quarta-feira, 7 de outubro de 2009

AVE, CÉSAR!


O calendário assinala hoje o natalício do jornalista César Vale.

Nossa aproximação ocorreu quando, numa fogueira junina, envie-lhe um convite para, sob o luar do Mondubim, ouvirmos forró autêntico e saborearmos as típicas comidas da nossa terra.

Depois, foi ele que me convidou para pular a fogueira da lenha jornalística. Aceitei. E hoje, tal qual um pai se desdobra em prol do crescimento do filho, César tem me acompanhado e estimulado nos meus modestos vôos literários.

César é um jornalista completo: com singular desenvoltura, tanto mergulha nas águas profundas da reflexão consistente como passeia pelas praças hilárias da fina e mordaz ironia.

Talento maior do jornalismo crateuense contemporâneo, César conseguiu ainda a olímpica façanha de manter acesa, há mais de uma década, a tocha do Jornal Gazeta do Centro Oeste. Este é um feito nunca dantes alcançado pelos descendentes de Gutenberg nascidos na mata ciliar do Poty.

Por isso, que se dê a César o que a César pertence: a coroa de luz, o cetro libertador, o tapete azul do reconhecimento, as honras imperiais.

Parabéns! E longo reinado!


(Por Júnior Bonfim)
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Caro Júnior:

Mais uma vez você se excede na lhaneza mesmo sabendo que um coração aos 70 não aguenta bem as emoções.

Sou muito grato à sua gentileza.

Quero também parabenizá-lo pelo que escreveu sobre Mercedes Sosa, a voz que retombou na América Latina clamando por la Libertad.

César



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No dia em que o Jornal Gazeta do Centro Oeste completou dez anos escrevi esta crônica:


Esta GAZETA está completando dez anos de existência. É seguramente o periódico com mais tempo de vida na história do nosso município. Ao longo desse período, tem sido uma arena escancarada para o pugilato de idéias, um púlpito exposto à pregação cidadã, um palanque portátil para a difusão da queixa popular, um microfone invisível recepcionando o brado comunitário, um altar erigido em honra à deusa da Liberdade. Merece um brinde literário, uma efusiva salva de palmas, uma desassombrada aclamação pública, uma rajada de fogos sem artifícios, um grito ardente de Parabéns!

Como o padeiro entregando o pão ou o leiteiro distribuindo o leite, o jornal é sempre recebido como um gostoso alimento. Alimento para a consciência, tempero para a alma, energizante para o espírito. Jornal... Jornais... Tivemos muitos outros no entorno da Catedral do Senhor do Bonfim. O que mais se aproximou desta GAZETA, em tiragens conhecidas, foi A DEFESA, dirigido por Manoel Bezerra Cavalcante e sob o esteio logístico do chefe político Udenista José Carlos de Pinho.

Um poeta parente meu, chamado Lucas Bocquady, editou por cerca de três anos um jornal chamado O RIO POTY (registre-se que o rio que acaricia a nossa Urbe inspirou o batismo de outros pasquins, como A FOLHA DO RIO POTY, de Elias Duarte).

No inicio do século passado, um manuscrito comandado por Afonso Melo de Araújo Chaves e Ubaldino Souto Maior, denominado A IMPRENSA, era lido pelos crateuenses (Informaram-me, também, que em 1908 o jornal escrito à mão chamava-se O SERTANEJO. Tinha Afonso Chaves como redator e Joaquim Izidio – avô do ex-deputado Antonio dos Santos – como secretário). Anos depois, o iluminado guarda-livros José Hindenberg de Almeida lançava A LUZ.

Também num clarão literário e sob o aquecimento das brasas da juventude, os jovens Francisco das Chagas Aragão e Norberto Ferreira Filho (Ferreirinha) acenderam O CHARUTO, publicação que soltava faíscas libertárias.

Em tempos idos, um professor boa prosa, de nome José Soares, fez circular o CORREIO DE CRATEÚS. (Conta o senhor Ferreirinha que José Soares exalava um humor fino, gostava de pilhérias. Certa feita falou para uma cunhada-comadre: “Eu vi a cobra/ que mordeu minha comadre/ Eu via a rutila dela/ na braguilha do compadre”).

Nos anos 40/50 do século pretérito, os alunos da Escola Normal Rural também ofereceram seu contributo à preparação do terreno jornalístico local através de O ARADO, impresso na pioneira Tipografia Milene, pertencente ao senhor Minoso Lopes e que se situava na Rua Poty.

O colégio 15 DE NOVEMBRO entusiasmou o seu diretor, Antonio de Lisboa Rodrigues, a lançar um jornal com o mesmo nome do estabelecimento de ensino.

Na década passada, as jovens jornalistas Silvana Claudino e Vilma Anete Gonçalves nos brindaram com o JORNAL DO CENTRO OESTE. Por último, numa associação do doutor Chico Barros e do consultor Ivan Monte Claudino, brotou A FOLHA REGIONAL.

Todos, a despeito dos hercúleos esforços de seus patronos, sucumbiram quase sempre pela ausência de apoio. Por isto, reputamos ser um ato de bravura, resistência e heroísmo esta GAZETA se manter não só de pé, mas circulando freqüentemente pelos mais longínquos rincões da nossa pátria verde-amarela, azul e branca.

Com o ímpeto guerreiro, a fúria corajosa e o impulso conquistador de um imperador romano, o nosso César preenche o Vale da ansiedade de todos nós, fazendo chegar quinzenalmente às mãos mais distantes, notícias locais e informações gerais, conjecturas da tribo local e reflexões da aldeia global.

Esta GAZETA faz jus à visão de Machado de Assis em relação ao papel do jornalismo como formador de opinião e promotor da liberdade de expressão do homem comum: “O jornal é a verdadeira forma da república do pensamento. É a locomotiva intelectual, em viagem para mundos desconhecidos, é a literatura comum, universal, altamente democrática, reproduzida todos os dias, levando em si a frescura das idéias e o fogo das convicções”.

Este, em verdade, sempre foi o papel da imprensa, termo que, segundo a Wikipédia, “deriva da prensa móvel, processo gráfico criado por Johannes Guttenberg no século XV e que, a partir do século XVIII, foi usado para imprimir jornais, então os únicos veículos jornalísticos existentes”.

Na Baixa Idade Média, as folhas escritas com notícias comerciais e econômicas eram muito comuns nas ruidosas ruas das cidades burguesas. Em Veneza, as folhas eram vendidas pelo preço de uma gazeta, moeda local, de onde surgiu o nome de muitos jornais publicados na Idade Moderna e na Idade Contemporânea.

Aliás, há um registro interessante: o primeiro jornal em língua portuguesa foi fundado em 1641, em Portugal. Seu nome? A GAZETA, de Lisboa. Intencionalmente ou não, por razão histórica ou dever amoroso, este quinzenário está ligado à mais remota, genuína, profunda e profícua tradição jornalística.

Não é por acaso que, com emocionada satisfação, oferecemos nosso modesto contributo a esse roçado de letras, resistindo ao espetáculo da parcialidade, enfrentando o mercantilismo da notícia e combatendo a banalização da violência, plantando a semente do milho da vida e engrossando as fileiras de uma cultura de paz.

Que esta nossa GAZETA viva muitas décadas, alimentada pela seiva pura das raízes mais originais do jornalismo autêntico, espada de luz cortando o véu da escuridão autoritária!

(Por Júnior Bonfim)

2 comentários:

lb disse...

Gazeta: cronica...Tipografia Milene, pertencente ao senhor Mimoso Lopes e que se situava na Rua Poty.
Leia-se "Minoso Lopes"

Dalinha Catunda disse...

Olá Júnior,
Hoje dia do NORDESTINO, não poderia deixar de parabenizá-lo,tanto por ser este nordestino de fibra que atua entre outras coisas, no campo da arte literária. Como por ser, este coração aberto a prestigiar os nordestinos que se destacam Brasil afora.Como Almeidinha, Joaquim Boaventura e Crateuenses que atuam em Brasilia e por aí vai...
Parabens por mostrar acara da nossa gente e como não poderia deixar de ser,
Saudações nordestinas