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terça-feira, 8 de outubro de 2013
OBSERVATÓRIO
“A Constituição mudou na sua elaboração, mudou na definição dos poderes, mudou restaurando a federação, mudou quando quer mudar o homem em cidadão. E só é cidadão quem ganha justo e suficiente salário, lê e escreve, mora, tem hospital e remédio, lazer quando descansa.” Com uma oração heróica e histórica, Ulysses Guimarães anunciou, em 5 de outubro de 1988, a nova Carta Magna Brasileira. No dia em que celebrava os 25 anos da Constituição Cidadã o mundo político nacional foi surpreendido com a filiação da ex-senadora Marina Silva ao Partido Socialista Brasileiro, o PSB. Esse gesto também foi permeado de simbolismos.
MARINA
Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, nascida em 8 de fevereiro de 1958 na pequena comunidade de Breu Velho, no Seringal Bagaço, Acre, possui uma biografia que fala por si mesma. Seus pais, de raízes nordestinas, tiveram 11 filhos, dos quais três faleceram. A mãe morreu quando Marina tinha apenas 15 anos. A vida no seringal era difícil. Marina conta que “acordava sempre às 4h da manhã, cortava uns gravetos, pegava uns pedaços de seringuins, acendia o fogo, fazia o café e uma salada de banana perriá com ovo. Esse era o nosso café da manhã”. Seu histórico de saúde ainda inclui hepatite aos 16 anos (a primeira das três que foi acometida), cinco malárias e uma leishmaniose. Destoando da aparente fragilidade, é detentora de uma grande força espiritual e poder de superação. Por tudo isso se tornou a principal líder sócio-ambiental do País.
MARINA II
Marina se notabilizou nacionalmente na eleição passada ao obter uma votação que superou todos os prognósticos. Inseriu-se, com leveza e liberdade, no pesado e amarrado cenário do debate político. Sentindo o apelo popular por uma nova política, desprovida das vicissitudes que grassam na prática convencional, Marina iniciou um movimento pela criação do partido Rede Sustentabilidade. Teve o projeto frustrado pela ação de boicote de adversários políticos combinada com uma decisão judicial que priorizou a forma (burocracia) em detrimento do conteúdo (democracia).
MARINA III
Mulher de extrema fé, Marina exala espiritualidade sem fazer proselitismo religioso. Isso a faz protagonista de um estilo político que privilegia o desprendimento, o desapego aos caminhos convencionais e, sobretudo, uma maneira toda especial de dialogar com os opositores. Marina trata os que estão em trincheiras opostas à dela com respeito e sem a ira característica dos contendores políticos. Foi por isso que, sábado passado, publicamente reconheceu méritos em Fernando Henrique e Lula, algo que os aliados de ambos não fazem. Que falta faz esse tipo de postura!!!...
CÂMARA
Precedida de intensa movimentação nos bastidores, a Câmara Municipal de Crateús apreciou o Projeto de Lei que trata da mudança de regime jurídico dos servidores municipais. Os servidores, por meio dos Sindicatos dos Servidores e Professores, se uniram nos protestos. A cidade parou para assistir. Por maioria os senhores Vereadores rejeitaram o Projeto do Executivo Municipal. Votaram a favor: Arimilson, Cleber Bonfim, João de Deus, Paulo Teles, Adriano das Flores e Aldairton Carvalho. Votaram contra: Conegundes Soares, Arnaldo Minelvino e Antônio Luiz Jr (DEM), Alesson Coelho e Cabo Bonfim, do PSDB, Bibi Apolônio (PMDB), José Humberto (PCdoB), Eva (PSL) e Toré (PV). Para quem está distante, soa estranho o resultado: ganhou a manutenção do regime celetista (CLT) em detrimento do regime estatutário. Em tese, os doutrinadores são de opinião favorável a que o regime mais adequado aos entes públicos é o estatutário. Por que a derrota, então?
A RAIZ
Não se pode analisar esse assunto isoladamente. Na raiz desse problema está uma questão maior: a frustração do povo de Crateús com os rumos da gestão. Quando foi eleito a primeira vez, em 2008, o doutor Carlos Felipe era a encarnação da novidade, o caudatário das aspirações superiores da gente crateuense por uma nova política, higienizada e alvissareira. Ele, porém, imaginou que acumulando índices de volumes de obras superiores aos que o antecederam se firmaria para a história. Ledo engano. O desejo do povo era – e continua sendo – ver um Prefeito que, além de fazer as obras materiais necessárias, faça sobretudo a renovação das práticas, a revolução dos costumes.
A RAIZ II
Um dos primeiros testes a que o atual Prefeito foi submetido ocorreu logo no início do primeiro mandato: os professores o procuraram em busca de discutir a pauta anual de reivindicações. Ao invés de ouvi-los respeitosamente, o Prefeito resolveu impor a própria opinião. Imaginou que a larga maioria de votos obtida era um cheque em branco para os quatro anos. Substituiu a conversação pela imposição. Enfrentou uma greve dolorosa e, desde então, os servidores passaram a lhe olhar com desconfiança. Aquele episódio – e outros que o sucederam - criou feridas ainda não cicatrizadas. A lição que fica é: há uma crise de credibilidade da gestão!
A RAIZ III
Em momento posterior à votação, o Prefeito se pronunciou através de uma emissora de rádio. Fez uma fala um tanto amarga, carregada de ressentimentos e reveladora do poço de contradições em que se encontra mergulhado. Sem reconhecer equívocos, culpou o PSOL pela derrota. Falou que o Município ia ter um prejuízo de quinhentos mil reais. De onde? Do pagamento de FGTS. Paciência, isso não é prejuízo, mas conquista social do trabalhador. Todos os Prefeitos anteriores pagaram sem reclamar. Aliás, é obrigação legal no regime celetista. Disse que não era perseguidor, mas revelou que ia tratar de maneira diferenciada os vereadores. Ou seja, vai privilegiar os ‘fiéis’ e castigar os ‘infiéis’. Isso, por óbvio, é perseguição. Ora, o Chefe do Executivo não é o Prefeito de uma parte das pessoas, mas de todos. Ele não pode discriminar nenhum cidadão, muito menos os representantes do povo. Todos nós temos erros, defeitos e caímos em contradição. Necessitamos, vez por outra, de um momento de introspecção: reconhecer as falhas e buscar a superação. Um pouco de humildade faz bem ao coração. O prefeito, também, precisa exercitar essa lição.
PARA REFLETIR
“Quero o amor por razão./ Sendo assim não terei arma,/ Só assim não farei a guerra./ E assim fará sentido/ Meu passar por esta terra./ Sou o arco, sou a flecha,/ Sou todo em metades,/ Sou as partes que se mesclam/ Nos propósitos e nas vontades./ Sou o arco por primeiro,/ Sou a flecha por segundo,/ Sou a flecha por primeiro,/ Sou o arco por segundo./ Buscai o melhor de mim/ E terás o melhor de mim./ Darei o melhor de mim/ Onde precisar o mundo.” (Marina Silva)
(Júnior Bonfim, na edição de hoje do Jornal Gazeta do Centro Oeste, Crateús, Ceará)
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