A SUCESSÃO EMBARALHADA
A pesquisa DataFolha divulgada no domingo ainda serve para indicar as possibilidades reais da candidatura Marina Silva de angariar votos e estragar os prazeres de adversários. Foi realizada ainda quando as especulações sobre sua entrada na disputa ainda estavam muito frescas. O levantamento, além de praticamente reproduzir, para os três principais nomes – Dilma, Serra e Ciro – a mesma situação de maio, traz, contudo, dois dados que merecem melhor análise:
1. As intenções de voto da ex-senadora Heloísa Helena: quase totalmente ausente da grande mídia nacional, a líder do PSOL alcançou 12% da preferência dos pesquisados, apenas 4 pontos a menos do que Dilma e 3 pontos abaixo de Ciro. Sinal de que há uma significativa orfandade eleitoral que nem Serra, nem Dilma, nem Ciro conseguiram ainda preencher.
2. Quando Ciro é retirado da disputa, numa das simulações, Dilma salta de 16% para 19%, enquanto Serra pula de 37% para 44%. Ou seja, mais votos de Ciro vão para Serra do que para Dilma. Isso reforça o argumento de Ciro e do PSB de que a candidatura dele é importante para evitar uma vitória tucana no primeiro turno.
Porém, o fato que ainda está "agitando a pança" é o "fator Marina", cujo destino partidário deverá ser definido esta semana.
SUBIU NO TELHADO
Evoluía com fluidez a escolha do vice na chapa de Dilma em direção a uma solução peemedebista. Com a entrada na arena da senadora Marina Silva e o novo assanhamento do PSB e de Ciro Gomes, tivemos uma espécie de "parada técnica". É possível que haja necessidade de usar o lugar antes reservado ao PMDB para acomodar Ciro. E ainda ter alguém à mão para evitar que Dilma se confronte diretamente com a senadora do Acre. Ciro faria este papel. É bom prestar atenção nas reações do PMDB da Câmara, comandado por Michel Temer, para ver como essa facção peemedebista está vendo tais articulações. O PMDB na Câmara tem sido um "doce" até agora, mesmo insatisfeito com a não liberação das emendas dos parlamentares. Não gostaria de ser preterido.
Índia: para se prestar atenção!
Neste último sábado foi o Dia da Independência da Índia. Em um marcante discurso o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh afirmou que fará mais esforços para retomar a taxa de crescimento média dos últimos cinco anos do PIB (9%). A previsão de crescimento para este ano é de 6%, mas os analistas estão revendo suas projeções para algo ao redor de 7%. A crise mundial afetou a Índia em menor magnitude, assim como o Brasil, na medida em que o país é relativamente fechado no comércio exterior e o seu sistema financeiro pouco internacionalizado. O déficit público que era antes da crise ao redor de 3% do PIB mais que dobrou (para 6,2%) e supriu parte da demanda perdida com as exportações de produtos e serviços. A inflação do país permanece controlada e os maiores riscos neste item estão relacionados com o setor agrícola, ainda muito subdesenvolvido e dependente do regime de chuvas da região (monções). Manmohan Singh recentemente teve uma importante vitória nas eleições parlamentares na medida em que seu governo se tornou mais centrista do ponto de vista político e mais reformista do ponto de vista econômico. A Índia pode e provavelmente será a maior concorrente por capitais dentre os emergentes. Talvez se torne a grande estrela dos BRICs. Além da novela das oito...
MEIRELLES, ENTRE A ESPECULAÇÃO E O FATO
Há meses especula-se sobre a candidatura do presidente do BC Henrique Meirelles ao governo de Goiás, sua terra natal. Nesse tempo, o chefe da autoridade monetária negou que fosse disputar a cadeira de governador. Sem ênfase, é verdade. Na última sexta-feira, o presidente Lula, como sempre empolgado com seus discursos, afirmou que "se Meirelles conduzir a economia de Goiás como ele conduziu (sic) o Banco Central, Goiás só tem a ganhar." Ora, Meirelles ainda é o presidente do BC, mas o presidente já anunciou a sua candidatura. Ademais, de sua parte, Henrique Meirelles disse : "não estou pensando em partido agora. Até março o foco é no BC." Como se vê, intrinsecamente o presidente do BC admite a candidatura. De fato, é candidato. Isto lhe retira a imparcialidade para conduzir o BC. Deveria sair já. Até mesmo pela existência de claros conflitos de interesse entre a condução de um cargo de Estado e a política partidária visando um governo.
NÃO COMBINA
A política partidária, ainda mais para um quase neófito como Meirelles, implica em "negociações", concessões, liberações... A presidência do BC exige firmeza, dureza... Alguém consegue imaginar, por exemplo, Ben Bernanke filiado ao Partido Democrata e candidato ao governo do Texas e ao mesmo tempo comandando o Fed?
NÃO SAI MESMO
A popularidade de Lula não mexeu um milímetro nos últimos dois meses, apesar de seu temerário engajamento na crise do Senado. Assim, o mandato de Sarney e sua permanência na presidência do Senado estão totalmente garantidos.
FATURA EM DIA
O filho do senador Renan Calheiros ganhou mais uma concessão de rádio para Alagoas na semana passada. Tomou posse ontem na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, o até então secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, José Lima de Andrade Neto. É homem de confiança do ministro Edison Lobão, que por sua vez é do staff político de Sarney e Renan. José Eduardo Dutra está trocando a BR Distribuidora para disputar a presidência nacional do PT. Justifica o sacrifício por ser homem de partido. Certamente não ficará ao relento, caso Dilma Roussef seja eleita. Derrotado ao governo de Sergipe em 2002, foi escalado pelo governo Lula para presidir a Petrobras. Derrotado ao Senado também por Sergipe em 2006, foi chamado por Lula para presidir a BR Distribuidora.
DESATENÇÃO JURÍDICA
Está sendo muito pouco discutida a proposta de "enxugamento" da CF/88 que está sendo preparada pelo deputado paulista Régis de Oliveira por encomenda do presidente da Câmara, Michel Temer. Não é "flor do recesso". É para valer. Temer quer deixar uma marca própria nessa sua passagem pelo cargo, possível alavanca para voos mais altos. Além do mais, a sugestão é sedutora. E que, deixada solta, pode se prestar tanto para o bom como para o péssimo.
REFORMA DA SAÚDE NOS EUA
O plano de reforma do setor de saúde de Obama tem por objetivo reduzir o largo déficit do governo na área e, caso o presidente norte-americano tenha sucesso em implementá-lo, haverá mais conforto com a situação fiscal do governo no médio prazo. O papel do governo na saúde será reduzido por meio de um modelo que estimula a competição e a livre escolha de médicos e hospitais. Algo mais avançado daquilo que tentou Clinton em meados dos anos 90. Um modelo liberal. (O que acharia a esquerda brasileira sobre estes planos do "esquerdista" Barack Obama?) Do ponto de vista do mercado esta reforma é decisiva para o curso das cotações das ações e, sobretudo, dos títulos do Tesouro norte-americano.
QUANTO VALE?
O PMDB tem 5 minutos e 45 segundos no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão na corrida presidencial. Tanto o PT quanto o PSDB gostariam de se apossar dessa fortuna.
(Por José Marcio Mendonça e Francisco Petros)
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