CÔMPUTO E COMPUTO
Pachequinho e Chico Fulô eram muito populares e vereadores do PTB em Belo Horizonte. Disputavam as mesmas áreas e viviam brigando. Na tribuna, Waldomiro falava de tuberculose e tuberculosos, seu assunto predileto:
- A cidade está cheia de tuberculosos. Não sei ao certo quantos são, mas eu computo...
Pachequinho aparteou:
- Não é computo não, ilustre vereador. É cômputo.
- Eu sei que é cômputo. Mas, falando com Vossa Excelência, eu falo computo.
Foram às vias de fato. Quem conta é o impagável amigo Sebastião Nery.
PEIXE FORA D’ÁGUA
Vejamos, agora, esta historinha, ocorrida em 24 de junho de 1986, noite de São João, em Fortaleza, Ceará. Tasso Jereissati, convidado por Barros Pinho, deputado estadual do MDB, dirige-se a um clube de um grande bairro popular de Fortaleza. É a sua primeira experiência no meio do povo. Candidato a governador do Ceará, sua missão é presidir um júri que vai julgar fantasias juninas. Está completamente deslocado, um peixe fora d’água. Chega ao ambiente e sob conselho deste escriba, vai, de mesa em mesa, fazendo rápida apresentação. Começa a presidir o evento. Encabulado, não sabe o que fazer. Enrola-se. Só era conhecido no bairro de classe média alta, Aldeota. Tinha menos de 2% de intenção de voto.
SE POLÍTICA FOR ISSO...
Depois do evento junino, angustiado, ele, Sérgio Machado, na época seu braço direito e este escriba dirigem-se a um restaurante na praia para degustar uma lagosta. Sob o efeito do uísque tranquilizante, Tasso desabafa: "desisto, amigos; se política for isso, assistir a batizado, casamento, velório, festa junina, não contem comigo". O iniciante estava transtornado. Insatisfeito com sua performance. No Hotel Esplanada, numa máquina Lettera 22, esbocei o planejamento de sua campanha. O moderno contra o arcaico. Tasso deu um banho nos três coronéis que comandavam a política cearense: Virgílio Távora, César Cals e Adauto Bezerra. Com 600 mil votos de diferença.
LULA CAI
Luiz Inácio, também conhecido como efeito teflon (nada gruda nele), caiu quatro pontos na pesquisa Sensus desta primeira semana de setembro. O clima conturbado – defesa de Sarney e outros pontos de tensão na esfera federal – baixaram um pouco a bola de Lula. Que, imediatamente, puxou a alavanca da imagem, elevando o tom a respeito do Pré-Sal e sua importância para a elevação do país à condição de potência do petróleo. A propaganda governamental – intensa e com foco na auto-estima dos brasileiros – poderá resgatar os pontos perdidos por Lula.
SARKOZY E O COFRE CHEIO
O Brasil vai às compras. E começa a desfraldar a bandeira de Nação mais forte da região nas frentes naval e aeronáutica. O pacote comprado da França – submarino, helicópteros e os aviões de caça Rafale – deverá chegar aos R$ 31,1 bilhões. Os recursos serão financiados por bancos franceses e espanhóis. Lula fechou posição em torno do avião francês, que é o mais caro. Os americanos e os suecos ficarão – literalmente – a ver navios. Dizem que os EUA não ganharam a parada porque poderiam vetar a transferência de tecnologia. E o avião sueco ainda está no desenho. Pode ser. Argumento central: o Brasil quer usar a França como parceira estratégica.
SERRA, O DOBRO DE DILMA
José Serra tem, hoje, um índice de intenção de voto que é o dobro do conseguido por Dilma Rousseff: 39% a 19%, segundo a pesquisa Sensus. Mas Dilma poderá chegar aos 30%. Serra poderá oscilar, na campanha, entre 40% a 45%. Com os votos de Marina Silva e Ciro Gomes, teremos um segundo turno mais que agitado. O voto de decisão será influenciado por: fatores econômicos, episódios pontuais – circunstâncias – e um inesperado golpe de sorte de algum candidato, sendo este fator bastante imprevisível.
PAC CONTINUA EMPACADO
O Programa de Aceleração do Crescimento é um slogan que acabará se transformando em bumerangue. Vejam só: em São Paulo, apenas 6% das obras previstas pelo PAC estão dentro do calendário. Ou seja, mais de 90% não entraram nos eixos. Por isso mesmo, Lula já não fala muito desse empacado PAC. A recorrência, agora, é pré-sal, pré-sal, pré-sal... Que, como se sabe, vai mostrar petróleo rentável apenas entre 2020/2025.
CUIDADO, CANDIDATOS
Importar modelos é uma prática lastimável. Na campanha presidencial da Argentina de 1999, uma peça produzida por um marqueteiro brasileiro mostrava o candidato governista, Eduardo Duhalde, cabisbaixo, e um locutor dizendo: "Você acha justo o que estão fazendo com ele?" Para a machista sociedade argentina, um candidato que se apresenta como perdedor é o retrato de uma tragédia. A peça provocou a ira implacável da mulher do candidato, Hilda. A cultura argentina não cultiva tanto a emoção quanto a brasileira. O trabalho, considerado amador, provocou a queda de Duhalde nas pesquisas. Foram torrados US$ 25 milhões em dois meses.
SER OU NÃO SER
Antônio Palocci continua tomado por dúvidas; ser ou não ser candidato ao governo de São Paulo? Em não sendo, cederá o lugar a Emídio de Souza, o prefeito de Osasco. Ciro Gomes, com medo de perder, já se retira do páreo paulista. Apesar de eventual decisão para fincar, aqui, raízes eleitorais. Tem apartamento pronto e vago para morar e basta mudar o título eleitoral. Prazo: final deste mês.
ALOYSIO E ALCKMIN
Vamos às últimas a respeito de Aloysio Nunes Ferreira, o chefe da Casa Civil de José Serra, e Geraldo Alckmin, secretário do Desenvolvimento. O quadro não mudou. Aloysio continua sendo o candidato do governador Serra e do prefeito Kassab para o governo. Ostenta, hoje, algo como 4% dos votos. Alckmin tem, hoje, cerca de 45% de intenção de voto. Mas não conta com a preferência do governador e do prefeito. Que acreditam ser possível, mais adiante, alavancar a candidatura do chefe da Casa Civil. Para Geraldo, restaria uma vaga para o Senado. A conferir.
RISCO? COMIGO NÃO, VIOLÃO
Mas José Serra, ao que se sabe, não é muito disposto a enfrentar riscos. Principalmente quando o risco é mais alto que o sonho de chegar ao Palácio do Planalto. Se perceber que uma derrota em São Paulo poderia ameaçar seu voo, Serra colocará outra pessoa no lugar de Aloysio. E essa pessoa, só em última análise, seria Alckmin. Há mais chances, por exemplo, de ser o próprio prefeito Kassab. E mais: se Serra perceber que a vitória no pleito presidencial é algo tão distante que escapa à vista, desistirá. Convocará Aécio Neves. Que também já se movimenta pelo país. Ambos – Serra e Aécio – estão combinados.
QUERELAS SALGADAS
Nas próximas semanas, o país mergulhará em águas salgadas. Os quatro projetos em torno do Pré-Sal deverão acirrar os debates na Câmara e no Senado. O mais polêmico dirá respeito à partilha dos royalties, cuja Comissão terá como relator, o deputado Henrique Alves (PMDB-RN), líder do PMDB na Câmara, e como presidente, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Os canhões para disparo de sal começam a ser fabricados.
BOMBA ATÔMICA?
Será que o Brasil tem condições tecnológicas para fabricar a bomba atômica? Tem, sim, garante o general Alberto Mendes Cardoso, ex-chefe da Casa Militar e do Gabinete de Segurança Institucional no governo FHC. Se um general que ostenta cargos como o que exerceu Alberto Cardoso afirma, categoricamente, essa possibilidade, não se pode por dúvida. Este escriba não duvida de opiniões com este calibre. Mas, e daí? Uma coisa é saber fabricar, outra é decidir fazer. Entre ambas, um oceano de distância. Até porque o Brasil não se sente ameaçado nem mesmo motivado a entrar no arsenal de guerra mundial.
E A POTÊNCIA NAVAL?
E, por que o país quer ser potência naval e aeronáutica, a mais forte da região, com a compra dos armamentos franceses? Será que o nosso petróleo poderá ser surrupiado? Piratas da Somália poderão fugir com os nossos cargueiros de óleo? Sei não. Essa justificativa – proteção de nossas costas e do nosso óleo – mais parece conversa mole para boi dormir ou, como diria o senador Marco Maciel, prosopopéia flácida para acalentar bovinos.
E A VACINA CONTRA A SUÍNA, HEIN?
Quando essa gripe suína estiver nos estertores, chegará ao Brasil um carregamento de vacinas da França: um milhão de vacinas. Os franceses ainda mandarão material para fabricação de 17 milhões de doses. É muita dose atrasada para muita gripe anterior.
AGRONEGÓCIO NO CODEFAT
O deputado Moreira Mendes (PPS-RO) defendeu a inclusão do agronegócio no CODEFAT. Como é sabido, a presidência do órgão caberia, por sistema de rodízio, a uma entidade patronal. Havia consenso que a CNA, presidida pela senadora Kátia Abreu, ocuparia a vaga. Contrariando expectativas e consensos, o comando do órgão foi direcionado ao improvisado CNS – Conselho Nacional de Serviços. Moreira Mendes conhece o setor de agronegócios e sabe melhor do que muitos o quanto aquele trade já rendeu em benefícios para o país.
TURISMÓLOGO
Aliás, Moreira Mendes também é autor do Projeto de lei 6906/02 (que estatui a profissão de turismólogo), que apresentou quando exercia o mandato de Senador. A proposta recebeu, semana passada, parecer favorável da relatora, deputada Maria Lúcia Cardoso (PMDB-MG), que acatou emendas ampliando sua abrangência. A seguir, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania aprovou o reconhecimento da profissão. Entre as atribuições desse profissional estão a organização de eventos, o planejamento e a divulgação de produtos turísticos, a formulação de políticas para o setor, a criação de roteiros turísticos e de planos de marketing, assim como o ensino na área. Para o exercício da atividade na área de turismo, o texto aprovado estabelece que o profissional deverá obter o registro em órgão federal da categoria, cuja criação ficará a cargo do Poder Executivo. Tramitando em caráter conclusivo, o projeto poderá ser remetido diretamente à sanção presidencial. Ele só será votado pelo Plenário se, no prazo de cinco sessões, houver recurso assinado por no mínimo 52 deputados.
7 DE SETEMBRO
Cada vez mais os desfiles de 7 de setembro são cada vez menos deslumbrantes. Tornaram-se frios e burocráticos. A taxa cívica, se ainda existe, não toca mais de perto os corações. Qual a razão?
LULA, DESTRAMBELHADO?
Essa foto de Lula segurando o presidente da França, Nicolas Sarkozy, por trás parece brincadeira de mau gosto. Se o presidente queria fazer gracinha com Sarkozy – buscando uma imagem engraçada no espelho – conseguiu efeito contrário.
TEMER AGRACIADO
Michel Temer, presidente da Câmara, será agraciado com a Medalha Cavaleiro na Ordem da Legião de Honra, que receberá, dia 15, em Paris. Agraciados foram também Sérgio Cabral, Ivo Pitangui e Paulo Coelho.
NORDESTE QUER VOLTAR À AGENDA
O senador César Borges (PR-BA) pretende promover um ciclo de debates sobre o Nordeste na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado, onde é vice-presidente. Em sintonia fina com a sugestão de Tasso Jereissati (PSDB-CE), o senador baiano, sempre com sua bússola calibrada para questões importantes, vai coordenar uma agenda visando avaliar a atuação de instituições como a SUDENE, o Banco do Nordeste e BNDES. Tasso deu a abordagem: o Nordeste e os gargalos de desenvolvimento saíram da agenda do Senado, da agenda nacional e da própria agenda do governo federal. O senador cearense tem suas razões.
CONSELHO AO PRESIDENTE LULA
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na edição passada, o espaço foi destinado ao corpo parlamentar. Hoje, volta sua atenção ao presidente Lula:
1. Tente dar ao Pré-Sal a identidade que ele carrega, sem diminuir nem acrescentar.
2. Mostre que os resultados do programa só serão alcançados dentro de 10 a 15 anos, evitando, dessa forma, exageros que ameaçam contaminar o palanque eleitoral de 2010.
3. Procure uma base mínima de consenso, pela via da congregação de interesses de Estados produtores e Estados consumidores.
(Por Gaudêncio Torquato)
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