A poesia ganhou um dia – específico, honorífico – em homenagem ao maior poeta brasileiro de todas as luas: Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871). No dia de seu nascimento, 14 de março. Nada mais justo, merecido e feliz. Castro Alves reluz com destaque naquele monumento arquitetônico suspenso e invisível em que vislumbramos os nossos pássaros de asas mais formosas. É a nossa mais excelsa ave, o luminar e principal condor, a vanguardista águia imperial, a voz indelével dos trópicos.
Foi Castro Alves o autor do édito que determinou ser a praça um altar do povo; foi ele o sonoro surfista das espumas flutuantes; o alfaiate da Bandeira içada contra a infâmia e a covardia; o ensolarado capitão do navio negreiro; o ousado compositor da solene partitura da Liberdade. Os versos do vate baiano são sementes selecionadas em constante germinação nos mais diversos solos da nossa fértil Pátria. Sua poesia é uma coroa de esmeraldas construída com os louros do povo.
Nesses últimos tempos tenho me interrogado a respeito da aura que circunda a poesia. Fica difícil circunscrevê-la à régua e ao compasso dos conceitos.
Federico Garcia Lorca, convidado para falar sobre poesia, limitou-se a estender as duas mãos abertas e dizer: “Eu não posso, eu não sei falar sobre poesia. Eu a tenho aqui em minhas mãos. Sei que está queimando minha pele. Porém, não sei o que é”.
Depois, certamente em um lampejo de racionalidade, ponderou que “a poesia é a união de duas palavras que ninguém poderia supor que se juntariam, e que formam algo como um mistério”.
O que vem a ser esse cantante, encantado e encantador fenômeno? Opino que a poesia é uma flor perfumada de amanhãs; é um vento que sabe ser brisa, ventania, furacão ou tempestade no momento adequado; é pássaro que tem por missão cantar e por dever, a liberdade; é o horizonte misterioso que o homem busca beber; é a raiz colossal da profundidade humana.
Parece-me que Poesia é tudo aquilo que nos torna essencialmente mais humanos, nos aprofunda no humanismo ao ponto de nos aproximar do divino. A poesia é a divinização do humano.
Nessa esteira, o primeiro e maior poeta é Deus, que com seu sopro mágico desenhou o universo, a magnitude da natureza, a comunidade dos seres vivos. Nessa trilha, todos somos ou podemos ser poetas. Os que desenvolvem a arte de concatenar os fonemas musicais, as obras arquitetônicas das estrofes arrebatadoras nada mais são do que sonoros instrumentos que o Poeta original distinguiu com a missão de apontar, como guias abençoados, as trilhas de Orfeu. Por isso que o amazônico Thiago de Mello proclamou: “Não somos melhores nem piores. Somos iguais. Melhor é a nossa causa”.
Poeta é, pois, todo aquele que se dispõe a romper os grilhões dos formalismos estéreis, das convenções descabidas, dos debates inúteis, do cotidiano infrutífero, da pusilanimidade dominante.
Poeta é aquele que, em qualquer barco de sonho, ultrapassa as ondas da superfície e alcança o espaço tranqüilo das águas profundas do oceano da vida.
Gerardo Mello Mourão resumiu tudo: “É para preencher o vazio do espírito humano que serve um poeta com sua poesia.” Salve, pois, a poesia, pão d’alma de todo dia!
(Júnior Bonfim, crônica publicada na Gazeta do Centro Oeste e Revista Gente de Ação)
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