terça-feira, 4 de outubro de 2011

OBSERVATÓRIO



Ulysses Guimarães, um dos mais destacados líderes brasileiros da segunda metade do século passado, consignou que a autoridade é um atributo inato. É consubstancial ao político. A competência funcional é dada pelo cargo, a autoridade é pessoal, o homem público é gratificado por ela. É imantação misteriosa e sedutora, irresistível, temperada de respeito e admiração. Homem iluminado pela autoridade é visto por todos, ouvido por todos, onde está é o pólo da atração. Quando o presidente de Portugal, Craveiro Lopes, visitou o Brasil, sua senhora me disse que em concorrida recepção no Palácio São Bento, em Lisboa, de repente “sentiu”, embora não visse, que na sala entrara alguém: “Era o presidente Juscelino Kubitschek que acabava de chegar”.

HOMENAGEM

Noite de sexta-feira, 30 de setembro. O lendário Teatro José de Alencar alberga em suas dependências os mais expressivos nomes do mundo das artes, das lides jurídicas, do universo da mídia, da seara política e da messe empresarial. É a festa de entrega do troféu Sereia de Ouro, cobiçado laurel cearense, o Prêmio Nobel das terras Alencarinas. Como bem pontuou dona Yolanda Queiroz, “a Sereia de Ouro é um Troféu respeitado e ambicionado. A relação dos sereiados sugere um caleidoscópio da história do Ceará, revelando imagens de homens e mulheres que se distinguiram em variadas atividades, demonstrando talento, operosidade, amor pela causa pública, responsabilidade social e sensibilidade artística. Pela qualidade de seus respectivos trabalhos, os sereiados merecem permanecer na memória da sociedade cearense como seus heróis e beneméritos”. Quatro agraciados: o artista plástico Luis Hermano, o jornalista Fernando César Mesquita, o empresário Everardo Teles e o ministro Valmir Campelo. Este último, nosso conterrâneo e orador da noite. A escolha do ministro Valmir, detentor daquela imantação misteriosa e sedutora, irresistível, temperada de respeito e admiração, sugere-nos uma inflexão de raciocínio.

ESCASSEZ

Crateús, outrora conhecida pela fertilidade de talentos para a ‘res publica’ (coisa pública) vive como que desertificada na germinação de líderes substantivos. Há uma escassez de nomes vocacionados para o trabalho honesto em prol do interesse público, com aquele perfil que Ulysses Guimarães chamava de “estadista”. Estadista é o homem de Estado, que trabalha o permanente, e não de Governo, iludido com o passageiro. O verdadeiro homem público, político de caráter, talentoso, é arquiteto da esperança, fiel às idéias - não à carreira, dedicado exclusivamente ao bem estar da Pátria.

QUALIDADES

O ministro Valmir Campelo, dentre os crateuenses vivos, é indubitavelmente o detentor da mais rica e fabulosa carreira de dedicação à causa pública. No reluzente rol de suas qualidades está o fato de ser um homem de princípios, amante da instituição familiar, bom ouvinte, leve no trato, fiel aos compromissos, detentor de ampla visão de mundo e, sobretudo, extremamente laborioso. Em que pese ter construído sua carreira em Brasília, quando recebeu o troféu Sereia de Ouro, perante dois ex-presidentes da República que encabeçavam extensa lista de autoridades que lotavam o Teatro símbolo do Ceará, proclamou sua devoção à terra natal: “Faço questão de dizer que tenho apreço à semente nordestina germinada na terra fértil de Crateús. Mantenho fidelidade intransigente à terra onde nasci, sempre trazendo em gestos e símbolos sua lembrança e evocativos do rincão que me é por demais caro”. A cidade lhe deve um tributo de reconhecimento.

ARTICULAÇÕES

Reviravolta nas articulações políticas em Crateús. No próximo dia 06, expiram-se os prazos de filiação para quem deseja ser candidato no ano que vem. Duas variáveis serão decisivas na próxima eleição: a internet e o programa eleitoral gratuito. A primeira é imprevisível. A segunda depende das coligações feitas entre os partidos. Portanto, controle partidário é a principal prioridade neste período. No final de semana passado, a oposição fez vários movimentos que sinalizam para a construção de uma robusta aliança e uma disputa competitiva no prélio eleitoral de 2012. O PMDB, maior partido do País, dono de cobiçado tempo de rádio, ficou sob as rédeas de Zé Almir, Paulo Nazareno, Márcio Cavalcante e Bibi Apolônio, além de outros nomes estratégicos que só serão revelados no futuro. O PSDB ficou com o seu agrupamento histórico. Também deverá apresentar surpresas até o final desta semana. O PDT, sob o comando do doutor Lourival Rodrigues, cerra fileiras no campo liderado pelo Vice-Governador Domingos Filho. O PSB será tocado por doutor Nenzé. O DEM seguirá na trilha oposicionista. O PMN, também. A mais nova agremiação partidária nacional, o PSD, terá Nenen Coelho à frente. Estes partidos, e outros que se estão somando em articulações feitas nas últimas horas, indicam um animado (quiçá acirrado) embate.

PARA REFLETIR

“Alguém já disse que o homem, como todas as espécies, é um empilhamento de instintos. E se hoje aflora no Brasil a corrupção, e enfim a opinião pública e a imprensa a identificam e a combatem, talvez seja porque está começando a emergir o mais primitivo dos nossos instintos: o de sobrevivência”. (Valmir Campelo)

(Por Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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