terça-feira, 23 de julho de 2013

OBSERVATÓRIO

O ano era 1990 e o calendário político assinalava eleições estaduais. Rodrigo Coelho Sampaio, o Rodrigão, era Prefeito de Novo Oriente e sonhava com a candidatura a Deputado Estadual de um seu amigo do peito: o empresário Clarindo Gomes do Nascimento. Clarindo não saiu candidato e, em seu lugar, surgiram os nomes do ex-prefeito de Crateús Sérgio Moraes e do professor Manoel Bezerra Veras. Por intermediação de amigos comuns, Rodrigão fecha com Manoel Veras. No dia da formalização, Veras fez um emocionado discurso agradecendo o apoio. Disse que ia retribuir ao povo de Novo Oriente com muito trabalho e dedicação. Ao final, voltou-se para Rodrigão e enfatizou: - Prefeito Rodrigo, pode contar comigo. Em havendo necessidade pode me procurar a qualquer hora do dia ou da noite. Rodrigão ouviu aquelas palavras com a sobrancelha levantada, como quem faz um registro importante. Após o período de apuração (a votação, naquela época, era manual e a contagem dos votos demorava dias), saiu o resultado da eleição: Manoel Veras estava eleito. Os amigos, em Fortaleza, organizaram uma festa. Manoel chegou muito tarde em casa. Pouco mais de três horas de manhã, o telefone toca. Tânia, a esposa, atende. Era Rodrigão querendo falar com o recém eleito. Manoel Veras, com enorme ressaca e dor de cabeça, imagina ter acontecido algum problema sério e interroga: - ‘O que houve, Prefeito?’ Rodrigão, com voz pausada, responde: - “Nada não, queria só confirmar se você cumpria a palavra e me atendia a qualquer hora. Muito obrigado!” E desligou o telefone...

COMPROMISSOS

O maior desafio que quem se submete ao crivo popular para o exercício de um mandato é precisamente este: cumprir as promessas de campanha. Somos livres para firmarmos os compromissos que quisermos, mas escravos das conseqüências. Esta é uma lei universal: a lei do retorno, da causa e efeito, da ação e reação. A maioria das pessoas se deixa envolver pela corrente de esperança que determinadas candidaturas constroem. Isso é natural e saudável. O problema surge quando os eleitos se distanciam da viga mestra que sustentava suas postulações. A corrente passa a ser transmissora de tensão. É o que se verifica agora em Crateús.

CRATEÚS

É de ciência pública que este periódico, por sua editoria oficial, sempre manteve uma postura de simpatia pela atual gestão municipal de Crateús. Sucede que, ultimamente, de posse de informações que indicam aplicação equivocada de verbas públicas, o Jornal Gazeta do Centro Oeste tem estampado matérias que despertam inquietação. É que a Imprensa, como bem ensinava o mestre Rui Barbosa, tem o dever da verdade. César Vale, editor deste Jornal, ao publicar matérias amparadas em dados oficiais, atraiu para si os petardos do poder. Antes era elogiado; agora, fulminado. Se antes era recebido com flores, agora vê cápsulas de fogo.

CRATEÚS II

Lamentável nesses episódios é que ninguém se debruça, com serenidade, sobre os fundamentos das observações feitas. Ao invés de analisar a crítica, se desqualifica o crítico. No lugar de ponderar e responder com dados convincentes às denúncias, se investe contra o denunciador. Rui Barbosa também lecionou que o “o poder não é um antro, é um tablado. A autoridade não é uma capa, mas um farol. A política não é uma maçonaria, e sim uma liça. Queiram ou não queiram, os que se consagraram à vida pública, até à sua vida particular deram paredes de vidro... Para a Nação não há segredos; na sua administração não se toleram escaninhos; no procedimento dos seus servidores não cabe mistério; e toda encoberta, sonegação ou reserva, em matéria de seus interesses importa, nos homens públicos, traição ou deslealdade aos mais altos deveres do funcionário para com o cargo, do cidadão para com o país”. Que os atuais gestores crateuenses reflitam sobre a profundidade das palavras acima. A respeito da relação com os que nos fazem contraponto, vide crônica acima.

PAPA FRANCISCO

Quem já teve a graça de um contato com o Papa Francisco testemunha a rajada de energia espiritual que emerge do Sumo Pontífice. A primeira visita de Francisco ao Brasil é uma oportunidade ímpar para os brasileiros se deliciarem com a cristalina fonte de sabedoria desse homem de fé. A Revista Época desta semana destacou dez lições de vida do atual Bispo de Roma: 1. Viaje leve pela vida – liberte-se do capital material. 2. Dê importância aos valores – um punhado de convicções, gostos e atitudes simples vale mais que bens materiais. 3. Cultive as relações pessoais – ‘mantenha relação intensa e generosa com todos ao seu redor’. 4. Freqüente a Rua – ‘andar pela rua e misturar-se ao povo esclarece e humaniza’. 5. Seja comum e extraordinário – ‘através da liderança discreta, nunca fazer questão de parecer extraordinário ou incomum’. 6. Cultive a diferença – ‘abra-se a valores diversos dos seus’. 7. Valorize a família – ‘local da descoberta vocacional e construção da personalidade’. 8. Não tenha vergonha de ser humilde – ‘não deixe que posições importantes mexam com seus hábitos e com sua cabeça’. 9. Reconheça seus defeitos – ‘sejamos mais honestos e compreensivos, com nós mesmos e com os outros’. 10. Cuide de seus amigos – ‘a amizade é uma relação transformadora. De profundo engajamento, que requer atenção e doação’.

PARA REFLETIR

“Não nos conformemos em ler notícias de jornal ou ver televisão. Aproxime seu coração. ‘Estou de férias, não posso...’ Um coração cristão nunca está de férias. Sempre está aberto ao serviço onde há necessidade, porque sabe que onde há uma necessidade, há um direito. Este povo, por ser nosso irmão, tem o direito a nossa atenção.” (Papa Francisco).

(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)

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