domingo, 1 de março de 2009

JARBAS SOBRE LULA



Os comentários do senador Jarbas Vasconcelos sobre a mediocridade da política brasileira e a corrupção dos políticos e dos partidos políticos de maneira geral e do PMDB, de forma particular, encontraram eco na mídia e nas conversas, provocando unanimidade no público e silêncio entre os atingidos. Fazer política continua sendo o que sempre foi: negócio a serviço de interesses individuais e clânicos, ampliando cada vez mais o fosse entre representados e representantes.

Essa situação levanta questionamentos de várias ordens, entre os quais, explicar porque são eleitos e reeleitos políticos corruptos (fica difícil afastar a idéia da “compra” de votos) e, de forma mais institucional, um questionamento sobre a tradicional tese da separação e harmonia dos poderes. Se ao poder legislativo cabe legislar, há de se perguntar se deveria caber-lhe legislar sobre si mesmo, em causa própria. Fica difícil imaginar deputados e partidos votando leis real e eficazmente moralizadoras. Talvez um outro poder (o ministério público, por exemplo, ou o eleitor via plebiscito) pudesse ser encarregado de legislar sobre o legislativo. Não sei, apenas levanto a questão.

Mas pouco foi dito e escrito a respeito dos comentários do senador Jarbas Vasconcelos sobre o presidente Lula e seu governo, comentários, a meu ver, também extremamente lúcidos. Corretíssima a afirmação de que Lula “havia se comprometido com a sociedade a promover reformas e governar com ética” e que no decorrer do primeiro a mandato demonstrou não ter “nenhum compromisso com reformas ou com ética”. Os governos de Lula não são absolutamente reformistas, nem criativos, nem éticos, contentando-se em tocar políticas econômicas e sociais herdadas, habilmente embrulhadas de modo propagandístico sob os nomes de Bolsa Família e PAC (muito longe, diga-se de passagem, das propostas iniciais do Fome Zero).

Jarbas diz que o presidente Lula optou pelo assistencialismo, o que é uma chave para a popularidade em um país pobre. É fato, embora não se possa ser contrário a toda e qualquer política assistencialista num país de tamanha pobreza e desigualdade. Mas se torna essencial que o assistencialismo eventual tenha uma porta de saída conduzindo à autonomia, o que o programa lulista não contempla.

O senador fala da mediocridade do governo Lula, que em vez de construir estradas, apela para o atalho. Não fez reforma tributária, não completou a reforma da Previdência nem a reforma trabalhista e política. Não transformou a infraestrutura do país. Não realizou a reforma agrária. Não promoveu mudanças de costumes e atitudes. Estruturalmente, o País continua o mesmo.

Pergunto-me, às vezes, o que de inovador, de significativamente diferente Lula implantou em seis anos de governo? E fico sem resposta, mas uma vez decepcionado e traído. A estrutura sócio-econômica e cultural mudou em alguma coisa? Se a continuidade da política econômica, descontado os juros e os superávits primários exorbitantes beneficiando a elite financeira nacional e internacional, traz crescimento, os aspectos institucionais e políticos são medíocres.

O PT com Lula prometia ética e no poder faz o que faz.. O PT prometia renovação política. Lula desvincula-se de seu partido, abençoa com desenvoltura a Dilma, promove Sarney, Renan Calheiros e o PMDB, provoca uma indistinção e desideologização dos partidos e da oposição, em nome de uma governabilidade caso a caso. “O mundo passou por uma fase áurea, de bonança, de desenvolvimento, e Lula não conseguiu tirar proveito disso”, diz o senador.

Nessa fase áurea, houve uma reorientação da sociedade brasileira? E agora que a crise se alastra em todos os cantos do mundo o que faz o governo Lula de original? Obama propõe algumas mudanças de rumos. E Lula e sua equipe?

Certo, os ricos recebem seus juros; os pobres, sua bolsa família; o PT e os sindicalistas, seus cargos; os sindicatos, suas contribuições obrigatórias; os políticos, sua imunidade; o governo, seus impostos; o Lula, sua popularidade; o povo, sua acomodação; e o país cresce. Está tudo bem; está tudo no lugar. A decepção é do tamanho das promessas.

(Por André Haguette – Sociólogo – edição do O POVO de hoje)

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