Abro a coluna com Zé Abelha, o impagável contador de historinhas mineiras.
Comício à Paganini
Comício em Entre Folhas, à época, distrito de Caratinga/MG. A política fervia. Os grupos iam aos palanques, armados até aos dentes. Zé Augusto, candidato, para onde vai, leva a tiracolo seu famoso violino, a pequena metralhadora, cuja capa lembra o instrumento de Paganini. Fazia parte da comitiva do candidato um famoso padre da região, o monsenhor Aristides Marques da Rocha, que militava no PSD e exercia grande influência sobre as massas. Só andava armado. Revólver em um bolso e as balas embrulhadas num lenço, bem amarradas, no outro. O monsenhor Rocha tinha a batina cheia de pequenos rasgos, feitos por devotos que arrancavam pedaços para fazer bentinhos. Um adversário de Zé Augusto, ao ver o monsenhor armado, toma coragem e tenta desconcertado:
- Uai, monsenhor, o senhor não vive dizendo que homem só morre quando Deus chama?
- É isto mesmo, meu filho, mas hoje eu estou armado porque posso encontrar algum udenista que Deus está chamando com urgência e, aí, eu presto um serviço ao Criador, matando o filho da p....
O comício de Zé Augusto transcorreu na santa paz.
Procurando um norte
Os programas eleitorais procuram um norte. Nas duas primeiras semanas, os programas tatearam no escuro, ao tentar fisgar o eleitorado com descrições melosas sobre a vida dos candidatos, propostas genéricas nas áreas de saúde e transportes, principalmente. Mas não deixaram também de fazer incursões na arena de guerra, ou seja, fustigaram adversários. Se formos dividir em blocos, podemos apontar o seguinte enquadramento: a) perfil dos candidatos; b) propostas e temas gerais; c) ataques; d) comparações entre ideias e estilos. Os programas, regra geral, não abrigam os recursos a serem investidos.
A campanha paulistana
Como era previsível, os programas de José Serra e Fernando Haddad são os que mais tempo se dedicam a questões da cidade, principalmente o do tucano. O programa do candidato petista tem dedicado muito tempo à descrição do perfil de Haddad, coisa compreensível face ao seu desconhecimento pelo eleitorado. Serra procura mostrar conhecimento sobre a cidade, gastando um bom tempo discorrendo sobre o sistema de transportes e saúde. Mostra o que já foi feito nessa área por ele e Kassab. Mais da metade do tempo de Haddad é usada para exposição sobre sua vida. O programa tucano bate forte na proposta petista do "bilhete mensal", chamando-o de "bilhete mensaleiro". A campanha negativa abriu espaço. Russomanno apresenta-se sempre no meio do povo. Chalita mostra sua carreira política, fixa a imagem do educador e propõe que o eleitor não dê ouvido às "picuinhas" entre tucanos e petistas. Soninha encaixa-se no rótulo da sustentabilidade, combate o apadrinhamento político, enquanto Paulinho da Força lapida a vertente do emprego, meta de sua proposta de descentralização.
Campanha negativa
A campanha negativa é a do ataque ao adversário, seja lembrando frentes abandonadas, seja tentando vincular propostas novas com situações escandalosas, como é o caso do bilhete mensal de Haddad, cuja associação com o "mensalão" torna-se patente. Os profissionais de marketing podem, até, se respaldar em pesquisas para decidir usar as armas de ataque em campanhas. Em casos específicos, principalmente quando ficou consagrada uma gestão irresponsável em alguma área - como a da saúde - mostrar cenários devastados pode gerar efeitos. Contanto que essa estratégia seja comedida, usada de maneira tópica. Não deve significar o eixo de um programa. O eleitor quer ver coisas positivas. Já nos Estados, os ataques ganham mais eficácia em função do embate histórico entre os partidos democrata e republicano.
Os políticos
"Político é dividido em duas partes. Uma trabalha para ser eleito. A outra trabalha para conseguir um cargo público se for derrotado". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas)
Embolados
Quatro candidatos podem embolar o meio de campo em SP: Serra, Russomanno, Haddad e Chalita. Os quatros podem oscilar em torno de 20% a 25%. Serra e Russomanno, descendo; e Chalita e Haddad, subindo. Haddad deve chegar aos 13% na próxima rodada. Pesquisas qualitativas abrem esta possibilidade. Lá pelo dia 15/20 de setembro, a tendência se mostrará mais clara. A campanha paulistana ainda se reveste de grandes interrogações.
O preço do voto
"O preço do voto de um eleitor mentiroso é sempre o mais caro". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas)
O livro do Ruy
Ruy Altenfelder Silva é um profissional de muitos conhecimentos, a partir do Direito, área que domina exemplarmente. Profissional de múltiplas atividades, consultor, conferencista, Ruy, do alto de sua experiência no comando de instituições de magnitude, como o Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE, também se destaca como um denso intérprete da vida nacional. Basta ver a infinita coleção de entrevistados de seu programa Diálogo Nacional, veiculado em 10 canais a cabo em diversas regiões do país, onde recebe os mais renomados perfis da cultura e da educação, da política e dos negócios. Preâmbulo para dizer que, hoje, às 18h30, Ruy lançará o livro "Diálogo Nacional - Repensando o Brasil", que terá coautoria de Alexandre Artacho Altenfelder Silva. A obra contém 35 artigos, envolvendo questões de ética, política, educação e desenvolvimento.
Mensalão
Até o momento, o julgamento do mensalão derruba hipóteses preliminarmente assentadas. Não há dois grupos de ministros, um pela absolvição, outro pela condenação dos réus; os ministros têm procurado expressar abordagens diferentes, ângulos inusitados. Ou seja, não há concordância com todos os pontos levantados pelo relator. E mesmo quando concordam, enxergam aspectos diferenciados. A expressão reveste-se de densa argumentação jurídica. Quanto à influência sobre as eleições, este consultor volta a lembrar: o processo apenas reforçará pontos de vista já firmados por grupamentos de eleitores, não induzindo o voto. O grande eleitorado tende a votar por esta geografia do voto: bolso, estômago, coração, cabeça.
Adversário
"Quando estamos no governo, todo adversário que quer se encaixar diz ser técnico". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas)
Delfim pergunta
Delfim Netto, nosso economista maior, pergunta: "como vamos organizar a sociedade brasileira para propiciar empregos - de boa qualidade e salários adequados - a 150 milhões de pessoas que constituirão a população em idade ativa em 2030?".
Delfim responde
"Se quisermos ter em 2030 algo parecido com o nível de renda per capita em paridade de poder de compra de Portugal de hoje, temos de crescer em torno de 5% ao ano (mais ou menos 4% do PIB per capita), em média, nos próximos 18 anos. Isso exigirá cuidadosa e rigorosa política fiscal, capaz de sustentar a política monetária (que produzirá o equilíbrio interno), e adequada política cambial (que produzirá o equilíbrio externo)".
O choque
"Há um fato na política que a torna bastante interessante: o choque dos falsos políticos com os políticos falsos". (Augusto Zenun, de Campestre, sul de Minas)
168 mil temporários
Levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário (Asserttem) revela que de janeiro a julho deste ano foram contratados 168 mil temporários para trabalhar em diversos segmentos no comércio, indústria e lazer. Deste total, cerca de 10%, ou seja, 16 mil trabalhadores foram efetivados na vaga. Os números consideram somente as contratações feitas nos períodos de aumento na demanda, como as férias de verão, Páscoa, Dia das Mães e férias de julho. De acordo com as pesquisas, encomendadas pela entidade ao Instituto Ipema, a data que mais gerou vagas temporárias foi a Páscoa, com 70,8 mil contratos, sendo 7 mil efetivações.
As greves
A presidente Dilma deve se esforçar para o Congresso aprovar a lei que regulamenta as greves no setor público. Vai enfrentar muitas resistências, a partir das Centrais Sindicais. Mas a opinião pública não concorda com o grevismo desenfreado que paralisa setores da vida nacional. A questão é: qual a causa das greves de servidores, se estes ganham salários que, na média, chegam a ultrapassar os de categorias assemelhadas na iniciativa privada? Resposta: o engessamento da legislação trabalhista e os escudos que o governo construiu, ao longo dos últimos anos, para abrigar o sindicalismo. Como se sabe, as frentes do trabalho foram entregues ao sindicalismo, a começar pelo Ministério do Trabalho. O mundo gira na roda do trabalho. Que, no Brasil, está travada. A livre negociação foi para o brejo. O que vale, hoje, é a rígida obrigação imposta por um acervo legislativo herdado do passado.
À Propósito
Os servidores Federais de 18 categorias aceitaram proposta de reajuste salarial de 15,8% oferecida pelo governo. São servidores dos ministérios da Saúde, Previdência, Trabalho, Cultura, Fazenda, Agricultura, Planejamento, Transportes, além de Arquivo Nacional, Imprensa Nacional, Museu do Índio, Embratur, entre outros.
As relações de Guimarães Rosa
Guimarães Rosa, o grande escritor mineiro, prezava o que chamava de 'Relações Exteriores', ou seja, suas relações pessoais com terceiros. O velho Rosa alinhava as normas de sua 'mineirice', dentre as quais Zé Abelha nos brinda com essas:
"Combater a expansividade, em todas as suas formas. De uma maneira geral, é preciso guardar silêncio".
"Dominar todos os impulsos. Não comunicar notícias, não transmitir novidades".
"Never explain, never complain". (Nunca explicar, nunca queixar-se!)
"Não ser afirmativo (dogmático) nem demonstrativo (explicativo)".
"Não expressar nunca as nossas impressões, especialmente as que resultam das conversações que ouvimos".
"Cada exclamação, cada palavra, cada gesto - conservador - aumentam nossas reservas".
"Moderar todos os movimentos expressivos e dar apenas mui ligeiras mostras de emoção, surpresa, alegria, descontentamento".
Conselho aos partidos
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos. Hoje, sua atenção se volta aos partidos:
1. As primeiras escaramuças de campanha mostram que a negatividade abre campo nos espaços da mídia eleitoral. Não deixem seus candidatos e assessores trilhar as vias tortuosas dos ataques a adversários e xingamentos.
2. Procurem compor programas eleitorais com exposições objetivas e propostas viáveis, demonstrando quanto custarão e de onde virão os recursos.
3. A procura de diferenciais para arrumar os perfis dos candidatos é uma meta desejável e todo esforço de marketing deve ser empreendido para consegui-la. É legítima a comparação de perfis quando dois ou mais contendores debatam suas diferenças no plano das ideias, não na esfera de vida pessoal.
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(Gaudêncio Torquato)
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