PREFÁCIO DE DOM FRAGOSO EM UM LIVRO DE SEU IRMÃO ESTANISLAU FRAGOSO BATISTA, O LIVRO TEM O TÍTULO: "CANTATA DE UM ANISTIADO...PARA DEPOIS..." (temos o livro).
Digitei este prefácio em homenagem a todos àqueles que perpentuam em suas memórias a lembrança de Dom Fragoso. Principalmente, Boaventura Joaquim Furtado Bonfim.
"Leitor Amigo:
Não escrevo este prefácio como o bispo Antonio Fragoso. Nem mesmo como Tonho, irmão mais de Lai, autor da "Cantatas de um anistiado... para depois".
Hoje, sou apenas um leitor como os outros, como você.
Li os originais de uma fôlego. Conteporâneo dos acontecimentos, recordei ao vivo a história de um passado que marcou tanta gente, que me marcou no mais fundo de mim mesmo.
Muito mais do que o tecido dos acontecimentos, eu ia recompondo o perfil de Estanislau.
Emergia das linhas e entrelinhas do Diário-Cantata, o rosto de um HOMEM.
Homem de coração CONFIANTE, desarmado, venerável como todos os homens sem ódio e sem malícia. Ele é dos que acreditam "nas flores vencendo o canhão". O olhar de uma criança enternece seu coração e põe mais calor humano em sua vida do que o Leviatã do poder. Para ele é tão densamente verdade como para Tristão de Athayde - que "as cinzas de Alexandre, um dos maiores onquistadores da história, não bastam hoje para tapar o buraco de uma parede, enquanto a oração de uma criança pode fazer mudar o curso da história".
Homem que carrega incorrigivelmente consigo uma UTOPIA mobilizadora. As Ditaduras, a prepotência, o Sadismo dos que fazem a Tortura Psicológica, podem marcar com ferro em brasa a sua carne e levá-lo até as dilacerações crucificantes da lavagem cerebral. Mas nenhum sopro apaga a chama da Esperança louca.
Homem que não SE VENDE por dinheiro e posições. Não se deixa instrumentalizar. A consciência de sua dignidade aparece intacta, mesmo nas horas mais sombrias.
Homem de fé profunda, DOM de Deus, herança de seus pais, conquista de sua vida. Chamá-lo de "comunista" é testemunho de chegueira mental ou de inominável má-fé. De ponta a ponta do seu Diário-Cantata, encontrei o cristão para quem o Deus de Jesus Cristo é o Amigo de todos os dias.
Homem da DEMOCRACIA, da fidelidade à lei, da NÃO-VIOLÊNCIA inteligente e ativa. Não podia coexistir pacificamente com a Ditadura, com o imperio do arbítrio com as formas da Tortura Física e Psicológica, com um Sistema para o qual a elite no poder e o centro e a fonte dos direitos.
Leitor amigo, é este mesmo perfil que se destaca das linhas e entrelinhas da "Cantata de um anistiado... para depois "? Deixei por ventura, falar o meu coração de irmão? Aqui para nós: chorei várias vezes durante a Leitura!
Julgue, você mesmo.
Antônio Fragoso, que também é o bispo de Crateús e irmão de Estanislau Fragoso”.
Poranga, 24 de outubro de 1980.
A título de esclarecimento: O nome de Dom Fragoso era: ANTONIO BATISTA FRAGOSO, e do Seu Irmão: ESTANISLAU FRAGOSO BATISTA.
(Por Francisco Antonio Sales Saboia)
3 comentários:
Os Bispos e o pacto das catacumbas
Pe. Dr. Raimundo Gomes Meireles
Poucos católicos têm conhecimento do “Pacto das Catacumbas” na Igreja Católica. Recentemente a X Semana Teológica do IESMA – Instituto de Ensino Superior do Maranhão, que teve como tema “Fé e Política” trouxe a lume o assunto ora mencionado. Dom Antonio Batista Fragoso, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Luís (1957-1963), primeiro Reitor da Universidade do Maranhão, empossado pelo Ministro da Educação e Cultura, representado pelo Dr. Jurandir Lodi, por escolha e nomeação do Arcebispo Dom José Medeiros Delgado, em 25.08.1961 e recém falecido Bispo Emérito de Crateús-CE, juntamente com o Arcebispo Dom José da Mota e Albuquerque foram membros ativos signatários do ''Pacto das Catacumbas”.
Na verdade, trata-se de um documento firmado em 16.11.1965, por 40 Bispos da Igreja Católica Apostólica, nas catacumbas de Domitila, em Roma, no período da realização do Concílio Vaticano II, após celebrarem juntos a Eucaristia.
O Papa João XXIII, “il Papa buono”, como era conhecido pelo povo italiano, inaugurava a era de uma Igreja “servidora e pobre”, distanciada de pompa e da identificação com os ricos avarentos, na tentativa de eliminar por completo a noção de “Igreja triunfalista” deixada pelo Concílio de Trento.
Os Bispos e o pacto das catacumbas O documento firmado contém treze itens de compromisso. Eis aqui: I - Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção; II - Para sempre renunciamos à aparência e à realidade da riqueza, especialmente no traje (fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias de matéria preciosa; III - Não possuiremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco, em nosso próprio nome; caso necessário, poremos tudo no nome da Diocese, ou das obras sociais ou caritativas; IV - Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e material em nossa Diocese, a uma comissão de leigos competentes e cônscios do seu papel apostólico, em mira a sermos menos administradores do que pastores e apóstolos; V - Recusamos ser chamados, oralmente ou por escrito, com nomes e títulos que signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência, Monsenhor...). Preferimos ser chamados com o nome evangélico de Padre;
continuação... VI - No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos aquilo que pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferência qualquer aos ricos e aos poderosos (ex.: banquetes oferecidos ou aceitos, classes nos serviços religiosos); VII - Evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade de quem quer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou por qualquer outra razão. Convidaremos nossos fiéis a considerarem as suas dádivas como uma participação normal no culto, no apostolado e na ação social; VIII - Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração, meios, ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso prejudique as outras pessoas e grupos da Diocese. Ampararemos os leigos, religiosos, diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama a evangelizarem os pobres e os operários compartilhando a vida operária e o trabalho; IX - Cônscios das exigências da justiça e da caridade, e das suas relações mútuas, procuraremos transformar as obras de "beneficência" em obras sociais baseadas na caridade e na justiça, que levam em conta todos e todas as exigências, como um humilde serviço dos organismos públicos competentes; X - Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso governo e pelos nossos serviços públicos decidam e ponham em prática as leis, as estruturas e as instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao desenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens, e, por aí, ao advento de uma outra ordem social, nova, digna dos filhos do homem e dos filhos de Deus; XI - Achando a colegialidade dos Bispos sua realização a mais evangélica na ascensão do encargo comum das massas humanas em estado de miséria física, cultural e moral - dois terços da humanidade - comprometemo-nos: a participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos urgentes dos episcopados das nações pobres; a requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais, mas testemunhando o Evangelho, como o fez o Papa Paulo VI na ONU, a adoção de estruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem nações proletárias num mundo cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobres saírem de sua miséria; XII - Comprometemo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida com nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso ministério constitua um verdadeiro serviço; assim: esforçar-nos-emos para "revisar nossa vida" com eles; suscitaremos colaboradores para serem mais uns animadores segundo o Espírito, do que uns chefes segundo o mundo; procuraremos ser o mais humanamente presentes, acolhedores; mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião; XIII - Tornados às nossas Dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossos diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão, seu concurso e suas preces.
Os Bispos encerraram o compromisso alhures declarando: “ajude-nos Deus a sermos fiéis”.
Dom Antônio Fragoso, um dos últimos remanescentes do “Pacto das Catacumbas”, foi fiel até o final de sua vida às prerrogativas do referido Pacto: sua postura foi sempre de um homem simples e humilde, morreu no sábado do dia 12.08.06, pobre e despojado de bens materiais. Em sua necrologia, publicada recentemente ressalta: ”seu testemunho de vida evangélica marcou a história de muitas pessoas. É reconhecido como o “bispo dos pobres”. Sua firmeza teológica e clareza de pensamento era sempre uma resposta segura nas controvérsias”. É a opinião.
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