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terça-feira, 28 de abril de 2009
OBSERVATÓRIO
Há alguns anos atrás, nos sertões de Crateús, surgiu um fenômeno que fez a região ganhar uma negativa notoriedade: jovens de origem simples virando neo-ricos como num passe de mágica, aplicando golpes em detentores de cartão bancário. Essas figuras ficaram conhecidas como “os cartãozeiros” e viveram dias de glória no início da trajetória. Eram, via de regra, figuras paupérrimas que partiam sem qualquer tostão no bolso e voltavam exibindo luxuosos veículos, modernas peças eletrônicas e, sobretudo, polpudas carteiras com dinheiro em espécie. Logo granjeavam a admiração dos incautos. No auge dessa “fama”, alunos de escolas de Novo Oriente foram sondados sobre o que desejariam ser no futuro. A esmagadora maioria respondeu: ‘cartãozeiro’...
O STF E O DIREITO DAS RUAS I
Na semana passada, a nação brasileira assistiu intrigada a mais deprimente contenda verbal da história do Supremo Tribunal Federal. Questionado pelo Presidente da Corte, Gilmar Mendes, o Ministro Joaquim Barbosa disparou uma saraivada de agressões pessoais no colega. A sessão teve que ser encerrada à bem da ordem. Em que pese ter feito História por ser o primeiro negro a tomar assento na mais alta Corte de Justiça Brasileira, o ministro Barbosa, ao sair do altiplano da polêmica jurídica e deslizar para o pântano da refrega pessoal – malgrado o alerta censurativo à excessiva incursão midiática do Presidente da Casa – manchou um pouco a toga. Isto à parte, Joaquim Barbosa levantou uma questão de fundo. Ao insinuar que Gilmar contribuía para o descrédito da Justiça por se situar longe das ruas, Barbosa reacende um antigo debate entre decisão judicial e vontade popular. O ideal seria que a aplicação da lei e o sopro da popularidade andassem juntos. Porém, nem sempre isso é possível. Na maioria dos casos, quase impossível.
O STF E O DIREITO DAS RUAS II
Basta relembrarmos a enorme resistência que a massa popular externa por ocasião da entrada em vigor de leis rígidas e severas, mas necessárias, como é o caso da obrigatoriedade do cinto de segurança, da proibição de dirigir alcoolizado etc. Embora simpática à ira coletiva, a postura do Ministro Barbosa depõe contra o sentido da Justiça, que deve ser exercida com desassombro e destemor, inclusive incorrendo em impopularidade. Na linha de raciocínio esposada, se fosse juiz nos sertões de Crateús há alguns anos atrás – e corresse às ruas para decidir o destino dos ‘cartãozeiros’ quando estes desfrutavam de enorme prestígio popular - certamente Joaquim Barbosa lhes outorgaria uma sentença de absolvição...
A ACADEMIA
Encontra-se em avançado estágio o debate visando à constituição da Academia de Letras de Crateús – ALC. De abrangência municipal, a Arcádia acolherá amantes das letras em sentido lato (tanto produtores da escrita convencional como artesãos da literatura popular), que possuam obra qualificada escrita (publicada ou não), bem como exibam vínculo literário com Crateús. No quadro de Patronos, figurarão nomes ligados ao Município e ao estado do Ceará, como: Dom Fragoso, Padre Alfredinho, Gerardo Mello Mourão, Patativa do Assaré, Sebastião Bonfim, Jáder de Carvalho e Raquel de Queiroz. O Estatuto está em fase final de compilação.
GOVERNO LOCAL
Por ocasião dos 100 dias de Governo de Carlos Felipe, algumas pessoas da cidade foram instadas a formular uma avaliação da gestão municipal. Dentre elas, este Colunista. Externamos que uma Administração se avalia por seu patrimônio, que é material e imaterial. O primeiro está ligado ao conjunto de realizações físicas, palpáveis, concretas; o segundo, pelo conjunto de intervenções simbólicas, gestos, idéias, posturas e falas.
O MATERIAL
Salvo algumas pequenas obras triviais, sobretudo ligadas à área de pavimentação, inexistem grandes ações. Pelo exíguo espaço de tempo, seria quase impossível à atual gestão exibir qualquer cartela de realizações. Portanto, pouco se pode ponderar nesse campo. Considerando o amplo leque de ações previstas para o município pelos Governos Federal e Estadual, em especial com a proximidade do próximo pleito eleitoral de 2010, certamente a cidade tende a virar um canteiro de obras. Tudo leva a crer que o governo local, nesse particular, obtenha êxito. O seu maior desafio é no campo impalpável.
O IMATERIAL I
Ao longo dos últimos quatro anos, o atual Prefeito construiu um discurso de rejeição a quem já tinha passado pela Prefeitura, sobretudo os ex-prefeitos. Criou uma dicotomia entre ‘velho’ e ‘novo’. Fustigou as práticas patrimonialistas, o exercício do clientelismo, o vírus da corrupção e a barganha politiqueira. Virou paladino da seriedade, herói municipal. E conquistou o povo, sedento de uma oxigenação na política local. Sucede que, já na própria campanha, abriu a guarda quando aceitou o apoio de um ex-prefeito e até rival, o também médico Nenzé Bezerra. Após a eleição, ainda na fase de transição, ensaiou uma aproximação com o então Prefeito Zé Almir. Ante a reação adversa, negou o entendimento. Empossado, tem se aproximado de adesistas e esquecido aliados de primeira hora. Esses movimentos têm encontrado resistências em sua maior base de apoio: a classe média, a massa crítica que forma a opinião popular.
O IMATERIAL II
Emblemático desse quadro preocupante é o movimento dos professores (onde mais de 90% da categoria apostou no seu projeto), que gerou a mais rápida e duradoura greve da história do município. A dificuldade de diálogo eficaz já produziu explosões autoritárias do Prefeito, prontamente estimuladas por alguns dos seus assessores, inclusive tentando desqualificar os que lhe contestam. E isso é perigoso. Todos os que trilharam a vereda do autoritarismo se arrependeram.
O IMATERIAL III
A grande indagação é: está errado o Prefeito quando se aproxima de lideranças que contestava? É lógico que está certo. Um bom governo se faz ampliando apoios, somando forças, agregando valores. Equivocado ele estava quando difundiu um discurso diferente: separatista, divisionista. E agora, o que fazer?! É hora de protagonizar uma auto-avaliação séria e dialogar francamente com a população. No entanto, esse diálogo, que é necessário, há que ser feito de modo maiúsculo: ao invés de negociações pontuais, varejistas, vitaminada por concessões e barganhas individuais (como está sendo feito hoje), poderia ser colocado em pauta um debate de alto nível, discutindo um arrojado Programa Para o Município, com a audiência de todas as forças vivas e organizadas. Seria, pelo menos, um bom sinal.
PARA REFLETIR
"Não sou dos que rebaixam o debate, convertendo-o em pugilato. Elevo-o à região das idéias: não o arrasto pela das personalidades." (Rui Barbosa)
(Por Júnior Bonfim - publicado na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro-Oeste)
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Paulo Nazareno disse...
Congratulações efusivas pela brilhante ideia da Academia de Letras, iniciativa benfazeja,iluminada e sem surpresa,fruto da sua visão futurista.
Parabens!
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Paulo Nazareno disse...
Imaterial IV
"O tempo é o senhor da razão"
(F.Bacon)
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Júnior,
Fui e sou muito ligada a tudo que se refere a Gerardo Mello Mourão.
Sou amiga de seus familiares, frequentava sua casa em Copacabana e cheguei a recê-lo em minha chácara, em Ipueiras, por ocasião de um evento cultural.
Estou feliz e orgulhosa em saber que Gerardo fará parte do quadro de patronos da Academia de letras de Crateús.
Assim como Ipueiras, Crateús faz parte da história deste grande poeta que levou sua terra para o mundo.
Um abraço,
Dalinha Catunda
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3 comentários:
Congratulações efusivas pela brilhante ideia da Academia de Letras, iniciativa benfazeja,iluminada e sem surpresa,fruto da sua visão futurista.Parabens!
Imaterial IV.
"O tempo é o senhor da razão"
(F.Bacon)
Júnior,
Fui e sou muito ligada a tudo que se refere a Gerardo Mello Mourão.
Sou amiga de seus familiares, frequentava sua casa em Copacabana e cheguei a recê-lo em minha chácara, em Ipueiras, por ocasião de um evento cultural.
Estou feliz e orgulhosa em saber que Gerardo fará parte do quadro de patronos da Academia de letras de Crateús.
Assim como Ipueiras, Crateús faz parte da história deste grande poeta que levou sua terra para o mundo.
Um abraço,
Dalinha Catunda
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