Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
sábado, 28 de novembro de 2009
DA FELICIDADE
Não há ninguém feliz
não há
— a paz —
que guarda o ser
(sem medo, sem carência)
ninguém provou
— a liberdade —
que solta o tempo
(sem peia, sem limite)
ninguém teve
— o amor —
que encanta o mundo
(sem mágoa, sem lacuna)
ninguém viveu.
É guerra, opressão, egoísmo:
—como responder ao apelo da terra?
—como realizar o destino do ser?
Não há ninguém feliz.
(Pelo menos até hoje).
Pedro Lyra
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Auto de Zé Limeira
Cabruêra
No sertão, sob o sol da Borborema.
Numa terra regada a pedra e osso
O lagarto equilibra seu pescoço
Com a cauda apontando a parte extrema
O seu corpo parece um teorema
De incógnitas perdidas na paisagem
Há um corte suspenso nessa imagem
Vertical, fura o Jabre as nuvens raras.
Batizado nas águas do Espinharas
Zé Limeira parece uma visagem.
Apesar de sertão o clima é frio
Frio e seco como soi acontecer
Nessa terra em que a vida quer nascer
E só nasce vencendo um desafio:
O verter-se em esforço no vazio
Que abomina, assustando a floração.
Dessa forma estrangula o seu pulmão
Com as garras astutas de um tridente
(a esmola na cuia do indigente)
Zé Limeira transforma pedra em pão
Para o frio noturno e o sol diário
Indumentos que imitam passarinho
Variando da mescla para o linho
E alpercatas cruzando o pó calcáreo
(Uma orquídea vestida em um sudário;
uma túnica sobre os mandacarus)
Macambira cruzada com umbus,
Resistentes espécies da secura
Água/sal versus rocha/rapadura
Zé Limeira vencendo os urubus.
Se o passado contasse verdadeiro
O olhar de quem olha saberia
Que há bilhões de instantes não havia
Um lugar sem brasão e sem letreiro
Sobre o qual há carcaças no terreiro
E Reis Magos são quadro empoeirado
Mas um Astro Cadente iluminado
Se aloja tal/qual um caranguejo
A suar no mormaço sertanejo
Zé Limeira é o Verbo Anunciado
Pare o tempo, o vento, o mundo inteiro,
As espécies, os bichos, as vontades.
Pare o mal e parem as maldades
Pare o bem, o bom. Pare o luzeiro
Que alumia e que queima o juazeiro,
Pare a força dessas contradições,
Pare a regra geral das ilusões
E a caldeira que energiza tudo
Pois do alto do céu vem um entrudo
Zé Limeira puxando seus cordões!
Contribuição:Cacique
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