domingo, 12 de abril de 2015

HUMBERTO TEIXEIRA – MUITO MAIS QUE UM LETRISTA!


Senhoras e Senhores,
Boa noite:

Meu patrono na Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – AMLEF é um cearense nascido nas Ipueiras, amassado no barro do nosso sertão, talhado nas montanhas de Minas Gerais e que depois correu o mundo inteiro, foi celebrado em todas as latitudes e eleito pela Guilda Órfica Européia como o “Poeta do Século XX”. Seu nome é Gerardo Mello Mourão, um poeta que ainda não foi brindado com a coroa de loiros do reconhecimento pelo genial talento com que bafejou a humanidade.

Talvez mirando o próprio exemplo pessoal, Mello Mourão sustentou a tese de que “o capital, aliado da tecnologia, sabe como produzir um bom médico, um bom engenheiro, um bom automóvel. Mas não sabe produzir um poeta, um músico, um pintor. Se fosse assim, as escolas de Tóquio, dos Estados Unidos, da Alemanha e até de São Paulo e da Coréia estariam produzindo Homeros, Shakespeares, Dantes, Rembrandts, Bachs e Picassos. E não estão, não é? (...) Os filósofos, os poetas, os artistas, como a própria arte, não são fruto da civilização industrial. São mesmo, de um modo geral, os marginais dessa civilização e desse tipo de progresso, desse poder de produção de riqueza. Honro-me de ser um marginal desse processo, como o foram Homero e Dante, Holderlin e Van Gogh, Rimbaud e Baudelaire, os grandes filósofos e os grandes reitores do saber e do espírito”.

Nossa terra, sacudida por gigantescas adversidades, estonteada por tantas frustrações políticas, castigada por intempéries, na contramão das opressões econômicas, à margem do fulgor capitalista também assiste florescer talentos de toda sorte, humildes e valorosos atletas da criatividade, que correm as pistas olímpicas das artes com as tochas da inteligência e do saber.

Estamos hoje aqui, no espaço central desse tradicional e cultuado Clube da nossa Capital, o Náutico Atlético Cearense, para festejar a oferta de mais uma obra da lavra conjunta de dois fulgurantes nomes das artes Alencarinas que comprovam a profecia de Gerardo: um nascido às margens do Rio Acaraú e outro, talhado na mata ciliar da ribeira do Poty: Audifax Rios e Dideus Sales, Dideus Sales e Audifax Rios.

O livro que entregam ao nosso deleite nesta noite, por belo e primoroso, queima a sensibilidade da nossa pele, penetra o recôndito da nossa alma, esparrama-se pelo córrego do nosso coração e nos arrebata em um passeio pelo jardim biográfico do maior compositor que Iguatu entregou ao mundo: Humberto Teixeira.

Despiciendo falar sobre o compositor e parceiro mais destacado de Luiz Gonzaga. O cearense Humberto Teixeira já está com seu nome inscrito nas doiradas partituras populares da música mais genuína da nossa Pátria. A vulcanidade telúrica de sua obra é algo indescritível. A capacidade de perceber as sensações da natureza, a aptidão para captar as manifestações da nossa fauna e da nossa flora, a qualidade de traduzir com finesse o espetáculo dos seres vivos do nosso sertão são marcas de Humberto Teixeira que o elevam ao sacro platô dos nossos mais sublimes compositores.

Um homem capaz de nos alertar para as grandezas que só são perceptíveis aos que acionam aquele órgão que, segundo Rui Barbosa, é mais que um “assombro fisiológico: um prodígio moral. É o órgão da fé, o órgão da esperança, o órgão do ideal. Vê, por isso, com os olhos d’alma o que não veem os do corpo. Vê ao longe, vê em ausência, vê no invisível, e até no infinito vê. Onde pára o cérebro de ver, outorgou−lhe o Senhor que ainda veja; e não se sabe até onde. Até onde chegam as vibrações do sentimento, até onde se perdem os surtos da poesia, até onde se somem os voos da crença: até Deus mesmo, inviso como os panoramas íntimos do coração, mas presente ao céu e à terra, a todos nós presente, enquanto nos palpite, incorrupto, no seio, o músculo da vida e da nobreza e da bondade humana”.

Resumindo: um homem capaz de ver na estrada “o orvalho beijando a flor, ver de perto o galo campina, que quando canta muda de cor” é alguém que foi iniciado na mística essencial.

Cerro os lábios neste momento e vos convido ao silêncio germinal. Sintam o olor do mufumbo, a sombra das nossas ontológicas oiticicas, a melodia dos riachos, a generosidade dos alpendres, o vigor de uma terra mágica que, ao simples toque dos fios delicados das primeiras chuvas, transmuta a desértica paisagem e faz rebentar a fartura e a alegria.

Folheiem este esmerado álbum, costurado com os hoje raros fios de algodão branco e alisado com a legítima cera de carnaúba. Tudo nele é brilho e talento, genialidade e fulgor.

Viva a musical poesia do novo livro de Dideus Sales!

(Júnior Bonfim, na apresentação do livro “Humberto Teixeira – muito mais que um letrista!”, dia 27.03.2015, no Náutico Atlético Cearense, Fortaleza, Ceará).

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