Pitágoras proclamou: “Todas as Coisas são Números”. Os que se embrenham pelas florestas numéricas costumam sentir a mesma sensação dos bandeirantes: perscrutam, desbravam, descobrem e se extasiam com a novidade!
Também creio na numerologia! E foi com essa crença nos números que acolhi a incumbência, que é sempre uma deferência, emanada do nosso Presidente Seridião Correia Montenegro para lhes proferir estas singelas frases de efusão. É a nossa festa de aniversário e a mim me cabe saudar os neófitos.
Mirei no calendário nossa data de fundação: 25 de junho. Ano 2005. Se abstrairmos os dois zeros de 2005 também chegaremos a 25. Somando, 2+5 é igual a 7. Sete é o cabalístico número da perfeição.
Aristóteles dizia que todas as coisas deviam sua existência à imitação ou à representação dos números.
Os pitagóricos também assentaram que é a masculinidade um número ímpar e a feminilidade um número par. Assim, a nossa Academia, sacramentada no altar matrimonial entre o dois e o cinco, nasceu sob o signo da pluralidade feita expressão singular, da unidade fiada na diversidade.
A ciranda constitutiva da AMLEF exibe uma inaudita sintonia entre a construção rebuscada da erudição e a mais genuína inspiração popular. Em nossos convescotes literários têm desfilado, com igual relevo, a sílaba portentosa e o fonema singelo.
Os córregos que deságuam neste Sodalício transportam tanto a água quimicamente impecável como a potável água das fontes cristalinas.
E os que se abancam entre nós nesta noite memorável reforçam essa excelsa tradição. São pessoas oriundas de manjedouras distintas, porém trazem na alma as pilastras da essencialidade humanística da cidadania militante, que mesclam literatura e amor à livre criatura. Saramago já dizia que aonde vai o escritor vai também o cidadão.
É com fraternal prazer que anuncio: os cidadãos José Hilton Lima Verde Montenegro e Antônio Tarcísio Carneiro passam a compor a moldura de Acadêmicos Correspondentes da AMLEF.
Da terra de Eleazar de Carvalho, Evaldo Gouveia e Humberto Teixeira, o engenheiro mecânico José Hilton, que também perambula pelos campos da filosofia e das letras, resolveu perscrutar a engenhosa mecânica da História. Produziu obras memoráveis.
Antonio Tarcisio Carneiro é músico, compositor, poeta popular, cantor, contista e dramaturgo. Marinheiro de profissão, nunca olvidou os tórridos rincões de Santana do Acaraú. Por transpiração virou o Carneiro do Sertão. Mansamente se achegou ao nosso convívio. Hoje mansamente correspondemos seu afeto.
No nosso pórtico de honra, na categoria de Acadêmico Honorário, inscrevemos com reverente dignidade os nomes de José Augusto Bezerra, José Lins de Albuquerque e Francisco Eloy Bruno Alves.
Como o próprio nome consigna, o primeiro José tem a sensibilidade do carpinteiro de Nazaré e a augusta solenidade de um imperador romano. O mestre José Augusto Bezerra exibe talento multifacetário: escritura e empresaria, cultiva a bibliofilia e irradia filantropia. Agraciado com a Sereia de Ouro, pertence às mais destacadas Academias Cearenses, inclusive a mais antiga do Brasil. Meu destino eu mesmo traço: a fraternidade me deu régua e compasso – pode ele afirmar parodiando Gilberto Gil.
Na pessoa do poeta Juarez Leitão, saúdo o meu conterrâneo José Lins de Albuquerque, um ser constelado que conserva a invariável expertise de bafejar com o incenso da competência os espaços por onde passa, poliu a mente e a alma nas montanhas das Minas Gerais. Certamente nas Alterosas apurou a visão aguçada, sedimentou o estilo sóbrio, fiou o jeito silencioso e disciplinou-se no rigor técnico. Pai de oito filhos, com 22 netos e dois bisnetos, o nonagenário, porém adolescente engenheiro, professor, poeta, contista e memorialista mergulhou nas águas plácidas da aposentadoria com a dignidade de um varão de Plutarco, dedicando-se ao culto da família e às delícias do espírito, escrevendo Contos Verdadeiros e Versos de Muito Amor & Outras Poesias.
A primeira reunião desta Arcádia em que me fiz presente ocorreu na Parangaba. Qual não foi minha surpresa quando surgiu ali a figura de um padre: Francisco Eloy Bruno Alves, hoje monsenhor da Igreja Ortodoxa. Àquela época profetizou, fazendo uso de uma parábola evangélica, que esta Academia se assemelhava ao grão de mostarda: embora a menor das sementes, lançada em solo fértil, cresce e se torna a maior de todas as hortaliças. E este vôo imaginativo parece que, agora, ganha contornos de realidade. Após enfrentar problemas de saúde, Padre Eloy retorna à AMLEF.
Exibirá o Diploma de Acadêmico Emérito o jornalista Francisco Lima Freitas. Patrono do municipalismo no campo das letras, Lima Freitas preside o mais representativo sodalício de letras da Terra da Luz, a ALMECE (Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará). É um apóstolo da cultura, um missionário das letras, semeador de livros e um peregrino incansável da causa literária.
Para abrilhantar nossa bancada de Acadêmicos Efetivos oficializamos o ingresso do Padre Francisco Geovane Saraiva Costa, cadeira nº 8, Patrono Olavo Oliveira; da professora Michelly Barros Andrade Sousa, cadeira nº 15, Patrona Natércia Campos; e do doutor Francisco Régis Frota Araújo, cadeira nº 31, Patrono Antônio Bezerra de Menezes.
O Padre Geovane, que atualmente pastoreia em Fortaleza, aprendeu com dom Helder Câmara, nascido para as coisas maiores, a ser um peregrino da paz. Trabalhador incansável na messe do Senhor, o pároco da Parquelândia é também articulista, cronista e biógrafo. Adentra o nosso círculo para nos ensinar que o ódio e a paz, o simbólico e o diabólico, o céu e o inferno não são instituições alienígenas, mas forças que se debatem no universo do nosso ser. Padre Geovane bafejará este Sodalício com os fluidos da espiritualidade a fim de que nos voltemos, sempre, para os pensamentos superiores.
A professora Michelly Barros é uma heroína popular que seduziu o nosso Silogeu antes da admissão. Sua história de vida é um enredo épico. Muito mais que isso: uma indelével lição existencial. Um culto de amor à luta pela sobrevivência. Um hino à superação. Por mais de 17 anos erigiu sua trincheira nos morros de areia branca e vegetação abundante do Conjunto Santa Terezinha. Da pobreza extraiu beleza. Graduou-se pela UFC e abraçou a causa do magistério. Escritora e compositora, exalta a rica e autentica linguagem regionalista do matuto cearense. Nenhuma porta lhe foi aberta. Ela as abriu. Inclusive as desta Academia. Seu diploma foi confeccionado por uma matéria chamada merecimento. Parabéns, Michelly Barros Andrade Sousa!
“Instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social” – eis uma parte do Preâmbulo da Constituição Brasileira, a nossa Magna Carta, o principal e um dos mais belos documentos do nosso ordenamento. A terceira cadeira será ocupada por um intelectual irrequieto, amante do direito constitucional, que já percorreu meio mundo estudando essa temática. O professor Francisco Régis Frota Araújo, mestre pela UFC, doutor pela Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, Presidente da Associação Ibero-Americana de Direito Constitucional Econômico, cujas produções técnico-jurídicas aliam rigor científico e brilhantismo literário, nos honrará com sua distinta companhia.
Portanto, tomai assento entre nós, humanos livres e de saudáveis costumes!
Aqui sentireis a camaradagem que contagia um modesto sodalício de destemidos militantes em defesa dos direitos da inteligência, que presta reverência aos ditames do Espírito, que busca cumprir os deveres do coração!
Vamos formar um pelotão de mãos conjuncionais.
Vamos erigir um monumento ao belo, ao sagrado, ao essencial!
Publiquemos, juntos, o édito da paz!
A missão primeira de quem se entrega à tarefa de cunhar as sílabas oníricas é proclamar a civilização da claridade e o império do amor. Deixemos que esta Casa nos transforme em indeléveis centelhas da alegria, eternos operários das estrelas, perenes súditos da aurora!
Rotulam-nos de imortais. Não o somos. Imortal é a mensagem daquele que consegue encravar sua escritura no solene pergaminho estampado no átrio do sonho humano.
Para fazê-lo, precisamos emprestar as nossas mãos às invisíveis mãos do Insondável, algo que só é possível quando nos abrimos à iluminação. Por isso o espaço em que vos acolhemos chama-se Palácio da Luz! Assim, vos desejamos êxito no cumprimento deste múnus fulgurante!
Fiat Lux!
Viva a AMLEF!
(Discurso proferido por Júnior Bonfim na sessão de ontem da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – AMLEF – no Palácio da Luz, Fortaleza, Ceará)
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