Lavô, o bonito
Abro a coluna com duas historinhas que tem como personagem o ex-governador do RN, Lavoisier Maia.
Lavoisier não é um tipo de beleza admirado. Mas é considerado uma figura simpática. Um grande galanteador. Quando governador do RN, era esperado para inaugurar o serviço de energia elétrica do Paraná, cidadezinha encravada no extremo oeste do Estado. Preparou-se uma grande festa. Palanque armado, povo reunido, banda de música, muita comida e bebida. O governador não aparecia. Lá pelas 23h, esgotado das andanças na região, faminto, chegou à praça central para o grande evento. Confusão para saber quem iria preceder o governador nos discursos. Depois de muita negociação, chegou-se ao consenso: a palavra seria apenas do governador Lavô, como era chamado pelo povão. Extenuado, o governador pegou o microfone e começou: "meu querido povo do Paraná". Nesse instante, um bêbado com uma garrafa de cachaça, na frente do palanque, começou a gritar para delírio geral: "é o bonito, é o bonito, é o bonito". Ali mesmo, sob uma tempestade de risos, acabava-se o comício.
O galanteador
O ex-governador, ex-senador do RN e ex-deputado Federal Lavoisier nunca perdeu a oportunidade para exibir as qualidades de galanteador. Em uma de suas viagens de Natal a Brasília, um pouco antes da decolagem do avião, pediu a um amigo, sentado atrás, que lhe emprestasse os jornais da terra. O amigo procurou se levantar para levar os jornais, mas foi demovido pela aeromoça, já que o avião estava decolando. O rapaz pediu "leve, por favor esses jornais para o governador Lavoisier". A aeromoça, levando os jornais, quis conferir a informação: "o senhor é o governador Lavoisier Maia ?". Com sua inconfundível língua enrolada, Lavoisier respondeu de pronto: "Pois não, sou deputado, mas ex-governador, ex-senador e também ex-casado, à sua disposição". (P. S. Havia se separado de Vilma Faria, também ex-governadora e ex-deputada Federal)
FHC entra na arena
O ex-presidente Fernando Henrique mantinha, até semana passada, uma postura de equidistância da guerra eleitoral. Foi agraciado pela presidente Dilma com o convite para participar, em Brasília, de um evento que reuniu ex-presidentes da República. Lembre-se que ele participara antes de um jantar, em outubro de 2011, com o grupo The Elders, reunindo a ex-primeira ministra da Noruega, Gro Brundtland, a indiana Ela Bhatt e o ex-presidente americano Jimmy Carter. FHC retribuiu o gesto, expressando elogios à primeira mandatária. Mas mudou de postura nos últimos dias, ao se referir à "pesada herança" que ela herdou do governo Lula, em artigo publicado, dia 2, domingo, no Estadão. (Aliás, do lado dele, estava meu artigo sobre a corrupção). Na verdade, parecia uma resposta a todas as abordagens, feitas nos últimos anos, sobre "a herança maldita" que a era Lula atribuía ao ciclo FHC. O tucano bateu forte, mostrando os buracos abertos pela administração lulista. Apontou, como exemplo, "a desorientação da política energética".
Dilma responde
Em nota oficial, a presidente não apenas refuta o argumento de que teria recebido a "pesada herança", mas insere o seu patrocinador na galeria dos "estadistas". E acusou: "não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob ameaça de apagão". A nota foi uma candente defesa do lulismo e, claro, do seu próprio governo. A tênue linha educativa que distinguia as relações entre a atual presidente e o ex-presidente se esgarçou. Ao decidir chutar o pau da barraca do ciclo Lula, FHC entrou na guerra eleitoral. Pode ter sido movido pela intensa presença de Lula nos programas dos candidatos petistas nas capitais, a partir de SP, onde seu candidato, José Serra, entra em acentuado declínio. O fato é que a polarização entre tucanos e petistas toma lugar não apenas na vanguarda das campanhas de Serra e Haddad, mas na retaguarda, onde aparecem os ícones partidários, liderados pelos dois maiores, Lula e FHC.
Mais leitura sobre São Paulo
Adensa-se o caderno de leituras sobre a campanha de SP. Por mais que este consultor tenha feito exaustivas análises sobre os possíveis cenários, continua a enfrentar a questão: quem vai para o segundo turno? Para esta instigante dúvida, a bola de cristal recusa-se a dar respostas fechadas. Mas aponta algumas hipóteses: 1) Russomanno consolida sua posição; 2) Serra, caindo mais, abre espaço para o ingresso de Fernando Haddad no segundo turno; 3) É provável um "embolamento" de candidatos ao redor do patamar de 20% a 25%.
Segundo turno
No segundo turno, as dificuldades seriam bem maiores para José Serra. Que veria contra ele a integração dos outros candidatos de maior expressão eleitoral. Russomanno seria, até, mais mortal para Serra que Fernando Haddad. Contra este, poderia desaguar uma onda crescente anti-petista. Serra, para sobreviver à maré vazante, teria de resgatar na cachola dos eleitores a credibilidade perdida. Persiste a versão de que, eleito, não ficaria até o final do mandato. Ademais, a impressão que passa é que, em 2012, Serra faz a mesma campanha de 2004.
Efeito televisivo
Haddad já consegue se firmar como candidato de Lula. Faz, também, uma campanha moderna, de efeitos tecnológicos de impacto na TV. Chalita aparece bem na TV, com imagens limpas, discurso claro e tentando quebrar a polarização. Poderá subir bastante. Serra usa a velha morfologia. Campanha previsível. Russomanno tem um programa de TV muito pobre de ideias e propostas. Que procura disfarçar com a embalagem do povo. Está sempre ao lado de gente, conversando, ouvindo, fazendo-se de xerife. Soninha é poesia e utopia. Paulinho tem melhor desempenho que em campanhas passadas. Passa franqueza. Mas circula em um corredor de restrições. Os restantes são pequenos traços expressivos. Recheados de exclamações radicais.
PT em tom menor
Nesse momento, o cenário eleitoral aponta para um refluxo do PT no Nordeste na esteira do adensamento do PSB, a partir da provável derrota do senador Humberto Costa, em Recife, e consequente vitória de Geraldo Julio, candidato do governador Eduardo Campos. A propósito, Geraldo já passou Costa: 33% contra 25%. Mas se o PT ganhar em SP, recupera com juros e correção monetária todas as eventuais perdas que, por acaso, registrou na trajetória eleitoral de 2012. Uma vitória em SP seria o sonho dos sonhos petistas. Consolidaria a posição do partido na maior praça eleitoral do país, abrindo horizontes promissores para a disputa do governo do Estado e reeleição da presidente Dilma.
Os primeiros candidatos
Se Fernando Haddad vencer na capital paulista, abre-se a fila de pretendentes ao governo do Estado, em 2014, com os nomes de Aloysio Mercadante e Marta Suplicy. Mas o ícone do partido, Luiz Inácio, dependendo das circunstâncias do momento (economia, saúde pessoal), poderá ser o coringa do baralho. Difícil acreditar nessa hipótese. Mas tudo é possível em política. Se a economia cair no despenhadeiro, Lula serviria de contraponto e sairia puxando a emoção das massas. Caso contrário, continuará a ser o "conselheiro-mor" de Dilma e dos petistas que entrarão na moldura dos candidatos.
Manu em Porto Alegre
Manuela D'Ávila (PC do B) abre os horizontes de amplas possibilidades. Porto Alegre abre caminho para ser administrada pela disposição e jovialidade desta candidata.
Cenas do passado
Corre na rede um vídeo sobre Celso Russomanno quando fazia cobertura de carnaval. Trata-se de campanha negativa contra o candidato. Outro tempo, outro contexto, outras motivações.
Assistência social
O que é mais assistência social? Tirar um jovem das ruas e do mundo das drogas, incentivando-o com uma bolsa de estudos, com a qual poderá ajudar a família, ou incentivar meninas nordestinas a terem filhos e, assim, poderem ganhar a Bolsa Maternidade? No Nordeste, milhares de moças recebem o adjutório paternalista do governo. Recusam-se a trabalhar porque não querem ter carteira assinada. Temem perder a bolsa maternidade. Essa mentalidade é incentivada pela área social do governo Dilma. Lamentável esse conceito de assistência social. Que ameaça perpetuar o paternalismo assistencialista/caduco/dinossaurico do Estado brasileiro.
Devoluções
O Grupo do ex-senador Luiz Estevão fez acordo para devolver aos cofres da União R$ 468 milhões. Que teriam entrado ilegalmente em suas contas. Agora é a vez do ex-juiz Lalau. A AGU confirma que o Brasil recuperou, por meio do Tribunal Federal da Suíça, US$ 6,8 milhões que estavam bloqueados no país desde 1999, na conta bancária do ex-juiz. As coisas começam a tomar um novo rumo.
A economia sob controle
Quem apostava na economia desembestada, neste segundo semestre, pode ter de mudar suas expectativas. Tudo indica que continuará sob cabresto curto. Os controles estão afiados. Os pacotes de motivação continuarão a ser abertos. Para os próximos meses, os efeitos defasados de política monetária, a continuidade dos estímulos fiscais/tributários e o programa de investimento em transporte e logística, recentemente anunciado pelo governo Federal, devem intensificar o processo de retomada já em curso da atividade industrial. O monitoramento da inflação terá lupa mais precisa. Significa que o governismo dará o tom geral das eleições, deixando as oposições com perspectivas de vitória apenas nos espaços onde os governantes estaduais oposicionistas forem bem avaliados. Por governismo, leia-se: o conjunto de partidos que formam a base política do governo Dilma.
A indústria da guerra
Pequena observação à margem da campanha eleitoral nos Estados Unidos. Mitt Romney arrecada o dobro de Barack Obama. Ele passou a ser a bola da vez em matéria de novidade. Ele entrou na faixa dos já vistos e conhecidos. O republicano ressuscita o império da guerra. As grandes corporações despejam milhões de dólares em sua campanha. Voltam a ter esperança de produzir arsenais de guerra. E a faturar em cima do espectro dos conflitos do mundo contemporâneo.
Oração de Brian I
Discurso de Brian Dyson, ex-presidente da Coca Cola, ao deixar o cargo.
"Imagine a vida como um jogo em que você esteja fazendo malabarismos com cinco bolas no ar. Estas são: Trabalho - Família - Saúde - Amigos e Vida Espiritual. Você terá de mantê-las todas no ar. Logo você vai perceber que o Trabalho é como uma bola de borracha. Se soltá-la, ela rebate e volta. Mas as outras quatro bolas - Família, Saúde, Amigos e Espírito - são frágeis como vidros. Se você soltar qualquer uma destas, ela ficará irremediavelmente quebrada, marcada, com arranhões, destroçadas, vale dizer, nunca mais será a mesma. Entenda isto: aprecie e se esforce para conseguir cuidar do valor mais valioso. Trabalhe eficientemente no horário regular do escritório e deixe o trabalho no horário. Gaste o tempo requerido à sua família e aos seus amigos. Faça exercício, coma e descanse adequadamente. E, sobretudo... Cresça na sua vida interior, na parte espiritual, a coisa mais transcendental, porque é eterna".
Oração de Brian II
"Shakespeare dizia: 'Sempre me sinto feliz, sabes por quê? Porque não espero nada de ninguém. Esperar sempre dói'. Os problemas não são eternos, sempre têm solução. O único que não se resolve é a morte. A vida é curta, por isso, ame-a!". Viva intensamente e recorde: Antes de falar... Escute! Antes de escrever... Pense! Antes de criticar... Examine! Antes de ferir... Sinta! Antes de orar... Perdoe! Antes de gastar... Ganhe! Antes de se render... Tente de novo! Antes de morrer... Viva!".
Vagas especiais
SP lidera a vanguarda em algumas frentes da cidadania. Um exemplo pode ser apontado nos espaços destinados ao estacionamento de pessoas portadoras de necessidades especiais e idosos. Mas, nos últimos tempos, observa-se relaxamento da fiscalização. Nas ruas e em estacionamentos de shopping centers, as vagas especiais estão sendo ocupadas por automóveis sem as devidas identificações, incluindo os cartões especiais emitidos pelo DETRAN. A cidadania exige respeito à legislação. Cobra-se fiscalização rigorosa dos órgãos responsáveis.
Conselho a presidente Dilma
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos partidos. Hoje, sua atenção se volta à presidente Dilma Rousseff:
1. A Corte Suprema do país é o espaço sagrado que deve abrigar os mais preparados e renomados nomes do saber jurídico nacional.
2. Essa razão, por si só, justifica que os perfis designados para compor o alto colegiado devem reunir os valores morais e éticos e a bagagem de conhecimentos que conferirão credibilidade, respeito e grandeza ao STF.
3. Vossa Excelência, do alto de sua imensa responsabilidade, saberá escolher, dentre a plêiade de nomes, aqueles que reúnem as melhores condições para substituir os ministros que, compulsoriamente, deixam a Corte, ministro Cezar Peluso (que já saiu) e Ayres Britto (ao final do ano).
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(Gaudêncio Torquato)
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