terça-feira, 17 de setembro de 2019

WASHINGTON LUÍS BEZERRA DE ARAÚJO - CIDADÃO CRATEUENSE!



Autoridades já mencionadas,

Senhoras e Senhores,

Crateuenses:

Apresento-vos o nosso mais novo Concidadão: Washington Luís Bezerra de Araújo!

Gestado no ventre de Antonina Bezerra do Bonfim pela afeição conjugal com Francisco Macedo de Araújo, é caudatário de duas numerosas famílias desta Comuna: os Bezerra Bonfim e os Araújo. Quis o tino do destino brindar-lhe com o prodígio de poder mirar o mundo pelas lentes da amplitude. Talhado para as grandezas – ele adora voar - nasceu em um Campo Maior! Nasceu com a fleuma bandeirante, o imã do pioneirismo, o magnetismo vanguardista!

Segundo nosso parente e comum amigo aqui presente, doutor Arcelino Gomes, que o conhece desde os algodões infanto-juvenis, “Washington sempre foi um menino diferenciado”. Quando as águas de março o banharam no décimo quarto ano de vida, no invernoso ciclo de 1974, recebeu a auspiciosa notícia de que havia obtido o primeiro lugar na seleção para menor estagiário do Banco do Brasil. Foi o primeiro menor estagiário do Banco do Brasil, quando esta era uma instituição super disputada. Desde então, nunca mais deixou de frequentar a plataforma dos vencedores. Em 1981, entrou no BANCESA como estagiário e saiu como Chefe do Departamento Jurídico do Banco. Em 1991, em um dos concursos de peneira mais fina do Judiciário Cearense, quando apenas treze candidatos obtiveram aprovação, lá estava ele recebendo o troféu de primeiro colocado. Obteve nota máxima, também, na prova oral, o que lhe garantiu o direito de escolher a Comarca para começar a judicatura. Escolheu as belas praias, os morros brancos, as dunas exuberantes e as monumentais falésias de Beberibe. Ali, ao receber o primeiro processo, sentiu o insight, o estalo no intelecto, a clareza súbita na mente de que veio ao mundo para exercer a heroica, desafiante e nobre tarefa de julgar. Após uma trajetória em que sempre cultuou a meritocracia, foi escolhido, também pelo critério do mérito, para ser Desembargador da mais Alta Corte de Justiça Alencarina.

Maquiavel, analisando o nosso signo valorativo, afirmou que metade de nossas ações é governada pela fortuna, metade pela virtú. A fortuna é a sorte. A virtú é a própria preparação virtuosa, o conhecimento prático e técnico da realidade. Na vida de Washington, a fortuna, ou sorte, sempre o encontrou com a armadura da virtú. Sua pisada vital, sua trilha existencial, adornada pelas jitiranas do êxito, nos revela isso. Apesar de hoje ter a sorte de ocupar a mais alta cadeira do Judiciário cearense, permanece um jardineiro da virtú. Reserva os finais de semana para estudar. Cursa MBA em Direito: Gestão Pública, pela Fundação Getúlio Vargas, na Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará – ESMEC. Podemos afirmar, sem sobressaltos: o varão que hoje formaliza seu ingresso em nossa tribo, Crateuenses, é um grande investidor. Investidor na Bolsa de Valores da Alma. Palmas para ele!

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Crateuense Washington Luís Bezerra Araújo: permita-me compartilhar alguns fonemas sobre esta terra que, doravante, terás como emblema!

Daqui, deste modesto templo à cultura, deste Teatro que leva o nome de Rosa Ferreira de Moraes, a quem estás vinculado pelos vasos comunicantes da consanguinidade, te convido a realizarmos, como viajantes imóveis, um breve passeio por alguns pontos icônicos e referenciais. Se o convido, doutor Washington, a molhar os pés nos córregos da nossa geografia e da nossa História, ao mesmo tempo o estimulo a se associar e se comprometer com as principais bandeiras e marcas que orientaram a nossa formação. Apresento-lhe os nossos ocultos mastros, as nossas imperceptíveis placas indicativas, as nossas invisíveis colunas de sustentação.

Na primeira, divisamos em letras garrafais a palavra ALEGRIA. Ela indica nossa veia aberta: o Rio! Somos uma civilização nascida de uma química aquática! Crateús é invenção de um rio: o Rio Poty! Detentor de um currículo épico singular – é o único rio interestadual do Ceará – esse monstro humilde que nasce na Serra da Joaninha, inverte o curso natural e conveniente da maioria para percorrer, qual um bravo pioneiro, um caminho inusitado. Cortando a cadeia montanhosa da Ibiapaba, brindou o mundo com um Canyon, inexplorada e bela paisagem de luz e vida. O Rio Poty é o leito da nossa alma libertária, regato dos nossos sonhos inconfessos, símbolo maior da nossa terra. Ele foi o palco em que, com o coração cantante, bailaram os índios Karatiús. Os nossos nativos eram seres festivos. Tudo era, para eles, motivo de comemoração: nascer, viver e até morrer. Deles herdamos o primeiro dos nossos compromissos: com a alegria, variante da felicidade, que é a busca mais intensa e profunda do ser humano.

A segunda é a nossa crença no inacreditável, nossa visão do invisível, nossa capacidade local de vinculação ao transcendental, que chamamos . A Fé deste povo está simbolizada na vinda, em ombros de escravos, da imagem do Senhor do Bonfim de Salvador até aqui, no ano de 1792. Seis anos depois, em 1798, um missionário capuchinho italiano chamado Vitale de Frescorello – imortalizado Frei Vidal da Penha, fincava neste solo quatro grandes cruzeiros e lançava, como sementes selecionadas, seus inflamados sermões versando sobre as virtudes humanas. Somos, Desembargador, um povo de Fé!

A terceira, a terceira é a BELEZA. A devoção à Beleza foi aqui plantada por um conterrâneo nascido na Fazenda Boa Vista e que a história consagrou como o fundador da literatura piauiense (vejam as coincidências!): José Coriolano de Sousa Lima. Magnânimo Magistrado, resplandecente Poeta, maiúsculo Político e portentoso Jornalista. Foi deputado provincial pelo Piauí, por duas legislaturas, e presidente da Assembleia Legislativa. Participou ativamente da imprensa no Recife e Teresina. Foi eleito Príncipe dos Poetas Piauienses (pois à época em que viveu Crateús pertencia ao Piauí).

Coriolano, cujo busto foi recolocado na Praça da Matriz pelos escritores Flávio Machado, Raimundo Cândido e Edmilson Providência, nos iniciou na cadeira de Estética da Alma. Seu amor à argila que deu luz à sua retina está presente na poesia ‘A Virgem do Crateús’:

Há na minha província uma ribeira,
Um sertão, onde eu vi a vez primeira
Sorrir-me da existência a doce luz:
Tem o nome da tribo que o habitava,
Quando ao rude tapuia entregue estava,
Esse nome, sabei-o, - “Crateús.”


A quarta Coluna de sustentação desta cidade é o DESPRENDIMENTO, que inclusive foi objeto de um pergaminho legal. Por um Decreto assinado pelo Barão Homem de Mello, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, chancelado por sua Majestade, o Imperador D. Pedro II, sob o número 3012, e datado de 22 de outubro de 1880, o Piauí ganhou o acesso ao mar e nós passamos a pertencer ao Ceará. Ser Crateuense é, também, cultivar a generosidade do altruísmo.

A quinta pilastra é a nossa inclinação para a LUTA. Como o seu Campo Maior, que se notabilizou pela Batalha do Jenipapo, Crateús registra também combates heroicos. Aqui foi a única praça em que a Coluna Prestes enfrentou resistência e assistiu dois dos seus integrantes tombarem. Estão lá no Campo dos Vencedores. Em compensação, a cidade entregou dos seus filhos para se integrarem à Coluna. Era uma madrugada de janeiro de 1926 quando, segundo Frutuoso Lins, “reboou uma saraivada de rifles e fuzis”. A poucos metros daqui temos um Monumento em homenagem à passagem da Coluna por Crateús, que é a única obra no Ceará produzida pela prancheta de Oscar Niemeyer. Os exemplos do nosso pendor para as batalhas jorram como água de cachoeira. No entanto, aprendemos, com a sabedoria oriental, que a suprema arte é ganhar a guerra sem guerrear.

Por fim, registro que somos uma terra afeiçoada ao EMPREENDEDORISMO. Desde quando encravamos, na nossa espinha dorsal, as paralelas da linha férrea, ambicionamos o progresso com a sofreguidão de quem busca o infinito. Já construímos coroas de loiros tanto nas lavouras públicas como nos alqueires privados. Seus ancestrais, Desembargador: Coronel Zezé, o ex-Prefeito Zeca Araújo, o ex-Presidente da Câmara Alexandre Ferreira do Bonfim e o Monsenhor José Maria Moreira do Bonfim, dentre outros, pontificam no panteão dos que lançaram nas ruas desta urbe a marca do arrojo realizador. Somos a única cidade brasileira que ocupou, simultaneamente, três cadeiras na Câmara Alta do País, com os Senadores Beni Veras, Sérgio Machado e Valmir Campelo. Este último, depois, foi Presidente do Tribunal de Contas da União. Este evento de hoje, irmãs e irmãos, reacendeu em todos nós a tocha do ecumenismo e da vibração fraterna que sempre nos distinguiu. Abriu um colchete nas controvérsias, uniu a cidade inteira e até cidades vizinhas, como a caravana de Nova Russas aqui capitaneada pelo Prefeito Rafael Pedrosa. Aqui estão ex-adversários, digladiadores do passado e contendores no presente. Dentre outros, especialmente para lhe abraçar, vieram de Fortaleza, o ex-deputado, empreendedor nato, colecionador de riquezas, que generosamente doou o terreno para construção do prédio da Faculdade: Fernando Cardoso Linhares. Está aqui está hoje o único Crateuense que presidiu o Poder Legislativo Cearense e, nessa condição, sentou na cadeira de Governador (que, também, quero lhe ver um dia): o eterno e cantante Deputado Antônio dos Santos Soares Cavalcante. Aqui está, também, o único crateuense que presidiu o Tribunal de Contas dos Municípios e, antes disso, deixou um indelével rastro de labor à comunidade como Deputado Estadual: o inquieto e queridíssimo amigo Manoel Bezerra Veras. Já sentimos, em sentido contrário, o peso das intempéries, passamos por momentos de angústia e amargamos períodos de escassez. Esses ciclos adversos, no entanto, nunca nos acorrentaram ao saudosismo lamentativo. Miramos o futuro com a alegria contagiante de quem se levanta, todas as madrugadas, para saudar os raios da aurora.

E é com essa latência empreendedora, com o peito armado para a Luta, com a benevolência alvissareira do desprendimento, com o coração que palpita ante a Beleza, com o espírito compenetrado da Fé e com a alma bailando de Alegria, que nós te acolhemos hoje, cidadão Crateuense Washington Luís Bezerra de Araújo.

Não somos Reis Magos. Somos magros plebeus. Temos, porém, aquela riqueza que a traça não destrói. Recebe os nossos presentes: o ouro da sabedoria popular que resplandece, o incenso de uma fé que sobe aos céus e a mirra, que representa a imortalidade. Como os magos do Oriente, regresse para a sua lida com intenso júbilo. Que este Diploma seja uma nova estrela a guiar os teus passos vitoriosos!

Paz e Bem!

(Discurso proferido no Teatro Rosa Moraes, em Crateús, Ceará, por ocasião da outorga do Título de Cidadão Crateuense ao Desembargador Washington Luís Bezerra de Araújo, em 23.08.2019)

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