Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
MISSANTA BONFIM (RAIMUNDA RODRIGUES BONFIM)
Com o coração envolto em lágrimas recebi a notícia de que hoje (dia 16.11.2012) foi chamada para a Casa do Pai a minha querida avó, Missanta Bonfim (Raimunda Rodrigues Bonfim).
Mês passado, na fazenda Mondubim, por ocasião do seu aniversário de 92 anos, quando lhe desejamos muitos anos de vida, ela fez um reparo: preferia saúde!
Pela primeira vez, a nossa nonagenária guerreira emitia um sinal diferente. Era uma espécie de aviso, premonição ou similar.
Apesar do abalo, tenho aquela agradável sensação de que estamos indo levar ao túmulo uma pessoa de inestimável valor espiritual. Uma santa!
Reponho a crônica que lhe dediquei no seu aniversário de noventa anos!
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Os meses do ano coroados com a sílaba “bro” costumam ser bafejados, no sertão do Ceará, com os mais elevados índices de temperatura. Invariavelmente ao redor dos quarenta graus.
No dia 23 de outubro deste 2010, no entanto, a fazenda Mondubim, que dista 23 quilômetros da cidade de Crateús, amanheceu sob a surpresa do afago de um clima ameno. Um cenário agradável – caracterizado por uma combinação de pausa na inclemência solar com a gratuidade do céu espargindo delicados fios de água – como que convidava as pessoas a dar graças à vida ou compartilhar a boa prosa no largo alpendre da fraternidade!
Essa dupla alteração no horizonte sertanejo e no coração das pessoas, para os membros da minha veia familiar, foi obra da nossa matriarca: Missanta! (Sua filha Toinha havia profetizado: - “Nós já sabemos que a mamãe é santa. Para que os outros tenham essa certeza, só falta um milagre: chover no dia do aniversário”. E choveu!)
Missanta! Esse prenome íntimo, carinhoso apelido familiar, obra dos seus genitores e produto da junção litúrgica de missa e santa, incorporou-se à sua doce figura e substituiu o nome de batismo: Raimunda Rodrigues Bonfim.
A Vó Missanta - Tia Santa para a grande maioria – celebrou seus 90 (noventa) outubros sob o conforto de todos os filhos vivos, netos, bisnetos e demais componentes de seu imenso arvoredo genealógico. Durante estas nove décadas só residiu em duas casas: o habitat de nascimento, na localidade Lagoa das Pedras dos Rodrigues, e o lar do Mondubim, um casarão de calçada alta e teto trabalhado com arte, para onde se mudou após ter trocado aliança com José Moreira Bonfim (o Têtêro), no dia 29 de junho de 1939. (Aliás, a medida da aliança foi feita em um pedaço de pano, pois antes de casar minha avó nada havia colocado entre os dedos).
A trajetória de Missanta Bonfim está vinculada aos eflúvios superiores do Espírito. Viu o sol do mundo pela primeira vez às 14:00 horas de um dia de sábado: 23 de outubro de 1920. (Quem nasce em dia de sábado é regido por Saturno e conhece o sentido do tempo, a paciência, a sabedoria, o amadurecimento. Tem a graça de viver sob o impulso abençoado de uma vida laboriosa).
Seis homens e quatro mulheres vieram à terra através do seu ventre. Criou doze filhos: José Maria Bonfim, Sebastião Bonfim Neto, Rosária Rodrigues Bonfim, Josefa Rodrigues Bonfim (Zezé), Domingos Rodrigues Neto, José Itamar Bonfim, Antonia Rodrigues Bonfim (Toinha), Manoel Fernandes Bonfim, Lauro Rodrigues Bonfim, Maria de Lourdes Rodrigues Bonfim, Francisco Stênio Bonfim e Antonio Luiz dos Santos.
Por inevitável, saboreou frutas amargas. Carregou nos ombros maternais o peso da humana cruz e sentiu no peito as pedras cortantes da longeva caminhada. Teve que colocar na nave que leva os seres para a estação da outra dimensão, além do próprio cônjuge, três filhos: Lauro, Manoel e Rosária. Deles se recorda diariamente.
Porém, continua Missanta. Desfila, na passarela do convívio, com a elegância discreta de uma miss e a radiosa alma de uma santa. Mantém, no acolhedor terreiro do coração, uma permanente fogueira de espiritualidade como que a fazer contraponto à redução de temperatura gregária.
Sem embargo é por isso que coleciona, no anonimato de sua saga pessoal, feitos admiráveis. Aos noventa anos, Missanta Bonfim mantém o sorriso nos lábios e conserva hábitos incomuns para os da sua idade: levanta cedo, administra a própria casa, monta na garupa de uma motocicleta, brinda e sorve com alegria um copo de cerveja ou uma taça de vinho, se alimenta sem qualquer restrição e aceita sem pestanejar os constantes convites que recebe para participar dos mais variados eventos. Vive tranqüila e intensamente. É serena e afável, pacífica e bondosa!
Indaguei-lhe qual o segredo de viver em paz consigo mesma. Ela me respondeu: - “Meu filho, nunca deixei que as preocupações tomassem conta de mim. Não é que não me preocupe. Mas, se uma coisa é inevitável, nunca deixo que ela perturbe demais a minha cabeça. E toco a vida prá frente”.
Nunca deixar as preocupações tomar conta da gente – ou seja, relevar, perdoar, viver em sintonia com a consciência - é o principal segredo, a lição essencial de uma nonagenária criança que exibe o invisível diploma de PHD na Universidade da Existência. Parabéns, Vó Missanta!
(Júnior Bonfim, no Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará e na Revista Gente de Ação)
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Paulo Nazareno disse...
É JB,a inexorabilidade do tempo faz das suas. Mais uma estrelinha no nosso ceu.
Meus sentimentos
16 de novembro de 2012 16:45
Ticuá - RJ disse...
Eu a conheci...Que Deus A tenha ao lado, Ticuá
16 de novembro de 2012 18:09
Lourival disse...
Meus sentimentos, irmão.
17 de novembro de 2012 08:48
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5 comentários:
É JB,a inexorabilidade do tempo faz das suas. Mais uma estrelinha no nosso ceu.
Meus sentimentos
Eu a conheci...Que Deus A tenha ao lado, Ticuá
Meus sentimentos, irmão.
Meus sentimentos a toda familia,Vó Missanta saudades de toda Familia Barros!
Caro Junior,
receba e transmita toda família minhas sinceras condolências.
Abraços, Sergio Moraes
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