quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

CONJUNTURA NACIONAL

Três cartas ao prefeito

Abro a primeira coluna de 2013 com um brinde de Cesar Maia, o espirituoso político do DEM e um bom pensador de nossa cultura política. Conta ele o caso das três cartas a um prefeito.

O prefeito em fim de mandato entrega três cartas ao que assume, recomendando abri-las em cada crise. Primeira crise. O novo prefeito abre a carta e lê: "Coloque toda a culpa na herança perversa que recebeu". Na segunda crise, abrindo a carta, leu: "Mostre que há necessidade de ajustes no seu primeiro escalão e faça mudanças no secretariado". Na terceira crise, ao abrir a última carta, o prefeito se assustou ao ler: "escreva três cartas para seu sucessor".

Os bilhetinhos de Jânio

Recebo do amigo Luis Costa uma cópia em xerox do Livro "Bilhetinhos de Jânio", de autoria de J. Pereira, que foi assessor de imprensa do ex-presidente. Costa adquiriu esse livro em 14/9/1960. Vou juntar à coleção sobre Jânio, na qual desponta o meu amigo jornalista Nelson Valente, autor de uns 15 livros sobre a figura ímpar de Jânio da Silva Quadros. Duas historinhas do livro que recebo:

A morte

Por mais de uma vez, no Rio de Janeiro, noticiaram-se coisas a respeito da saúde precária de Jânio que, efetivamente, em várias ocasiões quase o levaram desta para melhor. Em determinada ocasião as emissoras cariocas chegaram a noticiar a sua morte. Os telefones dos Campos Elíseos não cessavam de tocar. Os jornais queriam saber o que se passava. Jânio, apesar de enfermo, enviou este "bilhetinho" ao chefe do seu Serviço de Imprensa, J. Pereira :

-Pereira. Declare àqueles que noticiam a minha morte, que tudo indica não ter o fato ocorrido, e tudo farei, ao meu alcance, para que não ocorra, nos próximos decênios. Pode acrescentar que, nascido em 1917, ainda continuo forte".

Passo inadmissível

Um "amigo e admirador" de Jânio, sr. Hamleto Rosato, por intermédio do deputado Athiê Jorge Curi, ofereceu a ele, a fim de integrar a coleção do "Zoo", um jaboti de curiosa espécie. Eis o "bilhetinho" de agradecimento:

-Prezado Hamleto. Agradeço o jaboti, que será enviado ao zoológico. Minha filha deseja-o, contudo, e por uns dias, no Palácio. Só vejo conveniência, eis que o bicho, no ritmo deste casarão, vai ter que andar mais depressa. Aqui não se admite "passo de tartaruga" ... Depois, já educado, terá aquele destino. Abraços".

Primeiros cenários

O Brasil abre 2013 sob chuvas de versões e uma seca cheia de grandes interrogações. Entre as versões: 1. Lula poderá vir a ser candidato em 2014; 2. Serra quer voltar a ser candidato e prepara-se para lançar novo partido com o deputado Roberto Freire; 3. Alckmin será empurrado para as prévias do PSDB, disputando com Aécio a candidatura à presidência; 4. Serra teria caminho livre para ser candidato ao governo de SP; 5. Eduardo Campos fecha com Dilma em 2013, mas deixa a porta aberta para se candidatar à presidência em 2014. Entre as interrogações: 1. PIB de 2013 passará dos 3%? 2. Haverá racionamento de energia, mesmo com os desmentidos da presidente Dilma e do ministro Lobão? 3. Eduardo Campos será mesmo candidato em 2014 ? 4. O PSD de Kassab ganhará mesmo o Ministério da Micro e Pequena Empresa? 4. O PMDB presidirá a Câmara e o Senado, garantindo o nome de Michel Temer como vice de Dilma em 2014? 5. As oposições terão alguma chance em 2014?

Primeiras respostas

A leitura das linhas e entrelinhas, sob a tessitura político-institucional e a colcha de conveniências e circunstâncias, permite oferecer as seguintes respostas: a. Lula não será candidato em 2014 nem a presidente da República nem a governador de SP. O país já não é o mesmo de seu tempo de mandatário; b. Serra poderá vir a ser candidato, mas não à presidência da República. Seu ciclo de vida nessa esfera esgotou-se; c. É pequeno o tempo para se formar um novo partido e disputar com ele a campanha de 2014; d. Aécio deverá ser mesmo o candidato tucano em 2014; e. Eduardo Campos quer permanecer em evidência. Para tanto, desdobra-se para agradar gregos e atrair troianos; f. PIB ínfimo terá consequências nefastas sobre a candidatura situacionista, favorecendo oposições. Mas o patamar de 3% é até confortável; g. PSD de Kassab ganhará Ministério; h. PMDB deve comandar as duas Casas legislativas; i. As oposições só terão chance em 2014 se a economia sair totalmente dos trilhos.

Disputa na Câmara

Henrique Eduardo Alves deverá ser eleito, com folga, para a presidência da Câmara dos deputados. Trata-se do parlamentar com o maior número de mandatos. Mais que preparado, Henrique sabe tudo de política, área em que teve um grande mestre: seu pai, Aluizio Alves, fundador da UDN, um dos quadros políticos mais brilhantes do país, ex-deputado, ex-governador do RN e ex-ministro. Henrique Alves chegará ao comando da Câmara, coroando um ciclo de vida no PMDB, onde faz parte do quadro dirigente. Trata-se de um parlamentar que conhece profundamente os meandros do Congresso Nacional. Júlio Delgado, o parlamentar do PSB mineiro, sai candidato por conta própria. Não tem o apoio da direção partidária. Já a deputada Rose de Freitas, atual vice-presidente da Câmara, tem o apoio do núcleo feminino, mas sua candidatura, caso a mantenha até o final, expressa mais um gesto simbólico.

Disputa no Senado

No Senado, a tradição é que a maior bancada tem direito a comandar a Casa. O PMDB possui a maior bancada. E no partido, quem agrega o maior número de votos é Renan Calheiros. Há uns quatro ou cinco senadores do partido que gostariam de eleger outro nome. Mas Renan faz uma boa maioria. Não há vetos a seu nome no âmbito do Palácio do Planalto. Logo, Renan é franco favorito.

Sociedade condenada

"Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada". (Filósofa russo-americana Ayn Rand, judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920).

Apagões I

O testemunho é de Iêdo Moroni, engenheiro da CHESF por mais de 20 anos, onde exerceu seis cargos comissionados. Veja o que diz sobre os apagões: "Se o sistema é radial, o apagão afeta apenas o trecho desligado, não ocorrendo os desligamentos em cascata como hoje ocorrem. ..A presidente está sendo enganada com essas desculpas dadas pelos gestores do NOS. Toda a culpa dos apagões é jogada nas linhas de transmissão, sempre em desfavor das descargas atmosféricas, acusadas como grandes vilãs....as linhas "acusadas" de serem desligadas por descargas atmosféricas são super dimensionadas para esses eventos, razão pela qual, é estranhável que sejam causas francas de apagões".

Apagões II

"...trocando em miúdos, a possibilidade de uma descarga atmosférica é probabilisticamente inexpressiva, e, caso isso venha a acontecer, o sistema deve ter a sua coordenação de proteção minimamente seletiva para isolar a linha e acionar alternativa que impeça o chamado efeito cascata. O resto é conversa para enganar a sociedade. Ocorre que o nosso setor elétrico está sendo administrado hoje politicamente, como é o caso da CHESF. O diretor de operações passou anos como especialista em previdência privada, e por ser militante do PT, foi guindado ao cargo. Antes dele todos os demais diretores de operação eram engenheiros formados no sistema operacional da empresa. Poderia até haver nomeações políticas, mas o indicado teria que possuir curriculum vitae compatível com o cargo a exercer... operação de sistema elétrico, por mais simples que ele seja, tem que ser comandada por técnicos preparados e experientes, pois trata-se da área mais importante da empresa por ser ligada diretamente ao bem-estar e à segurança da sociedade".

Repercussão geral

O julgamento do mensalão abrirá um ciclo de maiores cuidados na frente política. As Cortes Judiciais, das mais altas à primeira instância, deverão incorporar lições ético-morais e uma interpretação mais rigorosa das leis, tendo como baliza a decisão da Suprema Corte. Pode-se apostar na hipótese de melhoria nos aparatos políticos com seus costumes e práticas. A conferir.

DEM se afasta do PSDB

Está chegando ao fim o casamento entre DEM e PSDB. Demorou um bom tempo. O DEM percebeu que, ao lado dos tucanos, tem mais ônus que bônus. Vai passar um tempo olhando para os dois lados. Independente? Difícil. Pois os Demistas precisam, eles também, do adjutório (e adjutório forte) do governo Federal. ACM Neto que o diga. Aliás, o prefeito de Salvador promete dar uma grande mexida na administração municipal.

Ciro comentarista?

Ciro Gomes foi contratado pela rádio Verdes Mares para ser comentarista esportivo. Este analista tem pequena observação: como comentarista, Ciro será um político destinado a perder muitos pênaltis. Ou a ser flagrado em muitos impedimentos. Mas... como diz minha velha mãe: "nunca diga, desta água não beberei".

E o mensalão, hein?

Após o recesso, STF deverá concluir o julgamento do mensalão. Até parece que as coisas nessa área terminaram. Tem muita água a correr por baixo da ponte.

E os casos Cachoeira e Rose, hein?

O primeiro se veste do glamour social de uma lua de mel no paraíso tropical da Bahia; o segundo atravessa os corredores das convocações pela Justiça. Externamente, o primeiro parece ser um happy end. Quanto ao segundo, muitas interrogações no ar. Internamente, envolvidos devem estar com a cabeça fervendo.

Sérgio assume SESCON/SP e AESCON/SP

No dia 2 de janeiro, o empresário contábil Sérgio Approbato Machado assumiu a presidência do SESCON/SP (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e de Assessoramento no Estado de São Paulo) e da AESCON/SP (Associação das Empresas de Serviços Contábeis) para 2013-2015. "Nosso trabalho será para reforçar e ampliar a posição das entidades em relação a temas de relevância para a sociedade, bem como valorizar e defender as categorias representadas em busca pela melhoria do ambiente empreendedor brasileiro", ressalta ele. A nova gestão reitera o compromisso na luta pela desburocratização, simplificação e redução da carga tributária e em prol do empreendedorismo brasileiro.

Foco da gestão

Um dos focos da nova gestão do SESCON/SP e da AESCON/SP será a ampliação do leque de serviços e opções visando a educação permanente. "O empresário e o profissional contábil estão no centro das grandes mudanças legislativas, tributárias e tecnológicas. Suas responsabilidades têm crescido gradualmente e uma de nossas missões é prepará-los para os constantes desafios", enfatiza Approbato Machado. A cerimônia oficial de posse das novas diretorias será no dia 18 de janeiro no Salão Nobre do Clube Atlético Monte Líbano.

Assessor de Hollande

O presidente da França François Hollande solicitou o conselho do jornalista Claude Sérillon sobre como remodelar sua imagem. Contratados, dois peritos em comunicações propuseram três soluções para reconquistar o coração dos franceses: vigiar sua linguagem (por exemplo, jamais dizer "eu creio"); cuidar de sua atitude corporal; por exemplo, dando atenção à preparação física e bebendo água em lugar de álcool; e atentar para sua roupa; exemplo, evitar o nó de gravata simples e a aparência negligenciada. (Observação de César Maia)

Graciliano Ramos

O velho Graça, monumento de nossa literatura, para quem não sabe, foi prefeito de Palmeira dos Índios/AL. Sabia fingir. Por sentimentalismo ou vergonha, finge-se mais áspero do que é, mais espinhoso que um mandacaru. Sertanejo magro, de ombros curvos, um cigarro ardendo entre os dedos ou na boca, de roupas simples mas asseadas, mãos limpas (em todos os sentidos). Cria fama de grosseiro por causa de diálogos como estes:

- Bom dia, mestre Graça.

- Você acha, meu filho?

Ou então:

- Mestre Graça, se a situação continuar desse jeito, vamos comer merda - diz-lhe o romancista José Lins do Rego, nos tempos da ditadura de Getúlio Vargas.

- Se sobrar pra nós, Zé Lins. Se sobrar...

Conselho aos novos prefeitos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos dirigentes dos Poderes da República. Hoje, volta sua atenção aos novos prefeitos:

1. Priorizem os compromissos assumidos na campanha, escolhendo as ações imediatas e os programas de médio e longo prazo.

2. Exijam rígido controle de metas e programas a cargo das secretarias, fazendo cobranças periódicas.

3. Em sua situação de precariedade, como a que vivem os municípios, cortem despesas inócuas, projetos sem interesse social, ações personalistas e tentem diminuir os espaços de assistencialismo populista.

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(Gaudêncio Torquato)

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