terça-feira, 10 de julho de 2012

OBSERVATÓRIO

Principio narrando a história do candidato, que, arrebatado, enérgico, espumando de civismo, discorria sobre o sentido da liberdade. Argumentava que um povo livre sabe escolher os seus caminhos, seus governantes, eleger os seus vereadores, prefeitos e deputados. Para entusiasmar a multidão, levou um passarinho numa gaiola, que deveria ser solto no clímax do discurso. No momento certo, tirou o passarinho da gaiola, e com ele na mão direita, jogou o verbo: “a liberdade é o sonho do homem, o desejo de construir seu espaço, sua vida, com orgulho, sem subserviência, sem opressão; Deus (citar Deus é sempre bom) nos deu a liberdade para fazermos dela o instrumento de nossa dignidade; quero que todos vocês, hoje, aqui e agora, comprometam-se com o ideal do homem livre. Para simbolizar esse compromisso, vamos aplaudir soltar esse passarinho, que vai ganhar o céu da liberdade”. Ao abrir a mão, viu que esmagara o passarinho. A frustração por ter matado o bichinho acabou com a euforia e as vaias substituíram os aplausos. Foi um desastre. É sempre assim quando não se controla a emoção. Em se tratando do discurso político, a emoção mata frequentemente a razão. (Da lavra de Gaudêncio Torquato)

LARGADA

Esta semana marca o início oficial da campanha eleitoral. O Jornal O POVO do domingo passado listou quatro razões para um prognóstico de que as eleições este ano serão melhores que em outras quadras. A primeira delas é a aplicação da Lei da Ficha Limpa – pois será um marco nas eleições deste ano. Centenas de candidatos no Estado do Ceará – e milhares no Brasil – ficarão de fora do pleito. A segunda é a Transparência – pois nunca a sociedade brasileira exerceu tanta pressão sobre o poder público e teve tanto acesso a informação de como os governos funcionam. A terceira é a Fiscalização - os tribunais de conta, em todos os níveis (Municípios, Estado e União) estão, cada vez mais, fortalecidos e bem instrumentalizados. E a quarta é a Participação - o cidadão está mais participativo. Por meios analógicos ou digitais, acompanha a vida e a conduta dos homens públicos.

A LEI DA FICHA LIMPA

Repito aqui o que falei em entrevista de rádio: acho que a chamada “ficha limpa” há que ser considerada como uma via de mão dupla. Como vivemos em uma sociedade que adora transferir culpa, via de regra se aponta apenas para políticos e candidatos quando se exige decência, retidão e coerência. Ora, a busca por uma postura digna é obrigação de todos nós, cidadãos e eleitores. É o eleitor um ficha limpa quando chantageia ou transforma o seu voto em mercadoria?... Portanto, esse processo de assepsia há que permear todos os setores e segmentos sociais!

OS TRIBUNAIS

Nem tanto ao mar nem tanto a terra. É incrível como algumas pessoas fazem avaliações açodadas a respeito dos fatos. Outro dia deputados esbravejavam na tribuna da Assembleia Legislativa que “estavam burlando a Lei da Ficha Limpa”. A razão de tal afirmativa era algumas decisões que estavam reformando julgados dos Tribunais de Contas. Fui ver. Menos de 1% (um por cento) das pessoas que estão na lista do TCM/CE tiveram decisões revisionais favoráveis. Convenhamos: a via recursal – a possibilidade de alguém buscar, através de um recurso, a correção de um equívoco em uma decisão – é algo previsto no nosso ordenamento jurídico. Isso não significa o fim da lei. Ou sua burla.

A PARTICIPAÇÃO

Inegável que a participação das pessoas nas redes sociais terá um peso decisivo no processo eleitoral. Cada dia perde força o poder da encenação. Antigamente era mais bem sucedido o político que sabia ser melhor ator, que enganava com mais classe. Luis XIV resumia bem esse entendimento enviesado quando dizia que “os povos gostam do espetáculo; através dele, dominamos seu espírito e seu coração”. Esse reinado do malabarismo político, porém, está com seus dias contados. Pela internet o eleitor hoje sabe, em tempo real, os efeitos de uma maquiagem. Consegue ver, também, o lixo escondido por debaixo do tapete. Portanto, mais do que nunca, ganha destaque a transparência. Melhor desempenho terá o candidato que for mais claro e verdadeiro.

A PARTICIPAÇÃO II

Em Crateús passarão pelo crivo da observação popular: Adriana Calaça, Carlos Felipe, Eduardo Machado, Ivan Monte Claudino e João Coelho (Maçaroca). É hora da sociedade, através de seus segmentos de classe, convocá-los para o debate. Examinar suas ideias. Estudar seus projetos para o município. Confrontar as propostas com a prática. Submetê-los ao filtro do contraditório. E, com isso, enriquecer a campanha.

PARA REFLETIR

“Não se pode fazer política com o fígado, conservando o rancor e ressentimentos na geladeira. A Pátria não é capanga de idiossincrasias pessoais. É indecoroso fazer política uterina, em benefícios de filhos, irmãos e cunhados. O bom político costuma ser mau parente”. (Ulysses Guimarães)

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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