quarta-feira, 23 de setembro de 2009

POLÍTICA E ECONOMIA NA REAL

Produção em alta

Todos os sinais vitais da economia brasileira convergem para um crescimento consistente nos próximos meses e, quiçá, em 2010 o PIB pode vir a crescer entre 5% - 6%. Obviamente, previsões econômicas são sempre marcadas por elevados graus de incerteza, sobretudo em função da rapidez e profundidade pelas quais as expectativas se alteram nos tempos modernos. Os indicadores de consumo, divulgados na semana passada, somam-se aos indicadores anteriores (inclusive o crescimento do PIB de 1,7% no segundo trimestre) e dão evidências de que o PIB será positivo este ano e o grau de aceleração da demanda agregada é acelerado. A novidade que poderemos ter (esperamos !) é uma alta dos investimentos privados que foram paralisados por conta da crise. Os orçamentos empresariais estão sendo superados e os acionistas das empresas estão animados. Além disto, não são poucos os executivos de empresas multinacionais que tomam o caminho das matrizes e estão a negociar mais dinheiro para investir.

Inflação em alta

Não preste atenção nos números da inflação dos próximos meses. Estes não são os mais importantes para mensurar os riscos de inflação no médio prazo. É muito provável que a inflação se torne um perigoso risco no ano que vem. Todos os fatores convergem para o aumento dos riscos inflacionários. Vejamos: (1) a demanda cresce rapidamente e, possivelmente em meados do ano que vem, baterá num nível de capacidade instalada (80%) no qual as pressões de custos costumam emergir; (2) a queda do dólar já ocorreu e é improvável que possa "colaborar" ainda mais para reduzir a inflação no ano que vem; (3) à demanda privada crescente se somará a já alta demanda pública. Os gastos públicos elevados, tanto para investimento quanto para consumo, vão ajudar a acelerar a inflação. Difícil imaginar gastos públicos em queda num ano eleitoral; (4) haverá pressões de custos salariais com o nível de emprego melhorando e, finalmente, (5) se o cenário externo melhorar, os preços das commodities sobem e "contaminam" os preços domésticos.

E o BC?

Como se vê nas notas acima, há razões justificadas para apostarmos num ótimo 2010. E existem preocupações sérias para acreditarmos numa inflação crescente. Vejamos o lado da autoridade monetária, que costuma ser "preventiva". Quando poderia aumentar a taxa de juros básica, já que estamos vivendo os primeiros passos da recuperação ? É difícil apostar nisto, mas uma coisa é certa : o mercado vai apostar na alta de juros e os juros dos títulos prefixados vão subir, bem como o mercado futuro. Talvez logo. De outro lado, há um fator "político" a influir no BC : Henrique Meirelles é candidatíssimo ao governo de Goiás e abre um "vácuo" no BC difícil de ser avaliado. A própria diretoria do BC deve ser bem alterada em 2010. Por tudo isto é muito provável que o BC seja testado em 2010 no que diz respeito à sua competência e credibilidade.

BC independente não tem defensores

Embora seja um dos arcabouços mais importantes na defesa da moeda (contenção da inflação), a independência do BC não deve ter defensores com peso político (e votos) nas próximas eleições. Tanto Dilma quanto Serra, ou mesmo Marina, não acreditam num BC com independência funcional. Tudo fica para o futuro. Distante, diga-se.

Ajuste eleitoral

Quem leu a entrevista da ministra Dilma Roussef à "Folha de S.Paulo" de domingo percebeu que o PAC não é mais o principal carro-chefe eleitoral da preferida de Lula. Agora é o pré-sal e os programas sociais.

É especulação demais

Não se deve comprar pelo valor de face um bom número de "informações" a respeito da sucessão presidencial dando conta de que (i) já houve um acerto de uma aliança, (ii) que dois candidatos firmaram um acordo, (iii) que um partido está prestes a firmar outra aliança e coisas tais. São lances para "valorizar passes".

Quem confia no PMDB?

O PMDB que quer apoiar Dilma iniciou uma cruzada para levar Lula a definir logo, publicamente (quem sabe, até oficialmente), que o partido é prioritário na aliança situacionista e que a vice-presidência será dele. Ao mesmo tempo, porém, o PMDB não dá indicações de que pode definir logo sua aliança federal com o PT.

Quem confia no PT?

O PMDB que é do governo Federal somente vai definir oficialmente o apoio a Dilma depois que as alianças estaduais com o PT estiverem fechadas.

Voto regional é diferente

A se confirmar a aliança PT-PMDB para apoiar Dilma e fazer o máximo de "palanques únicos" para a candidata de Lula, o PMDB poderá levar uma enorme vantagem sobre o PT se o acordo for celebrado como o partido quer. O PMDB quer prioridade nos palanques estaduais. São esses palanques que determinam os votos para o Senado e, principalmente, para a Câmara. O eleitor vota com uma cabeça para a presidência e com outra completamente diferente no seu Estado, de olho em outros interesses. O PT corre o risco de ganhar a presidência da República e ficar menor do que é hoje no Congresso.

Marina e os "processos cumulativos"

Não se sabe se alguém no Planalto leu e comentou com Lula este trecho da entrevista da ex-ministra Marina Silva ao diário espanhol El País.

El País: A senhora manteria a política econômica do governo Lula?

Marina: Os processos são acumulativos. Não existe espaço para processos niilistas com relação ao já conquistado. Existe um reconhecimento de que nos últimos 16 anos o Brasil conseguiu o equilíbrio fiscal e a estabilização da moeda, junto com a grande inovação introduzida por Lula e que foi a questão da distribuição de renda. Tudo deve ser preservado. Creio que temos espaços para melhorar e já existe o perigo de que se destrua tudo o que se foi construindo nos últimos 16 anos.

Se os leitores palacianos tiveram conhecimento, coitada da senadora! Afinal, tudo de bom no Brasil não ocorreu depois de 2002? Como falar em 16 anos, se Lula está apenas há pouco menos de 7 anos em Brasília?

Simpatia ambiental

Ainda na mesma edição, em artigo sobre a entrada de Marina na corrida sucessória, na matéria intitulada "A companheira que desafiou Lula", os repórteres J. Arias e S. Gallego-Diaz, do El País, classificam a candidata de Lula, Dilma Roussef, como "uma espécie de primeira-ministra na sombra". O conjunto das matérias é muito simpático com a ambientalista.

Qual o discurso?

Que "coletinho" o Brasil vestirá na Conferência do Clima em dezembro em Copenhague? O do pré-sal ou o do etanol? Vocês já repararam que desde que virou um "futuro magnata do petróleo", Lula nunca mais fez uma referência aos biocombustíveis? Há informações – efeito Marina? – que o presidente abordará o tema do meio ambiente em sua fala amanhã na Assembleia Geral da ONU.

Obama é verde

Um dos mais ambiciosos programas para o futuro de Obama é a redução da dependência dos EUA de combustíveis fósseis, não apenas do petróleo do Oriente Médio. Na Inglaterra – e na Europa, em geral – o tema do momento é a "Revolução Verde".

Muito estranho

É ótimo que as autoridades de meio ambiente se preocupem com a emissão de gases poluentes pelos veículos automotivos. É saudável que divulguem, como o fizeram na semana passada, a lista dos carros mais ou menos poluentes. Curioso é que só tenham tomado esta providência agora e para mostrar, segundo o estudo oficial contestado pelas montadoras, que os carros movidos a álcool poluem mais do que a gasolina. O que a Opep do pré-sal não faz...

Sarney e suas pérolas

Sarney cita o Le Monde em sua coluna da última sexta-feira na Folha de S.Paulo e parafraseia um "assessor de Sarkozy": "a transparência absoluta [em tempo real] é o começo do totalitarismo". Outra frase reproduzida por Sarney seria de "um membro do partido governista francês UMP": [a internet] "é um perigo para a democracia". Depois destas frases esclarecedoras, o autor de "Maribondos de Fogo" encerra o artigo louvando a livre imprensa e que nunca a atacaria: "Meu Deus, eu nunca fiz isto e não faria", encerra. Sarney é mesmo um vanguardista: mesmo antes da internet ele já via riscos à imprensa livre, não é mesmo? Afinal, o que fazia a ditadura militar pós-64 que ele tanto apoiou? Não censurava? Sarney é um visionário.

Lembrando Chico Ciência

Nesse tempo de tanta sapiência jurídica que emana do ministério da Justiça do ministro Tarso Genro, não custa lembrar o que Rubem Braga disse da sabedoria do jurista Francisco Campos, dito Chico Ciência, autor de obras jurídicas "republicanas" para Getúlio, o ditador: "Quando as luzes de Chico Ciência acendem, há um curto-circuito na democracia brasileira". Algumas "jurídicas" de Tarso são de assustar os republicanos (sem aspas).

Collor, Franklin e os escrúpulos

Franklin Martins foi condenado na semana passada a pagar R$ 50 mil ao eminente senador e ex-presidente cassado Fernando Collor de Mello, por danos morais. Martins proclamou em artigo publicado na revista "Brasília em Dia", que Collor era "ladrão", "corrupto" e "chefe de quadrilha". Martins diz que vai recorrer da decisão. Resta saber o que ele diz ao seu chefe sobre as alianças políticas que envolvem Collor.

Quem tem a força

É cada vez maior a influência de Franklin Martins. Já está causando uma danada de uma ciumeira. Vejam um trecho de um artigo da jornalista Maria Cristina Fernando, no "Valor Econômico", relatando os bastidores de uma entrevista do jornal com o presidente Lula: "Lula é aparteado pelo ministro Franklin Martins –"Não foram só os bancos públicos que quebraram. Os privados, também." - antes de responder que o problema não foi com os banco públicos, mas a irresponsabilidade política dos governantes." Não consta que haja muitos mortais capazes de apartear e interromper impunemente o presidente.

Dúvida cruel

Mais do presidente Lula ao jornal "Valor Econômico": "Se Dilma for eleita, ela tem todo direito de chegar em 2014 e falar 'eu quero a reeleição'. Se isso não acontecer, obviamente a história política pode ter outro rumo". É por esses e outros "ses" que alguns maldosos em Brasília costumam especular que Lula não ficaria totalmente infeliz se a sua favorita não vencesse.

Oposição sem falas

É triste verificarmos o padrão ético da política brasileira. É desesperador verificarmos que a corrupção e a falta de interesse na res publica é generalizada. O senador Sérgio Guerra acaba de ser condenado pelo TCU a pagar as diárias de sua filha na estadia em Nova York em janeiro de 2007. O presidente do Senado que autorizou a viagem do senador por Pernambuco e sua filhinha foi nada menos que Renan Calheiros. Todos os gatos são pardos e não somente à noite...

Quem encontrar, avise

Já fizemos o apelo, mas não custa renová-lo: quem souber o que as idéias que a oposição vai apresentar para disputar os votos do processo eleitoral com a candidata do governo, por favor, remeta as informações para esta coluna. Se o governo vacila, a oposição cala. E consente.

Serra acelera

Assessores de segundo escalão do governo paulista já estão sendo escalados e convocados para a campanha presidencial. Pouco a pouco os auxiliares diretos de Serra no governo paulista estão revelando as intenções efetivas do governador em relação aos planos de um possível próximo mandato federal.

Demanda e oferta de ações de bancos

Grandes bancos internacionais vão passar por uma nova fase nos próximos dois anos. Socorridos pelos governos de seus países, estes bancos trocaram capital por ações – são estatizações parciais. Mesmo com o socorro governamental, muitos dos bancos apresentam indicadores sofríveis de capitalização e liquidez. Precisam de mais capitalizações. Para isto muitos deles terão de emitir novas ações. Assim sendo, os investidores se defrontarão com uma forte pressão do lado da oferta: (i) possíveis vendas de posições dos governos (privatizações) e (ii) novas capitalizações. Haja demanda para tanto.

Pré-sal e Petrobras

Sabe-se que a estatal de petróleo do Brasil terá papel preponderante nos investimentos e na exploração da camada do pré-sal. O que está difícil de estimar é a influência destes investimentos nos resultados da empresa. Investir em ações da Petrobras se tornou muito mais arriscado que há pouco tempo.

Essa a Petrobras vai perder

São facilmente identificáveis as digitais da Petrobras nas emendas aos projetos do pré-sal que reduzem o poder a abrangência da nova estatal da área, a Petro-Sal. Não vai vingar. Nos bastidores, antes de nascer, a nova estatal já está sendo devidamente loteada pela base, dita aliada.

Tudo pelo social

A idéia de se utilizar os ganhos do petróleo na execução de projetos sociais não é nada nova. Países (dentre muitos) como o México, a Nigéria e até mesmo a Arábia saudita já usaram o padrão ideológico "petróleo versus menos pobreza". Recentemente, o falastrão Chávez vem utilizando o argumento político, politiqueiro e populista. A discussão da exploração da camada pré-sal brasileira também passará por este tema. Em tempo: os resultados concretos deste falatório todo nos outros países foram, no geral, desastrosos. Os pobres continuaram pobres, mesmo que tenha jorrado petróleo por todos os lados!

Hino à Negritude

Foi aprovado pela Câmara o "Hino à Negritude", de autoria do professor Eduardo de Oliveira. O projeto que oficializou a homenagem ao negro é de autoria do deputado Vicentinho do PT paulista. Foi rejeitada a exigência da obrigatoriedade de sua execução nas cerimônias comemorativas. Esta exigência foi considerada pela maioria dos deputados como sectária na medida em que criaria uma "divisão" entre brancos e negros. Depois das complicadas quotas raciais nas universidades, agora temos o hino ao negro. Será que copiaremos os norte-americanos e teremos agora de dizer "afro-brasileiros", "nipo-brasileiros" e assim por diante?

Mudança de ramo

A Força Sindical que um dia se pretendeu uma entidade totalmente independente está em um novo negócio. Depois de engordar seus cofres com parte do dinheiro do Imposto Sindical em troca do amaciamento de suas reivindicações, depois de se meter no BNDES e depois de apropriar-se do controle dos recursos do FAT, a Força Sindical agora se voltou para o pano verde. Seu presidente, Paulinho da Força, foi um dos principais artífices da aprovação, na CCJ da Câmara, do projeto que legaliza os bingos e os caça-níqueis no Brasil. É uma porta aberta ao crime organizado e ao caixa dois. Talvez, estes sejam grandes "investidores eleitorais".
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( Por José Márcio Mendonça e Francisco Petros)

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