sábado, 24 de março de 2012

MORREU CHICO ANYSIO: “ANJOS APLAUDIRAM CHICO DE PÉ” – AFIRMA MULHER DO HUMORISTA



Batizado Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, Chico Anysio nasceu no dia 12 de abril de 1931, em Maranguape, no interior do Ceará. Mudou-se com a mãe e três irmãos para o Rio de Janeiro quando tinha oito anos. O pai ficou na cidade natal para tentar se reerguer após perder toda a frota de sua empresa de ônibus num incêndio.

Chico sempre estudou em boas escolas durante a infância. Pretendia ser advogado, mas a vocação de comediante e as oportunidades que lhe foram surgindo levaram-no a escolher outra profissão.

Início da carreira

Com dezesseis anos, começou a participar de programas de calouros no rádio. Sua primeira apresentação foi no programa líder de audiência “Papel Carbono”, apresentado por Renato Murce na Rádio Nacional. Com seu número, o humorista ganhou o primeiro lugar e utilizou o prêmio em dinheiro para comprar uma bicicleta para o seu irmão mais novo, Zelito – que no futuro seria o cineasta Zelito Viana, pai de Marcos Palmeira.

O jovem Chico Anysio ficou tão popular que os programas de calouros pararam de aceitá-lo, pois ele sempre faturava os concursos. Ainda em 1947, ele deixou de ir a uma partida de futebol com os amigos para acompanhar sua irmã em um teste na Rádio Guanabara. Saiu da emissora com o emprego de locutor e rádioator.

Na Guanabara, Chico mostrou muitos dos seus talentos. Com apenas quinze dias de trabalho, virou locutor nas madrugadas, ator de rádionovela, comentarista esportivo e redator de programas humorísticos. Pouco tempo depois, abandonou de vez as rádionovelas para atuar como comediante.

Em 1949, foi convidado para trabalhar na rádio Mayrink Veiga, onde escrevia treze programas por semana. De lá, passou pela Rádio Clube Pernambuco e Rádio Clube do Brasil. Até que, em 1952, foi levado de volta para a Mayrink, como ator e diretor de vários programas. Nessa época, deu origem ao personagem que o consagrou: o Professor Raymundo, que fazia o quadro de encerramento do programa “A cidade se diverte”.

Estreia na TV

Já em 1957, estreia na televisão no programa humorístico “Aí Vem Dona Isaura”, estrelado por Ema D'Ávila na TV Rio. Nos anos seguintes, Chico Anysio foi redator de vários programas de humor, como “Milhões de Napoleões”, e participou de muitos outros, como o “Noites Cariocas”.

Após uma passagem relâmpago pela TV Excelsior (onde nem chegou a estrear), Chico voltou para a TV Rio, que tinha um novo diretor de programação: José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Ele também trabalhou na Tupi e na Record e, em 1968, desistiu de fazer televisão e investiu em seus shows de comédia no teatro.

Chico Anysio voltou para a televisão no ano seguinte em um humorístico transmitido pela TV Globo. Dirigido por Daniel Filho, o programa foi um sucesso e lhe garantiu um contrato com a emissora carioca – onde ele permaneceu até morrer, totalizando 42 anos como contratado da TV Globo.

Na emissora, estrelou diversos humorísticos, como “Chico City” (1973-1980), “Chico Anysio Show” (1982-1990), “Chico Total” (1995), “O Belo e as Feras” (1999), entre outros. Em todos eles, criou inúmeros personagens marcantes que lançaram bordões e marcaram época.

Novelas

Nos últimos dez anos, Chico passou a atuar em novelas, seriados e programas da TV Globo. Entre as novelas, “Terra Nostra” (1999), “Sinhá Moça” (2006) e “Caminho das Índias” (2009). Também apareceu na versão moderna do "Sítio do Picapau Amarelo" (2005) e em programas como "A Diarista" (2004) e "Guerra e Paz" (2008).Veja no vídeo algumas das mais marcantes criações de Chico Anysio:

Cinema, teatro, música, literatura e artes plásticas

Apesar de se definir como um ator de televisão, Chico Anysio também teve incursões no cinema e no teatro. Na telona, ele participou de várias chanchadas como ator e roteirista durante a década de 50. E nos palcos, realizou inúmeras apresentações, acumulando mais de 10 mil shows no Brasil e fora dele.

Em seus mais de 60 anos de carreira, o comediante também se aventurou em outras áreas. Na música, ele gravou mais de 20 álbuns com composições de sua autoria. Na literatura, publicou mais de quinze livros entre contos, romances e biografias. Como pintor, participou de dezenas de exposições dentro e fora do Brasil, vendendo seus quadros por alguns milhares de reais.

No cinema, sua atuação mais conhecida foi em “Tieta” (1996), de Cacá Diegues, onde encarnou o pai da protagonista.



(Sônia Braga, no portal IG)

sexta-feira, 23 de março de 2012

A PESCA


Os contadores de historias – alguns até diplomados pela SABI-Crateús e respaldados pela exímia instrutora e consagrada atriz Karla Kafka – dizem que quem conta um conto...aumenta um ponto!

Fui frequentador amiúde, até recentemente, de uma Bodega em cuja porta principal havia uma placa com os dizeres: CONVÍVIO PARA CAÇADORES, PESCADORES, CONTADORES DE HISTORIAS, POETAS E OUTROS MENTIROSOS. Foi lá que colhi incríveis ficções, todas recheadas de espetaculosas fábulas, felizmente não desenvolvi este terrível hábito de faltar com a verdade.

Passei a entender essa despudorada habilidade examinando alguns pescadores e sei que não existe essa de mentir pouco ou mentir muito, quem mente mente, é uma consequência patológica heteronímica de Pessoa, o poeta, que diz que o principiante mentiroso logo se converterá num profissional da lorota. Mesmo assim sinto-me bastante inseguro, pois o grande filósoso Sócrates, se não me falha a memória, uma vez falou: Quem mais conhece a verdade é quem mais é capaz de mentir. Eita, me vem mais este increspo, já daquela época.

Ora, se até uma complexa teoria científica respaldada pelos cabelos grisalhos do bioquimico Oparin, afirmando peremptóriamente que todas as formas de vida que perambulam por aí, descendem diretamente de uma molécula primordial que, de uma hora para outra, resolveu sair pulando das águas lodosas de um rio, fazendo com que este inconsequente biologo russo perdesse o direito de caminhar livremente pelas ruas da sua própria cidade, ao apresentar-se com um ar todo darwiniano a medida que sua lorota ia ganhando autoridade.

Ora, ora... muitas vezes eu vi, com esses dois olhos lamurientos, sairem das águas serenas do Poço da Roça no intermitente Poti, uns acanhados reptéis, umas lúbricas sereias que lavavam roupa nas pedras baixas, uns mirrados piaus, algumas dentuças traíras ou um roliço cangati ovado sendo puxado pelo anzol de um paciente pescador e nada mais. Mas acho que tenho o direito de coibir esse tal de Oparin especular sobre a origem da vida.

Quem teve a felicidade de encantar-se nas margens do Poti, aprendendo com as graciosas garças, com os pacientes socós a fina arte da pescaria, passa a entender o porquê da água ser a origem da vida e é o princípio de todas as coisas, sem precisar de nenhuma teoria.

Somente quando percebemos que um poço tem seus caprichos e um rio transporta um mundo de fantasias é que revelamos as habilidades peculiares de grande arremessador de tarrafa. Como o Martin Pescador, do poeta pantaneiro Manoel de Barros, “quando, de repente, do alto da água, arregaça o cuzinho e solta sua isca de guspe. Peixe vai ver o que foi aquele guspe: antepara! De veloz arrojo Martim-pescador frecha na água, e num átimo sobe – O peixe atravessado no bico! As águas remansam e rezam. Esse martim-pescador é fela.”

Um povoamento que começou com uma denominação de peixe, Piranhas, é para ser mesmo bem desenvolvido na arte da pesca. Naturalmente, pelo seu imenso rio, a espinha dorsal da região, que desce da Serra da Joaninha como um fiozinho d'água e cresce impetuoso e rouco, um Itaimanssu que vai se revestindo no serpenteado Poti, sedento, a ingerir as águas dos inúmeros riachos, mas vai deixando, aqui e acolá, alguns poços repletos de peixes pelo sertão ou se desenvolvendo artificialmente, pelos inúmeros criatórios de piscicultura que se propalam pelos açudes da região.

Quando o açude da Água Branca foi abastecido com milhares e milhares de alevinos de tambaquis, um escamoso e arredondado peixe da Amazônia que adora comer frutas, rapidamente a semente transformou-se em fruto maduro e a partir daí foi uma festa para os pescadores. Uma linha grossa, de meio milímetro, equipada com um anzol do tamanho de um dedo médio era o suficiente para fisgá-lo. A goiaba partida ao meio era um petisco para o colossal pacu vermelho. Mas algo estava errado, todos com a mesma linha, o mesmo anzol, a mesma isca e somente Seu Felício, o filho do Compadre Caboclo, conseguia apanhar o peixe do tamanho de um bode e arrastá-lo para fora d’água. Alguém, sorrateiramente, se aproxima do felizardo pescador, descobre seu segredo e sai alardeando: – O Felício está é para morrer de fome, morde a metade da goiaba e coloca o resto como isca. Os outros pescadores matam a charada, observam que a faca que usavam ia deixando um azinhavre na fruta e o peixe a rejeitava. Em pouco tempo estavam todos comendo goiabas e pegando tambaquis a vontade.

Ali, por perto, havia outro convidativo açude, também semeado de peixes em abundância: tilápias, carpas, tambaqui, afora a gostosa curimatã de meio quilo cada, um lugar adequado para se pescar. O problema era que o dono sempre vigiava, madrugada adentro, numa oscilante canoa ancorada bem no meio do açude, equipado com colchonete de dormir, uma boa lanterna e um potente papo-amarelo do lado, quem se atreveria a ir pecar! O Fanhanhã foi!

Um exímio pescador, conhecedor de todos os mistérios da pesca. Aprendera com o paciente Socó-boi e o preciso Martim-pescador, dizem até que era filho de Ártemis, a deusa da caça e da pesca, e que era bem afeiçoado de São Pedro, o protetor dos pescadores.

A água do açude estava fria e serena por àquelas horas da madrugada, e como um aquático quelônio vagarosamente, sem muita pressa, para não perturbar a paz do ambiente, desliza sobre a superfície distribuindo dezenas de metros de fio de náilon em rede de pescar. Um pescador vive grande parte de seus dias numa individual solidão aprendendo a esperar e a melhor hora de pescar é do pôr-do-sol ao amanhecer, nem tão cedo que não haja luz bastante para a transparência da água nem tão tarde que a viração do dia abale a serenidade do aquático santuário. A despesca de um galão deve ser feita na tranquilidade do lar tomando um gostoso cafezinho quente, tendo a visão exata do que se pescou. O finório pescador ainda deixou uma mediana tilápia dentro da canoa, para o desenjum do raivoso papo-amarelo.

Agora vocês me dão licença, já chaga de tanta lorota por hoje que eu que vou colocar a minhoca n’água, na beira do rio Poti, pois toda pesca também se assemelha à poesia e como o fanfarrão Fanhanhã, também nasci pescador.

Raimundo Candido

quinta-feira, 22 de março de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a coluna com a verve do passado.

Ao abrir a sessão da Câmara Federal, quando ainda era sediada no Rio de Janeiro, o presidente Ranieri Mazzilli concedeu a palavra a Carlos Lacerda, então representante do Distrito Federal. Rápido e agressivo, o deputado Bocaiúva Cunha gritou ao microfone, sob os risos do plenário:

- Agora vocês vão ver o purgante!

Lacerda, num piscar de olhos, respondeu:

- Os senhores acabaram de ouvir o efeito!

Nem os adversários prenderam o riso.

Frentes abertas

Sob as glórias de 76% de aprovação popular, a presidente Dilma Rousseff quer inaugurar uma nova forma de governar. À sua imagem e semelhança. Impondo conceito, regras, formas, métodos. Será bem-sucedida. É possível. Na política, tudo é possível. Por conta de seu estilo, algumas frentes foram abertas contra o Governo. Vejamos.

I - A onda política

A nomeação de novos líderes do Governo para o Senado e Câmara é prerrogativa da presidente. Incontestável. Mas a cultura política aconselha que as nomeações deveriam ser precedidas de um sistema de consultas. Se houve consulta, não se sabe. Deve, isso sim, ter havido muita conversa de bastidor entre Dilma, Lula e um pequeno grupo de assessores. Resultado: a demissão do senador Jucá e do deputado Vaccarezza de seus postos para dar lugar ao senador Eduardo Braga e ao deputado Arlindo Chinaglia pegou de surpresa o mundaréu político. O PT mostrou-se rachado. E o PMDB, ferido. Para complicar, o PR do Senado saiu da base do governo. Os políticos não estão satisfeitos com o estilo rompante da ministra Ideli. Que, como se deduz, não dá um passo sem consultar a presidente. Forma-se uma onda no Congresso que poderá inundar os vãos e desvãos do Palácio do Planalto.

II - A onda empresarial

Os empresários, principalmente os integrantes do universo industrial, se queixam do processo de desindustrialização a que vem sendo submetido o país. De cada quatro produtos adquiridos no mercado brasileiro, um é chinês. O PIB industrial despenca. O chão de fábrica se estreita. Os empregos estão migrando da indústria para os setores de serviços. A insatisfação se expande. O governo promete medidas pontuais. Mas não age. Fábricas são fechadas. Polos têxteis, como o de São Paulo, enfraquecem. A mais poderosa Federação das Indústrias do país, a FIESP, toma a frente da movimentação. Dia 4 de abril fará um grande movimento em São Paulo, juntamente contra as Centrais Sindicais. As Centrais querem mobilizar cerca de 100 mil pessoas. Essa é mais uma poderosa frente contra a inércia do governo em relação à indústria.

III - A onda militar

A terceira frente contra o governo Dilma emerge na área militar. Mais exatamente, no refúgio dos militares aposentados. Que, agora de pijama, expressam um discurso de insatisfação/indignação contra as pretensões da Comissão da Verdade. O Ministério Público pretende resgatar a história dos desaparecidos. E quer que a Comissão da Verdade abra o véu do passado. Os militares sustentam o argumento de que a lei da anistia passou uma borracha no passado. Os desaparecidos foram dados como mortos. Como poderiam, agora, ser considerados vivos? Não é possível, segundo eles, restabelecer essa condição. Mas os nossos aposentados das Forças Armadas não têm forças, ou seja, armamentos. Ocorre que os verbos contundentes que expressam poderão criar fagulhas nos quartéis. Não se pode desprezar a insatisfação nesse meio.

IV - A onda sindical

A quarta frente contra o estilo Dilma de governar age no seio das Centrais Sindicais. Que se sentem desprestigiadas. Sem a intensa interlocução que possuíam na era Lula. Naqueles tempos, os líderes sindicais desfilavam quando queriam pelo Palácio do Planalto. Agora, só esporadicamente. Não dispõem mais das portas abertas do poder central. Lutam para fazer chegar à presidente seu clamor. Por isso, as Centrais Sindicais se juntam aos empresários industriais, insatisfeitos, para adensar o bolsão de contrariedade contra o governo. Farão movimentação por todo o país, a partir de uma grande passeata, em São Paulo, dia 4 de abril.

V - A onda cultural

Há, ainda, uma frente contra o Governo, mais exatamente contra uma ministra do governo Dilma, Ana de Hollanda. A classe artística pede sua substituição. As manifestações pedindo a mudança da ministra se expandiram, recentemente, a partir da informação de que o Ministério da Cultura advogou em favor do ECAD (escritório de arrecadação e distribuição de direitos) em um processo no qual a instituição autoral é acusada de cartelização e gestão fraudulenta. O processo está em julgamento no Conselho de Administrativo de Defesa Econômica.

VI - A onda internacional

Há certo acirramento de ânimo entre o Brasil e alguns países. Na última viagem da presidente Dilma à Europa, ela fez sérias críticas à política monetária expansionista dos países europeus, que produz efeitos nocivos por desvalorizar de forma artificial as moedas. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, em tom crítico, respondeu com o argumento de que o Brasil exerce políticas protecionistas muito duras. A posição do Brasil em relação à ditadura síria e ao Irã também é motivo de críticas.

Mineirinhas

Frases de Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas - político, industrial, filósofo e, antes de tudo, udenista ortodoxo da linha bilaqueana (Bilac Pinto, o Bilacão, seu dileto amigo). Sempre infernou a vida de seus adversários, com as suas atitudes destemidas e sua natural mineirice.

"Quando estamos no governo, todo adversário que quer se encaixar, diz ser técnico".

"O preço do voto de um eleitor mentiroso é sempre o mais caro".

"Há um fato na política que a torna bastante interessante: o choque dos falsos políticos com os políticos falsos".

"Político é dividido em duas partes. Uma trabalha para ser eleito. A outra trabalha para conseguir um cargo público se for derrotado".

"Muita campanha eleitoral se parece com sauna: depois do calorão vem uma ducha fria". (Pinçadas de A Mineirice, de José Flávio Abelha)

Riscos

Não existe política sem riscos; o problema é de limites.

22% de insumos importados

Um dado revelador: 22,4% dos insumos utilizados por fabricantes brasileiros, no ano passado, foram importados. O maior patamar da série histórica iniciada desde 1996.

Uma frente por vez

Lição geral da política: ataque um inimigo por vez. Cuidado quando entrar na arena de guerra. Se você tem muitos adversários, poderá perder o foco.

Velhas lições

As lições de táticas e estratégias dos clássicos da política e das guerras parecem não merecer nenhuma consideração por parte de nossa presidente. Lembremos pequenos conselhos de Sun Tzu:

a) "Quando em região difícil, não acampe. Em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos seus aliados. Não se demore em posições perigosamente isoladas. Em situação de cerco, deve recorrer a estratagemas. Numa posição desesperada, deve lutar. Há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas".

b) "Não marche, a não ser que veja alguma vantagem; não use suas tropas, a menos que haja alguma coisa a ser ganha; não lute, a menos que a posição seja crítica. Nenhum dirigente deve colocar tropas em campo apenas para satisfazer seu humor; nenhum general deve travar uma batalha apenas para se vangloriar. A ira pode, no devido tempo, transformar-se em alegria; o aborrecimento pode ser seguido de contentamento. Porém, um reino que tenha sido destruído jamais poderá tornar a existir, nem os mortos podem ser ressuscitados".

Não perder o controle

Lembro mais esses dois princípios:

- Nunca descuide da perda de controle sobre o processo de governo, se a governabilidade cai abaixo de seu ponto crítico;

- Se isso ocorrer, tente imediatamente reverter o processo de desacumulação de força, evitando ingressar nos limites de perda de capacidade de reverter o processo.

Serra nas prévias

No próximo domingo, ocorrerão as prévias tucanas para escolha do candidato do PDSB à prefeitura de São Paulo. Claro, José Serra será eleito. Apesar de José Aníbal garantir que ele ganhará essa pequena eleição. Serra será o candidato. Ganhará as eleições? Perspectivas: tem competitividade; poderá polarizar a campanha; ir para o segundo turno. E a rejeição? Se for muito alta, na margem dos 30%, babau. Perderá. Se conseguir baixar para a casa dos 15%, terá condições de chegar ao topo.

30% do PT

Fernando Haddad, candidato do PT, chegará aos 30% de intenção de voto. Essa é a margem histórica do PT. Lula carregando seu pupilo nas costas terá condição, sim, de elevar essa margem.

PR na oposição?

Onda. Não vejo PR na oposição. Coisa de momento. Crise de nervos. Passa com qualquer calmante. Um cargo melhor aqui, um Ministério acolá. Nada que possa mudar a índole governista do partido.

A união do PMDB

Deputados e senadores do PMDB serão convocados para refletir sobre a equação: a unidade partidária é a porta do futuro. Quanto mais unidos, mais larga será a porta. A recíproca é verdadeira.

PT e PSB

Eduardo Campos continua a tricotar sua roupa para desfilar em 2014. Mas o PT e o PSB começam a brigar em algumas capitais. Em João Pessoa, o PT quer lançar candidato próprio, quebrando a aliança com o PSB do governador Ricardo Coutinho. Em São Paulo, avançam as negociações em torno de uma aliança entre PSDB e PSB. Em Fortaleza, também será possível que o PSB lance candidato próprio, rompendo a parceria com o PT da prefeita Luizianne Lins.

65% de conteúdo local

A nova presidente da Petrobras, Graça Foster, promete que a indústria nacional de serviços de petróleo usará 65% de conteúdo local. Ou seja, para cumprir a meta de buscar óleo nas camadas de pré-sal, a empresa investirá muito dinheiro. Seu programa de investimentos é da ordem de US$ 225 bilhões em 5 anos. As compras locais fazem parte da política de fortalecimento da indústria nacional. Trata-se, segundo ela, de "requisito básico da Nação e da Petrobras".

Rumores

Sobre rumores de crise ministerial, face a demissão do Ministro Clemente Mariani, da Fazenda, Jânio Quadros dirigiu um bilhete ao seu secretário particular José Aparecido de Oliveira:

"Aparecido:

Leio num jornal que o Ministério está em crise...

Veja se localiza para mim.

Leio, também, que recebi, da Fazenda, um bilhete enérgico.

Desminta. O ministro é educado bastante, para não o escrever ao presidente.

E o presidente não é educado bastante, para recebê-lo...

Assinado - Jânio Quadros

09/08/1961". (Historinha contada pelo escritor e jornalista amigo Nelson Valente em seu livro sobre Jânio Quadros)

Conselho aos novos líderes do Governo

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos novos líderes. Hoje, sua atenção se volta aos novos líderes do governo no Senado e na Câmara, respectivamente, senador Eduardo Braga e deputado Arlindo Chinaglia:

1. Na política, nem sempre a menor distância entre dois pontos é uma reta, como na geometria euclidiana. Portanto, procurem fazer também algumas curvas. Ou seja, não queiram andar apenas nas retas da política. Sob pena de tropeçarem.

2. Significa que deverão anotar as demandas de parlamentares e partidos. E implementar, pontualmente, tais demandas sob pena de um alto preço a pagar, mais adiante.

3. Os novos líderes precisam se lembrar que a imposição de uma nova modelagem na esfera da gestão e articulação política implica combinação/acordo com as partes envolvidas no processo.

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(Gaudêncio Torquato)

quarta-feira, 21 de março de 2012

OBSERVATÓRIO



Os cinemas brasileiros estão exibindo o filme A DAMA DE FERRO, que narra a história de Margareth Thatcher, a primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra na Grã-Bretanha, durante um período de grande turbulência social. No ano de 1979, quando assumiu, a Europa se encontrava em um período de recessão econômica, elevadas taxas de inflação, altos índices de desempregos e uma quase incontornável crise petrolífera. Buscou colocar em prática aquilo que disse sobre o nosso País: “Parece-me bem claro que o Brasil não teve ainda um bom governo, capaz de atuar com base em princípios, na defesa da liberdade, sob o império da lei e com uma administração profissional. Bastaria um período assim, acompanhado da verdadeira liberdade empresarial, para que o país se tornasse realmente próspero”.

CRATEÚS

Mutatis mutandis – mudando o que tem de ser mudado – e guardadas as imprescindíveis proporções, a conjuntura atual por que passa o município de Crateús guarda semelhança com um quadro de crise: queixas em todos os setores. No entanto, antes de realizar uma avaliação profunda e delinear rumos para solução dos nossos desafios estratégicos, a grande maioria dos dirigentes partidários (tanto da situação quanto da oposição) está ávida para discutir nomes, pré-candidatos – como se uma vitória eleitoral resolvesse os dilemas. Ora, os enormes problemas que assolam o município, em especial nas áreas vitais da Administração e que afetam diretamente a vida dos cidadãos, reclamam um olhar mais sério e uma análise mais profunda. Bem acima das vaidades pessoais.

O EIXO DA CAMPANHA

A campanha que se avizinha revela-se um terreno fértil para o lançamento das sementes da sinceridade: o município precisa se preparar para realizar uma intervenção cirúrgica que exigirá o empenho e a colaboração de todos. As principais mazelas que assolam a vida pública (o fisiologismo, o clientelismo, o nepotismo dentre outros) precisam ser eliminadas. Não adianta depositar a esperança dessa renovação em uma pessoa. Mas é óbvio que o nome a ser escolhido precisa preencher os requisitos que indiquem essa possibilidade. Tem que preencher o perfil adequado. Celebrar em praça pública compromissos claros e simples. Não prometer o céu na terra. Dizer sem rodeios que vai cortar na própria pele, reduzir gorduras, eliminar privilégios, confrontar interesses poderosos, sanear as finanças. E que isto exigirá compreensão e sacrifício.

NOMES

O quadro eleitoral indica que teremos quatro candidaturas: a do PV, a do PSOL, a da situação e a das Oposições Unidas (PMDB, PSDB, DEM, PTB, PDT, PSD, PPS, PHS, PSL, PMN e PRTB). O PV já definiu que o nome é o de João Coelho Soriano, o Maçaroca. O PSOL discute nomes como Alexandre Maia, Paulo Giovane ou Adriana Calaça. O Prefeito Carlos Felipe está indeciso quanto a postular uma reeleição. Disse que tem dois obstáculos a transpor. Anunciou que vai sondar o apelo popular em torno de quatro possíveis candidatos: o vice, Mauro Soares, o Secretário Elder Leitão, o empresário Gerardo Teles e o Deputado Pierre Aguiar. Nesse quarteto, se prevalecer a pressão da cúpula do PCdoB – que deseja manter um dos seus quadros – o nome mais cotado é o de Pierre.

NOMES II

Na oposição há uma profusão de nomes: dezesseis! Sábado passado a Comissão Coordenadora das Oposições Unidas divulgou uma Nota em que assenta duas ações imediatas: 1. Elaboração de um Programa de Governo para a próxima gestão; 2. Definição de critérios para escolha do candidato do grupo e que irá colocar em prática esse Programa de Governo. Deliberou por coletar opiniões e sugestões da comunidade para a elaboração desse plano, realizando o Seminário PLANEJA CRATEÚS no próximo dia 31 de março, a partir das 8:00 hs da manhã, no auditório do CREA, na rua Auton Aragão, 505. Com isso, fica patente que o candidato só será oficializado no mês de abril.

PREOCUPAÇÃO

Prefeitos, cuidado! Muito cuidado! Este é o último ano do atual mandato. Todos os gestores deverão concentrar seus esforços em cumprir a legislação. Há um conjunto de normas (nas áreas eleitoral, administrativa, penal, financeira e fiscal) que obrigam os Agentes Públicos no período das eleições e no último ano de mandato. É vedado, por exemplo, gastar com publicidade acima da média dos últimos três anos, aumentar a dívida do município, usar a máquina em benefício de determinada candidatura, deixar restos a pagar sem o respectivo lastro financeiro, realizar shows artísticos nos três meses que antecedem o pleito, contratar operação de crédito por antecipação da receita etc. Antigamente, ter o comando da Prefeitura em período eleitoral era motivo de euforia e quase certeza de vitória. Hoje é motivo de grande preocupação. Os Agentes Políticos (Prefeitos e Secretários) têm que pisar em ovos...

PARA REFLETIR

“Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!”

(Mário Quintana)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

NENEN FRANCELINO

Se tivéssemos que extrair, do imenso e singular painel da vegetação nordestina, uma bandeira para homenagear a radiosa teimosia, a valente esperança, a gratuita hospitalidade, o horizontal sorriso do homem sertanejo, certamente esse estandarte atenderia por uma sagrada madeira chamada Juazeiro.

O nome Juazeiro, fruto de um matrimônio silábico do Tupi com o Português - "juá" ou "iu-á" (fruto de espinho) e o sufixo "eiro" – bem traduz o efeito da nossa “Invenção do Mar”, o achamento brasileiro e sua conseqüente miscigenação.

A mais voluptuosa mancha de solo do município de Crateús repousa no distrito de Monte Nebo, no calcanhar da Serra da Ibiapaba, que limita o Ceará com o Piauí. Nesse distrito pujante há uma localidade chamada Juazeiro. Ali nasceu, em 12 de fevereiro de 1932, um cidadão encomendado para se aparentar com a nossa árvore símbolo: Francisco Fernandes Sales, o Nenen Francelino, filho de José Francelino Sales e Maria Fernandes de Oliveira.

O Nenen Francelino, que recentemente recebeu os amigos para celebrar as oito décadas de vida, é um permanente som de viola tinindo um louvor à simplicidade da vida. Lembra um autêntico mourão voltado, aquela forma de cantoria tradicional apreciada pelo homem do campo nas noites enluaradas. Sua história é uma chuva de estrofes concatenadas com o povo que apreciou e representou. Fez da lida um verso dialogado, sempre obedecendo à rima que o outro escolheu.

Ao lado da esposa, Maria de Fátima Moreira Sales, dos filhos James Moreira Sales, Jane Moreira Sales e José Fernandes Sales Moreira Neto, Nenen Francelino se mantém renovado como o solo que o gerou ao receber os primeiros fios celestes.

Fiel às origens, deitou raízes na região em que nasceu. Como agricultor aprendeu que nossa passagem pelo roçado da vida é sempre uma prosa entre plantar e colher. E invariavelmente colhemos o que plantamos. Por isso optou por espalhar sementes de bem-aventuranças, caroços de ajuda, grãos de doação ao semelhante. Trabalhou com tranqüilidade a fecundação do óvulo da pacificação. Exerceu, durante trinta anos, a missão de Juiz de Paz na região.

A gente humilde da sua terra, identificando nele um apóstolo da causa pública, alguém capaz de “ver” a “dor” dos eleitores camponeses, o elegeu Vereador por quatro legislaturas.

Na primeira vez em que tomou assento no Parlamento Mirim de Crateús não recebia remuneração. Aqueles eram bons tempos. Tempos de políticos vocacionados. Tempos em que a fama de um homem público era construída por sobre a rocha da coerência. Com a argamassa da capacidade de ser firme e leal. De honrar a palavra empenhada. De ser inquebrantável no cumprimento dos compromissos. Duro como os troncos das velhas árvores. Bons tempos aqueles...

Tua biografia, Nenen, é um convite à reflexão. Para que estamos em cima deste chão? Certamente, para no alimento por o sal, servir o próximo de coração, acorrentar o mau e espalhar gratidão. Eis o teu recado. Isso é que é mourão voltado. Isso é que é voltar mourão!

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste e na Revista Gente de Ação)

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Caro Junior,

Cumprimento-o pelo artigo sobre o meu bom amigo Nenen Francelino.

Tantas vezes fui recebido na casa dele lá no Juazeiro, sempre com o sorriso no rosto e em busca de melhoria para o seu povo.

O seu registro resgata a história do Nenen, político que sempre trabalhou em prol do povo daquela região.

Sergio Moraes

terça-feira, 20 de março de 2012

AMANHÃ É DIA DE MAIS UMA EDIÇÃO DO JORNAL GAZETA DO CENTRO OESTE

POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

O pior já passou? (I)

O título desta nota é uma das perguntas mais repetidas em tempos de crise, especialmente quando se trata de uma crise de proporções equivalentes à de 1929. Há quem seja capaz de dar uma resposta clara em meio ao cenário obscuro que se desfralda perante os olhos do analista. De nossa parte, preferimos repisar alguns aspectos já abordados difusamente nos últimos meses. Vejamos:

1. A crise de crédito iniciada em meados do terceiro trimestre de 2008 ainda produzirá efeitos por mais alguns anos. Um montante enorme de capital foi "queimado", o que reduz a capacidade do sistema financeiro privado financiar o consumo e o investimento;

2. A perda de capital do sistema financeiro privado se transformou numa crise fiscal de Estados de vez que recursos públicos foram utilizados para resgatar, mesmo que imperfeitamente, o sistema privado. Assim...

3. A capacidade de consumo e investimento público também estão limitados, o que limita a criação de emprego via dispêndios públicos;

4. As taxa de desemprego das economias centrais devem permanecer elevadas por alguns anos, até que a produtividade (mais produção com o mesmo quantum de fatores de produção) cresça. O efeito é que o consumo está estagnado;

5. Faltam lideranças políticas capazes de mudar as expectativas dos agentes e, com efeito, alterar a debilitada confiança de consumidores e investidores;

6. Não houve alteração significativa na forma de operar dos mercados. Os reguladores não conseguiram alterar politicamente e de forma significativa os riscos sistêmicos relacionados à má alocação de recursos, sobretudo no que tange à especulação;

7. O preço do petróleo, bem acima de US$ 100/barril, retira ainda mais o poder de compra dos consumidores dos países centrais.

O pior já passou? (II)

Em larga medida os fatores de risco acima mencionados continuam presentes no cenário mundial e estão ainda a espalhar seus efeitos, desta feita sobre os países menos desenvolvidos (ou emergentes) dentre os quais o Brasil, a China e a Índia. Estes últimos começam a dar sinais de que vão crescer menos do que se projetava há poucos meses, sobretudo a China, que ainda cresce muito, mas bem menos (para os padrões chineses) quando se analisam os últimos trimestres em relação aos imediatamente anteriores. Paradoxalmente, é possível, e até mesmo provável, que os ativos reais e financeiros dos países mais implicados com a crise se valorizem. Isso se deve não propriamente em função de uma mudança estrutural nos frágeis fundamentos, mas em função da queda do risco espelhado na volatilidade dos mercados. Cai o risco, sobem os preços. É este fenômeno que estamos a identificar nos diversos segmentos do mercado acionário norte-americano, especialmente o de empresas tecnológicas (NASDAQ). No caso dos EUA, há tênues sinais de recuperação, mesmo que não sejam ainda seguramente promissores. Assim sendo, a nossa melhor visão indica que se esta calmaria atual permanecer mais algum tempo, o valor dos ativos vai subir ainda mais. Não é o caso de se desprezar os significativos riscos. Todavia, não é o caso de majorá-los.

O pior já passou? (III)

Na opinião da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, já está passando sim. Embora alertando que há ainda muito o que fazer, ela percebe "os mercados financeiros estão mais calmos e os indicadores recentes sugerem um pequeno ímpeto na atividade econômica, basicamente nos Estados Unidos" e que "existem sinais de que as fortes ações de política econômica - especialmente na Europa - estão fazendo a diferença".

O BC: mais transparente e menos soberano

O anúncio da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do BC deixou ao mercado o entendimento de que a taxa básica de juros cai para o patamar de 9% e por aí fica por um bom tempo. Há quem critique o BC por esta linguagem "surpreendente". A nosso ver não há propriamente uma "surpresa". A mudança da linguagem da autoridade monetária, mais transparente e previsível, chega em boa hora. O futuro não é tão opaco desde 1929 e os BCs de todo o mundo têm procurado demonstrar que estão mais ocupados com a recessão que com a inflação. Para isto tem inovado na linguagem abandonando as frases mais tradicionais de seus informes. O Brasil segue esta linha e está correto. O que nos parece mais preocupante é que esta positiva mudança vem acompanhada por uma desconfiança crescente de que a soberania operacional do BC está mais reduzida. O governo parece interessado em dar as cartas na política monetária e isto não é institucionalmente interessante, sobretudo quando os problemas estruturais da economia brasileira estão se multiplicando e contaminando as expectativas dos agentes ansiosos por investir. O governo precisa mostrar que está operando para minorar os riscos macro e microeconômicos da economia brasileira, sem retirar da autoridade monetária a necessária soberania operacional para agir em favor do real. A bola esta com o Planalto e não com o BC.

E a caderneta de poupança?

Ou o governo propõe uma mudança em relação à remuneração da caderneta de poupança ou a política monetária do BC ficará limitada no que se refere à redução dos juros. Dificilmente isto ocorrerá nestes meses pré-eleição, mas esta questão é urgente e necessária.

O rumo do câmbio

É certo que o governo tem um "arsenal" para tentar controlar a valorizada taxa de câmbio. Isto não significa que as medidas combinadas com vistas a este objetivo vão funcionar bem, sobretudo porque os efeitos são bem elásticos, seja sobre o mercado financeiro, seja sobre a economia real. O maior risco de todos, a nosso ver, é que uma queda mais forte dos preços das commodities possa desvalorizar mais velozmente o real. Neste caso, podemos ter o recrudescimento da inflação e os consequentes efeitos sobre a taxa de juros. E o tal do "arsenal" pode ser inútil e o BC talvez tenha de mudar sua postura de acomodação monetária mais rapidamente. É lógico que estamos falando de uma hipótese ainda não muito visível, mas o governo deveria examinar esta possibilidade para fins de estabelecer políticas macroeconômicas que evitem riscos exacerbados.

A gerente e o seu perfil político

Ao que parece a presidente gostaria de projetar para o seu imenso eleitorado a imagem de "gerente" em detrimento da de "líder política". O noticiário carregado de informações que dão conta de atrasos significativos no cronograma de obras indica que o perfil tecnocrático pretendido pelos viventes palacianos de Brasília está distorcido e pode contaminar o eleitorado mais à frente. Como as coisas não vão bem também na arena política, há perda de identidade por parte da presidente. Apesar disso, Dilma goza de invejável taxa de aprovação popular por conta do "bom desempenho econômico". O fato é que a taxa de emprego está menos exuberante e os ganhos de renda andam caindo. A paciência popular pode tomar o sentido contrário e resvalar na popularidade presidencial. O governo talvez esteja exagerando na crença de que são imbatíveis. Mas enquanto o amparo popular bafejar a presidente, a rebeldia de seus aliados - entre os rebeldes inclua-se parte do PT - será limitada.

Dilma em seus labirintos

Segundo tese que as fontes oficiais fazem questão de alimentar, a mais recente crise política que Dilma está enfrentando com seus parceiros é uma "crise da política" (ou dos partidos), sem maiores consequências. Coisa de estômagos ávidos e mau atendidos. Não é bem assim, porém, no mundo real, embora a dose de fisiologismo esteja na origem das rebeliões contra a presidente. Tudo isso gera prejuízos sim, imediatos e de longo prazo:

1. A necessidade de nomear gente não qualificada para cargos no Executivo e de manter ministérios e órgãos e secretarias inúteis torna o governo mais ineficiente ainda do que qualquer governo normalmente já é e encarece seu custo para a sociedade.

2. Por causa desses desarranjos, o governo já desistiu de levar adiante qualquer uma das reformas estruturais que dariam mais segurança à economia nacional. A reforma tributária se restringirá, se ocorrer, apenas ao fim da guerra do ICMS entre os Estados; a reforma política dorme em berço esplêndido; a previdenciária vai se resumir à criação do fundo de aposentadoria dos servidores federais; a trabalhista e sindical a presidente acaba de descartar em conversa semana passada com líderes sindicais. E assim por diante.

3. A ANTT já está parada, por falta de quorum em sua diretoria para tomar decisões colegiadas.

4. Dificilmente será votado antes de julho o Código Florestal.

5. As novas regras de distribuição dos royalties do petróleo continuam suspensas, com prejuízos para os Estados e municípios que reivindicam parte desses recursos e atrasos na licitação de novas áreas para exploração.

O fisiologismo e a articulação política, ao contrário do senso comum, tem um custo elevadíssimo, não são para serem tratadas como "coisas da politiquinha".

Não é dela apenas

A crise que Dilma vem enfrentado praticamente desde que tomou posse, em intervalos cada vez menores entre um episódio e outro, não é uma crise do governo Dilma somente, embora a situação se agrave pelo estilo da presidente. É uma crise do "sistema político" de partilha do poder com um carrilhão de partidos. A presidente pode até mudar isso. O problema é que...

...Dilma é de choque

Dilma parece não admitir ser contrariada. Lula também não. Que o diga o senador Eduardo Suplicy, no index lulista desde que ousou disputar as prévias presenciais petistas com o ex-presidente em 2002. Só que Lula tinha jogo de cintura elástico, sabia como poucos usar o bambolê da política. Como se diz popularmente, fazia com a arte do limão uma limonada. Dilma até agora só mostrou que é capaz de fazer da limonada um limão. Carrega ressentimentos e os expõe, às vezes com truculência, como se deu agora na demissão dos líderes. Mantém ministros sob permanente tensão, com cenas de humilhação diante de terceiros. Está colhendo os azedumes que espalha.

Líderes sem liderança?

Eduardo Braga (Senado) e Arlindo Chinaglia (Câmara) vão ter de esforçar muito para confirmarem na prática a liderança que Dilma lhes entregou. Nenhum dos dois é conhecido por sua habilidade política, ambos costumam ser ásperos e ríspidos, ao contrário de seus antecessores, Romero Jucá e Cândido Vaccarezza. Mas Dilma não levou para casa o desaforo da derrota de Bernardo Figueiredo (ANTT) no Senado nem as conversas de Vaccarezza com os ruralistas para tentar mudar o texto do Código Florestal aprovado pelo Senado. Deu o rompante e até terá de segurar a ventania. Ontem, segunda-feira, ela já se meteu diretamente nas negociações para a aprovação da Lei Geral da Copa, ação que até agora evitava fazer. Vai ter se se meter cada vez mais.

Em fogo brando

Piora a situação o fato de a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, por culpa de seu estilo não raras vezes grosseiro, não estar mais nas graças de seus liderados. Ideli está sendo cozinhada em banho-maria por gente de diferentes partidos. Se não mudar, o óleo pode ferver e vai ser outra enxaqueca para Dilma.

Eduardo tropeça

Não foi muito feliz o senador Eduardo Braga em algumas de suas primeiras declarações como novo líder do governo no Senado, ao dizer coisas como, por exemplo, "a política do 'toma lá, dá cá' está no passado" e "os partidos terão direito de indicar, mas dentro de um novo contexto". Primeiro, é confessar que esta prática era normal, o que a presidente sempre fez questão de negar. Segundo, porque vai irritar os parceiros, que também detestam se apontados publicamente como fisiológicos. E terceiro, porque não é real: um governo que acaba de nomear o senador Marcelo Crivella para o inútil ministério da Pesca e se prepara para recolocar o PDT no ministério do Trabalho única e exclusivamente para adular aliados, não está mudando nada. E os aliados tanto sabem disso que vão continuar chiando e levando. O novo slogan do franciscanismo político pode até ser este: "É chiando (ou chantageando) que se recebe".

Este sabe o certo

Veja-se o PMDB nesta história: está amuado, mas ficou quietinho, pois sabe que as mudanças vieram para tudo permanecer como está. O PMDB teme mesmo é que tentem lhe "roubar" a presidência da Câmara (e até a do Senado) em 2013 e a vice-presidência da República em 2014.

Troco na agulha

Para lembrar a presidente Dilma de que ele existe, é forte e merece ser bem tratado, o PMDB já prepara uma armadilha para o Palácio do Planalto: escolhido por Renan Calheiros para relatar o Orçamento da União de 2013 no mesmo dia em que foi escorraçado a liderança do governo no Senado, Romero Jucá estuda a possibilidade de tornar as normas do orçamento impositivas e não apenas autorizativas. Hoje, pela lei, o governo é "autorizado" a gastar tanto em tais lugares. Não está obrigado. Se o Orçamento virar impositivo, ele terá de cumpri-lo rigorosamente. Uma camisa de força para a gestão da economia. E um possível desastre pela forma pouco séria como o Congresso trata do assunto. Mas o PMDB sabe como pouco criar o perigo para depois salvar a "mocinha".

Haddad na UTI

Lula não terá muito tempo de sossego quando for liberado pelos médicos até o fim desse mês. A candidatura do ex-ministro Fernando Haddad à prefeitura de SP inspira sérios cuidados. E somente Lula, com muito esforço, pode tirá-la da UTI. Baixou o desânimo em uma parte dos petistas. E há petistas com indisfarçável sorriso de vingança, com cara de "eu não avisei". Para mal de todos os pecados do ex-ministro, seu substituto na Educação, Aloizio Mercadante, sem querer ou querendo, está "desconstruindo" sua gestão aos poucos.

Depois é que serão elas

Tudo indica que Serra levará as prévias do PSDB paulistano neste domingo, contra os seus dois contendores na disputa, o deputado Ricardo Trípoli e o secretário estadual José Aníbal. Mas o processo todo, até pela ação tortuosa de Serra, deixará sequelas. E Serra nunca foi bom aparador de arestas. Pelo contrário.


(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)

segunda-feira, 19 de março de 2012

MEU BOM JOSÉ

Tomara que chova hoje,

Em meu querido rincão

Quero fartura de milho,

Pras bandas do meu sertão.

Apostando em São José

O santo que tenho fé.

Vou fazer minha oração.

*

Meu querido São José,

Mande chuva de verdade

Pra nascer milho na roça,

De mim tenha piedade!

Quero pular a fogueira,

Comer milho e macaxeira,

Quero matar a saudade.

*

Dalinha Catunda

domingo, 18 de março de 2012

SERRA DO LUAR




Amor, vim te buscar
Em pensamento
Cheguei agora no vento
Amor, não chora de sofrimento
Cheguei agora no vento
Eu só voltei prá te contar
Viajei...Fui prá Serra do Luar
Eu mergulhei...Ah!!!Eu quis voar
Agora vem, vem prá terra descansar

Viver é afinar o instrumento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

Amor, vim te buscar
Em pensamento
Cheguei agora no vento
Amor, não chora de sofrimento
Cheguei agora no vento
Eu só voltei prá te contar
Viajei...Fui prá Serra do Luar
Eu mergulhei...Ah!!!Eu quis voar
Agora vem, vem prá terra descançar

Viver é afinar o instrumento (de dentro)
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

Autor: Walter Franco
Voz: Leila Pinheiro