Governador do Distrito 1970, Fernando Laranjeira,
Presidente do Rotary Club Vila Real, Madeira Pinto,
Magnífico Reitor Fontainhas Fernandes,
Companheiras e Companheiros,
Boa noite!
Desde quando vossos patrícios, os visionários navegantes do século XVI, aportaram na sedutora orla da minha Pátria, se estabeleceu entre nós uma conjunção de raízes, um conjunto de laços marcados com o selo da definitividade.
A nossa relação, inicialmente cunhada sob o batismo da subjugação, após passar por intempéries de rebeldia, experimenta agora a unção sacrossanta da harmonia. É sob essa aurora boreal, ao redor desse harmônico sacramento, que nos encontramos aqui neste momento.
Meu País, bem sabeis, com sua compleição continental, é um imenso edredom colorido, que oferece a todos o sono dos sonhos. Não apenas possui o maior manancial de água doce do mundo, mas também esparrama o mais envolvente arco-íris de ternura, sob o embalo de sua cálida temperatura.
O imenso Brasil, de céu azulado e teto estrelado, cujas veias abertas guardam o lírico sangue lusitano, é o habitat da generosidade, fonte cristalina de hospitalidade, campo germinal de bondade.
Se a bússola do destino e as caravelas da história nos amalgamaram como irmãos, a denteada rotatória confeccionada por Paul Harris acorrentou-nos à liberdade do fraterno companheirismo, nos revelou a estética de uma vida pautada na ética e a suprema dignidade do devotamento à causa do amor à humanidade.
Imaginem a alegria que me assomou ao encontrar o conterrâneo e companheiro Luiz Castelo Branco!...
Por isso compartilho convosco a ideia do meu Clube de assinarmos uma certidão de irmandade entre o RCF DUNAS e o ROTARY VILA REAL, celebrando a coroa de loiros tecida pelos nossos Past Presidentes Levi Madeira e Alberto Borges. Essa proposição poderá ser sequenciada pela construção dessa rodovia de mão dupla chamada intercâmbio rotário.
Permitam-me que vos diga uma palavrinha sobre o meu estado natal, que possui três regiões fisiográficas distintas: serra, sertão e litoral. Nasci no sertão, moro à beira-mar.
Como bem lembrou Rui Barbosa, “O sertão não conhece o mar. O mar não conhece o sertão. Não se tocam. Não se veem. Não se buscam. Mas há em ambos a mesma grandeza, a mesma imponência, a mesma inescrutabilidade. Sobre um e outro se estende esse mesmo enigma das majestades indecifráveis. De um e outro ressalta a mesma expressão de energia, força e poder a que se não resiste”.
Trago-vos uns singelos mimos que representam esses dois biomas principais.
Nas praias de Beberibe, filhos de pescadores descobriram, nas falésias, delicadas areias coloridas. E, brincando com elas, começaram a replicar nossas deslumbrantes paisagens. Eis umas pequenas lembranças, miniaturas desse paciente e engenhoso ofício artístico. Não por acaso o meu Clube homenageia as Dunas.
Do meu sertão trouxe um mimo que remonta à civilização do couro, época em que tudo nosso derivava do couro: a roupa, a cadeira, a mesa, a mochila, a sandália... Apresento-vos o chapéu de couro, um dos nossos símbolos mais conspícuos, adorno inseparável dos bravos e destemidos sertanejos, exibido permanentemente por nossos agricultores e capitães, lutadores e cantores. Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, fez dele a sua coroa. Lampião, herói sanguinário e rude, uma versão nossa do Robin Hood, o usava. Este que vos mostro é o “Dominguinhos”, um pássaro canoro que nos deixou não faz muito tempo. Apesar de não gostar de andar de avião, tinha asas no coração.
Encerro relembrando que, no vosso cancioneiro, há uma melodia que diz:
Numa casa portuguesa fica bem,/ pão e vinho sobre a mesa./ e se à porta humildemente bate alguém,/ senta-se à mesa co'a gente./ Fica bem esta franqueza, fica bem,/ que o povo nunca desmente./ A alegria da pobreza/ está nesta grande riqueza/ de dar, e ficar contente.
Lá, entre nós, costumamos cantar assim:
Eu só queria/ Que você fosse um dia/ Ver as praias bonitas do meu Ceará/ Tenho certeza Que você gostaria/ Dos mares bravios/ Das praias de lá/ Onde o coqueiro/ Tem palma bem verde/ Balançando ao vento/ Pertinho do céu/ E lá nasceu a virgem do poema/ A linda Iracema dos lábios de mel/ (...) A jangadinha vai no mar deslizando/ O pescador o peixe vai pescando/ O verde mar.../ Que não tem fim/ No Ceará é assim!
Muito obrigado!
(Discurso proferido em 18.04.2015 na Solenidade de Assinatura da Geminação entre os Rotarys Clubs de Fortaleza Dunas, Brasil, e Vila Real, de Portugal, no Salão de Eventos do Hotel Mira Corgo, centro histórico de Vila Real, capital da província tradicional de Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal)
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