Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
terça-feira, 19 de junho de 2012
POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL
A Grécia votou
Não se pode dizer que os gregos deixaram de votar pensando em ficar na chamada "eurolândia". Afinal de contas, a Nea Democratia é o partido que incorpora a visão mais eurocentrista dentre todos os partidos gregos. Além disso, a coalizão a ser formada pode alcançar uma maioria relativamente folgada num país que viveu uma inusitada fragmentação política. A pressa em formar um novo governo e a tentativa de atrair para a coalizão mais que os partidos "tradicionais" indicam que os gregos buscam uma saída para a tragédia na qual entraram. Todavia, a probabilidade de ficar no euro é pequena. Isso porque nos próximos meses haverá um grande acúmulo de pagamentos e as pressões sobre o novo governo serão enormes. A disposição da Alemanha de Merkel em flexibilizar a rigidez fiscal está muito mais vinculada ao necessário proselitismo pró-europeu que algo efetivo para que os países voltem a crescer. De toda a forma uma coalizão mais sólida entre os helênicos pode servir para que a saída do euro seja possível, sem que isso provoque uma hecatombe. Veremos.
Espanha e Itália
O risco da Espanha já está em níveis da América Latina dos anos 80. O mais incrível é que a União Europeia já injetou 100 bi de euros para salvar o sistema financeiro e os analistas acreditam que serão necessários mais 80-90 bi para que exista estabilização. Enquanto isso, os investidores, dotados do famoso espírito de "debandada", já voltam seus canhões especulativos para a Itália. A cada leilão de títulos públicos o risco-país sobe e o financiamento se torna mais penoso para o erário. A sina da Itália será igual a dos outros países meridionais da Europa e a Irlanda. Todos sabem disso, mas o jogo geopolítico da Alemanha ainda permanece suficientemente forte para evitar uma revisão mais drástica do processo.
A calmaria durará pouco
Talvez os mercados ainda reajam nos próximos dias às notícias da eleição grega e da melhoria da volatilidade. Mas a coisa está mais para "tiro curto". Não há nada suficiente para reverter este processo agudo de contenção do crédito. É certo que não é hora para os otimistas, mas não deixa de ser horrível ter que dizer que o pior pode não ter passado.
Não vai jogar a tolha, mas...
O ministro Guido Mantega vai continuar jurando de pés juntos que o PIB semestral brasileiro, de julho a dezembro, será de 4,5%. Contudo, hoje todo o esforço da política econômica está voltado para não deixar a economia derrapar abaixo dos 2,5%. Mas será que funciona colocar o PIB num elevador movido a empréstimos - crédito para o consumidor e, agora, dinheiro para os governos estaduais ? No caso dos governos estaduais, inclusive, quem garante que eles não vão pegar recursos no BNDES para investimentos já programados, liberando recursos para outras despesas muito apreciadas em anos eleitorais?
Os pacotinhos estão saindo, mas...
... está faltando uma parte na contribuição que a presidente Dilma deseja que o setor público dê para acelerar o ritmo da economia brasileira: um ajuste nas contas oficiais, com cortes de despesas desnecessárias, para sobrar mais dinheiro para obras e investimentos. Não há incompatibilidade entre ajuste fiscal e investimentos, ao contrário do que querem fazer crer a "obtusidade córnea e má fé cínica" de alguns analistas oficiais e oficiosos.
Satisfeitos, mas nem tanto
Ninguém recusa dinheiro - e ainda mais uma boa bolada - oferecido com vantagens, como é o caso da linha de crédito de R$ 20 bi oferecidos pelo governo Federal aos governadores, via BNDES, com juros de família, de 7,1% ou 8,1% (com e sem aval). Agora, os 27 chefes de Executivo estaduais vão brigar para ver como o bolo será dividido, qual a cota de cada um nesse latifúndio. Tem também na mesa mais R$ 39 bi do BB. Tudo para obras e investimentos. Os governadores gostariam, porém não era isto - ou só isto - que eles queriam. O que eles pretendem mesmo do governo Federal é dinheiro para valer, não apenas empréstimos. Eles querem melhorar seu fluxo de receitas, permanentemente. Os governadores se queixam da perda de participação no bolo tributário nacional. Querem ver na mesa, por exemplo, a definição da nova divisão dos royalties do petróleo. Só depois aceitam discutir mudanças mais profundas no ICMS.
Ninguém reage, mas...
As cobranças da presidente Dilma a seus ministros, para que sejam mais ágeis ao tocar a máquina do governo, principalmente no que diz respeito à liberação de recursos para investimentos e programas, estão ficando cada vez mais duros. E incomodam. Mas ninguém reage abertamente. No privado, no entanto, muitos se justificam dizendo que o problema não é de seus ministérios e sim do "detalhismo" da presidente, que tudo quer ver e interferir nos mínimos detalhes, bem como da Casa Civil, por onde tudo tem de passar e não tem a agilidade que a presidente acha que deve ter - ou tinha no tempo dela. As orelhas de Gleisi Hoffmann devem arder todos os dias. Outras que estão ardendo um tanto são as da ministra do Planejamento, Miriam Belchior. As duas estão começando a criar a fama de "engavetadoras".
Encanto quebrado?
A greve em mais de 50 universidades e instituições superiores de ensino federais caminha para completar seu primeiro mês. Parece o primeiro sinal claro de que os dias da pax sindical que Lula celebrou com as centrais sindicais e o funcionalismo público Federal estão contados. Já houve paralisações nos metrôs federais e, na semana passada, boa parte dos médicos do SUS pararam por um dia. E, como se diz nos meios sindicais, "há indicativos" de que outros movimentos podem pipocar em greve. Uma turma do judiciário já fez manifestação pública na última sexta-feira.
Paredes com ouvidos
Certo hospital de SP - e acerta quem pensar no Sírio-Libanês - além de praticar excelente medicina, por motivos óbvios tem também dotes políticos, palco que é de atendimento de grandes figuras da República. Suas paredes são ágeis. Semana passada, dois personagens que bem conhecem tanto Dilma quanto Lula, pois prestaram atendimento a ambos, trocaram algumas confidências e concluíram que Dilma está afastada demais dos políticos, ao contrário de seu antecessor. E que isto pode sair caro para ela. Até aí não tem nada demais : o mundo político não ligado à presidente, mesmo seus aliados, pensa a mesma coisa. O intrigante é que o diagnóstico parece ter saído do pensamento do "Grande Eleitor".
CPI: não adianta correr
Vexames à parte, é inevitável a convocação do dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, para depor na CPI. Há apenas um refresco esta semana porque se descobriu em Brasília que os deputados e senadores são imprescindíveis para os debates sobre os rumos do planeta na Rio+20 e estabeleceu-se um recesso branco na Câmara e no Senado. Porém, com a história da "tropa do cheque" e as primeiras revelações da quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico da empresa em todo o país, não haverá muitos parlamentares dispostos a botar a cara para bater. Nem com a blindagem que o PMDB e o PT criaram. O próprio Planalto, mesmo temendo alguns respingos pela proximidade da Delta com o PAC, não vai se meter neste pantanal para salvar quem quer que seja. A convocação do ex-diretor do DNIT, Luiz Antônio Pagot, também não escapa. A estratégia para evitar mais desastres será garantir a convocação, mas sem data para o depoimento, jogando tudo para agosto, depois do recesso parlamentar, na esperança de que o julgamento do mensalão e a campanha eleitoral arrefeçam as repercussões.
As contas da Delta
Esta coluna teve uma conversa reveladora sobre os pagamentos da Delta para "intermediários" das obras contratadas. Segundo as denúncias, incluídas as originadas das operações policiais, a Delta pagou algo como R$ 145 milhões às empresas suspeitas. Nossas informações de um profissional que detalhou as contas dos últimos quatro anos da empresa "está faltando dinheiro"... Ou seja, mais revelações virão à tona. Ou servirão para que as luzes não recaiam sobre os distintos beneficiários...
Só de longe
Quanto ao mensalão, não há hipótese de o Palácio do Planalto, se envolver ainda que muito discretamente, por baixo do pano, em qualquer coisa que diga respeito ao julgamento no STF. Bem que os envolvidos e seus padrinhos gostariam de algum gesto nesse sentido, porém vão ficar esperando sentadinhos para não cansarem muito. A turma de Dilma quer distância dessa bomba, é questão de outra turma.
Também não muito perto
O envolvimento da presidente Dilma na campanha eleitoral, a favor dos aliados, deverá ser muito menor do que todos gostariam vê-la ainda mais com a popularidade dela andando lá pelos 80%. Há pelo menos duas razões para isso: (1) ela quer manter uma posição mais institucional ; (2) há muita confusão entre os aliados em várias cidades importantes e isso pode criar problemas para ela com a base, quando algum partido se sentir preterido. A presidente vai ajudar, permitindo imagens nos programas eleitorais, até gravando mensagens. E dando ajudas indiretas, como fez esta semana ao reservar um lugar para um indicado de Maluf para o ministério das Cidades em troca do apoio do PP malufista ao petista Fernando Haddad em SP. Nada do engajamento do antecessor. No segundo turno esta determinação pode mudar.
Bananão e bananinhas
Morreu semana passada em Londres o jornalista e escritor Ivan Lessa, dono de um texto sofisticado e de fina ironia. Costumava chamar o Brasil de "Bananão", embora não deixasse de amar o país a seu modo e distante desde o fim dos anos 1970. O que a CPI fez na semana passada, com as mornas inquirições dos governadores Marconi Perillo (PSDB/GO) e Agnelo Queiroz (PT/DF) e a recusa em convocar para depor Fernando Cavendish e Luiz Antônio Pagot, parece uma homenagem do Congresso a Lessa - para provar que em matéria de política continuamos cada vez mais uma república bananeira, um Bananão.
Pêndulo eleitoral 1
De repente, o PT de SP, que parecia caminhar para o isolamento na disputa pela prefeitura paulistana, deu a impressão de sair da solidão. Na sexta-feira, conseguiu, com uma mãozinha da presidente Dilma e o grande empenho de Lula, dois trunfos eleitorais : emplacou Luiza Erundina, do PSB, uma política de boa imagem, e arranjou o apoio do PP de Paulo Maluf. Assim, aumentou o tempo no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão. E ficou com a que, nas circunstâncias poderia ser a melhor vice para o quase desconhecido Haddad. Porém, nem bem saboreava essas vitórias e mais o resultado da pesquisa DataFolha divulgada no domingo, com seu candidato saindo da estagnação em que se encontrava a meses, passando de 3% para 8% nas intenções de votos dos paulistanos, o PT sofreu um duro revés. Erundina, que até havia ensaiado algumas justificativas para estar do mesmo lado de Maluf, um político que ela detesta e do qual sofreu muitas agressões, tão de repente quando aceitou ser vice de Haddad, anunciou que vai rever sua posição - na verdade, disse que não quer mais o lugar - seu estômago revelou-se delicado demais para engolir o malufismo. Lula, dirigentes do PT e do PSB ainda tentarão demover Erundina. Parece difícil. Agora, é medir o prejuízo que isso pode trazer para a campanha de Haddad.
Pêndulo eleitoral 2
No campo adversário, o PSDB de José Serra, que parecia navegar em águas limpas, além de perder os minutos eleitorais do partido de Maluf, está enrolado em tremenda confusão por causa da formação da chapa de vereadores de sua aliança. Ele quer um blocão, exigência dos outros partidos para apoiá-lo, porém a turma de candidatos do PSDB não quer a aliança nas eleições proporcionais, com medo de perder vagas especialmente para o pessoal do PSD de Gilberto Kassab.
Mal estar
Estão cada vez maiores as indisposições entre o PT e o PMDB e deste também, embora não confessada, com o governo Federal. Bons peemedebistas nem desconfiam mais, têm quase certeza de que se prepara uma cama para deixá-los mal nas disputas pelas prefeituras e diminuir seu poder de fogo na aliança governista. O epílogo desse processo seria cortar as candidaturas de Renan Calheiros à presidência do Senado, de Henrique Alves à presidência da Câmara e trocar de vice na chapa de uma reeleição de Dilma.
Rio+20
Quem for ao maior encontro sobre sustentabilidade nos últimos anos no planeta vai descobrir que os resultados objetivos da reunião foram deixados de lado pelos participantes, sobretudo pelos países mais desenvolvidos. Todavia, a simbologia mais intrigante do evento é o fato de se ver o Rio congestionado de carros, sem capacidade de operar eficientemente seu transporte público e os serviços (públicos e privados) de qualidade duvidosa. Haverá quem acredite que até a Copa e as Olimpíadas as coisas melhorem, mas a amostra destes primeiros dias nas terras cariocas foi sofrível.
Os correspondentes estrangeiros
O cenário era eleitoral: os correspondentes estrangeiros de São Paulo elegiam uma nova diretoria para a sua associação na Escola de Direito da GV. Dois candidatos concorriam. Os programas eleitorais tinham lá suas divergências em termos de administração e finanças. Todavia, no tema mais importante todos concordavam : o governo Dilma piorou muito as relações com os jornalistas de órgãos internacionais. Estes não conseguem entrevistas com pessoas-chaves do governo, não tem acesso ao Planalto e nem aos governos estaduais. Dizem que o Brasil está em alta na mídia estrangeira, mas que, por aqui, os governos não dão bola para os correspondentes. Falta matéria-prima para "vender" lá fora.
(por Francisco Petros e José Marcio Mendonça)
____________
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário