Cuidado com a montaria
Quintino Cunha, famoso advogado e poeta, participava de um júri em Quixeramobim/CE. O promotor berrava na tribuna:
- Senhores jurados, estou montado na lei.
Quintino pede um aparte:
- V. Exa. tenha cuidado para não cair, porque está montado em um animal que não conhece.
O promotor se calou.
(Da lavra do amigo Sebastião Nery, em Folclore Político)
Está chegando a hora
Dia 5/10 cai no sábado. Portanto, quem quiser mudar de partido o fará até sexta, 4/10. O TSE também deve dar o veredicto ao partido de Marina, a Rede Sustentabilidade. O clima é de dúvidas. Faltam entre 30 a 40 mil assinaturas para o partido marineiro se firmar. Mas o Tribunal poderá decidir formalizar a sigla e pedir diligências sobre as assinaturas não validadas pelos cartórios. Ocorre que o MP pediu ao TSE que não aceite a formalização do partido. O vice-procurador Eugênio Aragão foi taxativo: "continua sem condições de ser atendido. Criar o partido com vistas, apenas, a determinado escrutínio [eleições de 2014] é atitude que o amesquinha, o diminui aos olhos dos eleitores", escreveu ele em seu parecer. O pessimismo voltou a imperar. Marina com um pé fora?
32 partidos
Existem 32 partidos no Brasil. Partido é parte, parcela do pensamento social. Parcelas: direita, centro-direita, centro, centro-esquerda, esquerda. Há 32 partes no espectro social do pensamento?
A estampa
Se a Rede fosse estendida, teríamos esta moldura : Dilma, candidata à reeleição; Marina, candidata independente, com um toque de oposição; Aécio Neves, candidato do tucanato e das oposições clássicas (PSDB e DEM), e ainda com o apoio deste novo partido, Solidariedade, liderado por Paulinho da Força; e Eduardo Campos, candidato que ensaia um discurso de mudança, mas ainda tem o perfil frappé, meio lá, meio cá, café com leite. José Serra saiu da crise existencial que o sufocava. Decidiu ficar no PSDB.
Casamentos
Geralmente, as parcerias ocorrem na esteira de defesa comum de pontos de vista entre siglas. No Brasil, as parcerias fogem à lógica. Casamento de touro com cabra passa a ser coisa normal.
Com Marina
Marina candidata, poderia atrair segmentos dispersos, que não estão contentes com a situação e que não simpatizam com os tucanos. Para tanto, precisa ter uma forte visibilidade. Esse seria seu maior desafio. Sem mídia massiva, carecerá de ampla mobilização de seus adeptos pelas redes sociais e meios alternativos. Teria chances de expandir bem os votos - quase 20 milhões - que ganhou no pleito de 2010. Tira votos de Aécio Neves e Eduardo Campos. A mais cotada para entrar no segundo turno se encontra a um passo fora da corrida. Quem herdará seu espólio?
Ingovernabilidade
Marina teria condições de governar, caso fosse candidata e, mais, se fosse vitoriosa? Pergunta feita a 10 formadores de opinião. 8 disseram: não. 2 responderam: teria de mudar a personalidade.
Sem Marina
Sem Marina, o pleito tomará outro rumo. Eduardo Campos seria o mais favorecido por representar setores e núcleos que pleiteiam avanços e novidades. Mais que Aécio, o governador de PE expressa inovação, mudança. Mas ele não fazia parte da base governista? Essa é a questão que será colocada na mesa do debate. Sim, mas o eleitor tende a fugir da polarização entre situação e oposição. Selecionará aquele perfil que lhe traduza maior possibilidade de realizar mudanças. Campos é menos conhecido. Tem boa estampa. E boa expressão. Seu potencial de crescimento é maior do que o de Aécio. É possível que ambos, com boas votações, consigam empurrar a campanha para o segundo turno. Desafio maior sem a presença de Marina.
Com quem?
Houvesse um segundo turno, Aécio com Dilma, com quem ficaria E. Campos? Lula diria: Dilma. Grupo de Campos diria: Aécio. Segundo turno, com E. Campos e Dilma, com quem ficaria Aécio: E. Campos.
Triângulo das Bermudas
A performance da presidente Dilma, como é sabido, será melhor nas regiões Nordeste, Norte, Centro Oeste, onde os braços governistas se fazem muito fortes. Mas é possível que sua performance na região Sudeste também surpreenda, principalmente se 2014 for soprado com os ventos da temperança econômica. O Triângulo das Bermudas decidirá a campanha : SP, com mais de 30 milhões de votos; MG, com cerca de 15 milhões e RJ, com mais de 12 milhões. Em SP, tudo vai depender da campanha estadual. O governador Alckmin conseguirá emplacar a reeleição? Este consultor levanta a hipótese de corrosão de material. 20 anos de tucanato entopem artérias eleitorais. Hoje, ele é o favorito.
MG e Rio
Em Minas, o governador Anastasia conseguirá eleger seu candidato ? Aécio, em sua terrinha, terá, evidentemente, a maior votação. Mas o ministro Fernando Pimentel deverá contar com a parceria do PMDB, onde acaba de entrar o empresário de sucesso, da Coteminas, Josué Gomes da Silva, filho do ex-presidente José Alencar, falecido. No Rio, a situação de Sérgio Cabral não é boa. O PT, do senador Lindbergh, tem boas condições para liderar a parada.
Bombas
Há algumas bombas que podem explodir sobre Lindbergh. Coisas de quando era prefeito. Caso no STF.
O fator Lula
Dilma conta com o maior cabo eleitoral do país: Lula. Que tem dito: serei uma metamorfose ambulante. Se ela for para o Norte, eu vou para o Sul; se for para o Oeste, irei ao Nordeste. Ou seja, Lula se diz candidato. Porque ele é Dilma e Dilma é ele. Essa simbiose pode dar certo. Os centros eleitorais - classes médias tradicionais - não embarcarão nessa canoa. Mas a lábia tem grandes chances de engabelar as massas periféricas. O fator Lula é o maior diferencial da candidata Dilma.
Quanto mais?
O fator Lula pesa quanto? 10% a mais? 20% a mais? 30% a mais? É o cálculo.
Profusão de leis
De 2000 a 2010, o país criou 75.517 leis, somando legislações ordinárias e complementares estaduais e Federais, além de decretos Federais. Isso dá 6.865 leis por ano - o que significa que foram criadas 18 leis a cada dia, desde 2000. Das leis criadas entre 2000 e 2010, 68.956 são estaduais e 6.561, Federais. MG foi o maior legislador do período: criou 6.038 leis. Em seguida, BA, criadora de 4.467 leis; RS, com 4.281; SC, com 4.114; e SP, com 4.111. O RJ criou 2.554 leis nesse período.
Oposições sem discurso
As oposições, por sua vez, ainda não encontraram o fio da meada. Falta eixo no discurso. O que se ouve e se vê é uma expressão adjetivada, não substantivada. Quais são as ideias das oposições, os programas, os projetos ? Mudar é uma promessa genérica. Falta escopo. Conteúdo. O adjetivo só gera eficácia em ambiente de muita devastação econômica, inflação alta, desemprego em massa. Nesse caso, a indignação invade os espíritos e a campanha entra em largas estradas emotivas. A essa altura, os prognósticos não são catastróficos. O país não desceria o despenhadeiro.
Despenhadeiro
País no despenhadeiro seria: inflação acima de dois dígitos; desemprego em massa; categorias nas ruas exigindo aumento de salários; greves gerais.
O programa "Mais Médicos"
O programa Mais Médicos terá o peso do Bolsa Família no governo Lula. Esse Bolsa Cabeça será apresentado como a alternativa aprovada pelo povão. Vamos ver nos programas eleitorais da candidata muitos depoimentos de gente humilde, falando da generosidade, do bom atendimento, da disposição dos médicos estrangeiros. Os médicos brasileiros serão cabos eleitorais das oposições, mas apenas reforçarão a convicção de eleitores que já não votariam no PT. Esse programa pavimentará a estrada do médico Alexandre Padilha, candidato ao governo de SP. Aqui, o PT conseguirá seus tradicionais 30% de votos. Poderá, até, subir de patamar. Tudo vai depender do clima econômico.
Efeito sanfona
O programa Mais Médicos provocará o efeito sanfona: das extremidades para o centro. Alta aprovação de Dilma nas margens fazendo pressão sobre o centro.
Goiás e Paraná
GO e PR são dois colégios eleitorais importantes. Administrados por governadores tucanos, seriam, teoricamente, redutos de grandes votações para o candidato Aécio Neves. As campanhas estaduais, porém, contarão com candidatos oposicionistas com forte diferencial. No PR, a candidatura da ministra, senadora Gleisi, se apresenta como novidade. Em GO, a candidatura do empresário Junior, do Friboi, que está no PMDB, simboliza o novo. Não será fácil para o PSDB.
Nordeste
A hipótese é a de que o governador Eduardo Campos consiga uma grande votação no Nordeste. Mais uma vez, as correntes eleitorais seguirão as ondas avolumadas pelas candidaturas estaduais. No CE, por exemplo, os irmãos Cid e Ciro Gomes, que devem entrar no PROS ou no PDT (cuja vantagem é a de estar estruturado no Estado), engrossarão a corrente da presidente Dilma, seja qual for o candidato que apoiarão ao governo do Estado. Eles dominam a política cearense. Como já salientei acima, a região nordestina é o paraíso dos votos do governismo Federal.
Lula lá
E Lula, hein? Como será o palanque de Lula em sua terrinha, que é a mesma do governador Eduardo Campos? Este consultor tem a impressão de que Lula apagará um bocado de votos que iria para a conta de Dudu Beleza. Que anda anunciando ter chegado a hora de "fazer diferente".
A imagem de Hollande
François Hollande, presidente da França, passou por uma grande mudança de imagem. Consultou o jornalista Claude Sérillon sobre como remodelar sua imagem. Este buscou o conselho de dois peritos. Três soluções foram apresentadas: vigiar sua linguagem (por exemplo, jamais dizer "eu creio"); cuidar da atitude corporal (por exemplo, dando atenção à preparação física e bebendo água em lugar de álcool); e atentar para a roupa (por exemplo, evitar o nó de gravata simples e a aparência negligenciada.
Caráter
"Aquele que domina a sua cólera, domina seu pior inimigo". Kung FuTse, Confucio
"Aquele que não tem caráter não é um homem: é uma coisa". Nicolás-Sebastien Roch Chamfort
"O talento se cultiva na solidão; o caráter se forma nas tempestuosas voltas do mundo". Johann Wolfgang von Goethe
"O verdadeiro caráter sempre aparece nas grandes circunstâncias". Napoleão Bonaparte
"Tentar modificar o caráter de um homem é como tentar ensinar a uma ovelha como se atirar de um carro". Georg C. Lichtenberg
"A firmeza de caráter se traça através de uma regra de conduta". Guillermo Palau
Conselho às oposições
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado aos empresários. Hoje, dirige-se às oposições:
1. Oposição significa contraponto, alternativa, outra visão na política. Pressupõe, no caso dos partidos de oposição, a produção de um programa para o país, com estratégias de desenvolvimento no curto, médio e longo prazos.
2. Pouco adiantará expressar um discurso, pretensamente de oposição, com generalidades e adjetivos genéricos. Mudanças de estilos e avanços em programas implicam conteúdos densos em todos os campos: economia, política, social, cultural, gestão e administração, etc.
3. Ser de oposição significa ter coragem de enfrentar desafios, de não se submeter às pressões de grupamentos corporativos, ter independência para decidir e escolher as vias necessárias ao bem-estar da Nação.
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(Gaudêncio Torquato)
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