Este espaço se quer simples: um altar à deusa Themis, um forno que libere pão para o espírito, uma mesa para erguer um brinde à ética, uma calçada onde se partilhe sonho e poesia!
sábado, 31 de janeiro de 2009
OBSERVATÓRIO
Recebi, outro dia, um telefonema de um amigo de Crateús, que foi logo disparando: - “Eita, Júnior, como o Prefeito está desgastado! Mal começou a administração e já tem um montão de gente frustrada. O homem dizia uma coisa e está fazendo outra”. Referia-se o amigo sobre o início de gestão do atual Prefeito Carlos Felipe. Convenhamos: essa película já foi exibida várias vezes. Qual a razão dessa permanente alternância de amor e ódio, paixão e desilusão, astres e desastres, empolgação e frustração que há dominado a atmosfera política local?!
MEA CULPA
Antes de qualquer coisa, quero realizar o meu ato penitencial: já fui ator resoluto no jogral da política local. Já participei, até como roteirista, de muitos e equivocados enredos. Se atuei, como trovador, dessa lira desafinada, acho que posso falar com um mínimo de propriedade sobre o tema.
DISTINÇÃO NECESSÁRIA
Penso que, enquanto tivermos dificuldade de distinguir, na fruta da vida, o miolo da casca, ou seja, a aparência da essência, vamos continuar amargando essas desventuras. Certa feita, em entrevista de rádio, mencionei que em Crateús estava na hora de firmarmos um pacto relacional e suplantarmos esse maniqueísmo e essa hipocrisia entre os grupos políticos locais de um se julgar melhor ou superior ao outro, até porque todos já estiveram juntos em mesmo palanque. Ou melhor: todo mundo já esteve no tablado de todo mundo.
1988
Se lançarmos o olhar, por exemplo, sobre as duas últimas décadas, vamos ter a confirmação dessa assertiva. Em 1988, dois nomes magnetizavam a disputa: Zé Almir e Rezende Filho. Zé Almir era, à época, o ‘novo’ e fez uma campanha virulenta contra o ‘filhote de coronel’ Rezende Filho. O que ninguém ressaltava era que, ambos, haviam militado juntos na Arena Preta, comandada pelo tio do primeiro e pelo pai do segundo.
1992
Em 1992, Nenzé polarizou a refrega com Marcelo Machado. Ambos, também, eram correligionários no PMDB até poucos anos antes.
1996
Caso similar ocorreu em 1996: Paulo Nazareno, apoiado pelas grandes lideranças locais, guerreou com Zé Maria Pedreiro, seu antigo colega de militância partidária.
2000
Em 2000, Zé Almir e Nenzé, que haviam pedido votos para Paulo Nazareno quatro anos antes, disputaram com este o comando do Paço Municipal.
2004
Em 2004, foi a vez de Paulo Nazareno suplicar o sufrágio popular para Carlos Felipe, que acabou sofrendo um revés para Zé Almir.
2008
Em 2008, Carlos Felipe se elege contra o deputado Nenen Coelho, por quem havia peregrinado pedindo votos dois anos antes.
O DEPOIS
É sempre assim: uma hora, amigos, hinos de aclamação; outra hora, inimigos, gritos de rejeição. Nessa última eleição, o doutor Carlos Felipe se vendeu como o puro, o incorruptível, o imaculado, o inatingível, o transformador, o “novo”. Em forma de avalanche, a grande maioria do povo, muito mais cansada das velhas lideranças do que sedenta de práticas efetivamente saudáveis e revolucionárias de condução da máquina pública, apostou nele. E o que vemos? Mais uma vez, o vírus da frustração se alastrando...
O MIOLO
Por quê? Porque olhamos apenas para a casca da fruta e não para o miolo. Olhamos para a aparência e não para a essência. Urge entendermos que a raiz da questão não está fora, mas dentro. Dentro de cada um de nós. Antes de lançarmos petardos contra a malversação do dinheiro público, devemos nos interrogar se somos verdadeiramente corretos com o que o pouco que nos toca administrar. Impende indagarmos: no lugar de outrem, seríamos diferentes?! Enquanto não entendermos que a mudança do mundo começa, primeiro, na alma, no miolo, na consciência de cada um de nós, sempre estaremos transferindo culpas - depositando nos outros minas de esperança e depois, não raro, soltando larvas de maldição e explodindo bombas de frustração. Temos que seguir aquele conselho do lar: o bom exemplo começa de casa.
PARA REFLETIR
A mãe trouxe seu filho ao Mahatma Gandhi. Ela implorou: - “Por favor, Mahatma. Diga ao meu filho que ele pare de comer açúcar”. Gandhi fez uma pausa e disse: - “Traga seu filho de volta em duas semanas”. Confusa, a mulher agradeceu e disse que faria o que o Mahatma pediu. Duas semanas mais tarde, ela retornou com seu filho. Gandhi olhou o jovem nos olhos e disse: - “Pare de comer açúcar”. Agradecida, mas inconformada, a mulher perguntou: - “Mahatma, por que o senhor me pediu para trazê-lo em duas semanas? O senhor poderia ter dito a ele, como fez agora, há duas semanas atrás”. Gandhi respondeu: - “Duas semanas atrás, eu estava comendo açúcar”.
(Júnior Bonfim, in Gazeta do Centro Oeste)
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Um comentário:
Seu comentário sobre as nossas lideranças não poderia ser melhor detalhada,vc, como participantes de todos estes governo, bem sabe da intenção de cada um.
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