quarta-feira, 17 de outubro de 2012

CONJUNTURA NACIONAL

Abro a coluna com duas historinhas da Paraíba.

Cancelo chuvas

A seca era medonha. A Paraíba em desespero, o governador aflito. Um dia, caiu uma chuva fininha no município de Monteiro. Inácio Feitosa, o prefeito, correu ao telégrafo:

"Governador José Américo: chuvas torrenciais cobriram todo município de Monteiro. População exultante: Saudações, Feitosa".

Os comerciantes da cidade, quando souberam do telegrama, ficaram desesperados. O município não ia mais receber ajuda. Ainda mais porque a mensagem era falsa e apressada. Feitosa correu de novo ao telégrafo:

"Governador José Américo: cancelo chuvas. População continua aflita. Feitosa, prefeito".

Sinceridade e sagacidade

Zé Cavalcanti, ex-deputado paraibano, conta em seu livro "A Política e os Políticos", que um coronel do sertão, ao passar o comando de seus domínios para o filho, aconselhou:

- Meu rapaz, se queres ser bem sucedido na política, cultiva estas duas verdades: a sinceridade e a sagacidade.

- O que é sinceridade, meu pai?

- É manter a palavra empenhada, custe o que custar.

- E o que é sagacidade?

- É nunca empenhar a palavra, custe o que custar.

Tucano bica, petista rebate

A campanha paulistana adentra o segundo turno sob bicadas do tucano Serra no candidato petista Fernando Haddad. As bicadas ocorrem em diferentes graus de contundência, pegando coisas da gestão do ex-ministro Haddad na Pasta da Educação como o Kit Gay, as provas vazadas do Enem, etc. O petista rebate com o argumento de que Serra destila ódio. E mais, lembra que o DNA do mensalão é mineiro. Serra espera que os ataques que faz consigam desconstruir a imagem do petista. E este acha que o revide acabe engolfando a imagem de Serra. Ora, nem um nem outro conseguirão induzir o eleitorado com suas estocadas recíprocas. O efeito é bem diferente do que esperam.

O efeito

Tenho lembrado, em muitas oportunidades e textos, que a desconstrução da imagem de candidatos só é eficaz quando o foco é o plano das ideias. Ou seja, quando se procura atacar as posições dos adversários sobre questões que afligem as massas eleitorais, desde grupamentos conservadores a contingentes abrigados nas margens. Exemplo dessa situação ocorreu com Celso Russomano, que recebeu uma paulada de Fernando Haddad quando defendeu custo mais alto de passagens para viagens mais longas. O pobre que mora nos confins da periferia de SP acabaria pagando o pato. Foi tiro e queda. Caiu Russomano. Coisas semelhantes podem ocorrer na esfera da defesa do aborto e de outros temas polêmicos.

Reforço de posições

Portanto, as campanhas negativas que procuram desconstruir perfis são, feitas as exceções, perniciosas aos candidatos que as patrocinam. No fundo, apenas reforçam posições e pontos de vista já firmados por eleitores já definidos de partidos e candidatos. E se isto é o que recomendam os manuais de marketing eleitoral, por que candidatos continuam a insistir em lições obsoletas? Velha resposta: porque os assessores de marketing querem testar todas as possibilidades. Ademais, há um grupo de porta-vozes informais que pensam na verdade da hipótese da desconstrução. Quando a diferença entre um candidato e outro ultrapassa a marca dos dois dígitos a vontade de encurtar a distância com a tática da guerra de guerrilha emerge com mais força.

O que se pode esperar?

Essa é a pergunta que fazem diariamente a este consultor. Que responde com o mantra: não tenho bola de cristal. Mas pode-se apontar tendências. Eis algo que parece platitude: quem saiu muito de baixo para chegar a um alto índice encarna a posição de candidato ascendente; a recíproca é verdadeira, ou seja, quem saiu de um alto índice e chega menor no segundo turno encarna o perfil descendente, em queda. Outro sinal é dado pelo índice de rejeição. Alta rejeição sinaliza alto risco; a recíproca é verdadeira. São duas abordagens a se considerar. Que o leitor/eleitor faça sua própria leitura.

Muita sede ao pote

A ambição na política é um fator de oportunidades. Quem tem ambição abre caminhos de determinação e persistência. Se um político ambiciona ser um alto cargo, bem mais alto do que o que exerce, precisa buscar os meios e instrumentos para viabilizar sua meta. Até aqui, tudo bem. Mas a meta precisa ser compatível com os meios que o político dispõe ou poderá dispor. Vamos dar nome à hipótese: Eduardo Campos, governador de PE, quer ser candidato à presidente da República. Se não vingar a ideia, diz-se que pleiteia ser candidato a vice na chapa encabeçada pela presidente Dilma à reeleição. Tem chances? Vejamos. O PSB teve um aumento de 53% em seu território municipal. Podendo crescer ainda mais. Foi o partido que mais ganhou com o processo eleitoral. Mas continua a ser menor do que o PT e o PMDB. Portanto, a meta é ambiciosa, mas o cacife é menor do que o governador de PE procura sinalizar.

O que pode acontecer?

Portanto, a parceria para 2014, em termos de presidência da República, deverá continuar envolvendo PT e PMDB. Edu Campos poderia se aliar à Aécio Neves e sair com ele numa chapa casando PSDB e PSB? Pode. Ele é um político pragmático. Nesse momento, deixará a amizade e o respeito que tem por Lula em segundo plano. Essa hipótese só vingará se a economia brasileira estiver capengando nos pastos de 2014. A economia será o termômetro da corrida de Campos. Que poderá cair na vala que ameaça colher políticos que querem dar um passo maior que as pernas. A ambição é importante, conforme ensina a lei; a ambição desmesurada mata.

Lula, o ideólogo

Para quem tem ainda alguma dúvida, eis a resposta : Lula não será mais candidato a nada. Basta refletir. Veio do andar mais baixo e subiu o mais alto. Comandou o país durante oito anos. Fez um governo de consolidação da base econômica de fortalecimento dos braços sociais do Estado. O maior programa de distribuição de renda da atualidade. Elegeu a presidente Dilma. Curou um câncer. Tirou do bolso candidaturas jovens, como as de Fernando Haddad, em SP, e Marcio Pochman, em Campinas. Pode eleger esses dois. É o guru do PT. O mais admirado político da atualidade. Tem carisma. Com toda essa bagagem, precisaria reforçá-la, ainda mais, com uma volta à presidência? Aqui pra nós, depois de pairar no Olimpo, descer à terra não seria retroceder?

Sociedade condenada

"Quando você perceber que, para produzir precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho; que as leis não nos protegem deles mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício, então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada". (Ayn Rand)

Eduardanas Cabralinas

Eduardo Paes mais parece um moço de recados de Sérgio Cabral. Nos últimos dias, tem dado entrevistas sobre a candidatura do governador Cabral para a vice da presidente Dilma em 2014 tirando da chapa Michel Temer. Que, aliás, está no auge de sua performance como articulador. Michel costurou o apoio do PMDB ao PT em diversos municípios, a partir de SP. A presidente Dilma, com quem tem estreitado as conversações, encontrou em seu vice o perfil do negociador e diplomata, dando a ele muitas representações no exterior. Pois bem, nesse momento de alto prestígio do vice, o prefeito Paes, cristão novo no PMDB, decidiu fustigá-lo e, de maneira deselegante, inventa a candidatura do seu amigo de boemia, Cabral, como vice de Dilma.

Indignação

O fato indignou o corpo peemedebista. Geddel Vieira Lima, que não tem papas na língua, lembrou que Paes, sem voz no partido, quer resgatar a República dos Guardanapos. Estocada para lembrar a farra parisiense do governador com Fernando Cavendish, todos dançando e envergando guardanapos na cabeça. Cavendish é personagem da CPI em andamento no Congresso. E assim, o tiro de Paes começa a entrar pela culatra. Os personagens de Paris à Meia Noite ameaçam voltar ao palco iluminado. Sob lembrança das bicadas ferozes que Eduardo Paes, ex-tucano de bico alto, dava em Lula. Nos bastidores, a indignação se expande : Paes troca de opinião e partido como troca de poeta. Dia desses, proclamou não ser PMDB, mas RJ. Se não é PMDB, por que tanto interesse em defender candidaturas como alto prócer do PMDB? Ou essa operação casada foi apenas um balão de ensaio?

Duda Mendonça

Esta coluna manifesta a sua satisfação pela absolvição de Duda Mendonça. E reconhece nesse profissional grandes qualidades como publicitário que escreveu seu nome em algumas das mais criativas e eficazes campanhas eleitorais do país.

Vereadores

A planilha de vereadores no Brasil ficou assim: PMDB, 7.964 (tinha 8.475); PSDB, 5.248 (tinha 5.897); PT, 5.164 (tinha 4.168); PP, 5.164 (tinha 5.128); PSD,4.6639 (não existia em 2008); PDT, 3.654 (tinha 3,523); PTB, 3.566 (tinha 3.934); PSB, 3.566 (tinha 2.956); DEM, 3.275 (tinha 4.801); PR, 3.190 (tinha 3.534). Outros: 12.135 (tinham 9.487).

Propaganda, à guisa de história

A propaganda política, ensinava Jean-Marie Domenach, professor francês de Humanidades e considerado um dos papas dessa ciência, "faz o povo sonhar com as grandezas passadas e com as glórias do futuro". Para "vender" esta miragem, a propaganda tem usado uma combinação de quatro impulsos - combativo, alimentar, sexual e paternal/maternal - que movem os seres vivos. Cada um desses instintos exerce uma função na estratégia de motivar e engajar a sociedade, mas os dois primeiros ganham ênfase por mexer com a conservação e a sobrevivência dos indivíduos. O uso da propaganda tem sido intenso não apenas nos ciclos dos grandes movimentos de massas - revoluções francesa e russa, I e II guerras mundiais - mas no dia a dia da política, transformando-se em eixo central das estratégias de marketing.

Correia de transmissão

Nos sistemas autoritários, é a correia de transmissão para dizer "a verdade dos governantes", enquanto nos regimes democráticos, passa a ser o anzol para pescar o voto dos eleitores e, ainda, o cabo de guerra para animar os exércitos das campanhas. A revolução francesa de 1789 pode ser considerada o marco da propaganda agressiva nos termos em que hoje se apresenta, inclusive neste nosso aguerrido segundo turno da campanha presidencial. Ali, os jacobinos, insuflados por Robespierre, produziram um manual de combate político, recheado de injúrias, calúnias, gracejos e pilhérias que acendiam os instintos mais primitivos das multidões.

Os americanos

Na atualidade, é a Nação norte-americana que detém a referência maior da propaganda agressiva, mola da campanha negativa. Este formato, cognominado de mudslinging pelos norte-americanos, apresenta efeitos positivos e negativos. No contexto dos dois grandes partidos que se revezam no poder - democrata e republicano -, diferenças entre perfis e programas são mais nítidas e a polarização sustentada por campanhas combativas ajuda a sociedade a salvaguardar os valores que a guiam, como o amor à verdade, a defesa dos direitos individuais e sociais, a liberdade de expressão, entre outros. Mesmo assim, nem sempre a estratégia de bater no adversário gera eficácia. Na campanha ao Senado, em 2008, a republicana Elizabeth Dole atacou a rival Kay Hagan, veiculando um anúncio que insinuava ser ela ateia. A democrata reagiu vigorosamente dizendo ser professora, religiosa e que Dole queria, na verdade, desviar a pauta econômica - eixo da crise financeira. Ganhou a disputa por uma margem de nove pontos. Já Lyndon Johnson, em 1964, detonou o republicano Barry Goldwater, associando-o à ameaça de uma guerra nuclear.

Conselho aos dois candidatos da campanha paulistana

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos que disputam o segundo turno. Pois bem, hoje a atenção se volta aos candidatos do maior pleito do Brasil, o da capital paulista:

1. Suas estocadas recíprocas - mensalão petista, mensalão mineiro, Kit Gay, falta de experiência, aborto - não fazem parte do menu apreciado pelo eleitor médio. Apenas reforçam pontos de vista de eleitores tradicionais dos partidos e candidatos.

2. Procurem apresentar propostas e ações para as diversas zonas e regiões que compõem a anatomia da capital. A partir das demandas mais urgentes e prioritárias.

3. Clareza, objetividade, concisão, precisão, proximidade. Eis alguns conceitos que podem servir de moldura aos programas. Falem com a expressão de suas crenças e com o ardor de suas convicções.

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(Gaudêncio Torquato)

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