terça-feira, 16 de junho de 2009

DISCURSO - ACADEMIA METROPOLITANA DE LETRAS DE FORTALEZA




AUTORIDADES QUE COMPÕEM A MESA,
SENHORAS E SENHORES:

BOA NOITE!

Antes do mais, permitam-me que comece essa fala com a alma genuflexa e o coração agradecido. Gratia plena ao que escreveu o Livro da Criação e nos revelou que “no princípio era o verbo e o verbo se fez carne”.

Cativado pela deferência do convite – primeiro do Presidente, depois do conjunto dos integrantes do nosso Sodalício – para pronunciar neste momento as sílabas ternas ou as palavras efusivas de saudação aos que estão a prestar juramento aos nossos Estatutos, jamais poderia me escusar ao chamamento.

A celebração de hoje representa um congraçamento mágico, o coroamento litúrgico, a mística culminância de uma confluência auspiciosa, plena de eventos carregados de significações.

Nossa Academia renova aqui o rito sacramental originário, asperge outra vez a água benta da pia batismal, ingressa definitivamente no território da maturidade e ascende serenamente aos píncaros da completude.

O que poderia ser um imperativo legal, para nós veio a ser um indelével movimento pascal: ao invés de AMLECE (ACADEMIA MUNICIPALISTA DE LETRAS DO ESTADO DO CEARÁ) agora somos AMLEF (ACADEMIA METROPOLITANA DE LETRAS DE FORTALEZA). Na dialética transcendental do nome, estamos sepultando qualquer erupção de rivalidade e estimulando o entrelaçamento definitivo entre as agremiações literárias locais. Aliás, como bem lembra Robert Graves, “outrora a poesia fora um alerta ao homem de que deveria viver em harmonia com todos os seres viventes que o circundam, por obediência à dona da casa que é a Deusa Branca”.

O memorável ato desta noite marca também o anúncio do nosso novo habitat. Este Palácio da Luz, cujas paredes guardam a argamassa que solidificou formosas edificações à cultura e ainda exalam o bálsamo imorredouro da paixão literária, é também o espaço onde destarte nos reuniremos para tecer o bordado das nossas bandeiras de ação. Sobre este piso sagrado, templo maior das escrituras cearenses, haveremos de prestar reverência e cultuar as sete filhas de Zeus. À Academia Cearense de Letras que, como uma matriarca generosa, abre o seu colo para acolher a caçula das Academias, o nosso respeitoso agradecimento.

Logo mais, haverá de sentar à cadeira de Vice-Presidente o valoroso, o sensível, o agregador colega Seridião Montenegro. Ombreado com o Presidente Anízio Araújo, fortalecerá nossa caminhada progressista e evolucionista.

Na seqüência, Marcos José da Silva, um carioca de fulgurante inteligência e tocante sinceridade, de extrema lhaneza e contagiante humildade, que está à frente da maior potência maçônica da América Latina, terá o seu nome inscrito no nosso frontispício de honra.

A tudo isso se soma o ingresso de quatro novos acadêmicos:

Francisco de Assis Almeida Filho, um engenheiro eletricista que se deixou energizar pelo engenho fantástico da sedutora seara mercadológica da produção livresca, ocupará a cadeira 13, do menestrel Jáder de Carvalho, em cujas veias deslizavam o sangue telúrico do cearense e a água inteligente do Rio Jaguaribe. Socializador de histórias interessantes, preside a Associação Cearense de Escritores. Parafraseando Guevara, Assis Almeida descobriu na sua Premius que “hay que empreender pero si perder el amor por los libros jamás”;

José Aristides Braga, economista de formação, professor por convicção, orador por paixão, desenvolto maratonista do calçadão da iniciativa privada, traz para o nosso convívio a sua reluzente insígnia de bibliófilo. Sentará na cadeira 33, cujo padroeiro é o seu primo Antonio Tabosa Braga, ou Monsenhor Tabosa, que dá nome a uma das mais destacadas avenidas desta urbe.

Roberto Feijó Ribeiro de Sousa, intelectual engajado, jornalista de escol, perscrutador incansável de minas biográficas, colecionador de pedras preciosas da toponímia e da antroponímia, acumulou invejável patrimônio cultural que agora coloca à disposição da nossa sociedade literária. Sentado na cadeira 31, de Antonio Bezerra de Menezes, fundador do Instituto do Ceará, haverá de enternecer nossas Madrugadas de Lixo e Luxo;

Júlio Jorge Albuquerque Lóssio, doutor em odontologia pela USP, cavaleiro andante dos prados Rotarianos, estudioso que carrega no alforje quase duas centenas de trabalhos publicados em Congressos e Simpósios. Na cadeira 38 do nosso grêmio, confeccionada com a madeira da sua própria vegetação genealógica, receberá a emanação invisível, os fluídos paternais do grande Ailton Gondim Lóssio.

Cruzamo-nos num instante em que o planeta se vê diante de uma verdadeira encruzilhada, em que é necessário encetarmos uma cruzada.

Nestes tempos paradoxais - que alternam simultaneamente momentos de límpidos horizontes e céus nebulosos, em que emparelhado com uma aura de aparente prosperidade desce um raio de imensurável crise – o que nos toca buscar?

Há que se extrair o óleo fino e aromático da árvore vital, recolher a seiva especial das coisas, apalpar a raiz fundamental de tudo. Eis o que, possivelmente, todos deveríamos fazer: colocar na ribalta as lições que essa quadra de inquietação reflexiva nos oferece.

Penso que, por sobre essa instabilidade financeira que atormenta os coletivos humanos de todos os matizes, palpita um desassossego civilizacional alimentado por razões muito mais profundas, cujas luzes só emergirão se nos dispusermos a ver o essencial. Este, à Saint Exupéry, só vemos bem com o coração.

Como abrir, então, as pálpebras delicadas do núcleo que comanda a consciência, sedia os sentimentos e produz as emoções?

A vereda a ser palmilhada, penso, é a do resgate do essencial. O essencial é que, amantes das letras ou cultores da oralidade, todos precisamos oferecer nosso modesto contributo ao redesenho humano do planeta, à exaltação das virtudes, ao exercício da coerência, à cultura de paz.

No nosso caso, vem de além-mar o ensinamento de que o orador e o escritor estão unidos pelo mesmo fio desafiador: alimentar o laço matrimonial entre prédica e prática, entre a palavra gerada (seja ela escrita ou falada) e a ação desencadeada. Sobre a arte da oratória, o romano Cícero pregava que “o orador perfeito seria o homem perfeito”. No que tange à colméia da escrita, os franceses, por sua vez, patentearam que “bem escreve quem bem pensa”.

Demais disso, avisamos: ao gosto de Thiago de Mello, "Não somos melhores nem piores. Somos iguais. Melhor é a nossa causa."

Fiquem certos que, antes de tudo, compomos uma família, pois somos amigos. Shakespeare foi feliz quando lembrou que “o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher”.

Sejam bem vindos, amigos do peito, irmãos da alma!

Adentrai, companheiros de sonho!

Vinde para, de mãos conjugadas, compartilharmos o pão da fraternidade, brindarmos o vinho da poesia, nos rendermos aos encantos de um bom conto, tecermos loas à liberdade, sorvermos o manjar da boa prosa e cedermos aos movimentos dos nossos corações.


Obrigado!

(Discurso proferido por Júnior Bonfim em Sessão Solene da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, ocorrida em 15 de junho de 2009, no Palácio da Luz, sede da Academia Cearense de Letras).

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