Peibufo, o maior assassino
Abro a Coluna com uma historinha de PE.
Em um mês "bro", setembro de 1998, o economista e professor Joel de Hollanda, ex-secretário da Educação de PE, fazia campanha pela reeleição a deputado Federal pelo PFL, hoje DEM. Corria pelas estradas poeirentas de São José do Egito, entre 12 e 13 horas. Calor infernal, margeando os 40ºC. Transpirava por todos os poros. Chegando à cidade, refugiou-se à sombra de frondosa árvore na praça da matriz. Ao seu lado, sentado no banco, um sujeito amarelo, muito magro, miúdo, fala mansa. Diante da figura e cheio de cansaço, arrastou um papo. Pescava um votinho. Neste instante, seu cabo eleitoral, voltando com uma garrafa de água, viu a cena e ficou pálido. Começou a fazer sinal para o deputado. Disfarçava para o amarelinho não perceber a agonia. Joel entendeu, disfarçou e pediu licença ao companheiro de banco para se retirar. Foi ao encontro do cabo eleitoral. Mais que depressa, este abriu a boca para confessar:
- Deputado, este cara é o Peibufo, o maior assassino da região. Tem na cartucheira mais de 100 mortes gravadas. Mata qualquer um por qualquer trocado. Pelo amor de Deus, se afaste desse cangaceiro antes que ele se enfastie do senhor e lhe meta chumbo.
Joel ouviu com atenção. Fixou os olhos no sujeito e, confiando na lábia de educador e político calejado, voltou ao banco e foi direto ao assunto.
- Moço! Como é que o senhor tem coragem de matar uma pessoa?
De pronto, Peibufo resmungou:
- Doutor, eu não mato por coragem, não! Só mato por costume!
(Historinha contada por Carlos Alberto Pereira de Albuquerque)
Essa ninguém previa
Pois é, a entrada de Marina no PSB foi a bomba política do ano. Poderia até ter sido uma estratégia articulada ao longo dos últimos meses, mas a decisão, tomada no último minuto do segundo tempo do jogo, pegou todos de surpresa. É claro que Marina, na entrevista dada pouco antes, apontara uma pista : desejava quebrar a polarização entre tucanos e petistas. Ou seja, seria candidata. A pista se mostrou correta. Quer romper a polarização, mas com Eduardo Campos sendo o candidato. Ela como candidata a vice. Conseguirá? Vamos à análise.
Transferência? Coisa complicada
Vota-se nessas plagas em pessoas, muito pouco em partidos. Portanto, há de se distinguir um voto em Marina do voto de Eduardo Campos. Cada qual com seu bornal de votos. E a transferência de votos dela para ele? Pouco provável. Digamos que uns 10% a 15% de votos sejam transferidos para o conjunto da chapa. E os outros? Parcela boa da votação de Marina tende a migrar para Dilma Rousseff. Consideremos, nesse caso, a esfera ideológica em que ela e Dilma se abrigam. É a mesma, entre centro-esquerda e esquerda. Eduardo Campos também está circunscrito nesse espaço. Mas a tendência maior é a de migração de votos para a presidente. Principalmente em um ciclo de economia sob controle, inflação abaixo dos dois dígitos e empregabilidade mantida.
Aécio, maior perdedor
Quem perde mais no jogo que está sendo jogado é Aécio Neves. Encarna mais a oposição do que Eduardo Campos, que pertencia, até pouco tempo atrás, ao governo Dilma. Campos fala em melhorar, fazer melhor as coisas. Aécio prega mudança mais radical. Não há um clamor geral por mudanças radicais. As exigências apontam para a qualificação de serviços públicos, principalmente nas áreas da saúde, educação, transportes urbanos e segurança pública. Portanto, a tendência é a de manutenção das vigas macroeconômicas. Aécio quer polarizar.
Eduardo cresce?
Pode haver crescimento de Eduardo Campos, sim, mas em um contexto de insatisfação crescente. Vai depender, ainda, da visibilidade que alcance. Antes, precisa arrumar os parafusos da aliança com Marina. Primeiro, os empresários que simpatizam com sua candidatura continuarão com ele ? Não aceitam por completo Marina Silva. Esta, por seu lado, teve uma decepção com parte da bancada do PSB, que votou contra sua visão no projeto do Código Florestal. Os socialistas de Campos fecharam questão com a bancada ruralista. Campos vai precisar de Marina para se infiltrar nos colégios eleitorais do Sudeste. Um desafio e tanto.
Uma inversão na chapa?
É possível haver uma inversão na chapa. Digamos que, no primeiro trimestre de 2014, Marina continue com alta visibilidade e bons índices de intenção de voto, algo como 25%; e Eduardo Campos, mesmo sob o empuxo de Marina, não consiga uma alavancagem que o posicione como segundo colocado. Será que a chapa se mantém? A lógica, nesse caso, aponta para uma inversão, com Marina assumindo a cabeça da chapa?
Lula, metamorfose
Há, ainda, Lula. Que já prometeu ser a metamorfose ambulante da campanha. Puxará as massas para o espaço de Dilma. No Nordeste, tende a ser o maior puxador de votos de sua pupila. Seu imbróglio maior será SP, o maior colégio eleitoral do país, e que tem um voto menos emotivo e mais racional. As classes médias paulistas têm um canal muito estreito com o tucanato, apesar da sensação de esgotamento do ciclo tucano. 20 anos de poder corroem os melhores materiais.
Black blocs
Pelo andar da carruagem, as manifestações de rua tendem a continuar. Se hoje, fazem barulho nos centros do RJ e SP, imaginemos os meados de 2014. O imprevisível estará na esfera desses grupamentos mascarados, que se intitulam de black blocs. Os movimentos de rua começam pacíficos e acabam com depredações de patrimônios público e privado. As polícias reagem tardiamente, quando o quebra-quebra assume proporções fantásticas. Não há prevenção e isso é um grande erro. Governos parem tíbios e tímidos, denotando receio de fazer uma repressão mais dura. O Brasil vive efetivamente uma crise de autoridade.
Enxugamento na Petrobras
Petrobras era um gigante. Hoje, um gigante que vê buracos por todos os lados. Esfacela-se. A última nota da Petrobras é sobre o enxugamento de sua estrutura. Fechará 38 escritórios no exterior. Velhos tempos de glórias. Novos tempos de aflição.
A moldura partidária
A migração partidária apenas balanceou as bancadas, sem alterar as fisionomias situacionista e oposicionista na Câmara. O governo Dilma continua com o rolo compressor, formado por 384 parlamentares. Sobram 129 na base oposicionista, se considerarmos que o PSB, de Eduardo Campos, com 22, tende a formar com o bloco de oposição. Quem esperava uma debandada na direção oposicionista ficou a ver navios.
O novo quadro
1. Governo
PT, de 87, ficou com 86; PMDB, de 83, ficou com 77; PSD, de 48, ficou com 41; PP, de 40, ficou com 43; PR, de 37, ficou com 36; PDT, de 28, ficou com 19; PSB, de 19, ficou com 22; PTB, de 17, ficou com 18; PSC, de 16, ficou com 14; PC do B permaneceu com 13; PV, de 10, ficou com 9; PRB, de 10, ficou com 11; PT do B permaneceu com 3; PRP permaneceu com 2; PHS, de 1, ficou com nenhum.
2. Oposição
PSDB, de 50, ficou com 46; DEM, de 27, ficou com 25; PPS, de 11, ficou com 8; PSOL permaneceu com 3; PMN permaneceu com 3; PEN, de 1, ficou com nenhum.
3. Novos
Solidariedade - 21
PROS - 14
Na Academia de História
Registro, com alegria, meu ingresso, ontem, na Academia Paulista de História. Assumo a vaga deixada pelo grande professor de psicologia, Samuel Pfromm Netto, que conheci, desde os idos de 1975, quando a Proal, empresa da qual era sócio, promoveu um Simpósio sobre TV e Criança. Fui o coordenador desse evento. Hoje, nossas histórias novamente se cruzam. O patrono da Cadeira nº 7, que ocupo, é Alexandre de Gusmão, o criador do Tratado de Madri, pelo qual o Brasil ganhou sua atual configuração geográfica. Gusmão é considerado o "avô da diplomacia brasileira".
Canuto
Canuto, rei dos vândalos, mandando justiçar uma quadrilha, e pondo um deles embargos de que era parente Del-Rei, respondeu:
- Pois se provar ser nosso parente razão é que lhe façam a forca mais alta.
(Padre Manuel Bernardes)
PS. Os vândalos, hoje, são de outra espécie.
Conselho a Eduardo Campos
Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes, membros dos Poderes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado às oposições. Hoje, volta sua atenção ao governador de PE, Eduardo Campos:
1. Vossa Excelência merece congratulações pela jogada de mestre, como pode ser interpretada a parceria com Marina Silva. Mas não pense que transferência de votos ocorre de maneira natural entre parceiros. Será muito difícil que os votos de Marina sejam depositados em seu bornal.
2. Procure aproveitar a parceria com a ícone da Sustentabilidade para entrar em espaços que ainda não o conhecem bem, como as regiões Sudeste e Sul. Mas deixe para tomar uma decisão sobre a real composição de sua chapa mais adiante, no primeiro trimestre de 2014.
3. Se Marina continuar como segunda colocada e Vossa Excelência em quarto lugar, o lógico seria ceder o espaço à acreana. Seria um gesto de boa política e boas práticas.
(Gaudêncio Torquato)
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