Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
ROSA FERREIRA DE MORAES
TEATRO ROSA MORAES - CRATEÚS - CEARÁ
Ao tempo em que estava à frente da Secretaria de Educação de Crateús, convidei o Professor Celso Antunes para proferir uma palestra para a comunidade escolar. O longevo mestre, cabelos flor de algodão, distribuidor de sorrisos, olhar penetrantemente delicado, com o magistério da própria experiência encheu a nossa alma de graça e encantamento.
Contou-nos, dentre outros fatos, que, em missão cultural ao Japão, foi levado pelo Ministro da Educação daquele País para um encontro com o Imperador. Ao adentrar no salão do monarca, viu uma cena inusitada: o nobre se curvou, com litúrgica solenidade e reverente respeito, ante a presença dos dois professores. Ficou intrigado. Na saída, indagou ao Ministro o motivo daquele gesto. E ele respondeu: - Se o perguntássemos, ele responderia que presta reverência aos professores porque foram eles que o formaram.
Com essa citação, o mestre Antunes queria deixar registrado que nalguns rincões do planeta os professores estão colocados no lugar que merecem: sobre o púlpito do respeito social, no altar da admiração coletiva.
Talvez para provocar nossa capacidade alterativa ou, simplesmente, como uma cândida lamparina de referência, ainda existem remanescentes – raros, é bem verdade – de uma época áurea da educação, em que os que lideravam as salas de aula estavam, ao lado do Padre e do Juiz, entre as figuras que ocupavam a tribuna de honra da deferência comunitária.
Entre esses nomes, e com indiscutível destaque, está o da crateuense ROSA FERREIRA DE MORAES. Escrevo o seu nome em negrito e com letras maiúsculas porque as palavras que o compõem formam um ternário biográfico.
A sua artística porção ROSA desabrocha permanentemente, como uma flor de roseira, no jardim invisível do seu coração, em especial quando, de posse de um pincel, nos chama a atenção para detalhes pouco perceptíveis do cotidiano, através de quadros pintados com acurado esmero e fina sensibilidade.
Dentre os presentes que esta vida me deu está o privilégio de ter sido aluno desta FERREIRA. De ferro, mesmo. Com seu jeito austero, com sua imponente compleição física, com sua voz grave e seu olhar severo, ensinou-nos os benefícios da férrea disciplina, da dedicação inflexível, do cumprimento do objetivo delineado, da satisfação do dever cumprido. Recordo como era comum, em suas aulas, quando identificava desvios de conduta nos alunos, a realização de paradas bruscas na transmissão dos conteúdos a fim de que pudéssemos ouvir exortações sobre os caminhos da retidão e do bem, verdadeiras lições de moral, preciosos sermões sobre as virtudes de cultuarmos princípios de vida.
Outro dia, ela me confidenciou que seu saudoso pai sempre escrevia MORAES com E ao invés de I porque, no entendimento dele, Morais com “i” era plural de moral. Para mim, esse MORAES deita raízes na palavra mora, não no sentido comercial de retardamento do devedor no pagamento de uma dívida, mas no profundo sentido espiritual da palavra demora, que se resume na rara capacidade de saber o tempo certo de cada coisa, de não atropelar o curso natural da existência, de não queimar etapas na caminhada da vida.
Em suas mais de oito décadas de vida, ROSA FERREIRA DE MORAES tem reluzido. Se pudesse, mudaria o seu nome para ROSA FERREIRA ESTRELA DE MORAES, pois é isto que ela é: uma pétala resplandecente que há iluminado gerações.
(Júnior Bonfim, in "Amores e Clamores da Cidade")
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