam sendo "fritados".
Dilma/PSB: as versões e os fatos - 2
A "fritura" tinha por objetivo humilhar o concorrente, pespegando nele pechas de "oportunista" e "fisiológico", por estar fazendo um discurso de oposição, com críticas à política econômica, para preparar sua candidatura presidencial e, ao mesmo tempo, não largar o osso dos bons cargos Federais. Nessa linha, preparava-se o desembarque do PSB do governo por decisão presidencial. O PT, como bom menino que é, defendia abertamente a saída de Campos e do PSB. O PMDB, menino glutão, seguia na mesma linha, de olho nos cargos que vagarão. Já está até trucidando pelo Ministério da Integração Nacional. De duas semanas para cá, o jornais e sites começaram a publicar reportagens e notinhas, sem fontes identificadas, mas facilmente perceptíveis a olho nu, que Dilma tiraria os ditos socialistas de sua equipe quando outubro chegasse. Dilma deixou que se espalhasse a versão de que ficou furibunda com o encontro amigável de Eduardo Campos com Aécio Neves.
Dilma/PSB: as versões e os fatos - 3
Houve até uma reunião em Brasília, do "Conselho Eleitoral" de Dilma, na qual o ex-presidente Lula compareceu, quando o tema foi tratado. A versão é que o ex-presidente teria aconselhado Dilma a não atacar Campos para não queimar as pontes com o PSB e jogá-lo nos braços de Marina ou Aécio. É improvável que Lula e Dilma não soubessem de tais manobras. E que, se quisessem, facilmente calariam o PT o PMDB e desmentiriam publicamente e veementemente as notícias que levavam à "fritura" de Campos. Como diz o popular, foram buscar lã e saíram tosquiados. Agora correm para conter os prejuízos, pois os sinais de que Eduardo Campos saiu contrariado - quem sabe, furibundo - desse episódio são muito claros. Dilma pediu um tempo ao ministro renunciante Fernando Bezerra e pediu a seu auxiliar para intermediar uma nova conversa dela com Campos. Lula também entrou em campo. O governador de PE aceitou falar com Dilma outra vez sobre o tema. Mas não tem volta com o PSB ficando no governo, sob pena de se desmoralizar irremediavelmente. O máximo que se pode agora é ajustar a funilaria, reparar os estragos e não ter Eduardo Campos como um inimigo declarado. Sem Lula por perto, normalmente a operação política da presidente Dilma é um desastre. Desta vez, como Lula estava no mesmo barco para arpoar Eduardo Campos, o jogo se revelou lastimável.
E a faxineira?
Nos últimos 15 dias houve demissões de funcionários graduados, em cargos comissionados, de confiança, por razões não ecumênicas, no Ministério do Trabalho, no Ministério da Previdência Social e no Ministério das Relações Institucionais. No entanto, os titulares das pastas em ebulição, respectivamente Manoel Dias/PDT, Garibaldi Alves/PMDB e Ideli Salvatti/PT, continuam impávidos colossos em seus postos. Cientes de que a teoria do "domínio dos fatos" é filustria jurídica para o STF. Manoel Dias ainda com um agravante : em entrevista do jornal "O Globo" avisou que se for retirado do Ministério não vai ficar calado. Teria coisas "impublicáveis" para contar.
Sem insinuação, porém...
Contrasta a facilidade com que o ex-prefeito Gilberto Kassab conseguiu montar no ano passado o seu PSD, feito sob medida para esvaziar partidos de oposição em Brasília, e as dificuldades que Marina Silva está encontrando para montar seu Rede Sustentabilidade, partido pelo qual pretende disputar a presidência da República contra Dilma Rousseff. Um teve todo o amparo oficial, o outro, todo o boicote possível. Não é nada, não é nada, é muito estranho.
Um pequeno ruído oposicionista
O programa eleitoral do PSDB na quinta-feira, estrelado pelo provável (cada vez mais) candidato do partido ao Palácio do Planalto, deu o tom do que poderá ser a campanha tucana no ano que vem: menos espetaculosa, mais crítica, em tom didático e de conversa com o eleitor - e sem promessas. Trata-se de uma mudança no estilo de marketing político-eleitoral brasileiro, de extração publicitária, na base da venda de um "produto" desenhado a partir de pesquisas de opinião. Parece ser um texto. A questão é: funcionará? O comando da campanha resistirá às pressões para adotar o modelo edulcorado, caso a campanha não deslanche? Porém, apenas isto não basta - e a observação vale para outros candidatos também, inclusive para a presidente Dilma: os candidatos deverão apresentar aos eleitores programas de governos concretos, não fantasiosos, factíveis. O aperto que os prefeitos empossados em janeiro estão enfrentando - estão praticamente os mais importantes com a popularidade em baixa - se deve à incapacidade de cumprir as promessas - na maioria, mirabolantes, que fizeram durante a campanha. As não suficientemente analisadas manifestações juninas demonstraram isto.
A infringência dos embargos - política
Em nome da solidariedade pessoal aos réus condenados, foi de júbilo, apesar de contido, no governo e no PT, a decisão do ministro Celso de Mello, do STF, com o voto de desempate, de considerar possível a apresentação de embargos infringentes por quem teve - 12 no total - pelo menos quatro votos contra sua condenação. O comedimento público das reações tem uma explicação a partir desta pergunta: será bom para a campanha e Dilma e do PT a exibição pública do mensalão, com toda a sua história repisada, no ano que vem?
A infringência dos embargos - jurídica
O mundo jurídico oficial, STF à frente, e o Legislativo precisam mergulhar mais profundamente sobre os embargos infringentes nas ações penais como o mensalão. O ministro Celso de Mello deu um voto de desempate, concluindo que eles estão vigentes no ordenamento político nacional. Todavia, Celso de Mello, por mais elevado que seja o seu saber jurídico, não é um oráculo, persistem dúvidas sérias sobre a aplicação desta norma. Como mostraram os cinco votos contrários - é uma divergência "significativa" - e várias interpretações de juristas renomados. Não é, como se diz, uma questão vencida. Está vencida para o caso do mensalão, não para outros casos que venham a surgir. Dependendo da composição da corte a decisão pode ser distinta daquela de quarta-feira passada. Como disse a ministra Carmem Lúcia em seu sereno e substancial voto, o sistema não fecha.
A infringência dos embargos - a desculpa
Com seu voto, o ministro Celso de Mello botou abaixo um dos argumentos dos advogados e defesa dos réus - e discurso permanente dos "mensaleiros" - de que eles estavam sendo vítimas de um julgamento de exceção, de que não estavam tendo direito pleno de defesa. Pelo menos para os 12 com direito a embargos declaratórios, o duplo grau de jurisdição foi estabelecido. Não para os outros condenados.
País de cultura
Aos olhos da mais mortal das criaturas parece razoável que o Erário de um país, via Lei Rouanet, financie o Rock in Rio, o musical Billy Elliot e desfiles de moda em Paris?
Renovação política
Viu-se na imprensa: José Sarney deve se aposentar em 2015 aos 85 anos. Deixará um herdeiro político em seu lugar e deve disputar a presidência da Academia Brasileira de Letras. Há muita expectativa sobre tudo isso. É preciso se preparar. FHC, em seu discurso de posse na ABL, pronunciou: "O grande desafio dos caminhos da política é evitar a tentação do doutor Fausto e não vender a alma ao demônio". Investiga-se a intenção da frase, mas não há resultados por ora...
Opinião pública
Em tempos de discussão sobre opinião pública, voz das ruas e coisas tais, vale lembrar duas lições sobre o assunto. Do filósofo espanhol Miguel Unamuno: "Eu sou eu e minhas circunstâncias". Do "filósofo" português Conselheiro Acácio, criação de Eça de Queiros em "O Primo Basílio": "O problema é que as consequências vêm sempre depois".
(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
domingo, 22 de setembro de 2013
DEBATE DIVERSO
Será bom para o Brasil ter o nome de Marina Silva nos terminais de votos de 2014 porque ela representa um grupo e um conjunto de ideias. O movimento feito pelo PSB, que prenuncia a candidatura do governador Eduardo Campos, também é animador. O Brasil precisa da diversidade de propostas e de um profundo debate que faça justiça à dimensão dos desafios do momento.
Há várias escolhas possíveis nas políticas públicas para enfrentar os problemas que o Brasil vive hoje e quanto mais opções houver em 2014 mais chances haverá de ocorrer um verdadeiro debate. Se Marina Silva for barrada porque não cumpriu um número cabalístico de ter 492 mil assinaturas validadas pelos cartórios, e ter “apenas” 440 mil, o país verá ser cometido um crime contra a democracia.
Todos sabemos que ela representa um conjunto de ideias que tem seguidores pelo país todo, que estimula jovens e pessoas maduras, de todas as classes sociais, e está bem instalada nas pesquisas de intenção de votos. Sua agenda há muito tempo transbordou a questão ambiental — preservando-a — com propostas e questões das quais se pode discordar, mas o indiscutível é que Marina Silva não é candidata de si mesma. Não é uma viagem personalista, é um movimento.
A burocracia dos cartórios negou a validação de outras quase 200 mil assinaturas, no país do voto eletrônico e num mundo que se mobiliza em redes virtuais. Curioso como é difícil criar um partido que nasce das ideias. Fácil é criar legendas de aluguel, em que os mesmos candidatos se apresentam a cada eleição para eleger alguns poucos, que depois vão barganhar nacos de poder na coalizão de governo.
Num fim de semana, meses atrás, fomos abordados, eu e um dos meus filhos, por um jovem que colhia assinaturas em um parque. Ele explicou de forma coerente algumas ideias da Rede, nos convidou para entender melhor as propostas e perguntou se estávamos dispostos a assinar a lista de apoios. Explicamos que éramos jornalistas e isso nos impedia. Ele, educadamente, agradeceu o tempo que nos tomou e seguiu adiante, conversando com pessoas sobre ideias para o Brasil. Imagino que centenas de pessoas estavam naquele mesmo momento dedicando seu fim de semana a trabalhar por aquela causa. Portanto, ela nada tem de artificial. Nasce do impulso que levou aquele jovem ao trabalho político num fim de semana, em que poderia estar se divertindo.
Assim, com militância espontânea, nasceu o PT, que depois chegou ao poder e agora precisa, como diz Lula, voltar a ter orgulho de si mesmo. Hoje, alguns de seus integrantes parecem raivosos e ressentidos e usam apenas o ataque como argumento. Em nada lembram as alegres e sedutoras pessoas que nos abordavam nas ruas oferecendo a venda de estrelas e bandeiras vermelhas para financiar o partido, décadas atrás. O poder, os escândalos e escolhas fizeram do partido uma sombra do que ele foi. Mas o processo eleitoral pode reavivar o que houve de melhor nele, ou então — o que é mais provável —, aprofundar sua opção pelo uso do aparelho de Estado, capturado, nos últimos anos, para seus propósitos partidários.
O PSDB — nascido do caudaloso rio de oposição que um dia foi o MDB — trouxe propostas novas. Foi ele que fez a travessia para o novo Brasil quando, há quase 20 anos, enterrou a hiperinflação, a dívida externa herdada dos militares, as práticas fiscais nebulosas com as quais a ditadura povoou os armários de esqueletos contábeis. Na terra arada com a moeda estável, o PT tem feito um importante projeto de inclusão social. Todos sabemos que, para ser permanente, a inclusão precisará da revolução educacional sempre adiada no Brasil. Depois, o PSDB esqueceu o que fez e entrou em crise de identidade. Um PSDB que se orgulhe do seu legado ajudará a incentivar o debate.
Estamos no momento mais arriscado das mudanças demográficas, em um mundo globalizado e competitivo, com o planeta já sentindo os efeitos das mudanças climáticas, com a educação perdendo talentos, e as cidades entrando em colapso. O Brasil precisa de um projeto. O debate político necessita ter diversidade para não vermos, como diria Cazuza, “o futuro repetir o passado”. Não será inteligente, justo, nem democrático barrar do debate, por razões obscuras e burocráticas, a rede liderada por Marina.
(Míriam Leitão)
Há várias escolhas possíveis nas políticas públicas para enfrentar os problemas que o Brasil vive hoje e quanto mais opções houver em 2014 mais chances haverá de ocorrer um verdadeiro debate. Se Marina Silva for barrada porque não cumpriu um número cabalístico de ter 492 mil assinaturas validadas pelos cartórios, e ter “apenas” 440 mil, o país verá ser cometido um crime contra a democracia.
Todos sabemos que ela representa um conjunto de ideias que tem seguidores pelo país todo, que estimula jovens e pessoas maduras, de todas as classes sociais, e está bem instalada nas pesquisas de intenção de votos. Sua agenda há muito tempo transbordou a questão ambiental — preservando-a — com propostas e questões das quais se pode discordar, mas o indiscutível é que Marina Silva não é candidata de si mesma. Não é uma viagem personalista, é um movimento.
A burocracia dos cartórios negou a validação de outras quase 200 mil assinaturas, no país do voto eletrônico e num mundo que se mobiliza em redes virtuais. Curioso como é difícil criar um partido que nasce das ideias. Fácil é criar legendas de aluguel, em que os mesmos candidatos se apresentam a cada eleição para eleger alguns poucos, que depois vão barganhar nacos de poder na coalizão de governo.
Num fim de semana, meses atrás, fomos abordados, eu e um dos meus filhos, por um jovem que colhia assinaturas em um parque. Ele explicou de forma coerente algumas ideias da Rede, nos convidou para entender melhor as propostas e perguntou se estávamos dispostos a assinar a lista de apoios. Explicamos que éramos jornalistas e isso nos impedia. Ele, educadamente, agradeceu o tempo que nos tomou e seguiu adiante, conversando com pessoas sobre ideias para o Brasil. Imagino que centenas de pessoas estavam naquele mesmo momento dedicando seu fim de semana a trabalhar por aquela causa. Portanto, ela nada tem de artificial. Nasce do impulso que levou aquele jovem ao trabalho político num fim de semana, em que poderia estar se divertindo.
Assim, com militância espontânea, nasceu o PT, que depois chegou ao poder e agora precisa, como diz Lula, voltar a ter orgulho de si mesmo. Hoje, alguns de seus integrantes parecem raivosos e ressentidos e usam apenas o ataque como argumento. Em nada lembram as alegres e sedutoras pessoas que nos abordavam nas ruas oferecendo a venda de estrelas e bandeiras vermelhas para financiar o partido, décadas atrás. O poder, os escândalos e escolhas fizeram do partido uma sombra do que ele foi. Mas o processo eleitoral pode reavivar o que houve de melhor nele, ou então — o que é mais provável —, aprofundar sua opção pelo uso do aparelho de Estado, capturado, nos últimos anos, para seus propósitos partidários.
O PSDB — nascido do caudaloso rio de oposição que um dia foi o MDB — trouxe propostas novas. Foi ele que fez a travessia para o novo Brasil quando, há quase 20 anos, enterrou a hiperinflação, a dívida externa herdada dos militares, as práticas fiscais nebulosas com as quais a ditadura povoou os armários de esqueletos contábeis. Na terra arada com a moeda estável, o PT tem feito um importante projeto de inclusão social. Todos sabemos que, para ser permanente, a inclusão precisará da revolução educacional sempre adiada no Brasil. Depois, o PSDB esqueceu o que fez e entrou em crise de identidade. Um PSDB que se orgulhe do seu legado ajudará a incentivar o debate.
Estamos no momento mais arriscado das mudanças demográficas, em um mundo globalizado e competitivo, com o planeta já sentindo os efeitos das mudanças climáticas, com a educação perdendo talentos, e as cidades entrando em colapso. O Brasil precisa de um projeto. O debate político necessita ter diversidade para não vermos, como diria Cazuza, “o futuro repetir o passado”. Não será inteligente, justo, nem democrático barrar do debate, por razões obscuras e burocráticas, a rede liderada por Marina.
(Míriam Leitão)
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