quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

LAURO RODRIGUES BONFIM


Nos tempos febris da militância universitária, em que passeávamos empolgadamente pelas avenidas das ideias, impressionou-me o estudo da dialética. No ringue da palavra, emergia a tríade do método dialético: a tese, afirmação; a antítese, negação e a síntese, nova situação, incorporadora dos dínamos do confronto entre aquelas.

Raros são os espaços em que se verifica a habilidade convivencial dessa arte dialógica de sintética combinação dos opostos. Sem embargo, os cômodos familiares são os que mais revelam dificuldade para esse entrelaçamento de divergentes. Estudiosos que mergulham nas manilhas de existências pretéritas afirmam que os familiares são nossos cobradores de vidas passadas. Por isso, explodem tantos embates e conflitos no seio doméstico. As exceções apenas ratificam essa norma cogente.

Cada um dos filhos do casal José Bonfim de Almeida e Rosária Rodrigues de Almeida nasceu com uma diferença de dois anos de um para o outro. Eu fui o primeiro. Em seguida, o Lauro. Lauro Rodrigues Bonfim. Sempre o distingui com o aceno admirativo. Em tempos idos, antes de frequentarmos a atual quadra vivencial, certamente ele fora meu dialético contraponto construtivo.
Nos tenros dias da nossa aurora infantil, fomos cúmplices de traquinagens. Sentíamo-nos protegidos pelo pé de Benjamim, portal da casa do avô materno. Juntos, colhemos oiticicas nos balseiros do rio Serrote, inauguramos com pulos os poços amazonas de casa, brindamos o leite mugido, lutamos nos bancos de areia, levamos o dedo coberto de açúcar à boca e fugimos em disparada da escuridão iminente. Sem razão aparente – até porque as crianças desconhecem o apego à razão - apelidei-o de “gozé”... (tempos depois, porque se revelara um tanto linear como a disciplina militar, ganhou o epíteto de “sargento”).

Lauro Rodrigues Bonfim nasceu no mesmo dia da nossa genitora: 21 de janeiro. Herdou da mãe o amor à família. Preocupa-se com tudo e com todos. É correto e justo, em que pese ser um pouco teimoso. Malgrado ser "cabeça dura", tem o coração mole e a alma leve. É capaz de extremados gestos de benevolência, de pintar anonimamente telas coloridas de generosidade. (Na década de 1980, recém-concursado do Banco do Brasil, doava a quase totalidade dos vencimentos aos pais). Suas dunas de bondade encontraram a praia da bem-aventurança.

Entrelaçou os sonhos e desposou Suely, sua dedicada companheira de todas as horas. Da união nasceu Dara, uma viva e magnética flor que encanta os parentes e outros pares do mesmo ente.

O certo é que hoje, em que, como Raul, virou o dito do cidadão respeitado, e devia estar contente, sabe que longe das cercas embandeiradas que separam quintais, tem uma porção de coisas grandes pra conquistar e não pode ficar aí parado. E nesse momento relembro quando pisávamos a carroçável da adolescência, entre o perfume dos mufumbos e as palhas de carnaúbas, ocasião em que desenhei para ele os versos abaixo:

Falou, Gozé, hoje para nós o tempo é de sol.
Já se passaram os vagões da ingenuidade,
As areias da ilusão, a distância do girassol,
Os nomes loucos de criança, o curral da saudade.

Passaram, passou... agora é simplesmente
Extrair do canteiro a radiosa maçã,
Colocar na mesa o pão permanente
E marchar sorrindo a buscar o amanhã.

(Adormeço no ar o meu encanto invisível,
Outorgo-te o mar grande, o luar feminino.
Meu irmão, eu sou feiticeiro inacessível.
A luta te fez homem, a poesia me faz menino).

Ninguém derrotará nossa alegria de aço.
Temos política nas veias, firmeza nos passos,
Somos livres no olhar, profundos de coração.

Há que sonhar, lutar e viver semeando.
Recebestes a luz, agora tens uma missão:
Desenvolve essa aurora e prossegue amando
.

(Júnior Bonfim, no Jornal Gazeta do Centro Oeste e Revista GENTE DE AÇÃO)

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