quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

CONJUNTURA NACIONAL

O C PELO X

Vamos abrir a coluna com a lembrança da conversa cheia de x do marechal Eurico Gaspar Dutra (1945/1951). O marechal trocava o c pelo x. Ganhou uma marcha carnavalesca no carnaval de 51:

Voxê qué xabê
Voxê qué xabê
Não pixija sabê
Pra que voxê qué xabê?

O secretário de Planejamento e Gestão do Estado da Paraíba, Osman Cartaxo, pinça do arquivo de seus engraçados "causos" uma historinha do marechal. De manhã, bem cedo, o marechal saiu do hotel e começou a passear na parede do açude de Pilões, nos confins da Paraíba. O matuto viu aquela figura fardada e tascou:

- Bom dia, coronel.

O velho marechal respondeu de pronto:

- Não xô coronel. Xô o presidente da República.

O matuto emendou:

- Mas não é coronel porque não quer.

ESQUENTANDO OS MOTORES

Os horizontes de 2010 se abrem sob o pano de fundo de gigantesca nuvem de expectativas. Em outubro, o país elegerá um novo presidente, 27 governadores de Estado, 513 deputados federais e 81 senadores. O final de 2009 e o mês de janeiro ajudarão o corpo político a restaurar o estoque de energias, até porque teremos uma das campanhas mais contundentes de nossa história. Afinal, trata-se de responder à questão: será o fim do ciclo Lula ou apenas sua continuidade? Veremos um grau elevado de mudanças ou apenas leve camada de tinta no edifício lulista?

LULA COM DILMA NA DIREITA

Luiz Inácio, com a fundação do lulismo, mudou a composição de voto do petismo. Hoje, o lulismo tira votos dos dois extremos do arco ideológico: esquerda e direita. Pela direita, as margens sociais, que votaram em Collor e em FHC, frequentam o centro do território lulista. Constituem o foco do gigantesco programa assistencialista do governo. A questão é: votarão em Dilma? Lula terá condições de puxar os votos dessas margens para sua candidata? A resposta é: sim. Principalmente nas regiões mais favorecidas pelo braço governamental. Nordeste, Norte e Centro Oeste são regiões amplamente favoráveis a candidatos que garantam a continuidade do status quo. Resumo: Lula puxa Dilma em direção aos contingentes conservadores.

LULA COM DILMA NA ESQUERDA

Luiz Inácio também puxa Dilma em direção à esquerda. Aliás, com a ajuda da própria ministra chefe da Casa Civil. Basta ver os últimos movimentos na área de Direitos Humanos. O presidente chegou a assinar um decreto, no final do ano passado, que determina a punição de torturadores. O documento instalou um clima de tensão na área militar, porquanto tal situação viria na direção contrária ao pacto acordado pela lei da anistia. Desta forma, a dupla Dilma/Lula aparece como patrocinadora de teses que animam bolsões de esquerda. Assim, a estratégia – uma no cravo, outra na ferradura – característica do lulismo, é apontada como fundamental para expandir as margens do arco ideológico.

JOSÉ SOBE A SERRA

O governador paulista, José, por sua vez, depois de muitas noites insones, decidiu aplainar a subida da serra. O que faz? Imita Lula. Claro, depois de apertar os parafusos de sistemas produtivos, com uma política de elevação de impostos, começa a afrouxar engrenagens. Acaba de tomar uma decisão importante para aliviar o caixa de 90 mil empresas, que respondem por 1,2 milhão de empregos. Estica até o fim de março redução de carga tributária para 12% a setores. Suspende o ICMS devido na importação de bens de capital sem similar nacional concedida a 199 setores. E beneficia com a renúncia fiscal mais de 24 segmentos importantes como os de couro, vinho, brinquedos, laticínios e perfumes.

MALVADEZA CONTIDA

Este consultor ouviu algumas vezes, em encontros com empresários, imprecações contundentes contra o governador Serra e seu secretário da Fazenda, Mauro Ricardo. A crítica era contra o furor arrecadatório do governo paulista. Pois bem, com a malvadeza contida, José Serra tenta aquietar setores produtivos e livrar o caminho de pedras que poderiam atrapalhar a escalada da serra. Nessa estratégia, imita Lula.

A PROVA DE JOSÉ LEONARDO

A Justiça Eleitoral de São Paulo está convocando José Leonardo de Moura Coutinho Filho. Motivo: foi encontrado mais de um registro de filiação partidária em seu nome, o que propiciou o cancelamento de dois registros, um de 12 de agosto de 2001 e outro, de 12 de agosto de 1901 (isso mesmo, 1901). O próprio, em conversa com este consultor, queria saber que partidos existiam no Brasil em 1901. Este consultor foi buscar a resposta. Abaixo.

PARTIDOS 1889/1930

Eis os partidos brasileiros entre 1889 e 1930: Aliança Liberal, Partido Republicano Paulista, Partido Republicano Mineiro, Partido Republicano Rio-Grandense, Partido Republicano Catarinense, Partido Republicano Fluminense, Partido Republicano Conservador, Partido Republicano Federal, Partido Republicano Liberal, Partido Democrático, Partido Federalista, Partido Libertador, Partido Socialista do Brasil, Partido Comunista do Brasil, Partido Democrático de São Paulo, Partido Democrático do Distrito Federal, Partido Democrático do Rio de Janeiro, Partido Democrático Nacional e Partido Monarquista Brasileiro.

BURACOS PREENCHIDOS

Tenho repetido à exaustão: Lula procura preencher todos os espaços da pirâmide social. Bolsa Família; Luz para Todos; Minha Casa, Minha Vida; Programa de Aceleração do Crescimento; ProUni; Bolsa Estagiário; Programa de Auxílio a Agricultura Familiar; pacotes esticados de isenções (geladeiras, fogões, automóveis, caminhões, móveis de madeira e aço); linhas de acesso ao crédito; o último pacote é voltado para o programa Minha Casa, Minha Vida, na área rural. A base está satisfeita. O topo nunca ganhou tanto dinheiro. Economia sob controle. Comércio de fim de ano bombando. Praias cheias. Chuvas e tragédias? Baterão em alguns candidatos e governantes, não na imagem de Lula e Dilma. A conferir.

PLANTAR ÁRVORES

"O grande marechal francês Lyautey certa vez pediu que seu jardineiro plantasse uma árvore. O jardineiro teceu uma observação de que a árvore crescia devagar e alcançaria a maturidade em cem anos. O marechal respondeu: 'Neste caso, não há tempo a perder. Plante-a nesta tarde!'" (John F. Kennedy - 1917/1963)

ATRAINDO HÉLIO

Há uma ala no PT, incentivada por Lula, interessada em dividir mais ainda o repartido PMDB. Como se sabe, o nome mais forte para entrar como vice na chapa de Dilma é o do presidente do partido, Michel Temer. Nos últimos dias, apareceu um balão de ensaio com o nome de Hélio Costa. Dizem que seria o nome preferido pelo Planalto para ser o vice. De Minas, segundo colégio eleitoral do país, ministro de Lula, jornalista, perfil de comunicador. Assim, Lula retiraria sua candidatura ao governo de Minas, abrindo maior espaço para o PT mineiro e ditando cartas no PMDB. Visão deste consultor: o tiro tem 90% de chances de não acertar o alvo.

IMBRÓGLIO

Aliás, o maior imbróglio entre PT e PMDB será a equação das alianças estaduais. Em uns 15 Estados, o PMDB olha para o lado direito e o PT para o lado esquerdo.

A DESCOBERTA DE CABRAL

Cabral, o Sérgio, governador do Rio de Janeiro, descobriu que os deslizamentos nas encostas de Angra dos Reis ocorreram por conta da irresponsabilidade dos governantes. Atirou no que viu e acertou o que não viu. Pois o tiro bateu bem no meio de sua testa. Foi o governador que liberou construções em áreas de proteção ambiental. Basta ler o decreto 41.921/09, assinado por ele, permitindo a ocupação desordenada em encostas. Cabral contra Cabral dá samba.

POR QUE PEZÃO?

Não se sabe, ainda, por que Cabral, cochilando perto da tragédia, em um condomínio de luxo em Mangaratiba (a menos de 60 km da Ilha Grande), mandou em seu lugar para o local o vice-governador, Luiz Fernando Pezão. Deve ter imaginado: não quero associar minha imagem à tragédia. Sua ausência acabou enlameando a imagem.

"Nada se deve esperar dos homens que entram na vida sem se entusiasmarem por algum ideal; aos que nunca foram jovens parece desvairado todo sonho. E não se nasce jovem; é preciso adquirir a juventude. E, sem ideal, não é possível adquiri-la". (José Ingenieros)

ITAMAR NA RODA?

Itamar Franco, o indecifrável ex-presidente da República, continua cheio de mistérios. Parece interessado em ser o vice de José Serra. Prestigiado em Minas, poderia mobilizar o segundo maior colégio eleitoral a somar votos ao primeiro colégio, constituído por 40 milhões de eleitores, o paulista. Mas pertence a um partido em processo de esmagamento, o PPS. Não somaria em termos partidários. E sinaliza a presença forte do passado. Mas seu perfil expressa seriedade e credibilidade.

FÁBIO CONTRA A VEJA

Fábio Luiz Lula da Silva perdeu a ação que ajuizou contra a revista Veja e Alexandre Oltramari. Reivindicava indenização por danos morais por conta da matéria "O Ronaldo de Lula". A juíza Luciana Novakoski Ferreira Alves de Oliveira, da 2ª. vara Cível, em seu despacho, avocou a liberdade de imprensa, destacou o fato de o jornalista ter pesquisado seis meses para produzir o texto, argumentando, ainda, que a analogia com "Ronaldo" foi conferida pelo próprio pai, o presidente Lula. Fábio foi condenado a arcar com os custos, despesas processuais e honorários advocatícios, somando R$ 10 mil. O despacho da juíza é de 30/11/09.

A CRISE

O país registra o pior saldo comercial com os EUA. Em um momento de exuberância econômica. Paradoxo? Não. A crise americana fechou porteiras. A China tomou o lugar dos EUA no ranking de importação de produtos brasileiros.

BRASÍLIA DESERTA

Brasília está deserta. 23 dos 37 ministros estão de férias. O segundo escalão toca tranquilamente a máquina. Sem rebuliços. O Brasil roda no piloto automático. Eis uma alternativa plausível.

O LULISMO

O que é o lulismo? Tentativa de resposta: ter um olho olhando para a esquerda e outro para a direita; ser pragmático, acendendo uma vela a Deus e outra ao diabo; falar pelos cotovelos doa a quem doer; costurar um gigantesco cobertor social; aproveitar a maré brasileira e surfar nas ondas da crise internacional; sair dos fundões para os salões mais chiques da política mundial; procurar botar barro em todos os espaços da pirâmide social; dar tapinhas nas costas de um correligionário e piscar o olho para outro em atitude crítica; e, claro, nascer com a testa (?) para a lua cheia.

A VEZ DOS SUECOS?

Os militares da Aeronáutica preferem os Gripen, aviões de caça suecos, que acham mais versáteis e baratos. Lula prefere os franceses Rafale. Até teria firmado um pré-compromisso com o presidente Sarkozy. E Jobim, o ministro da Defesa, o que prefere? Uma vez, disse que o Brasil prefere os franceses. A palavra de Lula é a que valerá ao final. Mas os militares se conformarão? Resposta: quem é dono da flauta dá o tom.

CONSELHO A SÉRGIO CABRAL

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos congressistas. Hoje, volta sua atenção ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral:

1. Governador, não dê um passo maior que a perna.

2. Procure consertar as observações feitas sobre a irresponsabilidade dos governantes, reconhecendo que assinou um decreto autorizando construções em áreas ambientais em Angra dos Reis.

3. Explique a razão de sua ausência na Ilha Grande no primeiro dia da tragédia e o motivo porque mandou o vice-governador Pezão em seu lugar.


(Por Gaudêncio Torquato)

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