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sexta-feira, 29 de maio de 2009
CONJUNTURA NACIONAL
ARMADO DE ADMIRAÇÃO
Tenório Cavalcanti, udenista e adversário político de Vargas, foi ao Catete numa comissão de deputados. Andava nas manchetes dos jornais por causa de suas estripulias em Caxias, na base da "Lourdinha" (metralhadora) e da capa preta.
Getúlio o cumprimentou, olhou bem para o volume do revólver embaixo do braço esquerdo, sob o paletó:
- Deputado, o senhor está armado?
Tenório ficou vermelho, mas não perdeu o bote:
- Sim, presidente, armado de admiração por V. Excelência.
SILVIO TORRES URGENTE
O Deputado Silvio Torres, boa praça do PSDB de São Paulo, tomou um susto: chegou em São Paulo por volta de 20h de ontem, quinta, e foi informado que sua assinatura constava da lista de "apoiamento" do deputado Jackson Barreto, do PMDB de Sergipe. O projeto muda a Constituição para inserir nela a ideia do terceiro mandato presidencial. Silvio e mais outros cinco tucanos se apressaram em mandar retirar as assinaturas. Caíram na lista de "apoiamentos por caridade".
DELGADO EXPLICA
Este escriba ouviu a aflita explicação deste sincero deputado tucano, ontem à noite, durante o coquetel em homenagem ao novo presidente do CIEE, o amigo e eficiente advogado Ruy Altenfelder, sob o ouvido atento do ex-deputado Paulo Delgado, de Minas Gerais. Delgado era um dos mais qualificados parlamentares da Câmara e, hoje, presta serviços como consultor à FIESP e outras entidades. O simpático mineiro de Uberaba explica: "há pessoas simples, nos corredores da Câmara, coitadas, que fazem o trabalho de coleta de assinaturas. Conheço uma delas, que ganha dois reais por assinatura. E, depois da assinatura dos "apoiamentos", ela ainda nos abençoa em nome de Deus". Silvio Torres entrou nessa lista. Foi vacinado. Doravante, os parlamentares deverão olhar onde estão assinando.
CENÁRIOS PETROLEIROS
A CPI da Petrobras terá apenas três senadores da oposição. Seria o caso de concluir, então, que tudo estará sob controle? Depende. É evidente que os três senadores da oposição procurarão fazer o maior barulho. Nesse sentido, contarão com a diligência da mídia, que se fará presente todo tempo. Se houver obstrução das investidas oposicionistas, a mídia dará eco. Ou seja, a essa altura, algum prejuízo já pode ser contabilizado na planilha político-eleitoral.
O ISLÃ E O OCIDENTE
"Enquanto o Islã continuar sendo o Islã (como continuará) e o Ocidente continuar sendo o Ocidente (o que é mais duvidoso), esse conflito fundamental entre duas grandes civilizações e estilos de vida continuará a definir suas relações no futuro do mesmo modo como as definiu durante os últimos 14 séculos". (Samuel P. Huntington – O choque de civilizações)
UMA BOMBA
E se aparecer uma bomba, uma descoberta impactante, um caso escandaloso? Bom, se isso ocorrer, pode-se apostar na espetacularização da CPI. O ambiente tumultuado deverá desandar o ritmo de atividades do próprio Senado. Será um deus-nos-acuda. Esse cenário poderá ser desastroso para a Petrobras e, consequentemente, para o governo.
VELHO E MOÇO
Pretendendo certo fidalgo, ilustre e rico, porém já velho, realizar segundas bodas com Santa Marcela, viúva, de pouca idade, alegava, em seu favor, que também os moços podem morrer logo. Respondeu a Santa com prontidão e modéstia: "o moço pode morrer logo, mas o velho não pode viver muito". É o que nos conta o sábio padre Manuel Bernardes.
REFORMA TENDE A DESANDAR
A reforma política acaba de subir ao telhado. O projeto de reforma, relatado pelo deputado Ibsen Pinheiro, e que é centrado na lista fechada e no financiamento público de campanha, não tem condições de ir a plenário. Haverá obstrução, caso haja tentativa. O presidente da Câmara, Michel Temer, quer encontrar uma saída, mas acha que as divergências são quase insuperáveis. Para esta Coluna, Temer dá o tom: "vamos fazer um enorme esforço para chegarmos ao mínimo de consenso. Mas as propostas são múltiplas. Lista fechada, voto distrital puro e misto, distritão, lista aberta como hoje, enfim, cada qual tem uma visão diferente. Mas farei o que for possível para avançar".
TERCEIRIZAÇÃO AVANÇA
Pela primeira vez, um grupo de 60 dirigentes e empresários fez chegar à Casa do Povo, em Brasília, sua voz em defesa da Terceirização. Uma caravana, comandada pelo presidente do Sescon/Aescon, José Maria Chapina Alcazar, e com o reforço do amigo Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de SP, entregou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, um documento com a solicitação da votação do projeto 4.302/98, que trata da matéria. O movimento, sob o patrocínio do Fórum Permanente em Defesa do Empreendedor, vai, agora, conversar com os líderes dos partidos. Influentes parlamentares começam a se engajar na campanha pela legalização dos serviços terceirizados no país, entre estes José Aníbal, líder do PSDB, Henrique Alves, líder do PMDB, Milton Monti, vice-líder do PR, Ronaldo Caiado, líder do DEM, Colbert Martins, relator do projeto na Comissão de Constituição e Justiça, entre outros.
DILMA, SERRA OU AÉCIO?
A Mega Brasil, grupo capitaneado pelo esforçado jornalista Eduardo Ribeiro, encerra, hoje, o 12º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa. Este analista, mais uma vez, aceita o desafio imposto por Edu para discorrer sobre Comunicação, Empresas e o Brasil de 2010. A questão que me colocaram é: será um Brasil de Dilma, Serra ou Aécio? Às 11h desta manhã de sexta, no Centro de Convenção Rebouças, vou tentar responder à provocação.
LULA NA PETROBRAS
Pois bem, já sabemos para onde Lula pretende ir ao deixar a presidência da República. Seu destino é a Petrobras. Quer dirigir a empresa e já convocou Sérgio Gabrielli, o atual presidente, para assessorá-lo. Luiz Inácio sabe das coisas. Há um mundão de coisas que poderia fazer. Mas a Petrobras está mais perto do céu. Claro, isso poderia ocorrer se Dilma for eleita para seu lugar. Esta confissão, em tom de brincadeira, foi feita para o companheiro Hugo Chávez. Seria interessante Dilma, a presidente, dar ordens ao novo presidente da Petrobras. Ou será que o Palácio do Planalto não seria uma sucursal da petroleira? Luiz, Luiz, não seria melhor o recolhimento na Catedral da Liturgia que abriga ex-Mandatários?
VULGARIDADE
"Os homens vulgares quereriam pedir a Circe as poções com que transformou em cerdos os companheiros de Ulisses, para receitá-las a todos os que possuem um ideal. Eles estão em todas as partes, sempre que se verifica um recrudescimento da mediocridade, entre púrpuras, como entre escórias, na avenida e no subúrbio, nos parlamentos e nos cárceres, nas universidades e nas manjedouras. Há certos momentos em que ousam denominar ideias a seus apetites, como se a urgência de satisfações imediatas pudesse ser confundida com a ânsia de perfeições infinitas. Os apetites se fartam; os ideais, nunca". O puxão de orelhas na vulgaridade é do mestre José Ingenieros, em seu belíssimo O Homem Medíocre.
E O CAMINHO DAS ÍNDIAS, HEIN?
Marcos Losekann, repórter da TV Globo em Londres, confessou que viu a novela Caminho das Índias juntamente com um grupo de indianos. Os caras tiraram um tremendo sarro: não tinha nada daquilo, incluindo as vestes. Losekann disse essas verdades no programa de Ana Maria Braga. Ou seja, da Globo para a Globo, ou melhor, de um repórter da Globo para Glória Perez, novelista da mesma casa. Vai sobrar para o repórter? Haverá réplica? Afinal, a saia justa ficará restrita ao olho do Louro José?
AVE, CÉSAR!
A fim de conquistar o poder, César ligava-se a gente de todas as classes, desde as mais altas às mais baixas. Tornou-se um homem fátuo e sensual. Divorciou-se de Pompeia, sua segunda esposa, porque "a mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita", e ela não estava. No entanto, ele era infiel à esposa com mulheres de todas as classes, inclusive a mãe de Bruto. Como um veneno de ação lenta, a depravação da Roma pagã nublava a luminosa promessa que era o seu futuro. De César, colhemos o ditado: "faça o que digo, não faça o que faço".
CADÊ SKAF, HEIN?
Pergunta que, vez ou outra, me fazem: como vê o jogo político em 2010 no país? Tento dizer algo. Emendam com uma segunda pergunta: e São Paulo, quem serão os contendores? Tento adivinhar: Aloysio Nunes Ferreira, Geraldo Alckmin, José Aníbal, Marta Suplicy, Antônio Palocci, Emídio de Souza, Aloizio Mercadante e que tais. Entre os interlocutores, alguns são empresários. Curiosos, me jogam mais uma provocação: e Paulo Skaf tem alguma chance? Pergunto: chance para quê? Dizem: para o governo do Estado. Replico: perguntem para o outro Paulo, o da Força Sindical. As últimas notícias políticas sobre Skaf davam conta de que poderia vir a ser candidato do Paulinho da Força.
HÉLIO DE COSTAS
O presidente Luiz Inácio acaba de inserir mais um ator no palco de 2010. Sugeriu que seu ministro Hélio Costa poderia ser um bom nome para figurar na chapa de Dilma. Vejam, agora, as razões. Minas Gerais tem cerca de 14 milhões de eleitores, o segundo maior colégio eleitoral do país. Lula quer anular a vantagem do PSDB no Estado, ou seja, diminuir o potencial de Aécio Neves e, ao mesmo tempo, consolidar a aliança com o PMDB. Só que Hélio quer ser governador. E conta, hoje, com larga vantagem sobre os petistas, Patrus Ananias e Fernando Pimentel. Mais ainda: o PMDB mineiro tende mais a fechar aliança com Aécio, que apoiaria o ministro das Comunicações. Como se vê, Lula quer embaralhar as cartas. Dizem que Hélio ficará de costas para a intenção lulista.
VICES DO PMDB
Hélio Costa se junta a outros nomes já anunciados como prováveis vices: Michel Temer, presidente da Câmara e do partido; Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro e Geddel Vieira Lima, ministro da Integração.
QUÉRCIA CONTRA MERCADANTE
Orestes Quércia ganhará a vaga de candidato ao Senado por conta da aliança, em São Paulo, do PMDB com o PSDB. Desta vez, emplacará? Outras possibilidades: Aloizio Mercadante, que já o tirou do páreo na eleição de 2002; José Aníbal, Romeu Tuma, Geraldo Alckmin (se não sair como candidato ao governo), Guilherme Afif.
TERCEIRO MANDATO
Pois é, o deputado Jackson Barreto (PMDB/SE) está apresentando a emenda do terceiro mandato. Colheu 180 assinaturas, entre as quais – pasmem – 20 do PSDB e do DEM. Horas depois de apresentada, no entanto, a PEC foi devolvida pela secretaria da Câmara para o seu autor, deputado Jackson Barreto. É que 5 tucanos e 8 dos 11 democratas que apoiaram inicialmente o texto retiraram as assinaturas. O deputado poderá buscar novos apoios. Mas, quem conhece os trâmites da Câmara, conclui: não haverá tempo para votar a proposta este ano.
VIVOS E MORTOS
"Há neste mundo muitos vivos que já são mortos, e muitos velhos que ainda são meninos e muitos homens que não são homens, nem ainda criaturas". (Padre Manuel Bernardes)
E O MINC, HEIN?
Esse ministro Carlos Minc começa a botar as mangas, aliás, a língua, de fora. Xingou os ruralistas de "vigaristas". O forte grupo do agronegócio quer ver o cão chupando manga, mas não a cara do ministro. Ronaldo Caiado, líder do DEM e ruralista, deu o troco. O ministro pediu desculpas. Vai ser difícil conviver com esse ministro, também conhecido como Minc Leão Dourado.
DILMA NO FORRÓ
Para mostrar que está tudo tranquilo, Dilma Rousseff irá ao forró de Caruaru, neste fim de semana, a convite do governador Eduardo Campos. É o preço a ser pago pela popularidade.
JANELINHA SALVADORA
O projeto de reforma política foi pro beleléu. Mas o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) espera que, até setembro, seja votado e aprovado seu projeto, que reduz a filiação partidária de um ano para seis meses para aqueles que vão concorrer às eleições. É bem provável que, chegando ao Plenário, seja aprovado. É mais um jeitinho para driblar as dificuldades.
ZÉ RODRIX
Deixou-nos uma das mais fulgurantes figuras do mundo cultural e artístico: Zé Rodrix. Tive a felicidade de privar de sua amizade. Conheci Zé por intermédio de meu primão, Zé Nêumanne. Nunca vi pessoa tão rápida no gatilho do pensamento. Culto, aberto, misterioso, sistêmico, polêmico, engraçado, gozador. Uma noitada de conversa com ele e Nêumanne era um festival cheio de encanto e graça, histórias e estórias, lembranças e causos, piadas e relatos saborosos. Pesquisador cuidadoso, minucioso. Apreciava o detalhe. Sua trilogia – três romances – sobre o universo exotérico da Maçonaria marcará sua passagem pela literatura. Zé gostava da cozinha. Provei de suas habilidades culinárias. Estará sempre no cantinho mais privado dos nossos corações. Espero que Julia, sua encantadora mulher, nos conte detalhes sobre o livro que Zé estava escrevendo sobre a figura de Tiradentes. Um mistério.
CONSELHO AO GOVERNADOR JOSÉ SERRA
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos membros da CPI da Petrobras. Hoje, volta sua atenção ao governador José Serra:
1. Saia da toca. Passe a andar por algumas praças brasileiras. Para sentir a temperatura. Não espere pelo período de campanha.
2. Os empresários paulistas se queixam do arrocho tributário. E fazem comparação com os tempos mais amenos de Geraldo Alckmin. Seria interessante verificar onde e por que ocorrem esses lamentos.
3. Comece a falar de Brasil. Pense grande. Por onde e como o país deve caminhar? O que falta? O que está errado? O que precisa ser corrigido?
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(Por Gaudêncio Torquato)
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