Abro a coluna com uma historinha envolvendo o grande Franco Montoro e uma personagem do meu querido Estado RN.
Urbano que virou agrário
Franco Montoro ficou famoso pela troca de nomes que fazia. Há muitas histórias envolvendo essa modalidade de dislexia ou dislogia. Uma delas ocorreu comigo, no restaurante dos professores no campus da USP. Montoro havia sido convidado por um grupo de professores para fazer uma palestra sobre o Brasil e a América Latina, dentro do fórum de debates que desenvolvia na Fundação que criou e dirigiu. Certo momento, ao falar do RN, ele passou a se referir a nomes de amigos comuns e conhecidos. Foi quando, de repente, depois de vários acertos, ele me pega de surpresa com a indagação: "e o Agrário, como vai o Agrário"? Respondi: "Agrário, governador, acho que não sei quem é...". Mas aí lembrei-me de um nome na esquina do contraponto: Urbano. E repus a pergunta: "por acaso, governador, não é Urbano, Francisco Urbano"? Era. Na época, Urbano dirigia a Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. Daí a confusão. Em respeito ao grande homem, contive a risada!
Chutou o pau da barraca
O advogado do ex-deputado Roberto Jefferson, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, chutou o pau da barraca. Disse que Lula não apenas sabia como ordenou o mensalão. E arrematou com a inferência de que, ali no STF, onde escancarou sua locução, haveria "um festival de absolvições". Acusou de frente o procurador-geral, Roberto Gurgel, por ter deixado Lula fora do processo. Nunca se viu um destempero tão contundente na presença dos mais altos quadros da Justiça brasileira. A tática do advogado foi a de defender atacando. Tirou o sono dos ministros. Chamou a atenção. Vai dar certo? Criou animosidades? Despertou indignação? Usou linguagem rasteira ao perguntar se Lula era pateta? O "omisso" Gurgel ouviu tudo em silêncio. E Jefferson, o que disse?
"Jogaria Lula no chão"
Roberto Jefferson assistiu atentamente a peroração do seu advogado. Disse que se soubesse da ligação entre o ex-presidente e o BMG, "jogaria Lula no chão". Mas acabou elogiando o desempenho de Luiz Francisco. Que tem "o mesmo quilate" do cliente.
Perillo-Cachoeira
O STJ determinou a abertura de inquérito para investigar relações entre o governador Marconi Perillo e Carlos Cachoeira, em GO. Essas águas ainda vão rolar por muito tempo.
Mais mensalão
A impressão é a de que o país respirará os ares do mensalão ainda por muito tempo. Mensalão do DEM, no DF. Mensalão dos tucanos, em MG. Quem espera ares puros pode ir treinando as narinas para tempos mal-cheirosos.
Datapovo
O Instituto Datapovo, que pode ser auscultado a qualquer hora do dia, em casa, no escritório ou na rua, é o melhor termômetro para se medir a temperatura ambiental. Façam a pergunta: "Maria, Joaquina, Neusa, Deise, Joana, Pedro, Mané, Zé, Joaquim, você sabe o que é mensalão"? Ouvirão algo parecido com a indagação: "não é aquela roubalheira dos políticos"? Continuem a perguntar: "você sabe qual foi o partido que está metido com isso"? Nem todas as respostas apontam para o mesmo partido. Muitos têm dúvidas. Mas a maior parte das respostas aponta para o PT.
Lula em São Paulo
As dúvidas crescem. Lula conseguirá puxar seu candidato Fernando Haddad? Este consultor já foi mais incisivo na indicação do "sim". O PT tem históricos 25% a 30% em SP. Mas, os tempos mudam. Cada campanha tem seu clima, seu repertório, suas circunstâncias. Celso Russomanno, por exemplo, pela leitura das campanhas passadas, já teria caído. Continua firme com 25%. A primeira pesquisa após o início da propaganda eleitoral, em 22 de agosto, apontará as tendências.
Sangue, trabalho, suor e lágrimas
"Espero que meus amigos e colegas, ou colegas de outrora, que tenham sido afetados pela reconstrução política, sejam tolerantes e me desculpem por qualquer falta de cerimônia na maneira por que fui compelido a agir. Eu diria a esta Casa, como disse àqueles que passaram a formar este governo: - Eu nada mais tenho a oferecer senão sangue, trabalho, suor e lágrimas". (Winston Churchill)
Serra declina?
As conversas sobre a campanha paulistana já foram mais favoráveis ao tucano José Serra. Que, em todos os cenários feitos há um mês, era o favorito do segundo turno. Hoje, começa-se a propagar a ideia de que ele estaria ameaçado de não entrar na reta final. Ou seja, perde a condição de favorito e, mais, de não entrar no segundo turno. O problema de Serra é a rejeição. Consolidada com a impressão de que teria passado sua vez. Difícil aceitar a hipótese, porque o tucano conta com duas mega estruturas de apoio: máquinas governamentais do Estado e da Capital.
Paulinho queimado
Comenta-se que Paulinho da Força passou a frequentar o dicionário de rejeição da presidente Dilma. Que prezaria os candidatos Chalita e Russomanno, que integram partidos da base governista. O PDT de Paulinho também faz parte. Mas o próprio, por conta da linguagem e das ações destemperadas, teria entrado no limbo em que o Palácio do Planalto coloca alguns perfis indesejados.
Pacote da privatização
O anunciado pacote das concessões em diversas frentes da infraestrutura não recebe loas de todas as áreas do empresariado nacional. Grandes questões envolvem os programas e metas estabelecidas para as ferrovias, trem-bala, rodovias, portos, aeroportos, energia, etc. Algumas questões afloram nos ambientes produtivos: como fazer concessões em áreas já concessionadas, como as das ferrovias, por exemplo? O governo vai prorrogar os contratos? Foram feitos estudos de viabilidade dos megaprojetos ou se trata de mais um pacotão recheado de números ? Não seria mais uma avenida paralela aos programas existentes, plasmados para uma travessia gloriosa na passarela eleitoral?
90 mil demissões
A lenta capacidade da indústria de transformação paulista para retomar a trajetória de crescimento deve levar o setor a fechar o ano com saldo de 80 mil a 90 mil demissões. Isso representa uma queda no nível de emprego de 3%, de acordo com o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da FIESP.
Viés político
Há quem veja no mega programa de concessões em eixos infraestruturais um forte viés político. Escudo contra efeitos danosos do julgamento do mensalão nas avenidas do PT com sequelas sobre as imagens de Lula e do próprio governo.
Porém...
Mas as pesquisas começam a mostrar que o mensalão não afeta a imagem do governo Dilma. Os dois pontinhos oscilando para baixo na pesquisa desta semana - comparativamente com a anterior - mostram que a administração continua muito bem avaliada.
Técnica faz faxina ética
A imagem que a presidente Dilma está consolidando é a de uma governante técnica que pegou a vassoura para limpar os espaços do governo de impurezas políticas. A faxina ética já colou. Mensalão pode, até, prejudicar o PT. Mas não queimará o estoque de prestígio do governo.
Confiança de Campos
Eduardo Campos quer eleger seu candidato no Recife, Geraldo Julio, logo no primeiro turno. Confiança em excesso? Lula, seu amigo do peito, promete ir a Recife fazer campanha para o candidato do PT, o senador Humberto Costa. A conferir.
Bolso vazio, sim
Quem pode corroer os traços da imagem positiva é o bolso do eleitor. Ou seja, a perda da capacidade de adquirir bens de consumo - a partir de alimentos - constitui o calcanhar de Aquiles do governo Dilma. A economia, esta sim, poderá ser o ponto do desequilíbrio. Este analista pinça, mais uma vez, sua geografia eleitoral: bolso, estômago, coração, cabeça. Bolso cheio significa geladeira locupletada; estômagos saciados; que, satisfeitos, tocam de perto o coração; coração comovido sinaliza a cabeça. Que acabará enviando sinais de agradecimento aos patrocinadores do bolso cheio. Sinais? Em forma de votos.
100 milhões, duas medalhas
R$ 100 milhões a mais que o investimento feito para a Olimpíada de 2008. Foi esta a quantia que o Brasil "gastou" para disputar em Londres. Qual o resultado? Uma medalha de prata e uma de bronze, duas medalhas a mais que em Pequim. Muita grana, muita dispersão, politicagem, desvios, ilícitos, displicência, desleixo, incúria. Este é o Brasil do eterno retorno.
A volta olímpica
A volta dos brasileiros da Olimpíada foi uma festa. Desfiles em carros de bombeiro, bandeiras tremulando ao vento. Parecia que o Brasil ganhara o primeiro lugar. E o prefeito Eduardo Paes, como papagaio de pirata, parecia ser o maior dos nossos campeões olímpicos.
Liderança do PMDB
Com o acordo fechado para Henrique Alves ser o candidato do PMDB à presidência da Câmara, já começa a se adensar a lista de candidatos à sua sucessão na liderança do PMDB: Eduardo Cunha/RJ, Sandro Mabel/GO, Rose de Freitas/ES, Danilo Forte/CE, Manoel Junior/PB e Marcelo Castro/PI. O mais ativo é Mabel. E um dos mais fiéis aliados de Henrique é Cunha.
Vitória
"Perguntais qual o nosso objetivo? Posso responder com uma palavra: Vitória - vitória a todo custo, vitória apesar do terror, vitória por mais duro e longo que seja o caminho a percorrer, pois sem a vitória, não haverá sobrevivência". (Winston Churchill)
Neymar e companhia
O que fez Neymar em campo? Não deu o esperado show. Chegou com a fama de atleta de triatlo : corre, pedala e .. nada. O problema é que o endeusamento dos atletas brasileiros maltrata sua identidade. Achando-se deuses do Olimpo, os nossos famosos deixam de pisar no chão duro. Vivem da fama. Habitam os espaços midiáticos. Ganham milhões. Sob a corrosão de suas performances esportivas.
Razões para votar
O escopo do marketing político, ao longo da história, tem se mantido praticamente o mesmo. O que muda são as abordagens e as ferramentas tecnológicas. Atentem. No ano 64 a.C., Quinto Túlio Cícero enviava ao irmão, o grande tribuno e advogado Cícero - protagonista de episódios marcantes por ocasião do fim do sistema republicano e implantação do Império Romano - uma carta que considero o primeiro manual organizado de marketing eleitoral da história. Ali, Quinto Túlio orientava Cícero sobre comportamentos, atitudes, ações e programa de governo para o consulado, que era o pleito disputado, sem esquecer as abordagens psicológicas do discurso, como a lembrança sobre a esperança, este valor tão "marketizado" no Brasil e que se constituiu eixo central do discurso da era lulista. Dizia ele : "três são as coisas que levam os homens a se sentir cativados e dispostos a dar o apoio eleitoral : um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea".
Um burrinho baixinho
José Fernandes de Melo, médico, ex-deputado estadual por diversas legislaturas no RN, ex-prefeito de Pau dos Ferros, principal cidade do extremo oeste, fazia suas campanhas à base de receitas médicas e muita verve. Por onde passava, costumava fazer uma brincadeira com os eleitores. Por ocasião de sua última eleição para prefeito, nos meados da década de 80, comemorando a vitória numa festa no meio do povo, foi insistentemente abordado por uma eleitora, que lhe pedia um burrinho para ajudá-la nas tarefas da roça. O prefeito não perdeu a chance de fazer mais uma de suas brincadeiras. "Que tipo de burrinho a senhora quer? Pode ser um burrinho baixinho, meio gordo, um pouco velho" ? A mulher respondeu: "pode ser, sim, doutor José". E ele: "pode ser um burrinho que dá muito coice quando chegam perto dele"? Resposta: pode, sim. O médico, ligeiro, dobrou-se, mãos e joelhos no chão, e arrematou: "pois está aqui ele, dona Maria, pode montar". A mulher, encabulada, sob as gargalhadas do povo, saiu de fininho. (Zé Fernandes, casado com minha irmã, Lindalva Torquato Fernandes - já falecidos-, que foi deputada estadual, prefeita de Pau dos Ferros e ministra do Tribunal de Contas do Estado)
Conselho aos líderes sindicais
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos advogados que trabalham na Ação Penal 470. Hoje, sua atenção se volta aos líderes sindicais:
1. O momento que o país atravessa não permite atitudes irresponsáveis, gestos tresloucados, mobilizações oportunistas. O Brasil não é uma ilha de segurança em um oceano tempestuoso.
2. Ante a moldura da crise internacional e os possíveis efeitos que certamente chegarão até nós, é preciso agir com responsabilidade e evitar que as paralisações em curso contribuam para acirrar os ânimos e expandir a insegurança social.
3. É bastante compreensível o acervo reivindicatório das 30 categorias de servidores Federais em greve. Mas todo esforço deve ser empreendido para se chegar a um termo de ajuste, que possa por fim ao movimento paredista. Estamos às vésperas de um pleito eleitoral. Que precisa ocorrer em um clima de harmonia e segurança social.
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(Gaudêncio Torquato)
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