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quarta-feira, 28 de outubro de 2009
CONJUNTURA NACIONAL
"Seu" Lunga
A coluna de hoje está recheada com historinhas do "seu" Lunga, enviadas pelo primo Zéneumanne. Quem é a figura: foi ourives em Juazeiro do Norte, Ceará, vendedor de sucatas, pai de 13 filhos, quase analfabeto. Candidatou-se uma vez a vereador e perdeu. Ganhou fama pela língua solta e afiada. "Seu" Lunga descansava na rede. Manda o sobrinho trazer-lhe um pouco de leite. O garoto pergunta:
- No copo?
Ele responde:
- Não. Bota no chão vem empurrando com o rodo, fío de rapariga!!!
O funcionário do banco veio avisar:
- "Seu" Lunga, a promissória venceu.
- Meu filho, pra mim podia ter perdido ou empatado. Não torço por nenhuma promissória.
Primeira leitura
Céu de Brigadeiro. Lula continua navegando em mares nunca d'antes navegados. Jamais um presidente, a um ano das eleições presidenciais, alcançou índices tão altos de aprovação popular. O ambiente social está calmo. O ambiente econômica respira confiança. Os níveis de otimismo dos setores produtivos voltam ao patamar de antes da crise. O situacionismo abarca largos territórios. A campanha eleitoral é antecipada com as idas e vindas de Lula e Dilma pelos espaços nacionais. As oposições se escondem. Ninguém sabe onde elas estão. Diante dessa moldura, a pergunta é: quais as chances de um lado e de outro?
Segunda leitura
Dilma Rousseff tem mais chances. Dilma Rousseff consolidando a posição de candidata do PT, com o apoio da aliança governista, ultrapassa a casa dos 20% de intenção de voto em janeiro, e se torna competitiva. Lula intensifica a peregrinação pelo país, Dilma transforma-se em candidata de Lula, é reconhecida nas ruas, ameniza o perfil, deixa a arrogância de lado e vai de encontro às massas. Atravessa, incólume, eventuais desafios e denúncias das oposições, e entra no trimestre eleitoral em franca posição de candidata competitiva. Acena com a vitória. Pano de fundo: programas do governo direcionados a todos os contingentes que povoam a pirâmide social.
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"Seu Lunga", no elevador (no subsolo-garagem). Alguém pergunta:
- Sobe?
Ele:
- Não, esse elevador anda de lado.
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Terceira leitura
José Serra tem mais chances. As oposições conseguem mostrar a maneira petista de governar. Inchamento do Estado. República Sindicalista. MST devastando propriedades. Desvios de dinheiro em obras públicas. O PAC é uma ficção. Corrupção generalizada. TCU descobre mais obras superfaturadas. Espraia-se, a partir do Sudeste, um sentimento de que é preciso mudar. E que o ciclo Lula se exauriu. Serra, o governador, emerge como pessoa séria, experimentada, com um perfil do ministro da Saúde que patrocinou os remédios genéricos. O clima social se esgarça. O ambiente econômico volta a enfrentar nuvens carregadas. Dilma comete gafes. Serra entra no trimestre eleitoral como franco favorito. Em condições de alçar a bandeira da vitória.
Quarta leitura
Diante do crescimento de Dilma, José Serra teme enfrentar a candidata. Pressionado pelo DEM e por parte do tucanato, Serra proclama: "desisto. Não serei candidato". E chama Aécio Neves para ocupar seu lugar. Neves topa na hora. Veste-se de candidato, monta uma turnê pelo país. Sua candidatura gera abalos no situacionismo. Ciro Gomes desiste de ser candidato pelo PSB. Parcela densa do PMDB corre na direção de Aécio. Dilma Rousseff fica em transe. Não sabe para onde ir. Lula pede : calma, gente, calma. Mas não consegue mudar o rumo do vento. Aécio é o novo. Diferente. Sorriso aberto. Franco. Aparece em espaços mineiros sob o ar matreiro do avô Tancredo e o sorriso aberto de Juscelino. Empolga o país. E ganha a campanha.
Qual é a mais adequada?
Que leitura é a mais adequada? A leitura aos coríntios? Aos hebreus? Aos crentes de Serra e descrentes de Dilma ou vice-versa? Aos crentes no todo poderoso Luiz Inácio? Que cada um escolha a resposta que mais lhe convém.
O imponderável
Aqui, do meu lado, começarei a fazer as contas e avaliar todas as alternativas. Apenas uma está fora do meu controle: o imponderável.
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"Seu" Lunga vai saindo da farmácia, quando alguém pergunta:
- Tá doente?
- Quer dizer que se eu fosse saindo do cemitério, eu tava morto?
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Ciro e Marina
Como é notório, desconsiderei as possibilidades de Ciro Gomes e Marina Silva. Poderão obter grande bacia de votos, mas não suficientes para levá-los ao pódio. Terão, no entanto, se forem candidatos confirmados, um bom papel como coadjuvantes.
PMDB e PT
A aliança entre PMDB e PT será efetivada. Hoje, o compromisso está selado. Mas há uma agenda a ser cumprida. Haverá um jantar com os governadores do partido com Lula, Dilma e a cúpula do PT. A seguir, outro encontro, desta feita, reunindo as duas bancadas – deputados e senadores. Em todos os encontros, a ideia é a de sentir o pulso do partido sobre questões programáticas. Michel Temer, que comanda o processo, não quer firmar aliança apenas sobre o fio da ocupação de espaço mas sobre um amplo escopo programático.
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"Seu" Lunga dava uma tremenda surra no filho e o menino gritava:
- Tá bom, pai! Tá bom, pai! Tá bom, pai!
- Tá bom? Quando tiver ruim, você me avisa, que eu paro.
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PT em São Paulo
Este consultor teve demorada conversa com o prefeito Emidio de Souza, de Osasco. Emidio é um dos melhores quadros do PT e faz um governo avançado. É muito bem avaliado. A impressão dessa conversa: o prefeito terá o apoio do partido para ser o candidato ao governo de São Paulo. É o mais palatável. Não apresenta fissuras na imagem. Não é polêmico como outros perfis do PT. Não é cercado por escândalos. Tem o apoio dos prefeitos. Só não será candidato se Ciro Gomes, instado por Lula, assumir a candidatura ao governo paulista. Nesse caso, o PT fecharia posição com Ciro. Sob as ordens de Lula.
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O amigo de "seu" Lunga o cumprimenta:
- Olá, tá sumido ! Por onde tem andado?
- Pelo chão, não aprendi a voar ainda...
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Efeitos deletérios
Este consultor acredita que a candidatura Ciro Gomes, em São Paulo, só seria bom negócio para o PSB. Que faria uma razoável bancada de deputados federais e estaduais. Mas não seria interessante para o PT, mesmo com a coligação. O candidato majoritário tende a puxar mais votos para a legenda que pertence. Ademais, deixar de ter um candidato próprio ao governo em seu Estado berço seria muito ruim para o PT.
A conferir.
Senadores paulistas
Briga boa ocorrerá na área das candidaturas ao Senado. Em São Paulo, Marta Suplicy até que deseja ser candidata ao Senado. Teria chances. Ocorre que Aloizio Mercadante é o candidato natural – seu mandato se encerra e ele teria o direito de reivindicar a volta ao posto – e queima qualquer outro nome do PT com alguma chance. Do outro lado, o candidato mais visível é Orestes Quércia. Que, da mesma forma, queima a possibilidade de Guilherme Afif ser o outro nome da chapa governista. Afif teria melhores condições do que ele, haja vista o último pleito, quando quase ganhou de Eduardo Suplicy.
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Na década de 70, "seu" Lunga chega num bar e fala pro atendente:
- Traz uma cerveja e bota o disco de Luiz Gonzaga pra eu ouvir!
- Desculpe, "seu" Lunga, não posso botar música hoje...
- Mas por que?
- Meu avô morreu!
- E ele levou os discos, foi?
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Imbróglio
O quadro está ainda muito nebuloso. Geraldo Alckmin, apesar do alto índice que mantém nas pesquisas de intenção de voto para o governo, encontrará muitas resistências para ser o candidato. Não conta com a simpatia de José Serra e do prefeito Kassab. Que ainda pensam em pinçar o nome de Aloysio Nunes Ferreira, que chefia a Casa Civil do Governo do Estado. Aloysio exibe modestos 4% de intenção de voto. E os aloyisistas argumentam: Alckmin tem recall. Esse índice que ele hoje alcança não se sustenta numa campanha acirrada. Além disso, ele não é de briga. Vai ser torpedeado. E se ele foi indicado para a chapa do Senado? Neste caso, é o Quércia que rejeita. Com medo de Geraldo tomar o lugar dele.
Luiz Inácio a favor de Luiz Inácio
Pois é, o novo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, diz que seu xará Luiz Inácio (o Lula da Silva), não faz campanha eleitoral quando viaja pelo país fiscalizando obras do PAC. Se o novo advogado-geral da União não vê conteúdo eleitoral nas viagens, precisa abrir os olhos. Vamos ao ponto: percorrer o país, senhor Adams, para verificar o andamento das obras, é dever do governante. Mas subir em palanque para fustigar as massas, isso é comício, sim. Portanto, uma coisa é ver obra, outra coisa é fazer da obra instrumento eleitoreiro. Para que palanque? Para que a discurseira? Por que não fazer uma visita técnica?
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Durante a madrugada, a mulher do "seu" Lunga passa mal:
- Lunga! Ta me dando uma coisa...
- Receba!
- Mas é uma coisa ruim!
- Então devolva!
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O S de Skaf
Paulo Skaf, presidente da FIESP, cometeu a maior deselegância dos últimos tempos para com pares políticos. Disse, com todas as letras, em entrevista a O Globo, de domingo último, que o S do PSB, é apenas uma letrinha. Não tem nada com socialismo. O Partido Socialista Brasileiro ficou com a brocha na mão. O que diz minha amiga Luiza Erundina (PSB/SP) sobre o fato? Vou procurar saber.
Prefeito é um crack
Que coisa mais esquisita, hein? O prefeito de Raposos/MG, João Carlos da Aparecida (PT), foi flagrado duas vezes em boca de fumo. O cara aprecia o crack. Tirou licença da Prefeitura. Basta? Que exemplo de civismo esse crack dá aos seus munícipes, hein? Vaias para ele.
Fundação afundada
A Fundação José Sarney foi fechada por ordem de seu patrocinador, ele mesmo, o senador José Sarney. Deve ter sido um golpe e tanto no coração do ex-presidente da República. Sarney, como se sabe, preza a liturgia do poder. Preza a história da política. E, claro, preza a própria história. O fechamento da Fundação nos leva a aduzir que os mais sagrados patrimônios pessoais não estão isentos dos ventos contrários e soprados pela opinião pública.
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"Seu" Lunga entrando em uma agropecuária.
-Tem veneno pra rato?
-Tem! Vai levar? - pergunta o balconista.
-Não, vou trazer os ratos pra comer aqui! - responde seu Lunga.
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Quanto mais se tira, maior fica
O ministro do Assistencialismo, aliás do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, diz que desde a criação do Bolsa Família, cerca de 3,5 milhões de pessoas dele já saíram. A conta até pode ser correta. Mas os dados mostram que o programa das Bolsas vem esticando de ano para ano. Deve, hoje, beirar os quase 13 milhões de assistidos. Começou com 8 milhões. É como buraco: quanto mais se tira, maior fica.
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O telefone toca. "Seu" Lunga:
- Alô!
- Bom dia! Mas quem está falando?
- Você!
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IPI esticado
Lulinha Paz e Amor sabe das coisas. O desconto do IPI atinge direto o bolso do consumidor. É isso. A política, para ser bem sucedida, tem de marcar presença na praça da economia. Milhões de brasileiros querem geladeiras, fogões e máquinas de lavar mais baratas. Por isso, é mais do que provável a prorrogação da redução do IPI para a linha branca. Até porque o ano eleitoral se aproxima.
Maluf declina
Paulo Maluf declina da candidatura ao governo de SP. E indica, com o apoio de todo o PP paulista, o nome de Celso Russomano, deputado federal. Maluf quer continuar como deputado. Russomano quer deixar de ser deputado. Sei não. Este consultor não entendeu a jogada por inteiro. Trocar o certo pelo duvidoso? A não ser que o Russomano não queira mais apostar em suas chances na campanha proporcional.
Vereadores paulistanos
Uma batelada de vereadores da capital paulista não passou no vestibular do MP. Recebeu cartão vermelho. E um juiz quis tirá-los de campo, aliás, do plenário. Os vereadores recorreram. Continuam exercendo suas funções. Mas por que apenas os vereadores foram punidos se outros políticos – deputados, por exemplo – receberam doações da mesma entidade que patrocinou os representantes na Câmara Municipal? O MP deveria se pronunciar a respeito.
Conselho aos ministros do TSE
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao Senador Eduardo Suplicy. Hoje, volta sua atenção aos senhores ministros do TSE:
1. Há casos de alguns governadores, cujos mandatos aguardam decisão da Corte ainda por conta de denúncias envolvendo abuso do poder econômico e outros ilícitos na campanha de 2006. Por que não apressar sua votação, antes de entrarmos no ano eleitoral de 2010?
2. O TSE, sob o competente comando do ministro Carlos Ayres Britto, precisa continuar a mostrar disposição de limpar a pauta contenciosa com que se defronta.
3. Por que os processos demoram tanto para ser julgados? Não correremos o risco de ver governadores sendo julgados após o término do mandato?
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(Por Gaudêncio Torquato)
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