Abro a coluna com rápida passagem por um teste feito com candidatos a estagiários em um grande jornal de SP.
Estagiários, sim, senhor
Uma das questões: No dia 22 de novembro de 1963 houve um crime de repercussão internacional em Dallas, EUA. Descreva, utilizando no máximo cinco linhas, como foi aquele crime. Algumas respostas:
- Morte de Matter Luther King.
- O caso Wart Gate.
- Este crime foi com mortes por fuzilamento de pessoas, que muitas delas sem causa.
- O presidente John Kennedy visitava a cidade de Dallas com sua esposa Jaqueline, quando, em desfile em carro aberto, ele foi alvejado a tiros, vindo a falecer.
- O presidente dos Estados Unidos deu um grande rombo nos cofres públicos.
- Foi a Revolução do Texas. Infelizmente não tenho referenciais consistentes para comentar a respeito.
- John Kennedy foi assassinado quando passeava em carro aberto na companhia de sua esposa Jackeline Onassis Keneddy.
(Esse último aluno, incrível, até conseguiu enxergar o futuro da primeira dama com o Aristóteles Onassis)
E o Titanic, hein? Afundou-se
Em cinco linhas, deveriam escrever o que sabiam sobre o naufrágio do Titanic em 1912. Eis alguns relatos:
a) Fato ocorrido com seus tripulantes gentes famosas que estavam a bordo desse magnífico navio, na busca onde conseguiram algumas relíquias de grande valor a pouco tempo.
b) O navio Titanic bateu contra uma rocha ou um iceberg, não me recordo.
c) Várias pessoas estavam a bordo do navio quando ele afundou levando consigo entre crianças e adultos, jóias em prata e ouro, deixando perplexos tantos os familiares, quanto autoridades competentes.
d) Para mim, foi mais uma vez coisa do destino, com provas já comprovadas e muitos dos tripulantes do Titanic vinham sendo avisados com sonhos e alucinações. Ele batendo sem mais nem menos, como foi o acidente não era dúvidas, que o destino vinha acontecendo.
e) O navio Titanic afundou-se.
f) Uma enorme onda veio em direção ao navio que se encontrava atravessando no oceano.
g) Não havia botes para todos os passageiros, por isso muitos homens foram obrigados a morrer.
(Que o destino vinha acontecendo é um achado glorioso)
Na reta final
A campanha eleitoral chega à reta final levantando algumas dúvidas: 1) Qual será o futuro de José Serra em caso de derrota em SP? 2) Qual o futuro de Eduardo Campos que preside o PSB, partido que integra, hoje, a base governista? 3) Qual o futuro do prefeito Kassab que dirige o PSD? 4) O que o PT fará caso ganhe em SP e confirme sua posição de maior vitorioso em número de votos? 5) Quais os caminhos que se apresentam ao PMDB, que continua a ser o partido com o maior número de prefeitos e vereadores do país? Estas são algumas das grandes interrogações que chamarão a atenção dos analistas políticos nos próximos meses? Vamos tentar mirar na bola de cristal.
O futuro de Serra
Caso se confirme a derrota de José Serra, em SP, sua vida não estará enterrada como se ouve de bocas plurais. O ciclo de vida na política é de altos e baixos. É bem verdade que Serra tem descido muitas ladeiras. E a idade consome formidável parcela de energias. A ele apresentam-se as seguintes alternativas: a) disputar um posto majoritário em 2014, o de senador, por exemplo. Haverá uma vaga apenas. O mandato que se encerra é o de Eduardo Suplicy, do PT. Este partido continuará a colocá-lo no páreo ? Ou buscará nome que encarne o conceito de mudança? b) Serra poderá disputar uma vaga na Câmara Federal. É pouco para a vaidade dele, dizem. Mas é uma alternativa; c) Tomará o lugar do deputado pernambucano, Sérgio Guerra, na presidência do PSDB. Correria o país nessa condição para fortalecer os tucanos. Entregar o partido nas mãos de um derrotado ? É uma alternativa; d) ser secretário do governo Alckmin, para continuar a ter visibilidade política. Lembre-se: Alckmin foi secretário do governo Serra; e) Ser candidato a presidente da República em 2014. Nesse caso, teria de vencer o senador Aécio Neves em convenção. Ao leitor, deixo a escolha da alternativa.
O futuro de Campos
Em termos comparativos com 2008, o PSB de Eduardo Campos foi o partido que mais cresceu. Eduardo Campos trabalha com perspectiva de ser protagonista de primeira linha nas lutas políticas dos próximos anos. Vejamos, então, alternativas para sua trajetória : a) Ser candidato à presidente da República pelo PSB em 2014. A alternativa ganha fôlego sob um pano de fundo de descalabro econômico, país em crise, governo de Dilma navegando na borrasca, PT com imagem despedaçada; b) Ser candidato à vice-presidente na chapa de Dilma, candidata à reeleição. Nesse caso, o PSB teria de desbancar o PMDB. Tarefa mais que complexa, tendo em vista a continuidade do PMDB como partido mais capilar e com o maior número de prefeitos, vereadores e deputados estaduais; c) Ser candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Aécio Neves. A alternativa se fundamenta na tese de má avaliação do governo Dilma e consequente fortalecimento do PSDB; d) Não ser candidato em 2014, tornar-se ministro do governo Dilma e tentar viabilizar seu nome para 2018 como candidato a presidente da República.
O futuro de Aécio
Aécio Neves confirma, a cada dia, sua condição de candidato tucano à presidência da República em 2014. O senador mineiro corre o país, abraça correligionários, procura atrair parcerias desde já, na tentativa de adensar a base oposicionista. Portanto, suas alternativas são : a) Ser candidato tucano em 2014 em oposição à presidente Dilma; b) Presidir o PSDB e procurar viabilizar sua candidatura presidencial para 2018; c) Continuar como senador e ajudar outro candidato do PSDB à presidência. Difícil. A alternativa adequada é mesmo a primeira.
O futuro de Kassab
O prefeito Kassab criou o PSD, que tem hoje cerca de 50 deputados. Ficará sem mandato a partir de 2013. Vejamos quais as alternativas que a ele se apresentam : a) Transferir o partido, com toda a sua bagagem, para a esfera governista. Apoiar, portanto, o governo Dilma. Presidente do partido, Kassab correrá o país articulando ingressos e fortalecendo a sigla; b) Tornar-se ministro do governo Dilma, ganhar visibilidade e habilitar-se a um cargo majoritário em SP, em 2014; c) Ser candidato ao governo do Estado. Nesse caso, teria de enfrentar Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, o candidato do PMDB (a indicação mais forte é Paulo Skaf), o candidato do PT (possivelmente Alexandre Padilha), além de outros nomes; d) Ser candidato a senador. Disputaria com nomes fortes de outros partidos; e) Ser candidato a vice-presidente numa chapa encabeçada por Eduardo Campos ou Aécio Neves. A condição implicaria não ingressar na base do governo Dilma.
O futuro de Alckmin
Geraldo Alckmin poderá ver parcela ponderável do poder tucano transferir-se para o habitat mineiro de Aécio Neves. Com quem, aliás, tem boa articulação. Por isso, eventual derrota de José Serra não o impactará tanto. Aliás, a tendência é a de que o eleitor decida dar uma no cravo e outra na ferradura. Conceder parcela do poder ao PT, com a prefeitura, e, em 2014, oferecer outra parcela a outros partidos como o próprio PSDB. Eis as alternativas de Alckmin: a) Ser candidato à reeleição em 2014; b) Ceder o lugar para José Serra na candidatura ao governo e disputar a senatoria. Alternativa de baixíssima chance. A mais lógica é sua candidatura à reeleição.
O futuro do PT
Com o maior número de votos alcançados nas urnas e com o domínio político e administrativo da maior capital do país (caso Haddad seja o vitorioso), ao PT abrem-se as seguintes alternativas: a) alargar o caminho para permitir reeleição tranquila da presidente Dilma, em 2014, e formar a maior base de governadores estaduais, a maior bancada de deputados Federais e grande bancada de senadores; b) Escolher um perfil que encarne mudança (sempre sob escolha de Lula) para ser o candidato petista em SP. O ministro Alexandre Padilha deverá trocar o domicílio eleitoral do PA por SP. Os ministros Aloizio Mercadante e Marta Suplicy vão chiar, mas simbolizam o passado. Lula enxerga o futuro. A conquista de SP seria o maior sonho do PT; c) sedimentar a trajetória com novas parcerias, oxigenar o partido, a partir das bases, e reorganizar os quadros com vistas ao projeto de hegemonia partidária e continuação no poder.
O futuro do PMDB
O PMDB enfrenta um grave dilema: renovar seus quadros. Lula trabalha, todo tempo, com a percepção de oxigenação do PT. A tarefa tem sido fácil por conta do sistema vertical de mando. A turma de cima manda e o grupo de baixo obedece. No caso do PMDB, a tarefa é bem mais complexa. O sistema de mando é horizontal. Uma teia de arranjos, famílias, grupos, caciques, mandos e tradições. Cada Estado tem o seu PMDB. Renovar um partido com essa estrutura arraigada no passado é missão para Hércules. Se realizar essa tarefa, pelo menos em parte, o partido descortinará novos horizontes. Mesmo assim, divisa com as seguintes alternativas: a) Continuar a ser o principal parceiro do PT na aliança em torno da presidente Dilma, significando a indicação de Michel Temer novamente como candidato a vice; b) Sair da base governista, em função de uma crise econômica corroendo o governo, e se tornar parceiro de outra chapa. Alternativa de baixa probabilidade; c) Apresentar candidato a presidente da República, em 2014, na perspectiva de conquista do poder central. Alternativa que levaria em conta a deterioração das condições econômicas do país e o encontro de um nome com capacidade de conquistar o eleitorado; d) Continuar a ser parceiro do PT, sofrendo pressões das bases, tentado expandir sua força na estrutura governativa e administrando pressões de todos os lados.
Mensalão e eleição
Como este analista sinalizou, em vários textos desta coluna, o mensalão não influiu nos resultados eleitorais. Apenas consolidou votos e posições dos eleitores que habitam os territórios do PT e do PSDB. SP é o maior exemplo de nossa hipótese. A eleição do segundo turno ocorrerá após o julgamento do último capítulo do mensalão, aquele que propicia as manchetes mais impactantes: a formação de quadrilha. Que envolve quadros do PT. Pois bem, nada disso tirou votos de Fernando Haddad. O eleitor está preocupado mesmo com a micropolítica, a política de atendimento às suas necessidades mais imediatas.
As penas
A conversa da semana é sobre as penas que recairão sobre os condenados do mensalão. A maior curiosidade é saber se a tal dosimetria puxará para baixo ou para cima as penas de alguns. Este consultor tende a acreditar que a régua passará pelo meio. Ou seja, nem lá nem cá. Mesmo considerando que os ministros que votaram pela absolvição não entrarão no jogo dosimétrico. Nem 12 anos nem 2 anos para o grupo político. Algo em torno de 5 a 6. Penas acima de 12 anos para condenados por muitos crimes, como é o caso de Marcos Valério. Claro, mera intuição.
Conselho aos prefeitos eleitos
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos candidatos da capital paulista. Hoje a atenção se volta aos prefeitos eleitos:
1. Há um formidável Custo Brasil da Descontinuidade. Que abriga a interrupção de programas, projetos e ações de prefeitos que deixam as administrações. Isso é uma aberração.
2. Verificada e comprovada a importância de um programa administrativo em andamento, o ideal é que não seja apagado, excluído, extinto. Boas ideias devem ser, sempre, implantadas, reforçadas.
3. Por isso mesmo, urge mapear as coisas boas iniciadas e desenvolvidas pelas gestões anteriores. Devemos, isso sim, diminuir o Custo Brasil gerado por ignorância.
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(Gaudêncio Torquato)
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