sexta-feira, 19 de junho de 2009

OBSERVATÓRIO


Proprietário de um império de quase cem jornais, revistas, estações de rádio e televisão - os Diários Associados - e fundador do Museu de Arte de São Paulo - MASP, Assis Chateaubriand, ou apenas Chatô (como ficou imortalizado na obra de Fernando Morais), sempre atuou na política, nos negócios e nas artes de modo intenso e decisivo. Detentor de verdadeira compulsão empreendedora, tornou-se um dos brasileiros mais poderosos e controvertidos do século passado. Mais temido do que amado, sua complexa e muitas vezes divertida trajetória está associada de modo indissolúvel à vida cultural e política do país entre as décadas de 1910 e 1960. Mas antes e, sobretudo, era jornalista. Mesmo desfrutando da intimidade dos palácios governamentais, sempre resistiu quando a tesoura da censura quis alcançar as linotipos que comandava.


NOSSA LINHA I


Vez por outra, em que pese a leveza das postagens que fazemos, sentimos que opiniões esposadas nesta Coluna, causam incômodo aos que provisoriamente detém as rédeas do poder local. (Digo provisoriamente porque o poder é efêmero ou passageiro, malgrado alguns o pensarem eterno). E isso termina por desaguar no colo daquele que comanda o jornal: César Vale. Embora evite me revelar, sinto por intuição. No entanto, como todos os que fizeram história nessa seara, César sempre nos confortou com os auspícios da incondicional liberdade. Nunca uma vírgula – inclusive se posta fora do lugar – foi por ele alterada. Isso é um ato de grandeza que merece registro. Porque, via de regra, colunistas são pautados pelas direções de jornais. Outra é a linha aqui seguida. Por isso, vale à pena relembrar: as reflexões compartilhadas nesta moldura têm um único responsável, o seu subscritor.

NOSSA LINHA II

Permitam-me que confesse um segredo: desde quando comecei a rabiscar esse espaço, as matérias são enviadas sempre no último dia de fechamento da edição. Na maioria dos casos, o editor só as lê quando saem da gráfica, após a impressão. Isso apenas corrobora o que acabamos de registrar. Sucede que a nossa linha argumentativa sempre procurou seguir a mesma trilha de posicionamento: oposição com proposição. Sempre travamos o debate na arena das idéias; nunca deslizamos para o ringue pessoal. Ao invés de pessoas, atacamos projetos. Antes de nos deleitarmos com a rodovia pavimentada da crítica, esforçamo-nos para palmilhar a vereda íngreme do aconselhamento. E mais: as sílabas aqui dispostas sempre procuram passar ao largo da soda cáustica da destruição; são sempre ligadas pela argamassa da construção.

NOSSA LINHA III

Querem exemplos concretos? Quem está no poder sofre a tentação de se achar o inventor da roda, o princípio de tudo. É famosa a frase do Presidente Lula: “nunca na história deste País...” como se os outros nada tivessem feito. Ocorre que muitos frutos que ele colhe (como a estabilidade da moeda, o equilíbrio das contas públicas, os programas de transferência de renda etc) foram semeados por seus antecessores... Outro dia, o Prefeito anunciou, com estardalhaço característico desses momentos, que estava pavimentando todas as ruas do bairro Cidade 2000. Em verdade, o que sua gestão está fazendo é concluir, porque as ruas principais do bairro foram pavimentadas em gestões anteriores. Por isso que os antigos diziam que “cautela e caldo de galinha não faz mal a ninguém”...

NOSSA LINHA IV

Outro exemplo. Passando pelo bairro Campo Velho, à margem da CE que liga Crateús a Novo Oriente, há uma pequena escola pública municipal (de nome Furtado Leite) sendo reformada. À primeira vista, a medida soa simpática. Vê-se que a Administração está trabalhando. Sucede que, quando levantamos os olhos, divisamos que a alguns metros dali, encontra-se erigido um enorme e moderno complexo educacional formado pela escola Maria José Bezerra de Melo e pelo Liceu Manoel Mano, além de uma unidade de semi-liberdade para adolescentes. Pergunta-se: esta obra preenche os requisitos de urgência e necessidade? Ou seria mais recomendável investir no fortalecimento da ampla infra-estrutura já existente?


ACADEMIA I

Crateús viveu, no sábado passado, uma noite memorável de gáudio cultural. Em solenidade realizada no teatro Rosa Morais, foi realizada a liturgia sacramental de batizado da mais nova agremiação literária do País: a Academia de Letras de Crateús – ALC. Composto por vinte e dois acadêmicos, o Sodalício de Letras de Crateús nasce sob o influxo de emanações positivas e haverá de ser um dínamo fermentador da atividade literária local. A primeira Diretoria tem Elias de França como Presidente, este escriba como Vice, Ericson Fabrício como Secretário, Lourival Veras na Tesouraria e a Professora Maria da Conceição (Nêga) como Diretora de Relações Públicas. O Conselho Fiscal é composto por César Vale, Flávio Machado, Lucas Evangelista e Raimundinho Cândido. (Vide discurso na postagem abaixo).

ACADEMIA II

O que mais impactou o público presente – que, aliás, lotou as dependências do Teatro – foi a presença de duas figuras que, mesmo sob o peso dos anos, ainda revelam disposição para cultuar o belo. Reitores do saber e do espírito, Norberto Ferreira Filho (o Ferreirinha) e Rosa Ferreira de Morais comoveram a todos. O primeiro, pela própria altivez da presença; a segunda, pelo vigor com que ainda faz uso da palavra. Durante o coquetel de recepção na Casa de Cultura João Batista, levantou-se e, sem microfone, proferiu uma oração que deixou a todos enternecidos. Dentre outras lições, lembrou que os talentos são dádivas celestes – “a inteligência é dom de Deus” – e que devemos sempre utilizar os predicados da alma em favor do próximo e do bem-estar da humanidade.


PARA REFLETIR

"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis". (Fernando Pessoa)

(Por Júnior Bonfim - coluna publicada na edição de hoje no Jornal Gazeta do Centro-Oeste - Crateús, Ceará)

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