quarta-feira, 8 de abril de 2009

CHICO BARROS



O Centro Cultural Popular de Crateús estava lotado. Era o início da década de 1980. Uma caravana de Congressistas visitava parte do semi-árido nordestino para conhecer, in loco, os dramáticos efeitos de uma pesada seca. Em parte, a multidão era formada por curiosos que desejavam conhecer algumas celebridades que compunham a comitiva: a atriz Bete Mendes, o ex-guerrilheiro José Genoíno, o índio Mário Juruna... – todos Parlamentares Federais à época. Por ocasião dos debates, um representante da UFC se sobressaiu: Francisco Antonio Barros Farias. Com timbre imponente, o jovem que há muito tempo tinha deixado o torrão natal retornava para protagonizar uma cena de pugilato verbal que lhe garantia destaque. Assim conheci Chico Barros.

O filho do seu Newton e da dona Júlia, desde a tenra idade, sempre carregou no bornal da mente algumas qualidades: o jeito irrequieto e até histriônico, a inclinação para quebrar convenções, a inquietação com a realidade social, a facilidade para tecer relações, a obstinação para encarar desafios, a devoção às coisas boas da vida. No entanto, uma faceta sempre lhe foi singular: a solar clareza que a principal arma para todas as guerras é o amor ao estudo, o culto ao conhecimento!

Munido dessa convicção, com a brasa da adolescência ardendo n’alma, deixou Crateús no começo dos anos 70 e partiu para a Capital da República. Lá, além de obter graduação em Ciências Econômicas, pelo Centro Universitário de Brasília, CEUB, prestou serviços à Presidência da República, através das Secretarias de Planejamento e de Articulação com os Estados e Municípios. Daí, seus préstimos foram solicitados pelo Governo de Alagoas, onde também atuou na área de planejamento.

A paixão pela terra Alencarina, no entanto, era intensa. Em 1983, mediante concurso público, passa a integrar o corpo docente da Universidade Estadual do Ceará – UECE – donde foi designado para lecionar na Faculdade de Educação de Crateús – FAEC. O hábito de desapego aos formalismos que o novo professor cultivava chocou muita gente em Crateús. Chico estava ali, no entanto, para seguir a vereda da inovação e descortinar novos paradigmas: sacudiu a comunidade universitária, congregou amigos para a realização de um trabalho filantrópico no distrito de Monte Nebo, mobilizou comunidades idealizando a Associação de Desenvolvimento Comunitário de Crateús – ADESC e agitou o movimento social animando a primeira greve de professores municipais da história do município. Separado e livre, nessas andanças guerreiras cruzou com a médica Maria de Jesus Soares, a Djeca, uma compreensiva morena de olhos verdes, com quem firmou par.

Em 1986, assumiu a Delegacia Regional de Educação, implementando ações revolucionárias que marcaram a educação regional.

Essa pujante atuação na vida socioeconômica, cultural e comunitária do município o guindou à atividade político-eleitoral. Em 1988, realiza uma campanha vanguardista para a Câmara Municipal. Foi a primeira pessoa a levar um computador para a cidade. (Imaginem a face de estupefação dos eleitores quando o candidato acionava a “máquina” e as pessoas viam todos os seus dados básicos na tela – inclusive, e principalmente, o número da seção em que votavam...). É eleito para uma cadeira no Parlamento Mirim de Crateús e, ali, dividindo bancada com gente como o saudoso Emanuel Cardoso, o empolgado orador José Maria Camerino, este escriba, o professor Arquimedes Marques, os engenheiros Joaquim Anízio e Luciano Feijão, comanda ricas discussões. Porém, sua passagem pela Casa do Povo seria fugaz. Convidado pelo Prefeito Zé Almir, assume a Secretaria de Planejamento do Município, onde empreendeu uma série de passos inovadores na gestão local.

Em 1990, foi convidado pelo amigo e deputado Manoel Veras, que havia sido nomeado Secretario de Administração do Estado, para assumir a Chefia de Gabinete da referida Pasta. Solidifica a parceria com o companheiro de infância, sendo um dos principais sustentáculos de assessoramento do parlamentar enquanto este cumpriu mandato popular.

Mercê da rotina estafante que o redemoinho da vida pública impõe, nunca deixou de mirar o horizonte de luz que o estudo abre: cursou Direito pela Universidade de Fortaleza e, logo depois, especialização em Direito Constitucional.

Recolheu rico material que a experiência em Crateús lhe proporcionou e escreveu uma tese de mestrado intitulada “ME AJUDA QUE EU TE AJUDO: RELAÇÕES DE PODER E POLITICA LOCAL NO COTIDIANO”.

Em Fortaleza, montou um escritório e fundou a ADAM – Agência de Desenvolvimento e Administração Municipal – tendo, através dela, prestado serviços a vários municípios do Ceará. Após pulsar de alegria com a formatura em medicina do filho Gregório - a figura que mais enternece o seu espírito - mais uma vez alinhavou as interrogações que os experimentos práticos geraram e partiu para sua mais ousada escalada intelectiva: o doutorado! Com o tema “O DIREITO A TER DIREITOS - Sobre o Direito Municipal de Participação no Ordenamento Jurídico Brasileiro” – ingressou em 2007 na milenar Universidade de Coimbra, em Portugal.

Na terra de Camões, é motivo de orgulho para uma família e para a comunidade a que pertence ter um filho integrando o quadro discente da mais antiga e famosa Universidade Portuguesa. Crateuenses: orgulhemo-nos do doutor Chico Barros, o primeiro conterrâneo nosso a pertencer à Universidade de Coimbra!

(Por Júnior Bonfim - publicado na Coluna "Gente Que Brilha", da Revista Gente de Ação, edição de hoje)

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