Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
terça-feira, 22 de setembro de 2009
FRANCISCO DE ALMEIDA - ARTISTA POR NATUREZA
O artista cearense Francisco de Almeida é um dos destaques da VII Bienal do Mercosul, com uma gravura de 20 metros de comprimento.
Homem simples, sorriso largo e aparência frágil, mas, sobretudo, grande em sua arte. Francisco de Almeida é um ser raro de se encontrar, tão pura e bondosa é sua alma. Confesso que, se pudesse, guardaria-o dentro de um vidrinho, protegendo de todos os males, para que não se perca na vastidão do mundo...
Quando a porta do apartamento 602, do prédio Copacabana, abriu para eu entrar, surpreende-me com uma simpática figura: boné virado para trás, macacão branco de alças soltas, camiseta amarelada e pés descalços. O artista Francisco de Almeida sorria feito uma criança, movendo os braços e contraindo os olhos de alegria. Assim, apressava-se em dizer- me: "por favor, moça, vamos entrando". Um afetuoso aperto de mão vem logo em seguida.
Na casa tudo respira arte, tudo ressoa Francisco. Nas paredes, encontram-se suspensos quadros e matrizes xilográficas trabalhadas por ele. Próximo ao sofá, num cantinho bem no "pé da parede", uma Iemanjá de gesso nos espreita discretamente, dividindo espaço com outras santidades: um cordial Padre Cícero, uma linda Nossa Senhora de Fátima e um triste São Sebastião traspassado por uma flecha. Percebendo meu interesse pelas imagens, ressalta: "sou muito religioso".
A sala é adornada também por fotografias dos três grandes amores da vida do artista: a avó "Mizinha", de 95 anos, a esposa Maria Eugênia e a pequena Talita, sua única sobrinha. A garota, cujo nome significa "cordeirinha", é como uma filha para ele.
VÔOS ALTOS
De pai ourives, mãe bordadeira e avó rendeira, Francisco herdou o dom de tecer a arte com as mãos. Ainda menino em Crateús (sua cidade natal), localizada no sertão dos Inhamuns, ele gostava de observar o trabalho do pai. "Sempre ia à oficina dele e adorava mexer em todas aquelas ferramentas. Papai ficava danado da vida quando entrava lá, não gostava que mexessem em suas coisas".
O garoto que tinha como sonho aprender a desenhar gente, aos 15 anos veio morar em Fortaleza. Na cidade, teve a oportunidade de estudar xilogravura com Sebastião de Paula, realizando, em seguida, vários cursos de pintura no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará. "Daquele tempo para cá não parei mais. Venho produzindo obras de todos os formatos e tamanhos", diz.
Inclusive, as alegorias e o interesse por trabalhos de grandes formatos são algumas das características desse artista, cujas obras estão guardadas em acervos importantes do País, como o da Pinacoteca, em São Paulo, e o Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar.
Trabalhando com xilogravuras extensas, Almeida está constantemente reinventando as próprias ferramentas, linguagens e métodos de gravação. Desde 2004, dedica-se à pesquisa de uma xilogravura fragmentada, que impede a repetição de uma mesma combinação, permitindo, portanto, infinitas formas de fazer um dado trabalho com uma única matriz. Fato que se opõe à produção mais convencional.
Para o artista, a xilogravura é uma técnica fascinante de onde se emergem inúmeras possibilidades. "A xilo é toda infinita. Fantástica! Todo trabalho é uma surpresa, porque a gente só vai saber como vai ficar depois que se termina a obra. A minha pesquisa é algo ainda inacabado, porém tenho o maior prazer de mostrá-la ao público. Por meio dela, vou ajudar outros artistas a produzir gravuras de grande porte e contribuir com a cultura cearense", afirma.
BIENAL DO MERCOSUL
Em suas investigações, Francisco criou uma espécie de equipamento feito com canos de PVC, madeira, corrente e coroa de bicicleta, do qual é possível produzir grandes gravuras. Através dele, elaborou o painel "Os quatro elementos" de 20 metros de comprimento, que marcará sua presença na VII Bienal do Mercosul , a ser realizada entre os dias 16 de outubro e 29 de novembro, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Não há notícias de outra gravura com essas dimensões no País. O artista plástico confecciona um feito inédito. No painel, é tratada a temática religiosa nordestina, enfatizando a chuva, o sol, o vento e a terra. Parte da obra é colorida e contém a utilização de grafite.
"Desde o início, quando Laura Lima (uma das curadoras da bienal) soube da minha pesquisa e me pediu para produzir o painel, foi um grande desafio, pois tudo era ainda incipiente, mas resolvi fazer. Fiquei quase nove meses sem sair de casa, trabalhando direto, isso é muita luz divina. Eu e a obra estávamos tão afinados, que domingo acordei 5 horas da manhã para ver se precisava fazer alguns retoques.
Ao olhá-la, era como se ela falasse para não a tocar mais. Nem coloquei a minha assinatura", revela Francisco sobre os último momentos com o trabalho, feito especialmente para a VII Bienal do Mercosul. Ao retornar do evento, está prevista a exposição da obra de Almeida em 20 seções por diferentes pontos da cidade.
Concluindo a reflexão, o artista diz: "Foi tudo tão intenso, que mesmo com as mãos lesionadas pelo esforço excessivo, chegando mesmo a colocar gelo para conter o inchaço e a dor, aproveitava da dormência das mãos provocadas pelo frio, para continuar a trabalhar. Depois dessa experiência posso dizer que sou outro homem, agora mais leve".
FIQUE POR DENTRO
BIENAL DO MERCOSUL, DIÁLOGO COM O MUNDO
Criada em 1996, a Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, com sede em Porto Alegre (RS), é uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos, dedicada à preparação e à realização das mostras e eventos que constituem as Bienais do Mercosul. O evento coloca o Brasil como referência internacional nas artes visuais. Além de promover a integração dos países que fazem parte do Mercosul por meio da arte e promover a arte latino-americana como um todo, a iniciativa oportuniza o acesso à cultura e à arte a milhares de pessoas. Em doze anos de existência, a Fundação Bienal do Mercosul realizou seis edições da mostra de artes visuais, somando 399 dias de exposições abertas ao público, 50 diferentes exposições, 3.616.556 visitas, acesso franqueado, 919.723 agendamentos escolares, 165.229 m² de espaços expositivos preparados, áreas urbanas e edifícios redescobertos e revitalizados, 3.131 obras expostas, intervenções urbanas de caráter efêmero e 16 obras monumentais deixadas para a cidade, 128 patrocinadores e apoiadores ao longo da história, participação de 923 artistas, mais de mil empregos diretos e indiretos gerados por edição, além de seminários, palestras, oficinas, curso para professores, formação e trabalho como mediadores para 1.048 jovens. A Diretoria e os Conselhos de Administração e Fiscal da Fundação Bienal do Mercosul atuam de forma voluntária.
Fonte: http://www.fundacaobienal.art.br/
ANA CECÍLIA SOARES
REPÓRTER
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Almeidinha me brindou com uma de suas premiadas obras, O DONO DO TEMPO, para enfeitar a capa do meu livro Amores e Clamores da Cidade, no qual está inserida a seguinte crônica:
ALMEIDINHA
Apesar do proselitismo agnóstico, apesar de vozes respeitáveis noticiarem a inexistência de Deus, afirmo que cada vez mais acredito na regência de um Ser Superior sobre os atos da existência humana.
Basta nos determos nesse incrível paradoxo: a parafernália eletrônica produzida pela expansão tecnológica – que aparentemente sinaliza um triunfo do materialismo - só prolifera porque os cientistas acreditam em algo imaterial. Quem inventou um aparelho de fax, por exemplo, só prosseguiu no intento porque tinha fé na migração energética que possibilita uma transmissão exitosa além-matéria.
Nas palavras de Deepak Chopra, “a conclusão fundamental dos estudiosos do campo quântico é que a matéria-prima do mundo não é material, as coisas essenciais do universo são não-coisas. Toda a nossa tecnologia baseia-se nesse fato, que faz cair por terra a atual superstição do materialismo”.
Não fosse isso, como poderíamos explicar determinados fenômenos humanos que se nos apresentam envoltos num manto de mistério? A história registra o caso, por exemplo, de uma mulher, doente mental, casada com um homem desequilibrado em todos os sentidos. Alcoólatra e desocupado, estava longe de ser pai modelar ou marido referencial. Esse casal, no entanto, teve quatro filhos: o primeiro, doente mental; o segundo, paralítico; o terceiro, acometido de outra enfermidade séria; o quarto também deficiente. Mesmo com todo esse histórico de tragédia, a mulher estava grávida pela quinta vez. E esse quinto filho, que tudo apontaria para ter também uma vida desventurada, foi Ludwung Van Beethoven, um dos maiores gênios musicais da humanidade.
É de casos como esse que me lembro quando miro a existência dura e desafiadora, simultaneamente dolorosa e portentosa de Francisco de Assis Rodrigues de Almeida, notabilizado Francisco de Almeida ou, simplesmente, Almeidinha. Nascido em Crateús entre as manjedouras da pobreza, tinha tudo para engrossar as fileiras do exército dos excluídos na mecânica perversa que orienta a nossa sociedade desigual. Pequeno na estatura, frágil na estrutura - revelou-se, no entanto, um gigante na desenvoltura. Desafiando céus e terra, em especial um problema neurológico que atrofia sua musculatura, Almeidinha empreendeu uma viagem fabulosa à auto-afirmação, protagonizando uma ascensão vertiginosa no mundo das artes e firmando-se como o mais talentoso nome da xilogravura cearense. Não é apenas um artista extraordinário, é um ser humano formidável que, de cada poro do corpo e da alma, exala a alegria de viver, o prazer da simplicidade, a essência do humano.
Quando criança alimentava o sonho de pintar o cartaz de cinema da sua urbe. Dirigia-se à porta do Cine Poty (nome também do rio da cidade) e detinha-se contemplando a pintura dentro da moldura de vidro. Admirava, à época, o trabalho do senhor João Batista, um pintor que morava às margens do rio e era o seu ídolo. O tempo passou, o cinema fechou, mas o sonho artístico continuava aberto no coração de Almeidinha. Contra a vontade do senhor Manuel Almeida Sobrinho e da dona Terezinha Rodrigues de Almeida, seus pais, resolveu ir para Fortaleza. Após ralar muito, escalou a montanha do sucesso e pisou os píncaros da glória. É um mago da culinária e da xilogravura. Da mesma forma que inventa novos pratos, misturando temperos inéditos, também brinca com as telas, misturando misticismo e crendices populares, pedras coloridas e astros-reis, pedaços de madeira e carvão, num inimaginável baile de magia e luz.
O que mais o orgulha, no entanto, não é o incontestável fato de ser o mais premiado gravador do Ceará, tendo suas telas sido exibidas nos mais importantes acervos do País e recebido aplausos na Argentina e na Europa. O que mais o orgulha é ter conhecido a fome, a sede e o frio de perto...
Um cancioneiro introvertido, português multivital, chamado Fernando Pessoa, dizia: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”. E um outro ser transcendental, o poeta chileno Pablo Neruda, afirmou que “o poeta vive todas as vidas do mundo”.
Almeidinha, um biocrata de marca maior, grava em suas telas toda a pulsação do planeta. É um filho do sorriso, um sujeito de festa, um caboclo danado, um cabra da peste, um menino do bem. Merece um lugar no frontispício dos iluminados. É GENTE DE AÇÃO!
(Júnior Bonfim)
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Olá Júnior,
Francisco de Almeida, sem dúvidas, é um artista que orgulha muito o nosso Ceará.
Ceará este, que muitas das vezes pena com a escassez das águas, mas transborda e inunda seu território com os valores que brotam do seu chão.
O texto de Ana Cecília Soares é maravilhoso, retratou bem o artista e me comoveu.
E você Júnior, fruto desta terra, advogado, poeta e escritor é também um excelente divulgador de nossa cultura e de nossa gente.
Sou feliz em ter encontrado você neste mundo virtual, sou agradecida pela divulgação que você faz do meu trabalho e mais contente fico, pois neste mundão real somos conterrâneos.
Saudações Cearenses!
Dalinha Catunda
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Olá Júnior,
Francisco de Almeida, sem dúvidas, é um artista que orgulha muito o nosso Ceará.
Ceará este, que muitas das vezes pena com a escassez das águas, mas transborda e inunda seu território com os valores que brotam do seu chão.
O texto de Ana Cecília Soares é maravilhoso, retratou bem o artista e me comoveu.
E você Júnior, fruto desta terra, advogado, poeta e escritor é também um excelente divulgador de nossa cultura e de nossa gente.
Sou feliz em ter encontrado você neste mundo virtual, sou agradecida pela divulgação que você faz do meu trabalho e mais contente fico, pois neste mundão real somos conterrâneos.
Saudações Cearenses!
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