terça-feira, 10 de março de 2009

CLAUDINO SALES



Embora ainda pisasse as babugens da infância, relembro nitidamente: um cidadão do campo sentando sobre a calçada alta de sua casa na fazenda Mondubim, a 20 km de Crateús, defronte a um imponente pé de Benjamin, aguardando a visita de uma ilustrada figura. O cidadão: meu avô Tetêro Bonfim; o visitante insigne: o então deputado Claudino Sales.

Enquanto exerceu múnus público, Gonçalo Claudino Sales fez política assim: no contato direto com os amigos, sob o realce da habilidade, com uma pitada de discrição, agregando certo espírito conciliador com o tempero de uma boa dose de astúcia política.

Aliás, com muita propriedade, agia como os grandes mineiros, mestre na arte de politicar. Daquele jeito que ensinou Fernando Sabino: “Ser mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer, é fingir que não sabe aquilo que sabe, é falar pouco e escutar muito, é passar por bobo e ser inteligente (…)”.

Pois bem, foi nas Alterosas que o filho de Antônio Claudino Sales e Joana Soares da Silva lapidou a alma para as tarefas superiores que a História lhe reservou. Após desfrutar a tenra idade em Novo Oriente, onde nasceu em 12 de fevereiro de 1922, foi estudar o ginasial em Teresina e, em seguida, partiu para Belo Horizonte, onde cursou Direito na Universidade Federal de Minas Gerais. No campus, conheceu nomes que transitaram sobre as veias abertas da política nacional - como Francelino Pereira, por exemplo. Formado, logo perdeu a virgindade política assumindo uma secretaria municipal na cidade mineira de Caeté, que em tupi-guarani significa "Mata Virgem". Lá, teve o nome cogitado para ser o alcaide local.

Porém, resolveu advogar em Crateús. Perambulando como operador do direito, conheceu a sobralense Franci (Francisca das Chagas Carneiro Sales), com quem firmou aliança sentimental e gerou os filhos Maria de Fátima, Jane Mary, Vanda, Sandra e Claudino.

Na terra do Senhor do Bonfim, logo ganhou destaque acionando o poderoso gatilho de sua metralhadora verbal. Em sessões do Tribunal do Júri, emocionadas multidões acorriam para sentir vibrar as cordas do coração sob o impacto do seu vigor tribunício. Outra era, no entanto, a tribuna para a qual o tufão da eloqüência o arrastava definitivamente: a dos palanques eleitorais. Candidata-se a Prefeito de Crateús em 1958 em 1962, mas não obtém êxito.

Em 1966, estoura eleitoralmente ao disputar uma vaga à Assembléia Legislativa, saindo virtualmente eleito das urnas apuradas às margens do Poty. No Parlamento Estadual, além de ocupar a Presidência no ano de 1969, liderou o Grupo de Ação Parlamentar que articulou a candidatura de César Cals ao comando do Executivo Alencarino. Reeleito em 1970, assume a Secretaria de Administração do Ceará de 1971 a 1974.

Paralelamente à intensa atividade política, alça vôo na representação filantrópica como Dirigente Leonístico, ocupando a Presidência do Conselho Nacional de Governadores - CNG do Distrito Múltiplo L- Brasil – no biênio 1973/1974 – realizando profícuas missões internacionais e elaborando inclusive um trabalho monográfico: “Leonismo e Desenvolvimento”.
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No ano de 1975, estréia na Câmara Federal, onde esteve por dois mandatos consecutivos, relatou projetos emblemáticos como o Código de Menores e se sobressaiu como vice-líder do seu partido.

Na década de 1980, sua versatilidade político-administrativa é testada: ocupa as pastas de Administração, de Segurança Pública e a Procuradoria Geral do Estado (no Governo Gonzaga Mota); é nomeado Presidente da Companhia Industrial do Ceará - CDI e, depois, Chefe de Gabinete (Subsecretário) da Secretaria de Governo do Estado - SEGOV (no 1º Governo Tasso Jereissati). Nessa condição, pavimentou a continuidade do seu grupo político viabilizando a candidatura do sobrinho Zé Almir que, eleito prefeito de Crateús, tornou-se o líder de seu espólio e herdeiro necessário.

Entre outras, recebeu as condecorações da Ordem do Mérito Militar e da Ordem do Mérito Naval (ambas por Decreto do Presidente da República); da Ordem do Ipiranga (por Decreto do Governador do Estado de São Paulo), além de Cidadão Honorário de Crateús-CE e de Caeté-MG.

Nos últimos anos, enquanto a saúde permitiu, vivia percorrendo as terras da família, batendo papo com os amigos de longas datas como o Tio Nande e sorvendo os aperitivos da benevolência.

No apogeu de sua atuação, viabilizou projetos importantes para a região onde nasceu, como a rodovia da confiança, ligando Nova Russas, Crateús e Novo Oriente. Participou ativamente do movimento para garantir a implantação da rede elétrica de Crateús vinda de Paulo Afonso, na Bahia.

Porém, o principal contributo do doutor Claudino Sales foi de natureza imaterial: o de que é possível fazer política como arte fraterna, vereda de polidez, elogio à inteligência, prática nobre, teia de benquerença, exercício de lealdade!


(Por Júnior Bonfim, publicado na edição de hoje da Revista Gente de Ação e do Jornal Gazeta do Centro Oeste)

3 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Dr. Júnior Bonfim, é com muita emoção que leio no seu blog esse 'perfil' emocionante que o senhor produziu acerca do meu estimado pai. Lendo-o, vejo o meu pai tão distintamente! O seu texto é evidência clara da sua extrema sensibilidade, tal qual o poema que o apresenta nesse blog anuncia. Meu pai, se pudesse, tenho certeza, viria ele mesmo conversar com o senhor...as dificuldades de locomoção e outras mais não o permitem, mas saiba que ele emocionou-se igualmente, ao ouvir o nosso relato. Receba os meus cumprimentos cordiais, com muito apreço...

Unknown disse...

Dr Junior Bonfim, literalmente a emoção e estendida também a uma pessoa que admira muito a Família Claudino Sales, Sou Heliane Oliveira Queiroz Garcia que está bem longe deste paraíso por que não Fortaleza.A uns tempos atrás tive a felicidade de conhecer o Sr Caludino, a tia, seus filhos e com muito carinho a Jane Abraço a toda familha.

Anônimo disse...

Prezado Sr. Júnior Bonfim,
Sensibilizada pela condição frágil de saúde do meu idolatrado pai,muito me emocionei com tão realistico PERFIL pelo sr. traçado. Como sempre nos causou muito orgulho sua história de vida e política é com grande prazer que vemos isso tão bem reconhecido e relatado.
Com apreço,
Sandra Claudino Sales Costa