sábado, 1 de dezembro de 2012

AQUARELA DO BRASIL INSTRUMENTAL

Artur da Távola costumava dizer que "Música é vida interior. E quem tem vida interior jamais padecerá de solidão!"

Mais ninguém precisa dizer. Considerando que hoje é sábado, vamos nos entregar aos embalos da boa música:

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

SECA NÃO É CHORO DE POETA



Se seca fosse só lenda

Ou canto de nordestino

Bardo chorando o destino

Em rimas numa contenda

Para ganhar grana ou prenda,

O que avistei no sertão

Seria só ilusão,

Loucura de minha mente,

Que com certeza demente

Só ver alucinação.

*

Você que fala em progresso,

Projeto de irrigação

Vá visitar meu torrão

Porque lá terá acesso

Ao mais penoso processo

Duma seca de amargar,

Gado querendo pastar,

Açude virando lama

E quando um vate reclama,

O doutor chega a zombar.

*

O orvalho ao amanhecer

Alegra o olhar cansado

Do camponês esforçado,

Que nem sabe o que fazer,

Vendo o sol resplandecer,

De água só seu suor

O mundo já foi melhor

Diz olhando para o céu

E abraçando seu chapéu

Da vida espera o pior.

*

Por isso caro doutor

Faça um trabalho de campo

Pegue com gosto no trampo

Eu lhe peço, por favor,

Só assim vou dar valor

As lições que você dita

Conheça nossa desdita

Para dar opinião

Visite o meu sertão

Não queira só fazer fita.

*

Texto e foto de Dalinha Catunda

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

A Procissão

Abro a coluna com pequena homenagem à Mangueira. Qual delas?

A solene procissão descia uma rua do RJ numa Semana Santa, a imagem de Nossa Senhora no andor carregado por homens contritos. Foi quando saiu um bêbado de um boteco e gritou: "Olha a Mangueira aí, gente!". Os olhos do padre e de seus fiéis faiscaram de indignação diante da insolência de comparar a procissão a uma escola de samba. O bêbado insistiu: "Olha a Mangueira aí, gente!". Alguns metros abaixo, um barulho - a imagem da santa espatifou-se contra um galho de árvore. E o bêbado voltou vitorioso:

- Eu bem que avisei que tinha uma mangueira aí, gente !

(Enviada por Luciano Ornelas)

Os pepinos de Rosemary

A ex-chefe do escritório da presidência em SP, Rosemary Noronha, parecia inabalável no cargo. Nomeada por Lula, endossada pela presidente Dilma, amiga do ex-ministro José Dirceu, com quem trabalhou, tinha imagem de poderosa e voluntariosa. Indiciada pela PF na Operação Porto Seguro, que apura um esquema de fraudes em pareceres técnicos de órgãos públicos com a finalidade de beneficiar empresas privadas, foi demitida. Há suspeição sobre sua conduta. Sua filha, Mirelle, também foi demitida da ANAC, onde tinha cargo comissionado. Impressiona, porém, a agilidade da presidente Dilma. Passou a faca rapidamente no cancro descoberto. Os pepinos de Rosemary até poderão ter desdobramentos. Mas a maneira de Dilma administrar crises e tensões é bem diferente do modo mais complacente dos tempos de Lula.

Classe média

A estratégia de demitir quadros e mandar apurar rapidamente os casos nebulosos é bem usada pelo governo para causar boa impressão nas classes médias.

Lula traído?

Lula teria se sentido "apunhalado pelas costas". A punhalada, no caso, teria sido desfechada pela Rosemary. Mas a expressão, de tão banalizada por políticos que se dizem petrificados por absurdos atos cometidos por pessoas próximas, perdeu o crédito. Virou escudo expressivo de proteção. Luiz Inácio, protegido pelo carisma e admiração de galeras de todos os patamares, pode dar-se ao luxo de se valer do batido refrão.

Imagens no alto

Pergunta insistente ao consultor: o que explica a alta avaliação da presidente Dilma e do ex-presidente Lula pela sociedade? Resposta recorrente: a geografia do agradecimento. Que obedece aos seguintes espaços: bolso, estômago, coração e cabeça. Bolso com grana do Bolsa Família significa geladeira bem provida; geladeira cheia propicia barriga satisfeita; barriga satisfeita amolece o coração; coração agradecido envia estímulos à cabeça. Que, ao final do percurso, decide aprovar a administração dos pais e mães do Bolso com a grana do Bolsa Família e programas congêneres.

Mensalão no fim

Joaquim Barbosa, agora como presidente, vai cumprir a liturgia do cargo. Menos exasperação e mais comedimento. Sem transigir com a firmeza. O mensalão vai chegando ao seu final graças à maneira como Carlos Ayres Britto o conduziu. Dele, pinço trecho do meu último artigo: "Lhaneza, cordialidade, simplicidade, disciplina, capacidade de juntar os contrários emergem como virtudes desse magistrado, cujo pendor para a contemplação e meditação, sob um véu de espiritualidade, funcionou como eixo de equilíbrio e luz do bom senso. Quase um milagre, por se saber que, naquele ambiente, os egos tendem a se inflamar...".

"Não perdi a viagem"

"... Há pouco mais de três meses, ao chamar para si a responsabilidade de comandar o julgamento da mais emblemática ação penal do Supremo e o maior caso de corrupção no Brasil, o baixinho poeta Britto parecia navegar sozinho num oceano de descrença. Hoje, com o processo na reta final, sai sob aplausos, reconhecido como magistrado que honrou a toga, um ser profundamente arraigado nas raízes do humanismo, capaz de colorir a práxis do cientista jurídico com as cores exóticas da física quântica, tudo isso embalado na expressão da alma poética. Feliz, confessa: 'não perdi a viagem'. Sim, o país também. Que o acompanhou no caminhar do avanço". (Trecho do meu artigo de domingo passado)

O foco de Joaquim

O presidente Joaquim Barbosa fez um discurso simples e direto em sua posse no STF. Pinço como destaque a parte em que promete fazer uma devassa nos Tribunais para apurar desvios de conduta, a partir do tráfico de influência exercido principalmente por parentes de juízes. Disse ele: "É preciso reforçar a independência do juiz. Afastá-lo desde cedo das más influências". Barbosa criticou a promoção de juízes de primeiro grau por interesses políticos. "Nem todos os brasileiros são tratados com igual consideração quando buscam o serviço público da Justiça".

Coisa de músico

O pianista Helvius Vilela, conhecido por acompanhar Carlos Drummond de Andrade na leitura de algumas de suas poesias num disco, costumava exagerar na bebida. Certa noite passou da conta, os donos da festa decidiram se livrar do incômodo e o colocaram dentro de um táxi. Ao que o motorista perguntou:

- Para onde, senhor?

E ele respondeu:

- Sabe-se lá...

E ali ficaram até de manhã, quando o músico recuperou sua provável sobriedade.

(Da lavra de Luciano Ornelas)

Economia sob controle

Se a economia continuar sob firme controle, mesmo com crescimento abaixo das expectativas, os horizontes de 2014 serão muito favoráveis ao situacionismo. Em outras palavras, a presidente Dilma continuará no assento.

Economia destrambelhada

Se a locomotiva econômica não conseguir segurar os trens no trilho, as oposições poderiam vislumbrar uma chance. E pensar na cadeira do Planalto.

Mas...

Há um porém no meio das oposições. Quem seria o candidato a reunir as forças oposicionistas? Aécio Neves? Ao senador mineiro, falta discurso. Parece muito despreparado. Às oposições, falta um projeto de país. Tem projeto de poder, mas não um projeto de Nação. Eduardo Campos? Ora, esse governador do PSB não tem força no Sudeste. Marcio Lacerda, prefeito de BH, seria seu cabo eleitoral na região, dizem. Ora, Marcio não é extensão de Aécio Neves, do PSDB?

PMDB e PT

A cada dia, consolida-se parceria entre PMDB e PT. Do ponto de vista imediato, isso significa apoio petista à eleição de Henrique Alves e Renan Calheiros, ambos do PMDB, às presidências da Câmara e Senado. PMDB seria o principal parceiro da base governista. E garantiria a vaga para Michel Temer em 2014. Aliás, o vice tem tido uma atuação discreta. E com uma imensa pauta de responsabilidades. A presidente Dilma tem atribuído a Michel Temer importantes missões na frente das representações do Estado e do governo brasileiros em importantes países, como China, Rússia, Itália, México, entre outros.

Bizarro - I

Se a Anvisa conseguir proibir a venda de álcool líquido no comércio - contra a vontade e a experiência das donas de casa -, o país pode assistir a um espetáculo inusitado. Como é o mesmo produto que abastece os automóveis, antevê-se uma fila de senhoras com vasilhas nas mãos para comprar álcool em postos de gasolina. Embora não tenha critérios nessa questão do álcool, deve-se considerar que a Anvisa é muito criativa: será assunto em todos os meios de comunicação em que haja uma coluna chamada "Insanidade".

Bizarro - II

Para ilustrar seu parecer pela inconstitucionalidade de uma lei que tenta proibir o uso do amianto em São Paulo, o ministro Marco Aurélio de Mello, do STF, valeu-se do exemplo do famoso caso do Césio 137, em Goiânia. Carroceiros encontraram um aparelho usado em radioterapia abandonado nas ruínas do Instituto Goiano de Radioterapia e o revenderam ao dono de um ferro velho. Desconhecedor do risco, o homem retirou o césio do invólucro de chumbo e utilizou-o para diversas finalidades. Segundo estimativas, 112.800 pessoas foram afetadas pela radiação de apenas 93g de Césio 137. Morreram o dono do ferro velho, a esposa e a filha. "Presente o quadro, indago: seria o caso de banir os aparelhos de radiografia do país?". Evidente que não, conclui. É este o caso: é provável que alguns "mais tontos" tenham se queimado com álcool líquido ao tentar acender a churrasqueira quando não deviam. Agora, a Anvisa quer banir o álcool líquido no país. A Anvisa caminha de um lado, a Justiça de outro.

Alckmin em apuros?

Depois de frequentar por largo tempo os espaços dos Céus, o governador Geraldo Alckmin inicia uma trajetória pelo inferno. Os astros parecem conspirar contra ele. Sem um grande eixo positivo, o governador paulista arrisca-se a ser embalado pelo véu sangrento. Em SP, a violência assume proporções e catástrofe. Apesar de números não tão extraordinários em se tratando de Brasil. Mas a mídia está pondo lenha na fogueira. E se isso ocorrer, adeus reeleição. Adicione-se o fato de que os tucanos começam a sofrer em SP os efeitos da corrosão de material. São quase 20 anos de poder. O povo gosta de testar novas páginas no livro da governança.

Você tem razão

"Getúlio defendia a tese segundo a qual não devia ter nenhum amigo de que não pudesse se desfazer, e nenhum inimigo do qual não pudesse se aproximar. Foi amigo e inimigo de João Neves da Fontoura, José Américo de Almeida, Adhemar de Barros, Juarez Távora, Borges de Medeiros, Juracy Magalhães, Eduardo Gomes, Eurico Gaspar Dutra. Sua capacidade de não tomar posição quando não queria era lendária. Conta-se que, certa vez, recebeu um político, ouviu-o e, no final, lhe disse que tinha toda a razão. Logo depois, recebeu o principal adversário deste político, ouviu-o e também lhe deu razão. Alzira, sua filha (que seria esposa de um governador do Rio, Amaral Peixoto, e sogra de outro, Moreira Franco), estranhou: "Papai, o senhor ouviu duas histórias opostas e deu razão aos dois!". Getúlio, sorridente: "Sabe que você também tem razão ?". (De Carlos Brickmann em A vida é um palanque)

PSB gera desconfiança

Após reinar por um tempo no alto da visibilidade, Eduardo Campos e seu PSB começam a ser olhados com desconfiança. O deputado Julio Salgado, do PSB mineiro, vê despencar sua candidatura à presidência da Câmara. Eduardo flerta com as oposições e tenta convencer que continua sendo um bom aliado do governo Dilma. Para tanto, usa a amizade que conserva com Lula. Mas o governador pernambucano acaba expandindo a distância do Palácio do Planalto.

Kassab na base A

O prefeito Gilberto Kassab confessa que já cumpriu todos os compromissos que tinha com Serra. Agora, vai alargar seu próprio caminho. Seu partido, PSD, será aliado do governo. Dilma convidou Kassab para compor o Ministério. Educadamente, o alcaide não aceitou com a justificativa de que gostaria de tempo para se habilitar a uma candidatura majoritária em 2014. Nos cargos de governador ou senador. Mas seu partido aceita o convite e indicará um nome. A propósito, o prefeito tem procurado o PMDB para formar uma ampla parceria em torno dos projetos de 2014.

Lutem, pediu Hakim

Hakim gostava de passear à noite usando todos os tipos de disfarces. Numa dessas caminhadas noturnas, numa colina próxima ao Cairo, ele encontrou dez homens bem armados que o reconheceram e que lhe pediram dinheiro. Ele lhes disse: "Separem-se em dois grupos e lutem uns contra os outros; quem sair vencedor receberá dinheiro de mim". Eles obedeceram e lutaram com tanto ímpeto que nove deles perderam a vida.

Trucidem, ordenou Hakim

Ao que sobreviveu Hakim lançou uma grande quantidade de peças de ouro que carregava na manga. Mas, enquanto o homem se agachava para recolhê-las, Hakim mandou que fosse trucidado por seus criados. Desta forma ele demonstrou sua clara compreensão do processo da sobrevivência; ele o gozava como uma espécie de representação que ele mesmo provocava e, no final, o aniquilamento do sobrevivente ainda servia para lhe dar alegria. (De Elias Canetti em Massa e Poder)

Conselho ao Ministro Barbosa

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos vereadores eleitos. Hoje a atenção se volta ao ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF:

1. O Brasil espera que continue a cumprir sua missão com renovada força. Mas a liturgia do cargo impõe atitudes menos nervosas e destemperadas.

2. Junte forças e convoque a sociedade para alcançar a meta de passar uma vassoura no lixo que se esconde em alguns corredores do próprio Poder Judiciário.

3. Continue a abrir as portas da Alta Corte de forma que ela possa absorver as temáticas de alta prioridade para a harmonia e o equilíbrio social.

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(Gaudêncio Torquato)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

LIÇÕES DE VIDA!



Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!/ (...) Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!/ A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,/ É um seio de mãe a transbordar carinhos./ Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos...

Suponho que foi no período da escola primária quando tive o primeiro contato com os versos triunfalistas de Olavo Bilac sobre a pátria. Impregnou-se à pele de minha alma – qual uma bendita tatuagem! – esse apelo amoroso. Nasci na fazenda Mondubim, que dista 23 quilômetros da cidade de Crateús. Aquele casarão em que me puseram pela primeira vez em interação com este mundo nunca se despregou da minha memória. Nos últimos anos tive a oportunidade de constantemente revisitá-lo. Visitar o Mondubim é, para mim, manter permanentemente úmidas as genuínas raízes, molhadas pelas águas sentimentais da infância.

Sucede que, além de mergulhar nos balseiros originais, aproveitava para pedir a benção da minha avó, Raimunda Rodrigues Bonfim, a Missanta, e desfrutar do manancial de sua sabedoria existencial. Ela deixou o nosso convívio no último dia 16 de novembro de 2012.

Sua lembrança e seu legado de ensinamentos permanecem como uma cacimba inesgotável naquele árido sertão. Causou-me estupefação aquela simples mulher, desprovida de discos e livros, distante dos sofisticados laboratórios de cultura formal, ser detentora de um corolário extraordinário, um tão seleto celeiro de lição vital.

Destaco três facetas suas, dentre muitas que me impressionavam: a primeira diz respeito à sua construção pessoal; a segunda, o talento convivencial e a terceira, a sua compreensão da morte.

Missanta regava, com igual zelo, os jardins interior e exterior. Cuidava do caule e do casco da sua árvore pessoal. Sabia que o acaso - na comunicação religiosa chamamos Deus - a protegia. Além da essência, cuidava da aparência. Era vaidosa, no bom sentido. É. Assim como existe o bom colesterol, existe a boa vaidade. Certa feita, admirada com um vestido usado pela apresentadora Fátima Bernardes, encomendou a confecção de um similar. Estava vestida nele quando foi enterrada. Por isso estava bela.

Outra de suas habilidades era a de evitar conflitos. Quando estava rodeada de pessoas, era habituée observar as reações, medir as palavras e se portar de modo a não ferir ninguém. Os conflitos, os embates, as imposições de vontade, os confrontos e dissensos são sempre o caminho mais curto para a solução de problemas. Aparentemente, é o percurso mais lógico e racional. Seguramente, o menos civilizado e inteligente, também. O respeito à pluralidade, a incorporação dos diferentes, a construção de consensos constitui uma vereda mais longa, exigente, difícil e vagarosa. Porém, é a estrada da sabedoria. Foi a que Missanta resolveu trilhar.

O terceiro – e não menos surpreendente – farol de sua personalidade foi a maneira como encarou a morte. Acompanhando o jeito Tibetano (oriental) de encarar a morte, a jornalista Maria Fernanda Vomero chegou à seguinte conclusão: “A morte faz parte da vida. Todos começamos a morrer exatamente no dia em que nascemos. A morte, portanto, é um etapa da nossa existência com a qual temos que conviver. Pode-se conviver melhor ou pior com ela. Mas não se pode evitá-la. (...) Mas o fato é que todos nós estamos programados para nascer, crescer e morrer – uma obviedade esquecida por boa parte da sociedade ocidental contemporânea, que teima em ver a morte como um evento artificial, inesperado e injusto. Sobretudo, costumamos vê-la como um evento exclusivo, pessoal, que isola quem sofre uma perda, por meio da dor, do resto do mundo. Quando, ao contrário, não há nada menos exclusivo do que morrer”.

Pouco antes morrer, Missanta sofreu três paradas cardíacas. Na última, mirou o médico e falou lucidamente: - “Doutor, minha hora chegou! Diga para a minha família que vou em paz”. E fechou os olhos.

Cuidar de si mesmo - zelar pelo templo pessoal; ajudar na preservação da praça da integração social – conviver bem com o próximo; ter plena consciência da morte como algo inevitável - que deve ser encarada com serenidade – são três das muitas lições de vida que a matriarca do Mondubim nos ofertou.

Missanta, que por um eflúvio de graça veio a ser minha avó, foi uma mulher exemplar. Aproveitou até a morte para fazer uma homenagem à vida!


(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

OBSERVATÓRIO

Na segunda-feira, dia 19 de novembro, o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) reuniu os Prefeitos cearenses eleitos e reeleitos este ano para apresentar ações e distribuir uma cartilha de orientação aos novos mandatários. A Corte de Contas, ciosamente presidida pelo crateuense Manoel Veras, foi destaque nacional na atual gestão, obtendo inclusive premiação inédita. Além de aprofundar o processo de modernização do órgão, Manoel Veras intensificou as atividades fiscalizatórias e tem agido proativamente para evitar o desmonte nas Prefeituras. Sem se falar que, na última eleição, o TRE Cearense foi o mais operoso na aplicação da Lei da Ficha Limpa graças à atuação do TCM, que forneceu a mais expressiva lista de inelegíveis do País.

APRECE

O prefeito Carlos Felipe articula candidatura à Presidência da entidade que congrega os prefeitos cearenses, APRECE. Ao lado da atual Presidenta da Instituição, Eliene Brasileiro, Felipe cumprimentou o Presidente do TCM, Manoel Veras. Se eleito, o Prefeito de Crateús ganhará visibilidade estadual. Pavimentará o caminho para uma futura candidatura a Deputado. No entanto, para disputar uma vaga proporcional nas próximas eleições, Felipe terá que renunciar ao comando do Executivo Municipal daqui a pouco mais de um ano. E Mauro Soares se efetivará na Chefia da Municipalidade com direito à reeleição.

NOVOS PREFEITOS

Há um clima de muita expectativa na região em torno dos novos prefeitos. Alguns têm experiência anterior; outros não. Em Ipaporanga, o ex-prefeito Toinho Contábil assume consciente que os tempos são diferentes do período em que esteve à frente daquela Prefeitura, nos anos de 1993 a 1996. Tony Jorge, que dirigirá Catunda pela segunda vez, vive situação parecida. Jeová Madeiro, filho do ex-prefeito Chico, em Monsenhor Tabosa, apesar da juventude da idade, também sabe dos desafios que o aguardam. O advogado Ramiro Júnior, em Tamboril, é um político com traquejo no Legislativo e no Executivo. Nova Russas reacende as esperanças com o empresário Gonçalo Diogo. O contador Aristeu, que dirigirá a Prefeitura de Ararendá, tem os pés no chão. Na Poranga, o doutor Carlisson, apesar de suceder um aliado, pretende fazer muitas inovações.

NOVOS PREFEITOS II

Novo Oriente é um caso atípico. O próprio grupo, que comanda o município há 24 anos, avaliou que devia deixar o Prefeito eleito Godô totalmente livre. E este estuda significativas mudanças. Em Quiterianópolis, o médico José Barreto Couto Neto, o doutor Barreto, também sabe dos enormes obstáculos que haverá de transpor. Patrícia Aguiar, detentora da mais expressiva maioria em Tauá, sabe que terá fazer mais do mais. Sua meta é ousada: elevar o grau de excelência de um modelo de gestão muito bem avaliado.

NOVOS PREFEITOS III

De toda a região, Independência é o único município que até poucos dias tinha duas candidaturas com decisões judiciais desfavoráveis proferidas pelo Juiz Eleitoral Cesar Morel de Alcântara. Porém, em relação ao Prefeito eleito Valterlin, o TRE reformou a decisão do Juiz. Assim, é certo dizer que inexiste óbice legal à diplomação de Luiz Valterlin Coutinho. Todos sabem que Valterlin, em função dos problemas de saúde que o acometeram, enfrentou a mais adversa das campanhas, razão pela qual sua posse está cercada de muitas esperanças.

MACHADO

Nos últimos dias foram frequentes as informações dando conta da morte de pessoas amigas e queridas. Uma delas foi Antonio Silva Machado. Vereador por vários mandatos, Antonio Machado era um sujeito do bem, detentor de voz potente e elegante, que chegou inclusive ao comando do Legislativo Municipal. Tive a oportunidade de com ele conviver por muito tempo. Amava a política. Adorava servir às pessoas. Distanciava-se das polêmicas inúteis. Costumava fazer uso dos dotes de oratória para propagar boas notícias. Minhas condolências à família.

RAIMUNDINHO

O poeta Raimundo Cândido, o mais emblemático exemplo da germinação literária e cultural insuflada pala Academia de Letras de Crateús (ALC), lançou dia 17 de novembro pretérito o livro "Cratheús - Do Portão da Feira aos Galos das Torres", uma coletânea de crônicas sobre a terra do Senhor do Bonfim. Terceira de suas obras literárias, o livro será em breve lançado aqui em Fortaleza.

PARA REFLETIR

"Deixamos as sementes plantadas, e mais do que nunca percebemos o valor daquela sua proposição máxima: Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. Lembra-se!" (Raimundo Cândido)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

JUSTIÇA PARA TODOS

Ao tomar posse na presidência do Superior Tribunal Federal, o ministro Joaquim Barbosa terá como missão consolidar a identidade da corte constitucional, preservando a mais respeitada imagem entre os poderes da República e os órgãos a serviço do Estado.

O elevado patamar de respeito alcançado pelo STF não é resultado, apenas, do julgamento da Ação Penal 470, em fase de conclusão, mas a um gradativo processo de reconhecimento por parte da sociedade às suas corajosas decisões.

Nos últimos anos, importantes temáticas acenderam o debate público, bastando lembrar questões como racismo e antisemitismo, progressão do regime prisional, fidelidade partidária, lei da Ficha Limpa, proibição de nepotismo na administração pública, direitos dos índios, direito de greve dos servidores públicos, interrupção da gravidez de feto anencéfalo, uso de células tronco embrionárias humanas e relações homoafetivas, entre outras.

O chamado mensalão coroa o ciclo de percepção social sobre a Suprema Corte, pelo fato de desfazer a cultivada impressão de que, por aqui, poderosos costumam se desprender das teias da lei e pelas implicações político-partidárias que deflagra.

As críticas feitas pelo Partido dos Trabalhadores à condução do julgamento que “condenou e imputou penas desproporcionais a alguns de seus filiados”, por mais que se desdobrem em atos internos de protesto ou externos de apelação a organismos internacionais (iniciativa de pouco crédito), não conseguirão empanar a aura que envolve nossa mais alta Corte.

Por isso mesmo, faz sentido acreditar que a semente moral semeada pelo corpo de ministros na seara política deverá alterar comportamentos de representantes e governantes, cientes de que, doravante, deverão cuidar para não ultrapassar limites no campo de costumes e práticas.

Ao novo presidente Joaquim Barbosa, compete, pois, zelar pela densa base de respeito conquistada pela Casa, para a qual, aliás, ele contribuiu com a argamassa de seu relatório sobre o mensalão.

Impõe-se, agora, um comportamento ancorado nas regras ditadas pela liturgia do cargo e o empenho para atingir a elogiável e anunciada meta de acelerar o processo decisório para dar vazão a milhares de processos que se acumulam nos gabinetes.

Dito isto, registre-se o papel do presidente que deixa a Corte, tangido pela compulsória, o sergipano Carlos Ayres Britto, que merece loas pela maneira com que conduziu o julgamento da Ação Penal 470. Lhaneza, cordialidade, simplicidade, disciplina, capacidade de juntar os contrários emergem como virtudes desse magistrado, cujo pendor para a contemplação e meditação, sob um véu de espiritualidade, funcionou como eixo de equilíbrio e luz do bom senso. Quase um milagre, por se saber que, naquele ambiente, os egos tendem a se inflamar.

Há pouco mais de três meses, ao chamar para si a responsabilidade de comandar o julgamento da mais emblemática ação penal do Supremo e o maior caso de corrupção no Brasil, o baixinho poeta Britto parecia navegar sozinho num oceano de descrença.

Hoje, com o processo na reta final, sai sob aplausos, reconhecido como magistrado que honrou a toga, um ser profundamente arraigado nas raízes do humanismo, capaz de colorir a práxis do cientista jurídico com as cores exóticas da física quântica, tudo isso embalado na expressão da alma poética. Feliz, confessa: “não perdi a viagem”. Sim, o país também. Que o acompanhou no caminhar do avanço.

Resta ponderar sobre o teor crítico dirigido ao STF pela condenação de políticos. Parcela do descontentamento aponta como base argumentativa a “decisão de caráter político”, como se os mais altos dignitários da Justiça, que são irremovíveis em seus cargos, fossem induzidos a punir determinado partido.

Ora, foram condenados atores de mais de uma sigla. Quanto ao caráter “político” da decisão, é oportuno lembrar que as cortes constitucionais exercem uma função política, caracterizada na interpretação e decisão sobre a separação de poderes, sobre o federalismo e a defesa dos direitos fundamentais, em suma, tomando posição a respeito das instituições do Estado.

Se a política tem como missão servir à polis, o Estado elege como dever primacial preservar a sociedade, promovendo seu bem comum. Tal meta integra o escopo das Cortes judiciárias, não apenas dos Poderes Executivo e Legislativo.

A relação das temáticas expostas na abertura deste texto denota o caráter político que as acolhe. Entende-se o verbo ácido contra o colegiado jurídico como manifestação (democrática, sem dúvida) de grupos acocorados nos pedestais do poder, principalmente quando as condenações atingem figuras de proa do partido que comanda o governo.

Não é de hoje que a Corte constitucional é alvo de pressões contrárias a sua atuação. O interesse público nem sempre é o interesse de alguns públicos. Em 1893, dois anos depois de ser criado o STF, suas galerias, no Rio de Janeiro, eram tomadas por grupos que vaiavam e aplaudiam os votos de ministros, que concediam ou negavam habeas corpus para presos políticos.

Floriano Peixoto, o presidente da República, depois de ameaçar fechar a Corte, por não concordar com a soltura de um senador adversário, deixou de preencher vagas resultantes da aposentadoria de juízes. O Tribunal passou meses sem trabalhar por falta de quorum.

Getúlio Vargas, em 1931, reduziu por decreto o número de 15 para 11 juízes, aposentando compulsoriamente 5 deles. A ditadura de 1964 aumentou o número de magistrados para 16, mas depois voltou aos 11. Foram atos de força contra a independência do STF.

Nos Estados Unidos, os 9 magistrados que formam a Suprema Corte vez ou outra decepcionam os presidentes da República (republicanos ou democratas) que os nomeiam. Lá, exercem a função por toda a vida ou até quando pedem para sair. Por aqui, aos 70 anos, aposentam-se compulsoriamente. Um buraco de monta no nosso edifício judiciário.

Mesmo assim, é tempo de esperança. Pois tremula no mais alto mastro das instituições a crença de que a justiça, agora, chega para todos.



(Gaudêncio Torquato)

domingo, 25 de novembro de 2012

CRONISTA RETRATA A HISTÓRIA DE CRATEÚS EM NOVO LIVRO






Crateús "Cratheús - Do Portão da Feira aos Galos das Torres" é o terceiro livro da lavra do professor, poeta e cronista Raimundo Cândido Teixeira Filho. O lançamento ocorreu neste município no dia 17 de novembro último, dia em que completou um ano de falecimento de sua genitora, a educadora Maria Delite Menezes Teixeira, grande incentivadora do autor e mestra da maioria dos crateuenses. Por esse motivo, o autor escolheu como palco para o evento a calçada do Externato Nossa Senhora de Fátima, instituição fundada por ela e que o autor considera como uma extensão da sua casa. Em breve, a publicação será lançada na Capital, Fortaleza.

A obra é a primeira incursão do autor no mundo da crônica. Antes escreveu "Karatis", em 2008, e dois anos depois "Raiz do poema teorema pra nos tanger e outras esquisitices ao quadrado". Em ambas predomina a poesia, uma das maiores paixões do autor. "Karatis" enfocou a poesia regionalista e a segunda publicação traz uma curiosa relação poética da matemática - disciplina à qual leciona - com a existência humana.

Na atual publicação, Raimundo Cândido traz à memória do crateuense a história da cidade por meio de personagens e fatos. Em verso e prosa, o autor faz "um resgate histórico da cidade com personagens, políticos, retratando profissões, momentos vividos, lembranças e fatos. É uma miscelânea de fatos e histórias", define o autor.

A homenagem à sua mãe, exemplo de vida, de profissão e incentivadora, está expressa na crônica "O Ipê e Colibri", em que, com um diálogo entre anciãos, o escritor remete à dedicação de Delite Menezes à educação. "Deixamos as sementes plantadas, e mais do que nunca percebemos o valor daquela sua proposição máxima: Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. Lembra-se!". Mais adiante, outro trecho destaca "Senhora, eu confesso que me emocionei quando disse em tom de despedida: Dei tudo de mim pela educação. A senhora criou um belo amanhã nas cartilhas amareladas do ontem!". De acordo com ele, é um dos momentos mais fortes do livro porque a sua mãe orientou e acompanhou toda a construção da obra. Levava os textos para ela, que lia, analisava e fazia sugestões, sempre acatadas pelo autor. "Ela dizia o que não gostava e eu acatava as suas valiosas opiniões. Chegou a ver todo o conteúdo do livro, antes de falecer", diz.


Desconhecidos


Marcante contribuição presta à cidade ao relembrar personagens importantes da história, que ao contrário de D. Delite, muitos são "ilustres desconhecidos" dos crateuenses. Nesse contexto, Raimundinho, como é conhecido o autor, destaca as crônicas "Caçadores de Tesouros" e "Coriolano - Príncipe dos Poetas", em que resgata o poeta crateuense, José Coriolano de Souza Lima nascido em 1829 e que é pouco conhecido em sua terra. Aliás, não fosse nominar uma movimentada rua no centro da cidade, Coriolano seria completo desconhecido, especialmente para as novas gerações.

Na crônica "Caçadores de Tesouros", Cândido conta que o sentimento de reavivar a memória de José Coriolano surgiu ano passado, quando a Academia de Letras de Crateús (ALC) iniciou os escritos e pesquisas para a publicação do livro "Crateús 100 Anos", comemorativo ao centenário de Crateús. Ele e os acadêmicos Flávio Machado e Edmilson Lopes enveredaram pelos difíceis caminhos - devido à falta de documentos e de indicação de parentes ou familiares - da pesquisa sobre Coriolano.

O resgate do nobre crateuense, inclusive, tornou-se bandeira de luta da ALC - da qual Raimundo Cândido é membro - e no início de 2013 por ocasião do II Encontro de Escritores Cearenses, em que Crateús anfitrionará os literatas cearenses o busto de Coriolano retornará à Praça da Matriz, de onde foi retirado há algumas décadas. De acordo com o autor, pela própria família, indignada com a falta de conservação da estátua. A homenagem ao poeta havia sido feita em 1947, com um monumento inaugurado pelo então prefeito Afonso de Almeida Vale.

"Foi quando os três mosqueteiros, como uma infalível cavalaria, entraram em ação numa descomedida busca pelo torso do poeta. Conjecturava-se: ´um busto tão pesado não pode ter saído a andar por aí, ou criado asas imitando a imaginação do poeta Coriolano!´. Por fim, alguém afirmou: ´Tenho certeza de que o busto foi derretido!´. Uma tristeza enorme apossou-se dos animados caçadores de poetas, deixando-os em desalento profundo e, com olhar incrédulo, perguntávamos ao vazio: "Como pode um líquido brônzeo que representa nossa poesia, escoar pelo ralo da ingratidão e desaparecer nas coxias da ignorância?´", diz um dos trechos da crônica dedicada ao poeta crateuense, considerado o "Principe dos Poetas", pelo Estado do Piauí, à qual Crateús pertencia naquela época.

Mais Informações:

ALC: Rua do Instituto Santa Inês, 231 - centro - Crateús/CE -
Tel. do autor: (88) 8834.9154 ou http:academiadeletrasdecrateus.blogspot.com/


SILVANIA CLAUDINO
REPÓRTER (No Jornal Diário do Nordeste de hoje)