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quarta-feira, 12 de agosto de 2009
CONJUNTURA NACIONAL
FRANCO MONTORO
Comecemos com uma historinha que tem como personagem Franco Montoro. Depois de deixar a esfera governativa e parlamentar, Montoro passou a se dedicar ao Instituto Latino-Americano - ILAM. Na condição de presidente desta entidade, foi a um almoço organizado por um pequeno grupo de professores da USP no restaurante do campus. O ex-governador, como se sabe, tem registrado em sua história muitos casos de dislexia, momentos em que confundia nomes, alhos com bugalhos, motivando risos nas cerimônias. A conversa fluía bem, versando sobre os mais diferentes problemas do país. A certa altura, ele se surpreendeu ao saber que este escriba era potiguar. Mais ainda: tio de Sônia, casada com João Faustino, tucano do melhor naipe e seu dileto amigo. Montoro e dona Lucy foram padrinhos do casamento de uma das filhas de João e Sônia. De repente, lá vem a pergunta:
- E como está o Agrário? Você sabe como ele vai?
Passo a lupa na mente e lamento ignorar a identidade da figura. Mas vou procurar saber, logo, logo.
Mudamos de assunto. Mas o Agrário continua a frequentar o meu sistema cognitivo. De repente, Eureka! Agrário? Agrário? Não seria o Urbano?
Tomo a iniciativa:
- Governador, será que o senhor não confundiu o Agrário com o Urbano?
- Ah, sim, é claro, é claro. Desculpe. Como vai o Urbano?
Francisco Urbano era presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG. Um potiguar muito conhecido nos universos sindicalista e político.
A dislexia do ex-governador paulista havia intercambiado o espaço rural com a geografia urbana.
Franco Montoro, exemplo de Honradez, Dignidade, Seriedade, Civismo, Independência e Amor à Pátria.
Quanta falta ele faz nesses tempos de lamaçal político.
LINA E DILMA
Dois nomes, duas versões. A ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, deu a sua versão: no final do ano passado, entendeu que a ministra Chefe da Casa Civil pedia pressa na investigação da Receita contra o empresário Fernando Sarney. O senador Sarney preparava-se para disputar a presidência do Senado. Dilma, ao refutar, exibiu a sua verdade: não houve o encontro privado anunciado por Lina. Um detalhe: a ex-chefe da Receita não tomou a iniciativa de falar sobre o caso. Foi procurada pela Folha de São Paulo. Lina Vieira é uma pessoa conhecida pelo amplo domínio técnico e postura discreta. Não é de arroubos. E jamais se prestaria à tarefa de fazer jogo político. Há cinco maneiras de contar a verdade, escreveu Brecht. A maneira de Lina é, sem dúvida, a menos esponjosa.
LEDO ENGANO?
Luiz Inácio, em defesa da ministra Dilma, diz não acreditar na versão da ex-secretária da Receita. Ledo engano, garantiu Lula. Teriam sido ledos os enganos sobre escandalosos casos que o presidente garantiu não terem existido ou deles tomado conhecimento, entre os quais o famigerado mensalão?
LULA NO COMANDO
Lula tem dado sinais de que não abre mão do comando da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Mesmo os petistas mais próximos têm receio de dar palpites sobre rumos, discurso, articulação, mobilização. Lula impôs ao PT o nome da ministra, define as regras para as alianças e escolhe, desde já, os palanques centrais e secundários. A praça que mais o preocupa é São Paulo, onde o PT não tem candidato competitivo.
O FATOR MARINA
Ciro Gomes é o candidato de Lula para enfrentar o candidato de José Serra ao governo de São Paulo. Apareceu, porém, no cenário Marina Silva. Ou seja, o presidente imaginava uma campanha plebiscitária no plano federal: Serra ou outro candidato de oposição contra Dilma. O plebiscito levaria em conta a indagação: está satisfeito com a situação? Vote em Dilma. Quer mudar? Vote em Serra. Marina Silva, eventual candidata pelo PV, quebrará a polarização. A campanha deixaria de ser plebiscitária. A senadora acreana, ícone do ambientalismo, poderia alcançar até 15% (ou mais) de intenção de voto.
CIRO ABRE O LEQUE
Ante a abertura do palco presidencial, Ciro Gomes pensa também em abrir o leque. Aposta que entrando no páreo federal, torna-se alternativa para embolar o jogo. A campanha rolará para o segundo turno, onde seus votos e mais os de Marina Silva tenderiam, em maior percentagem, a encher o balão de Dilma Rousseff. Ademais, ele entraria bem no figurino de "matador", com sua artilharia apontada ao coração de Serra. Portanto, o fator Marina deverá descolar Ciro Gomes da perspectiva paulista.
DE PARAQUEDAS
Ciro não teria chances em São Paulo como candidato ao governo. Trata-se de um estranho no ninho, um paraquedista. Nasceu no Estado, mas fez vida política no Ceará. Os paulistas cobrariam com juros e correção monetária os ataques que o deputado do PSB tem feito ao domínio paulista na cena nacional. Sua recente aproximação com o Estado não o exime das acusações do passado. Poderia, até, conseguir entre 10% a 12% de votos. Só alcançaria pontuação mais elevada diante de candidatos opacos. Perderia feio, por exemplo, para Geraldo Alckmin ou Gilberto Kassab.
OS DOIS SAPOS
Dois sapos viviam na mesma lagoa. Quando ela secou com o calor do verão, eles saíram em busca de outro lar. No caminho, passaram por um poço profundo e cheio de água. Ao vê-lo, um dos sapos disse para o outro: "Vamos descer e fazer a nossa casa neste poço, ele nos dará abrigo e alimento." O outro, mais prudente, respondeu: "Mas, e se faltar água, como sairemos de um lugar tão fundo?" Não faça nada sem pensar nas conseqüências. (Esopo, século 6 a.C.) Pois é, certos políticos agem como o sapo imprudente.
E O SENADO, HEIN?
Quando a crise no Senado chegará ao fim? A essa altura, resta a impressão: Sarney virou o jogo; ganhou, mas exibe um corpo alquebrado; as oposições perderam ímpeto com as denúncias que flagram alguns de seus integrantes; as camadas tendem à acomodação após o sismo inicial.
CONSELHO DE ÓTICA
Na semana passada, em meio ao fogo cruzado entre oposição e governo, o senador Cafeteira disparou à "queima-roupa" para cima de Arthur Virgílio: "Caro senador, devo lembrar ao nobre parlamentar que o encaminhamento de suas acusações no Conselho de Ética seguirá a liturgia sobre o que será ou não condenatório e isto será feito pela ótica do presidente da Comissão". Virgílio, já escaldado pelos acontecimentos recentes retrucou: "Vossa Excelência deve saber que nunca fui afeito às ciências exatas e portando, passei longe da oftalmologia". Pois é, quem diria, hein, o Senado acabou formando um Conselho de Ótica.
O VELHO AMIGO
"Os velhos amigos são os melhores. O rei Jonas costumava pedir os seus velhos sapatos, porque eram mais folgados para os seus pés". (John Selden, jurista inglês)
ROLANDO A BOLA
A simples inversão das duas letras iniciais confere ao ministro Orlando Silva um gerúndio bem próprio dos atletas de futebol. Rolando a bola – eis a imagem que o ministro do Esporte transmite aos que acompanham sua performance pelos campos, aliás, pelos mais diferentes espaços do território. Trata-se de um perfil dos mais simpáticos do governo Lula. Faz-se presente em eventos esportivos e culturais, ouve lideranças dos nichos esportivos e procura estabelecer as coordenadas para o país oferecer uma boa estrutura na Copa de 2014.
LEI DO ESPORTE
Esta semana, o ministro Rolando, aliás, Orlando Silva, participou de um almoço no SESCON, em São Paulo, organizado pelo Fórum Permanente de Defesa do Empreendedor, comandado por José Maria Chapina Alcazar. Chapina fez ver ao ministro a magnitude da extensão dos benefícios da Lei do Esporte – vantagens tributárias auferidas com o patrocínio esportivo – para as empresas de lucro presumido. De 170 mil, o número de empresas passaria a ser de 700 mil, salto que iria ajudar o universo de micro e pequenos empreendimentos. O ministro aceitou a ideia e deverá apresentá-la, para estudos, aos técnicos do Ministério da Fazenda. O deputado tucano, Silvio Torres, até já tem a solução para abrigar a proposta: simples e rápida alteração em um artigo da Lei do Esporte, de forma a incluir nela todos os conjuntos produtivos.
PANORAMA NOS ESTADOS
A lupa pré-eleitoral está sendo arrumada nos Estados. No Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves e José Agripino lideram as posições para o Senado. A governadora Vilma Faria está em terceiro lugar. E a senadora Rosalba Ciarlini (DEM) avança, disparada, em primeiro lugar. Em São Paulo, Geraldo Alckmin garante, hoje, sólida posição no primeiro lugar. Nenhum petista consegue ameaçá-lo. Para o Senado, Aloizio Mercadante (PT) e Orestes Quércia (PMDB) são os mais evidentes, não necessariamente os mais prováveis. Em Roraima, o deputado Neudo Campos (PP) aparece em primeiro lugar e Marluce Pinto, ex-senadora e herdeira política do marido Ottomar Pinto, lidera a corrida para o Senado. Romero Jucá (PMDB) está em queda. E o governador José de Anchieta (PSDB), candidato à reeleição, patina em um andar muito baixo.
AÉCIO, LUZ NO SENADO
Há quem distinga em Aécio Neves a luz no fim do túnel do Senado. Candidato a senador por Minas Gerais, teria uma votação extraordinária. Com o prestígio e a fama de político que dança em todas as pistas, Aécio poderia quebrar uma tradição: seria eleito, logo no início do primeiro mandato como senador, presidente da Câmara Alta. Pano de fundo: reformas que Sarney, pelo perfil e circunstâncias, não teria condição de implementar.
CARTAXO, PERFIL DE EQUILÍBRIO
Otacílio Cartaxo, o Secretário interino da Receita Federal, é conhecido pela capacidade de equilibrar os pratos da balança. Trata-se de um técnico de alto nível, que integra o chamado grupo de intelligentzia da Receita. Mas há a turma de auditores da Previdência, que sonha em retomar o comando do sistema. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Machado, que tem origem na Previdência, seria o patrocinador daquele grupo. Para muitos, a retomada do poder pelo grupo previdenciário seria um retrocesso. A Receita desenvolveu uma tecnologia avançada de controle e fiscalização. Que propicia a intercomunicação dos canais e sistemas. Já a turma dos fiscais previdenciários conserva métodos arcaicos. Eis o pano de fundo da luta que se trava nos bastidores da RF.
CONSELHO A MARINA SILVA
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado aos senadores. Hoje, volta sua atenção a senadora Marina Silva:
1. Senadora, o momento brasileiro é propício à fixação de estacas no campo da defesa ambiental e ao soerguimento de bandeiras éticas e morais.
2. A senhora é um dos símbolos da defesa do meio ambiente no Brasil e precisa aproveitar a oportunidade para disseminar sementes de seu bonito e denso discurso.
3. Qualquer que seja o resultado a ser alcançado pela senhora, no pleito presidencial de 2010, a bandeira ambientalista será vitoriosa. Aceite a indicação de seu nome pelo Partido Verde.
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(Por Gaudêncio Torquato)
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