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sexta-feira, 2 de novembro de 2012
O DIA DE FINADOS!
Sempre às vésperas do dia em que celebramos os que deixaram o nosso convívio, direcionamos a nossa atenção para a mesma coisa: a estrutura física do campo santo, o estado de conservação dos túmulos etc.
Raramente, ousamos reflexionar além disso; dificilmente, adentramos no âmago da questão: qual o sentido da existência, qual o verdadeiro significado da vida, por que resistimos à morte?
Os ocidentais temos muita dificuldades de tratar desse tema. Em que pese as vistosas conquistas que temos obtido na esfera tecnológica, ainda tratamos o tema da morte como um tabu. Ensinam-nos a negar a morte e a internalizar que ela nada significa, a não ser aniquilação e perda. Vivemos a negá-la. (Para ser sincero, eu mesmo via de regra resisto em escrever sobre o assunto...).
É tão forte e arraigado este pré-conceito que falar da morte é considerado algo mórbido, e – pasmem! - corriqueiramente julgamos que a simples menção a ela pode atraí-la sobre nós.
Noutro extremo, há também quem encare a morte de maneira quase ingênua, frívola ou irracional: “se chega para todo mundo, não é nada de mais. Vai chegar prá mim também. É absolutamente natural”.
Ambas atitudes estão pouco próximas da compreensão do verdadeiro significado da morte.
O professor Sogyal Rinpoche, que nasceu no Tibet e é um dos pioneiros na promoção do diálogo entre a Ciência e a Espiritualidade, leciona que “todas as tradições espirituais do mundo, inclusive, é claro, o cristianismo, dizem explicitamente que a morte não é um fim. Todas falam em algum tipo de vida futura, o que infunde em nossa vida atual um sentido sagrado. Mas, não obstante esses ensinamentos, a sociedade moderna é um deserto espiritual em que a maioria imagina que esta vida é tudo que existe. Sem qualquer fé autêntica numa vida futura, a maioria das pessoas vive toda a sua existência destituída de um sentido supremo”.
Segundo o mestre budista, são desastrosos os efeitos dessa atitude de negação da morte. Vão além da esfera individual, afetam o planeta inteiro. Supondo que esta vida é única, não desenvolvemos uma visão de longo prazo e, tomados pelo egoísmo, passamos a saquear o planeta em que vivemos para atingir nossas metas imediatas. E isso pode ser fatal no futuro.
Neste dia de finados (que deveria ter outro nome, pois finados diz respeito a falecido e encerra uma compreensão da morte com “fim” – o que não é o caso), alimentemos, como Raymond Moody, a forte e viva esperança de que há, de fato, uma “vida após a vida”.
(Júnior Bonfim, em "Amores e Clamores da Cidade")
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